Já fizera 55 anos quando considerou que não podia mais amedrontar-se diante do
computador. Depois de várias tentativas de executar tarefas mais complexas com a
máquina, quase todas frustradas, pensou em deixar para a outra vida, entretanto
a idéia não lhe parecia boa, até mesmo lhe dava uma certa tristeza. Toda a vida
ouvira dizer que querer é poder, estaria ficando preguiçosa ou com a vontade enfraquecida?
Deu-se um tempo conversou com pessoas de seu círculo de amizades, muitas a incentivaram
a persistir, outros a buscar atividade menos desgastante. Estava diante de um difícil
processo decisório. Optou por continuar.
Novas falhas, novos desencantos, novas tristezas. Por que não conseguia? As crianças
faziam com tanta facilidade e conseguiam coisas maravilhosas. Tinha que haver uma
explicação além da idade e das falhas de memória. Passou a se observar e analisar
o que se apresentava como impeditivo de seu desenvolvimento, onde estaria errando?
O primeiro erro identificado foi “medo de errar”, passou a observar que as crianças
não gastavam energia lamentando o erro, reservavam a energia para buscar o acerto.
Incluiu este comportamento no seu repertório. Depois percebeu que as crianças não
se sentiam na obrigação de saber e muito menos se intimidavam em perguntar. Passou
a perguntar, queria saber qual comando, qual atalho, qual programa. Novas desilusões,
as pessoas sempre solícitas a ajudar, entretanto quando sozinha com a máquina, nada!
Afastou-se embora inconformada, deixaria para depois quando tivesse um cérebro
mais novo em nova reencarnação e quando as máquinas estivessem mais evoluídas. Ledo
engano, isto lhe dava a sensação de derrota, sobretudo porque todos tentavam ajudá-la
a superar as dificuldades e repetiam e repetiam os processos para ela que olhava
atentamente, anotando tudo.
Eis ai a questão, sempre que alguém se propunha a ajudá-la o primeiro ato era
se apossar do mouse e realizar as operações de maneira muito eficiente, mas extremamente
veloz, não lhe ensinavam, faziam por ela. Era preciso não aceitar este tipo de ajuda,
era preciso que lhe permitissem, mesmo que devagar, que realizasse ela mesmo as
operações.
Era preciso tomar uma atitude, começou muito sutilmente a propor às pessoas que
deixassem ela mesma realizar os comandos, nenhum resultado, continuavam a tomar
o mouse de sua mão, precisava falar, mas não tinha coragem, afinal estavam ajudando.
Esta situação persistiu até que a leitura do evangelho lhe mostrou o caminho
“Que seja o seu falar sim, sim, não, não”. Entendeu finalmente que se quisesse manter
o mouse na mão deveria deixar isto bem claro para todos .
Nova dificuldade, novo pedido de ajuda, esta chegou de forma atenciosa como sempre.
Primeiro gesto do “orientador”: pegar o mouse. Seria agora, muniu-se de coragem
e disse que gostaria de explicar uma coisa: no seu tempo de infância era proibido
às crianças mexer nas coisas importantes da casa, sobretudo no rádio e na vitrola
pois eram objetos delicados e poderiam se danificar, assim, ainda de alguma forma,
para ela o computar era esta “coisa delicada” e portanto tinha necessidade de manter
o mouse em sua mão para sentir que podia interagir com a máquina.
Quase riu com o olhar de espanto do “orientador” quando ele disse que ela quem
havia pedido ajuda. — “Sim pedi ajuda, mas não pedi que fizesse por mim”, e qual
não foi sua surpresa quando recebeu como resposta que ele nunca havia pensado nisso,
que de agora em diante quando solicitado à ajudar estaria atento para não tomar
o mouse de ninguém.
Este fato nos traz muitas reflexões frente ao eterno objetivo de novos aprendizados,
a) não desistir diante da dificuldade, b) não nos sentirmos diminuídos quando necessitamos
de ajuda, mesmo que esta venha de pessoas muito mais jovens que nós, c) colocar
claramente o que estamos necessitando, d) não permitir que façam por nós quando
podemos nos esforçar para alcançar o aprendizado, e) primeiro procurar as dificuldades
em nós mesmos antes de atribuir a fatores externos, f) sempre é hora, sempre é lugar
e sempre é tempo de aprender, não importa a fase da vida em que estivermos.
Lembremos Irmão Jacob em seu livro “Voltei” quando nos lembra que educação é
fruto de “trabalho incessante”.
(Jornal Verdade e Luz Nº 183 de Abril de 2001)