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Subsídios para a história da Radiodifusão Espírita

Eduardo Carvalho Monteiro
[email protected]

Na comemoração do centenário da Independência do Brasil, a 7 de setembro de 1922, deu-se a primeira transmissão radiofônica oficial no Brasil com o pronunciamento do Senhor Presidente da República Epitácio Pessoa falando do Rio de Janeiro para Niterói, Petrópolis e São Paulo, graças à instalação de uma “possante” estação transmissora no Corcovado e aparelhos de recepção nas cidades citadas.

Considera-se que o Rádio brasileiro nasceu, no entanto, em 20 de abril de 1923 graças ao pioneirismo e visão de Edgard Roquette Pinto, renomado escritor e antropólogo, e Henrique Moritze, Diretor do Observatório do Rio de Janeiro, conquanto os pernambucanos reivindiquem essa primazia, pois no Recife, desde 6 de abril de 1919, funcionava a Rádio Clube de Pernambuco, que atuava no ramo da radiotelegrafia.

A Roquette Pinto e Moritze, que fundaram a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro (PRA-A), juntaram-se Elba Dias, que criou a Rádio Clube Brasil (PRA-B), e os pernambucanos Moreira Pinto, Augusto Joaquim Pereira, João Cardoso Alves, entre outros.

Apesar do magnífico slogan de Roquette Pinto, Trabalhar pela cultura dos que vivem em nossa terra e pelo progresso do Brasil, o controle exercido pelo Estado ou talvez a inexperiência dos pioneiros, não permitia que o novo veículo de comunicação se popularizasse. Não havia publicidade, música popular (samba, então, nem se mencionava), iniciativas pessoais. Irradiava-se muita música clássica, óperas, notícias híbridas e havia a colaboração graciosa de alguns artistas da sociedade.

Somente por volta de 1926 e 27 o Rádio começou a se diversificar com programas folclóricos e artistas populares: Gastão Formenti, Francisco Alves, Estefana de Macedo, Rogério Guimarães, Elisinha Coelho e outros.

Em 1929 exibe-se pela primeira vez pelas ondas hertezianas a menina Dircinha Batista que abriu as portas para Noel Rosa, João de Barro, Henrique Brito e outros. Os principais programas da época eram feitos por “programistas particulares”, que compravam o tempo às emissoras, angariavam publicidade e passaram a contratar artistas de sucesso popular. Destacavam-se, no final da década de 20 e início dos anos 30, Renato Murce, Ademar Casé, Luis Vassalo, Gastão Lamounier, César Ladeira, etc.

Não podendo fugir do progresso, em 12 de fevereiro de 1931, a Rádio Vaticano realiza sua primeira transmissão com o Papa Pio XI enviando uma mensagem em latim para o mundo católico.

Cremos ser importante apresentar esse breve histórico do surgimento do Rádio no Brasil para se aquilatar as dificuldades que tiveram os pioneiros da Radiodifusão Espírita no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Em correspondência que este Autor trocou com o jornalista e confrade Abstal Loureiro na década de 80, este informa que, chegando bastante jovem ao Rio no início dos anos 30, recorda-se que o Espiritismo teve como pioneiros de sua divulgação no Rádio Henrique Andrade, Leopoldo Machado, João Pinto de Sousa, Mariano Rango D’Aragona, Carlos Imbassahy, Lins de Vasconcellos, General Araripe de Faria, Antonio Pereira Guedes e, talvez num lapso de sua memória, Vianna de Carvalho, mas este havia desencarnado em 1926 no litoral baiano. Este valoroso companheiro e divulgador da Doutrina, provavelmente não teve tempo de realizar suas famosas conferências espíritas via ondas hertezianas.

Não fui pioneiro da divulgação do Espiritismo pelo Rádio. Quando aqui cheguei, em 1933, já encontrei alguns companheiros utilizando as ondas hertezianas, de forma incipiente contudo, já que o próprio Rádio ainda engatinhava. O que havia eram algumas estações chamadas de “broadcasting” e organizadas em forma de sociedade para transmitir alguns programas de música a seus associados, principalmente “ao vivo” nos próprios estúdios (não haviam auditórios como hoje) e também não era conhecida a sonoplastia. Abstal cita, ainda, outros confrades que vieram juntar-se posteriormente aos pioneiros já citados, ainda na década de 30: J. C. Moreira Guimarães, Telêmaco Gonçalves Maia, Aurino Barbosa Souto, Waldemar Pereira Cotta e Deolindo Amorim, que jamais capitularam ante a ditadura que enlutou a liberdade de consciência Brasil, segundo meu missivista.

Homenagem a Kardec em 1937

Percebendo meu vivo interesse em resgatar a memória da radiodifusão espírita, Abstal Loureiro envolveu outros confrades em nossa troca de correspondência e enviou-me interessante folheto resgatado junto à confrade Marília F. Carneiro, filha de Oscar F. Carneiro (1881-1959), de um Programa Radiofônico em homenagem a Allan Kardec, realizado em 1937 sob os auspícios do jornal Mundo Espírita, em cujo verso cita as estações radiofônicas que “irradiaram” a festa. Vejamos como o confrade Abstal dialoga com este Autor:

