Natal é tempo de alegria. Paradoxalmente, é também tempo de tristeza para aqueles que vivem dramas pessoais, envolvendo dolorosas perdas.
O amor que acabou.
O filho que partiu.
O casamento que se desfez.
Pode não ser o que perderam, mas o que não ganham:
O amor que não foi correspondido.
O filho que não veio.
O casamento que não se realizou.
E o Natal, que é sinônimo de congraçamento, de reuniões festivas, inspira nessas pessoas o desejo de se trancarem em si mesmas, isolando-se na cidadela de suas frustrações.
Não é bom para a alma. Essa solidão voluntária e amarga contraria nossa natureza gregária. Fomos programados para conviver. Os meios de comunicação de que dispomos, pela palavra, que nos distinguem dos demais seres da criação, foram outorgados para a vida social.
Nosso desenvolvimento intelectual, moral e espiritual, bem como o equilíbrio de nossas emoções, dependem desse referencial – a vida em sociedade. Isolar-se é caminho certo para o desajuste.
Para que isso jamais nos aconteça, imperioso lembrar um dos objetivos principais da vinda de Jesus ao Mundo:
Foi para acabar com a solidão humana, a partir do cultivo de um amor diferente, que não falha, que não nos frustra, que nos realiza como filhos de Deus e nos faz sempre felizes.
Não é a ligação com alguém, na experiência do amor romântico. Não é a ligação com alguns, na experiência do amor família. É a ligação com a Humanidade, na divina experiência do amor universal.
Foi esse amor que Jesus ensinou e exemplificou. Foi esse amor que evocou na célebre passagem evangélica: Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos? Minha mãe e meus irmãos são aqueles que cumprem a vontade de Deus.
Não estava menosprezando os familiares. Apenas destacava que, além da família humana, devemos cuidar também da família universal, dedicando a existência ao empenho de servir, que é o amor em ação. Aqueles que servem, que se envolvem com o Bem, que ajudam o próximo, jamais são solitários.
Madre Tereza de Calcutá, a companheira dos párias e moribundos…
Irmã Dulce, a amiga dos enfermos…
Chico Xavier, que escancarou para nós as portas do mundo espiritual…
Eurípedes Barsanulfo, apóstolo do ensino, extraordinário médium de curas…
Léon Denis, o filósofo do Espiritismo…
Esses inesquecíveis benfeitores guardam algo em comum: Não se casaram, não tiveram filhos e, sobretudo, nunca foram solitários! Estiveram sempre envolvidos com muita gente, com os beneficiários de sua solidariedade, encontrando a felicidade, a realização pessoal, na glória do servir.
Às vezes a vida impõe que fiquemos sozinhos, inibindo a possibilidade do amor romântico ou do amor família, como uma convocação para o amor maior. Felizes aqueles que a entendem e aceitam. Poderão morar sozinhos, mas nunca em solidão.
Jamais alguém será solitário, enquanto for solidário.