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A percepção do som no mundo espiritual

A percepção do som no mundo espiritual

 

“Vocês sabem como se formam as vibrações. O espírito, transportado na esfera
vibratória, encontra-se envolvido por uma rede de ondas sonoras cujos elementos
são constituídos por seres superiores. O que ele experimenta? Experimenta uma
impressão comparável à que vocês sentem quando ouvem em música uma nota tônica.
Quanto mais as ondas do campo vibratório se desenvolvem em velocidade e
comprimento, mais a impressão experimentada pelo espírito é viva, penetrante e
comparável, em termos humanos, à que os sons agudos nos fornecem.

“Portanto temos, de um lado, a nota tônica e, de outro, o som agudo. Se no
campo vibratório as ondas variam em velocidade e em intensidade, a amplitude do
som varia, e esse som parte de um ponto inicial, comparável à nota tônica. Esse
ponto inicial compreende uma certa onda vibratória que não posso medir. Eis uma
comparação: os fonógrafos terrestres emitem sons onde, além da sonoridade
produzida pelo instrumento, se vocês aproximam o ouvido do pavilhão,
experimentam um calor mais ou menos intenso de acordo com a elevação do tom.
Ora, o ser desencarnado não sente calor, mas sensações mais ou menos deliciosas,
segundo a velocidade, maior ou menor, e segundo a onda, de maior ou menor
comprimento.

“As radiações que tocam o perispírito são coloridas de tons incrivelmente
variados. Cada cor possui uma propriedade particular, que confere uma sensação
de bem-estar, de satisfação, que difere de acordo com a pureza, a homogeneidade
de cada tom. É preciso, portanto, levar em consideração, de um lado, a qualidade
das ondas, isto é, sua coloração; e de outro lado, sua velocidade, sem
comprimento, as diversas fases de seus meandros. Tudo isso provoca, no ser
desencarnado, incomparáveis e excessivamente variados fenômenos, pois, quanto
mais evoluído é o espírito, mais as ondas que ele percebe são diversas, assim
como as cores, que exprimem os sentimentos. Tomemos, por exemplo, o azul, que
representa os mais elevados sentimentos do ponto de vista afetivo: uma onda azul
lhes dará vibrações que serão para seu ser como que um banho de amor. O
vermelho, nas mesmas condições, representará a paixão. O amarelo será
intermediário.

O rosa, que é uma mistura de amarelo e de vermelho, lhes dará um amor menos
intenso, porém mais firme. Desta forma pode-se, com as cores fundamentais,
formar uma gama de tonalidades que dão por correspondência vibrações de todos os
sentimentos humanos e sobrehumanos.

“Se o ser desencarnado é ainda pouco evoluído mas tem o desejo de
impregnar-se de belos sentimentos, seus guias o conduzirão na direção de esferas
animadas pelos seres angélicos. Quando o ser é bastante evoluído, sente, nas
mesmas esferas, satisfações em que o amor e a paixão virão impregnar seu ser, e
é por isso que, de retorno à Terra, os seres que amam a música recordam-se
intuitivamente das permanências mais ou menos longas que fizeram no espaço, em
um campo de ondas musicais.

“A música celeste não é produzida por atritos de arcos sobre cordas: tudo é
fluídico, tudo é espiritual, tudo é inspirado pelo pensamento de Deus.”

Massenet

Comentários

Sobre a Terra a gama dos sons, tal como a concebemos, não é senão uma relação
de sensibilidade que não possui nada de absoluto.

Concebe-se muito bem que existe uma relação entre as ondas sonoras e as ondas
luminosas, porém tal relação escapa a muitos observadores e sensitivos porque as
percepções são bastante diversas em seus graus de intensidade, sendo as
vibrações luminosas incomparavelmente mais rápidas do que as vibrações sonoras.

Porém, para o espírito cujas percepções são muito mais poderosas e mais
dilatadas, a relação é mais estreita do que para nós, e a sensação unifica-se;
disto temos exemplo na diferença que se estabelece entre as notas baixas, que
correspondem às cores mais escuras, e aos sons agudos, que respondem às
intensidades luminosas mais vivas. A inteligência que percebe e resume todos os
efeitos e todas as formas da substância eterna, abrange todas as vibrações, e
ela própria vibra sem preocupação com as distâncias e ritmos através do
infinito.

É também fácil para nós compreender como, na vida espiritual, os prazeres
estéticos são relativos ao grau de evolução dos seres. Todos nós possuímos na
Terra o mesmo órgão auditivo, e no entanto que diferença de sensações
experimentam os ouvintes de uma sinfonia, de acordo com seu grau de cultura e
sua elevação psíquica! As formas e as imagens produzidas pelas vibrações sonoras
nos espaços etéreos, das quais nos fala o espírito Massenet, parecem-nos ser
igualmente manifestações do pensamento ordenador que concebeu e dirige o
universo. A música celeste poderia representar a própria vibração da alma
divina. É por isso que quanto mais o espírito evolui e se purifica, mais se
torna apto para compreender, para sentir a beleza e a harmonia eterna do mundo.

(do capítulo 6 do livro O espiritismo na arte)