Há um trecho na carta que você me enviou, onde o Henrique Andrade diz que “Durante toda a Revolução de 1932 (…) eu não parei de falar, a despeito mesmo das ameaças que recebia” etc. Depois ele se refere à direção da “Educadora”, que não mais permitiu falasse, ele, gratuitamente, alegando dificuldades. Mesmo pagando, aliás, ele não conseguiu manter no ar o programa, atribuindo a proibição à interveniência do Clero. Preciso é dizer-se, para os moços de hoje, que nos primórdios do Rádio no Rio de Janeiro, as estações e as transmissões eram mantidas e custeadas mediante contribuições de associados. Existiam, assim, a “Rádio Transmissora do Rio de Janeiro”, a “Rádio Sociedade Educadora”, “Rádio Sociedade Cajuti” – Tijuca às avessas – fundada naquele bairro carioca por Roquette Pinto e que hoje tem o seu nome e pertence à Prefeitura do Rio de Janeiro. Depois vieram outras, como a Mayrink Veiga, onde sobressaiu-se o César Ladeira, que depois de transmitir o noticiário da Revolução Paulista – essa, sim, uma verdadeira Revolução – introduziu no Rio, seus famosos RRRR, que o notabilizaram em sua admirável dicção com insuperável locutor. Naquela época –1 933 – eu concluía, à noite, meus estudos secundários e, quando podia, escutava as transmissões do “Programa Espírita Radiofônico”, onde falavam, divulgando a Doutrina, entre outros, Lamounier Foréis – parente do Almirante, da Rádio, Ismael Gomes Braga, Álvaro Brandão da Rocha, João Pinto de Sousa, J. C. Moreira Guimarães e os que já citei, de memória, como faço agora, na minha carta anterior. Em 1939, com o nome de “Hora Espírita Radiofônica”, existia, aos domingos, na Rádio, “Ipanema”, onde também participavam Aurino Barbosa Souto, Deolindo Amorim, França e Silva, Coronel Delfino Ferreira e outros que não me ocorrem, no momento. Todos esses companheiros de Ideal Espírita já se encontram na Espiritualidade. Dois dos sobreviventes daquela fase são Francisco Klörs Werneck e Humberto Alexandrino de Aquino (também partícipe dos programas espíritas radiofônicos). (hoje desencarnados)

(…) Também Henrique Andrade, no seu livro “A Bem da Verdade”, faz referências a Cairbar de Sousa Schutel, carioca, radicado em Matão. Lembro-me neste instante de mais dois nomes que participaram da divulgação do Espiritismo pelo Rádio: Antonio Pereira Guedes, fundador e diretor, por muito tempo, do jornal ALMENARA, e o ex-Padre Frei Solano, cujo nome era Gustavo Macedo. Como os demais, também desencarnados. Foram dois grandes polemistas: o primeiro, pela imprensa e, o segundo, pela tribuna espírita. (…)

Para auxiliar um pouco a memória do confrade Abstal Loureiro, resgatamos uma notícia publicada na Revista Internacional do Espiritismo de 15 de junho de 1934, que reproduzimos a seguir, dando ciência do excepcional pioneirismo do confrade João Torres (1873-1958) na radiodifusão espírita no Rio de Janeiro.

A Sociedade Escolar Espírita, sob o patrocínio da Liga Espírita Brasileira, já inaugurou quatro escolas, funcionando, com um total de 460 alunos. Já é um bonito número e belo ensaio.

É diretor da seção escolar, o propagandista sr. João Torres.

Palestras pelo Rádio

O propagandista João Torres, tem feito e faz as Quartas-feiras, palestras pelo Rádio, às 18 e meia horas, sobre propaganda da Sociedade Espírita Escolar. Tema: Instrução e Educação da Infância desvalida.

Hora Espiritualista

No dia 9 de março de 1938, João Pinto de Souza (1891-1943) levava ao ar a sua primeira Hora Espiritualista pela Rádio Transmissora do Rio, a PRE-3, contando com a colaboração de outros pioneiros: Carlos Imbassahy (1886-1969), Leopoldo Machado (1891-1957), Deolindo Amorim (1906-1984), Jaime Rolemberg de Lima (1913-1978).

(SEI, n.º 1580, João Silva Sampaio).

Foi a semente que deu origem, em 1.º de junho de 1939, ao programa espírita de maior repercussão de sua geração, a Hora Espírita Radiofônica, que depois recebeu o nome de seu apresentador, João Pinto de Sousa.

O lançamento do Programa foi acompanhado de publicação com o mesmo nome e apresentava os textos do que ia ao ar. De seu primeiro número, reproduzimos aqui a introdução do mesmo que retrata bem a disposição com que foi concebido o Programa e os nomes dos confrades de alto gabarito que o compunham.

A Hora Espírita Radiofônica nasceu de uma feliz inspiração (ou providência intuição do Alto!) de seus organizadores.

E teve, para logo, a adesão de todos que, dentro do Espiritismo, tem a nítida compreensão de que, doutrina de dinamismos que é a da 3.ª Revelação, é preciso trabalhar para a sua maior e melhor difusão por todos os meios honestos e em harmonia com o progresso humano.

“Meios honestos”, dizemos porque a desonestidade não se enquadra, de modo algum, no Espiritismo!

Organizada legalmente em sociedade, com personalidade jurídica, antes de sua primeira irradiação, a “Hora Espírita Radiofônica” pauta as suas realizações todas dentro das leis divinas e humanas.

Sua inauguração oficial foi a 1.º de Junho de 1939.

E marcou o maior acontecimento para o Espiritismo nos últimos tempos, entre nós, pelo interesse com que sacudiu espiritistas, profanos e indiferentes.

Daí as medidas que classes médicas e médicos isolados tomaram contra ela e o Espiritismo junto ao Governo, e as discussões que se derramaram pela imprensa do Brasil inteiro.

Sua direção ficou à responsabilidade dos ilustres espiritistas:

Prof. Leopoldo Machado, diretor geral;

Luís Fernandes da Silva Quadros, vice-diretor;

Francisco Virgílio da Rocha Garcia, diretor-tesoureiro;

Victor Torquato da Rocha Garcia, diretor-secretário.

O vice-diretor teve, posteriormente, de deixá-la, premido por suas ocupações comerciais, de molde a não lhe permitir folgas para outras atividades, sendo substituído magnificamente pelo distintíssimo confrade Agostinho Pereira de Souza.

Sua comissão de censura, de vez que nenhum trabalho é irradiado sem ser, previamente, censurado, compõe-se dos ilustres espiritistas:

Dr. Guillon Ribeiro,

Dr. J. C. Moreira Guimarães,

Manoel Quintão.

E seu consultor jurídico e, também, elemento de relevo na atuação de seus programas semanais, o Dr. Henrique Andrade.

* * *

O programa depois de certo tempo voltou a ser apresentado por João Pinto de Sousa, que tinha como auxiliar o jovem Geraldo de Aquino (1912-1984), que era responsável pela seção Jesus em Cafarnaum. Em 1943, a Hora Espiritualista “João Pinto de Sousa” ganhava novo horário na Rádio Sociedade Fluminense, PRD-2.

Com o desencarne de Pinto de Sousa, em 31 de julho de 1945, o Programa parecia ter chegado ao fim, mas em 22 de outubro de 1944, o Presidente da Liga Espírita do Brasil, Aurino Souto (1894-1974), voltava ao ar para auspiciosamente informar:

Estimados Rádio-ouvintes.

O Conselho da “Liga Espírita do Brasil”, por intermédio de seu Presidente, vos saúda fraternalmente.

Hoje aqui nos encontramos aliás, com certo sacrifício, para congratularmo-nos com o nosso distinto e esforçado companheiro de Conselho, Geraldo de Aquino, atual Diretor de Hora Espiritualista “João Pinto de Sousa”, pela volta ao ar, neste instante, desse já acreditado empreendimento, que vem de sofrer um ligeiro hiato em sua vida.

Geraldo, continuador de Pinto de Sousa nesse trabalho hercúleo de difusão das verdades evangélicas à luz da Terceira Revelação, por intermédio das ondas hertezianas, acaba de se revelar com a vitória que nesta data comemoramos, um valoroso soldado das hostes espíritas.

O querido Pinto criou e manteve, enquanto aqui permaneceu encarnado, a “Hora Espiritualista”. Sabemos nós com que dificuldades! Geraldo lutou, esforçou-se, persistiu, indo até ao sacrifício, para restabelecer, como ora acontece, este apreciado e superior programa.

(…) Terminamos, pois, nossa breve alocução saudando calorosamente ao denodado companheiro de lides espiritistas Geraldo de Aquino, pela vitória alcançada.

Rio de Janeiro, 22 de outubro de 1944.

A Rádio Sociedade Fluminense fecha em 1945 e o Programa sai do ar, mas Aquino, infatigável, não desiste e consegue um horário na Rádio Clube do Brasil, PRA-3, cujos estúdios funcionavam no EdifícioCineac-Trianon, na Av. Rio Branco, 181.

O Programa de despedida foi feito pela confrade Hersila Valverda, que assim iniciou sua locução:

Queridos Rádio-ouvintes:

É a última vez que, por este microfone amigo, ouvireis Hora Espiritualista “João Pinto de Sousa”. E, ao dizê-lo, e, ao senti-lo, como que percebemos um acento de mágoa em tudo que nos rodeia.

Coube a mim a difícil e honrosa incumbência de apresentar-vos, em nome da Mulher Espírita, o nosso adeus de despedida. Em nome da Mulher Espírita que, à parte minha humilde colaboração em dois únicos programas, tão brilhantemente vem construindo nesta oficina de Luz do Evangelho.

Como é de bom tom, quando nos despedimos de uma comunidade ou grupamento em cujo seio militamos, no trabalho ou nos folguedos, solicitarmos escusas por algum gesto, atitude ou palavra que, de algum modo, pudesse haver molestado aqueles de quem nos afastamos, queremos isto dizer aos nossos rádio-ouvintes, aos técnicos e operadores, nossos companheiros de todas as lutas; aos queridos locutores, cuja benevolência, espírito de serviço e dedicação aprimorada, devemos quanto produzimos.

(…)

O nosso adeus, ao deixarmos tão simpática emissora, leva também um convite para que nos acompanheis, na P.R.E. Rádio Club do Brasil, onde continuaremos a encontrar-nos convosco, unindo às vossas, nossas vibrações, na prece domingueira.

(…)

* * *

Em 1954, sério problema surgido com a Rádio Clube, levou o Governo Federal a cassar sua concessão. Geraldo de Aquino passou a peregrinar, então, de emissora em emissora, com os diversos programas que tinha criado. Esteve na Tupi, na Tamoio, na Mauá.

Sua trajetória foi levantada pelo confrade Celso Martins em artigo publicado no Jornal Espírita de outubro de 1981. Descreve Celso:

(…), durante os anos em que a PRA –3 se manteve fora do ar (e é bom que se diga isto para as novas gerações), foi o Departamento de Assistência Social Paulo de Tarso que amparou as famílias dos radialistas desempregados!

Anos depois, Victor Costa compra a mesma emissora que ressurge como Rádio Mundial. Geraldo, cansado de peregrinar, então, de rádio em rádio, enceta a Campanha da Emissora dos Espíritas do Brasil. Aparece em cena, a figura de Alziro Zarur e sua Legião da Boa Vontade, também desejoso de ter uma emissora própria. Muitos espíritas então cooperaram na aquisição da Rádio da Legião da Boa Vontade, na esperança de que ali teriam espaço para transmitir suas mensagens espíritas.

Uma vez no ar, a PRA-3, por dinamismo de Victor Costa, para aí se volta Geraldo de Aquino, e com os espíritas que cooperavam com a LBV, pouco depois, Zarur comprava de Victor Costa a Rádio Mundial, conhecida, desde então, como a Emissora da Boa Vontade.

Durante algum tempo a programação de Geraldo encontrou espaço para ir ao ar. Todavia, por volta de 1962, teve de deslocar-se mais uma vez. E passou a ser transmitida pela Rádio Copacabana e retransmitida pela Rádio Quitandinha, de Petrópolis.

Em 1972, por oferecimento do Oliveira Bello, proprietário da Rádio Copacabana, o “Departamento de Assistência Social Paulo de Tarso”, sem deixar de continuar a distribuição de materiais aos deficientes físicos, além de manter lares de amparo à infância e à velhice pobres, acabou por adquirir a Rádio Rio de Janeiro, após uma campanha memorável para levantamento dos fundos financeiros. E, para que a rádio-emissora não ficasse sob o nome de uma só pessoa, criou-se, então, a “Fundação Cristã-Espírita Cultural Paulo de Tarso”, constituída de conselheiros, todos eles líderes espíritas de várias cidades do País, nada recebendo pelo que fazem pela mesma emissora.

Terminado o problema da aquisição, a Rádio foi obrigada a aumentar a potência para 50 KW. Depois de nova campanha para concretizar a compra dos equipamentos, o então Ministro da Fazenda, com a desculpa de que não se poderia remeter tantas divisas para fora do país de uma só vez, vetou o pagamento integral concedendo, porém, que fosse feito em parcelas. Com o câmbio subindo vertiginosamente, o dinheiro em caixa não permitia o pagamento das cotas trimestrais. Mais uma vez o grande líder Geraldo de Aquino teve de recorrer à generosidade do movimento espírita e, com muita alegria, consegue quitar a última parcela em 1983. Tinha cumprido com louvor sua última grande missão. Em 22 de março de 1984 retornava ao Plano Espiritual.

No ar, Senhoras e Senhores, a Rádio Rio de Janeiro, a emissora dos espíritas cariocas.

Tentativas Pioneiras em vários países para a Radiofonia Espírita

A Revista Verdade e Luz de março a junho de 1926 publicou interessante artigo sobre as primeiras transmissões de propaganda espírita pelas ondas hertezianas na França, Argentina e no Rio de Janeiro, animando aos paulistas a tomarem providências semelhantes. Pela importância histórica de seu texto, transcrevemos aqui o artigo.

Espiritismo e Radiofonia

O primeiro passo vai ser dado no Brasil.

A imensidade do território nacional e as naturais dificuldades oriundas da falta de transportes rápidos e econômicos têm evitado que os espiritas brasileiros possam se manter em contato intimo e constante como seria conveniente para auxílio e esclarecimento mútuos.

Os propagandistas de valor, sobretudo os conferencistas, são constantemente solicitados para conferência em cidades do interior, mas raros podem atender a esses apelos porque as distâncias são longas e as despesas quase sempre insuperáveis.

Há, porém, um meio prático cujo emprego vai resolver o problema – a radiotelefonia.

A França já a está utilizando com grande proveito desde o princípio do corrente ano.

Relata a “Revue Spirit”, num dos seus últimos números, que Pascal Forthuny, autor da música e letra do “Hino Espírita”, e André Rippert, Secretário da “Federação Espírita Internacional”, dois conhecidos e esforçados propagandistas, têm irradiado, pela estação rádio-telefônica da Torre Eiffel, uma série de importantes conferências sobre doutrina espírita.

Essa estação, mantida por uma associação dos próprios autores, não é subvencionada e portanto, não depende do governo nem de nenhuma empresa comercial.

Também na Argentina a propaganda já está sendo irradiada.

A “Confederação Espírita Argentina” montou em sua sede um aparelho emissor e vários centros do interior do país estão montando aparelhos receptores nos seus salões de reuniões.

No Brasil, o primeiro passo nesse sentido está sendo dado pela “Liga Espírita do Brasil”, cujos estatutos – a “Constituição Espírita do Brasil” – no seu art. 3.º n.º 24 determinam: “Instalar, em sua sede, um estúdio de rádio-telefonia, para irradiação de conferências e músicas para formação de correntes de pensamento, e fomentar a instalação de aparelhos receptores nas sedes das Associações agregadas e das Ligas Espíritas Municipais e Estaduais”.

“Nota da Redação”

Este interessante artigo que extraímos do “Mundo Espírita”, sugeriu-nos a idéia de iniciar pela nossa Revista “Verdade e Luz” a instalação aqui, em S. Paulo, em nossa sede, ou na sede da Instituição Christã Beneficente, “Verdade e Luz”, de um estúdio-emissor de rádio – telefonia, para irradiação de conferências e estudos espíritas a todos os Centros espíritas do Estado, onde serão colocados aparelhos receptores. Assim, por exemplo, o Dr. Coelho Netto, Frei Solanus, ou outros conferencistas farão as suas conferências aqui, e serão ouvidas distintamente por todos os Centros Espíritas do Estado de S. Paulo. Na realização deste objetivo que o é também, da “Liga Espírita do Brasil”, o nosso redator geral Dr. Lameira, já pediu a um engenheiro competente desta capital, orçamento para essas instalações e uma exposição de sua exeqüibilidade, e logo que lhe cheguem às mãos os dados precisos, ele fará um manifesto a todos confrades e centros espíritas pedindo a sua adesão para tão grandiosa realização. que Deus o permita conseguir prontamente, este incomparável meio de propaganda da causa do Senhor.

ObservaçãoAo que apuramos, a idéia infelizmente não vingou na prática.

Holanda

Revista Internacional do Espiritismo de 15 de novembro de 1932 trazia boas notícias da propaganda espírita na Holanda, inclusive através do Rádio:

O Rádio em serviço do Espiritismo

Os holandeses têm obtido com facilidade o microfone para transmitirem as idéias espíritas pelo Rádio. Há pouco o sr. Beverslius falou ao serviço da propaganda.

O Espiritismo e a Paz

“Wahres Leben” publicou o manifesto do sr. Beverslius contra os armamentos e a ameaça de um próximo massacre. O manifesto reza assim: “Os espiritualistas e espíritas abaixo assinados, convencidos que a guerra é um crime em face da humanidade, visto ser um assassinato em massa e que todo o armamento constitue uma ameaça a paz, reclamam o desarmamento completo de todos os povos”.

Assembléia Geral

Os espíritas holandeses, sob a presidência do sr. H. G., Nederburgh reuniram-se em assembléia geral para resolverem assuntos necessários à propaganda.

* * *

A primeira palestra espírita radiofônica em São Paulo

Revista Internacional do Espiritismo, de novembro de 1933, traz sob título Excursão da Propaganda sob os auspícios da Revista e d’O Clarim, o relato da excursão de João Leão Pitta (1875-1957) aos Estados do Paraná e São Paulo, quando pronunciou cerca de 30 palestras doutrinárias.

No dia 6 de setembro, Pitta anuncia ter falado ao microfone da Rádio Sorocaba sobre o tema Jesus e a Adúltera, completando: Foi a primeira irradiação espírita feita em São Paulo e ao “Clarim” coube a primazia.

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A Radiodifusão Espírita em São Paulo na década de 30

A grande revolução na área das comunicações na década de trinta foi o crescimento do Rádio. Espíritas idealistas percebendo a alta penetração do novo meio de comunicação apressaram-se em levar a propaganda espírita através das ondas hertezianas. Se em Araraquara Cairbar Schutel (1868-1938), divulgava a Doutrina através de suas “Palestras Radiofônicas”; na cidade de São Paulo o grande pioneiro foi Caetano Mero com sua Hora Espiritualista criada em 1936.

Desse primeiro passo resultou um grande sonho: uma rádio espírita! A largada para a concretização desse objetivo foi dada por Caetano Mero e os valorosos diretores da União Federativa Espírita Paulista, conforme registra a histórica a Ata de 8 de junho de 1937, cujo texto conseguimos resgatar:

Ata número 60 –

Aos oito dias do mês de junho de 1937 às 21 horas, com a presença dos constantes Caetano Mero, Tietri Diniz Cintra, Antenor Ramos, João Spinelli, Joaquim Augusto Vaz, Jonas Sat´Anna, Herculano B. Pupo, houve lugar a mais uma reunião de diretoria que, com sempre, teve início com a breve habitual. A seguir foram tomados as seguintes deliberações: (…)

Se por em execução imediata a proposta apresentada por Antenor Ramos e reforçada por Tietri Dinis Cintra e João Spinelli e que é a seguinte: Publicação periódica e constante por ordem cronológica, se possível, de todos os recebimentos de importâncias que se destinarem, quer para os álbuns A e B, quer para a instalação da “Rádio Difusora Espírita Evangélica”. Essa publicação tem o fim de manter constantemente ao par da arrecadação a todos quantos contribuam para o fim, digo, para o objetivo mencionado. Também ficou resolvido: que todos os diretores da União, tendo o direito de possuírem pleno conhecimento da situação geral da entidade, têm também os mesmos direitos, plenos direitos, e obrigação até de estarem par da situação financeira da União. Para esse fim a Tesouraria deverá prestar, sempre que preciso as informações e esclarecimentos necessários.

Finalmente, deliberou-se, como deliberado já estará, que, caso se não consiga licença para a instalação da Rádio Difusora, todo o dinheiro arrecadado será devolvido aos seus contribuintes, salvo a hipótese natural e lógica de não desejar a restituição, o contribuinte, nesse particular caso, o contribuinte espontaneamente deseje que a sua contribuição continue nos cofres da União se deliberará oportunamente(…)

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A seguir, reproduzimos algumas notícias sobre a radiodifusão espírita que pinçamos em alguns periódicos da década de trinta e que julgamos de importância histórica para se aquilatar a evolução desse tipo de propaganda doutrinária.

O Espiritismo pelo Rádio

Várias estações de rádio deste Estado estão dedicando horas à propagação do Espiritismo.

No domingo ante-passado, o Rádio Clube de Araraquara, uma das mais potentes estações do interior, cedeu o seu microfone ao sr. Cairbar Schutel, que proferiu uma magnífica conferência sobre “A Imortalidade da Alma”. A estação de Rio Claro também cedeu o seu microfone aos espíritas, tendo-o ocupado a Srta. Wenzel, várias crianças do catecismo espírita e o sr. Leão Pitta. O Rádio Clube de Sorocaba, dedica os sábados e domingos à propaganda do Espiritismo, das 19:30 horas em diante. Nesta estação já se tem feito ouvir vários oradores. Estão inscritos para as próximas vezes o sr. dr. Monteiro de Barros e Pedro Fernandes Alonso se os Srs. Antenor Ramos e Caetano Mero.

O Rádio Clube do Rio Preto faz propaganda espírita todas as quintas-feiras às 20:15 horas; falando o nosso confrade sr. Farid Ignácio Mussi, presidente do Centro “Rodrigo Lobato”, daquela cidade. E na capital, já por várias vezes estações de rádio tem cedido o microfone a irradiações espíritas.

Na grande imprensa, o “Correio Paulistano” publica, todas as terças-feiras, seções espíritas, onde pontificam as melhores penas do Estado.

É com satisfação que registramos esta nova fase de intensa propaganda espírita, para a maior glória dos homens, no futuro. (Alvorada D’Uma Nova Era, 1/9/1936)

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Propaganda Espírita pelo Rádio

Nos primeiros dias de Julho, o presidente do Centro Espírita “Rodrigo Lobato”, Sr. Farid Ignácio Mussi, de acordo com o Sr. José Gardia, diretor do mesmo Centro, iniciaram a campanha espírita pela Rádio de Rio Preto, P.R.B.8, todas as quintas-feiras, às 8:15 horas da noite.

Esses Srs. têm recebido milhares de aplausos por essa tão bela atitude. (Alvorada D’Uma Nova Era, 1/9/1936).

Rádio Difusora Espírita Evangélica

Embora tarde, pois sabíamos que esse movimento se processava na capital, sem que do mesmo nos tivesse sido comunicado o que quer fosse, recebemos notícia da União Federativa Espírita Paulista, representante neste Estado da Federação Espírita do Brasil, de que a mesma está empenhada na utilíssima campanha pró instalação de uma estação difusora potente, que se chamará Rádio Difusora Espírita Evangélica.

A iniciativa, ao que sabemos, tem tido ótimo acolhimento em toda a parte, já contando como certos, para mais de 120 contos, dos 200 que lhe são necessários à realização da importante obra.

O capital está sendo angariado com a venda de “carteiras” ao valor de 10$000 cada uma, com direito a reembolso, sendo facultado àqueles que não puderem dispor dessa quantia, subdividi-la entre 5 pessoas, em frações de 2$000.

As carteiras podem ser procuradas nos seguintes lugares:

União Federativa Espírita Paulista, largo do Riachuelo, 38, caixa postal 2071 – S. Paulo.

Cairbar Schutel, redação d’ “O Clarim”, Matão, Estrada de Ferro Araraquarense, Estado de São Paulo;

José Peres, redator d’ “A Alvorada”, Rua 7 de Setembro, 33, São João da Boa Vista, Linha Mogyana, Estado de São Paulo. (Alvorada D’Uma Nova Era, 1/10/1936)

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Conferências Radiofônicas

Continuam a ser irradiadas conferências pela Rádio Club Sorocaba – P.R.D.7, aos sábados e domingos, às 21 horas e 30 minutos.

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Sob os auspícios da Revista Internacional do Espiritismo e d’O Clarim, o nosso companheiro Schutel prossegue com as suas conferências radiofônicas pelo microfone da Rádio Cultura Araraquara – P.R.D.4.

Dia 22 do mês p.p., o nosso companheiro fez mais uma conferência sobre: “Pluraridade das Existências e dos Mundos Habitados”.(RIE, 15/12/1936)

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Rádio Difusora Espírita

Os trabalhos para o erguimento da nossa Estação de Rádio correm maravilhosamente.

As conferências em 19 cidades, feitas por oradores competentes e compenetrados da Doutrina, produziram grande sucesso.

Do nosso amigo, sr. Caetano Mero, recebemos o seguinte comunicado:

Estou viajando em prol da nossa Estação de Rádio na Central do Brasil. Visitei as seguintes cidades, deixando nelas a palavra consoladora do Evangelho de Jesus.

  • Em Cruzeiro passei 200 carteiras; em Cachoeira 100; em Lorena 100; em Guaratinguetá 100; em Pindamonhangaba 200; em Taubaté, Caçapava, S. José dos Campos e Jacareí 100 carteiras; em S. Branca 100. Total na Central 900 carteiras. Foram remetidas pelo correio para a mesma zona, passadas pelos confrades Pitta e Abel Vieira, em Cruzeiro 100 carteiras; em Cachoeira 50; Lorena 50; Guaratinguetá 100; Pindamonhangaba 100; Taubaté 100; Santa Branca, por intermédio de Antenor Ramos 30. O movimento geral foi de 1530 carteiras.
  • Brevemente mais de 50 oradores serão escalados em toda a Capital para fazerem conferências sob o tema: “O Evangelho Através do Rádio”. A União Federativa está envidando esforços para realizar mais esse surto de propaganda.

Sigo, novamente para diversas cidades da Central do Brasil.

Caetano Mero (RIE, 15/12/1936)

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Movimento Espírita na Capital

Inaugurou-se, domingo, 31 do pretérito, a Hora Radiofônica Espírita Evangélica, sob os auspícios da “União Federativa Espírita Paulista,” da qual é presidente o sr. Caetano Mero.

Às 20 horas precisas, achava-se o vasto salão da Rádio Educadora repleto de famílias que ali foram assistir à primeira irradiação da série de um vasto programa que se desdobra por dia, conforme foi anunciado.

Assistiram o ato inaugural os diretores da Federação Espírita de S. Paulo, da Metapsíquica, de várias outras agremiações espíritas da cidade e o sr. Umberto Brussolo, representando a “Revista Internacional do Espiritismo” e “O Clarim”, de Matão.

Após brilhante discurso do Dr. Ary, diretor da “Educadora”, o sr. Caetano Mero fez a apresentação do programa que a Difusora Espírita tem em vista desenvolver. Em seguida ouviu-se a palestra inaugural por Vinícius que dissertou sobre o tema – “Humildade: a grande lição”. Falaram ainda Pereira e outros oradores, todos com muita elevação e felicidade. O Dr. Pereira, em sua bela oração, referiu-se ao inesquecível pioneiro da Verdade, Cairbar Schutel, enaltecendo sua obra fecunda e eficiente na propaganda do Espiritismo.

O sr. Caetano Mero foi muito felicitado por ver coroado de êxito os seus esforços em prol da fundação da “Hora Radiofônica Espírita Evangélica”.

Encerrou-se a festividade às 21 horas, debaixo de um ambiente de agradável fraternidade. Quinta-feira, 4 do corrente, foi irradiada “in memoriam” uma conferência de Cairbar Schutel subordinada ao tema: “Imortalidade”.(RIE, 15/8/1938).

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Rádio Espírita

Com toda solenidade, iniciou-se no dia 31 de Julho p. p., o ato inaugural da Hora Espírita, promovida pela União Federativa Espírita Paulista.

Tomaram parte no primeiro programa irradiado, os confrades Pedro de Camargo (Vinícius), Caetano Mero, Campos Vergal, Dr. João Baptista Pereira e Hermenegildo de Aquino.

Todos os oradores foram felicíssimos em suas orações, principalmente a inconfundível figura de Vinícius, que proferiu uma sentida preleção sob o tema: “Humildade”.

O principal objetivo da União Federativa Espírita Paulista é levar a palavra do Espiritismo através deste imensurável país em que habitamos.

Pena é que a Rádio Educadora Paulista não tenha desde já uma potencialidade de missão mais possante, para que o programa da União Federativa pudesse pelo menos ser ouvido no Estado em que atuamos.

Mas o grande primeiro passo já foi dado, e o resto virá depois.

Que os nossos prezados confrades da União consigam os frutos desejados, são os nossos mais sinceros votos. (Alvorada D’Uma Nova Era, 1/9/1938)

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União Federativa Espírita Paulista

Largo do Riachuelo, 38 – Sob. Caixa Postal, 2071 – São Paulo

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AVISO AOS ESPÍRITAS E AO

POVO EM GERAL

O “PROGRAMA RADIOFÔNICO ESPÍRITA EVANGÉLICO DO BRASIL”, acaba de ser suprimido intempestivamente pela “Rádio Educadora Paulista, P.R.A. 6”, embora a União Federativa Espírita Paulista, tenha pago adiantadamente às suas irradiações e não tenha faltado a nenhuma cláusula do contrato com a referida Estação Emissora.

A “UNIÃO FEDERATIVA ESPÍRITA PAULISTA” já está cuidando da integral defesa dos seus direitos e, em breve, prestará novos esclarecimentos aos seus associados e amigos.

São Paulo, 7 de agosto de 1939.

O presidente – Caetano Mero

(O Revelador, 1/8/1939)

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Hora Radiofônica

Segundo o que foi largamente divulgado pela imprensa do Brasil, a União Federativa Espírita e, conseqüentemente, a família Espírita brasileira, tiveram a sua hora de verdadeira cultura espiritual intempestivamente interrompida por influxo dos preconceitos sociais que negam a realidade das coisas para, cegamente, aceitar todas as fantasias que satisfazem os desejos dos homens.

A União Federativa, como já fez público, não faltou ao fiel cumprimento a todas as cláusulas contratuais com a Rádio Educadora.

Assim sendo, ela defender-se-á lançando mãos dos direitos que lhes são conferidos por lei, dando aos seus dignos consócios e admiradores a mais plena satisfação de todas as demarches.

Pois, é do conhecimento do povo brasileiro que a constituição de 1937 garante, plenamente, a liberdade de culto e de pensamento.

E, se noutros tempos esses direitos já eram respeitados, estamos certos, o insígne presidente da República, por interferência de seus ministérios e interventores, fará respeitar em toda a sua plenitude as justas aspirações de um povo que ora vem sendo postergadas por evasivas e pretextos hipotéticos, prosseguindo, destarte, a magnífica diretriz até então traçada e melhormente cumprida, o que tem dado margem à sua elevação cada vez mais crescente no conceito dos seus governados.

Se bem que Jesus já nos preveniu, dizendo:

“Não é o servo maior que o Senhor. Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardarem a minha palavra, também guardarão a vossa. Mas tudo isso vos farão por causa do meu nome; porque não conhecem aquele que me enviou”.

Suportaremos cristãmente todas as impoderabilidades e ignomínias humanas, mas também depositamos absoluta confiança na egrégia personalidade do senhor Getúlio Vargas, assim como do ilustre dr. Adhemar de Barros, que hão de fazer com que a esplêndida carta magna de 1937 de nossa pátria, não seja maculada pelas insuflações farisaicas de todas as eras, que se comprazem em ver a humildade envolta no denso véu da ignorância e do obscurantismo, afim de que mais facilmente possam sobrepor a sua pretensa hegemonia, tornando-a verdadeira presa agrilhoada às injunções de princípios retrógrados que a mentalidade hodierna não mais pode aceitar por um imperativo da própria evolução natural da vida.

A nossa Constituição prevê no seu art. 122, n.º 4, o seguinte:

“Todos os indivíduos e confissões religiosas podem exercer pública e livremente o seu culto associando-se para esse fim e adquirindo bens, observados as disposições do direito comum, as exigências da ordem pública e dos bons costumes”.

As nossas irradiações (todas devidamente colecionadas e arquivadas à disposição dos interessados), comprovam, sobremaneira e magnificamente, que, em nada ferem os mais rudimentares princípios desses dispositivos constitucionais.

São do preclaro espírito do chefe da nação estas palavras:

“Amparai os homens descontrolados para que não corrompam a moralidade nacional”.

Esses corruptores não são os humildes espíritas e cristianizadores de almas, que abrem colégio de graça para as pobres crianças desamparadas ou de escassos recursos, que divulgam os preceitos instituídos pela excelsa personalidade do Cristo, tudo sem o contrapeso do outro canalizado para países estranhos e sob o beneplácito das grandes fortunas da Terra.

Esses corruptores são de casacas e de grandes aparatos. No entretanto, Jesus disse aos homens para o seu eterno exemplo, que os pássaros tinham os seus ninhos, os chacais os seu covis para se abrigarem; no entanto, o Filho do Homem não tinha nem onde pousar a sua cabeça!

Espíritas Amigos! Cristãos Sinceros! lembremo-nos ainda do que nos ponderou o Mestre:

“Não se turbe o vosso coração; crede em Deus, mas crede também em mim”.

Jesus é a fonte de amor e o farol luminoso das nossas consciências.

Porisso, tenhamos fé cada vez mais viva ardente nele, porque seremos bem sucedidos em todas as nossas nobres inspirações e desideratuns. (O Revelador,1/8/1939).

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Programa Radiofônico Espírita Evangélico do Brasil

Conforta-nos dizer hoje, que após um lapso de tempo, novamente voltou ao ares do Brasil, o Programa Radiofônico que leva aos mais longínquos recantos, os nossos esforços pela divulgação da Terceira Revelação.

Motivos imprevistos fizeram com que a Rádio Educadora Paulista – P.R.B. -6, não pudesse reencetar as suas irradiações após a mudança de sua Estação.

Assim acontecendo, ficamos privados do nosso desejo incontido de levar a seiva do Cristianismo, em Espírito e Verdade, aos lugares mais longínquos do nosso Brasil.

Hoje, os nossos corações exultam de contente e o nosso espírito cada vez mais se anseia pela realização diária deste programa, para o que a União Federativa Espírita Paulista não tem poupado esforços. Caetano Mero, Presidente da União e fundador desse programa, procura fazer compreender a todos os espíritas do Brasil ser chegada a hora em que todos devem congregar-se em torno desse programa e emprestarem o seu concurso moral e material para que tenhamos dentro em breve a nossa estação radiofônica própria, cuja potência saia além das nossas fronteiras, indo despertar para o mesmo feito, os nosso co-irmãos da América.

(…) Mesmo que houvessem sacrifícios, de boa mente, urge que nos sacrifiquemos em torno de uma causa sagrada cujo compromisso nós todos, os espíritas, assumimos antes de aqui aportarmos. Nenhum espírita pode sentir-se indiferente às nossas vozes; e disto temos prova. Dia a dia cresce o número daqueles que nos vem trazer a sua contribuição ante o testemunho que lhes oferecemos todos os dias, através das ondas da Rádio Educadora Paulista.

E Deus há-de vos recompensar. O vosso coração há-de flemir de contente após o vosso dever cumprido, quando puderdes dizer: “os espíritas do Brasil, têm uma estação radiofônica própria e confortam pela palavra os que sofrem, e despertam para a vida eterna, as almas ainda adormecidas”.(O Revelador, 1 e 2/1939).

Palestras Radiofônicas na Capital

Recomeçaram dia 6 de Fevereiro, às 18 horas, as irradiações espíritas-evangélicas, sob os auspícios da União Federativa Espírita Paulista. Encarregou-se da inauguração da nova fase de propaganda pelo Rádio, o nosso companheiro Vinícius que dissertou sobre o tema: “Evolução, reencarnação, imortalidade”.

Em seguida, o prof. Campos Vergal fez uma saudação aos espíritas do Brasil felicitando-os pelo acontecimento.

“O Clarim” foi representado no ato pelo seu agente nesta Capital, sr. Manuel Pereira.

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A União Federativa Espírita Paulista continua mantendo o seu programa de propaganda com toda a regularidade.

As conferências radiofônicas vão despertando grande entusiasmo, tanto no interior do Estado como em outras unidades da Federação. Diariamente chegam cartas trazendo as impressões dos ouvintes de várias e longínquas cidades do Brasil.

Domingo, 26 do mês passado, festejou-se o 6.º aniversário da fundação da “União Federativa”. Ao microfone usaram da palavra o Prof. Campos Vergal, o jornalista, Pedro Alonso, de S. Carlos, e, por último, Vinícius, que dissertou sobre a Parábola dos Talentos. Falou também nessa solenidade, em primeiro lugar, o sr. Caetano Mero, presidente da União, reportando-se às atividades daquela instituição no decurso dos seus seis anos de vida. (RIE, 15/3/1939).

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Programa Radiofônico-Espírita

Evangélico do Brasil

Como uma homenagem ao 71.º aniversário do desencarne de Léon Hypolite Denizard Rivail (Allan Kardec), ocorrido em 31 de Março de 1869, a “União Federativa Espírita”, deliberou inaugurar dia 31 do mês passado, o “Programa Radiofônico Espírita-Evangélico do Brasil”, que, graças a Deus, está novamente no ar levando a fé, a esperança e o conforto a todas as almas.

O primeiro orador a ocupar o microfone da possante “P.R.H.3″ foi o estimado orador e escritor evangélico, Pedro de Camargo (Vinícius), que fez comentários sobre alguns trechos de Allan Kardec, terminando sua maravilhosa peça oratória com vibrantes palavras de fé e confiança nos destinos da nossa P.R.H.3”.

Após uma peça musical, volta o mesmo orador a ocupar o microfone, lendo, pela segunda vez, a pedido de inúmeros espíritas, a confortadora e incentivadora mensagem de Humberto de Campos – “A Voz de Piratininga”.

Ocuparam ainda o microfone, os seguintes confrades: Caetano Mero, Presidente do Programa Radiofônico Espírita Evangélico do Brasil, que falou aos Espíritas em geral; Jacques B. Motolá, em nome do Centro Espírita 13 de Maio “Luz da Esperança”, de que é Presidente; leitura de uma mensagem do Cap. Martins Ferreira de Almeida, que não pôde comparecer à inauguração; Dr. Geraldo de Azevedo, presidente do São Paulo Esperanto Club”, que leu uma mensagem de Ismael Gomes Braga.

Foi transmitido o conteúdo de telegramas de felicitações que à União Federativa Espírita Paulista enviaram inúmeros Centros e Associações Espíritas.

As conferências foram entremeadas por escolhidas peças musicais.

Mais uma vez, nossas felicitações aos empreendedores dessa obra santa, almejando ao Programa Radiofônico Espírita Evangélico, uma existência sempre bafejada pelas graças do Alto.(RIE, 15/4/1940).

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Sociedade Rádio Piratininga

P. R. H. 3

Conforme fora amplamente anunciado, verificou-se, dia 30 do mês passado, às 19 horas, a inauguração oficial da Rádio Piratininga P. R. H. 3, instalada no Brooklin Paulista, a rua Pay-Pirá.

Fez o discurso inaugural, o apreciado orador e escritor espírita, Prof. Romeu de Campos Vergal, Presidente da “P. R. H. 3”, fazendo girar o seu belíssimo, palpitante, confortador e fraternal discurso em torno do papel que ao Brasil cabe desempenhar na espiritualização da humanidade.

Após alguns números musicais, ocupou o microfone o sr. Odilon Negrão, que fez o histórico dessa estação emissora, louvando os esforços inauditos dos empreendedores de tão importante obra, os quais arrostaram sobranceiramente com todas as dificuldades que amiúde surgiam à sua frente, obra essa coroada de êxito pela força da fé e da fraternidade dos espíritas.

Falaram, ainda ligeiramente, diversos oradores, cujos nomes, devido às más condições atmosféricas, não nos foi possível apontar.

À Sociedade Rádio Piratininga P. R. H. 3, que tem a desempenhar uma importantíssima tarefa, qual seja a de fazer reboar pelos ares a palavra do Senhor, nossas sinceras felicitações com votos de Vida Eterna. (RIE, 15/4/1940).

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Mais registros históricos

Em 1937, Henrique Andrade (1889-1968), escrevia a Cairbar Schutel, relatando que em 1932 já ocupava o microfone da Rádio Educadora (Rio) para pregar o Espiritismo; em nome da Sociedade Espírita Escolar, no mesmo ano, o Dr. J. M. Lemos, de Porto Alegre, também ocupava as manhãs de Domingo com palestras espíritas na Rádio Difusora (ou Farroupilha); em 1939, Leopoldo Machado irradiava suaHora Espírita Radiofônica em Nova Iguaçu.

Como registram algumas notícias reproduzidas aqui, Cairbar Schutel realizou suas conferências radiofônicas “neo-espíritualistas” pela Rádio Cultura Araraquara, PRD-4, de 19 de agosto de 1936 a 2 de maio de 1937, num total de 15, enfeixadas posteriormente em livro sob o mesmo título.

Cairbar realizou também algumas conferências radiofônicas em Sorocaba e junto com Caetano Mero, tentou conseguir espaço para realizá-las em emissoras da cidade de São Paulo, sem lograr êxito nesse intento.

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Rádio Piratininga

Em dezembro de 1936, Caetano Mero (1891-1973), Presidente da União Federativa Espírita Paulista, requereu pela primeira vez, do Ministério da Viação, um prefixo para a criação de uma Rádio para divulgação do Espiritismo, concessão essa negada “por falta de canais”.

Consciente da importância desse novo meio de comunicação, Caetano Mero começou a apresentar um programa de propaganda espírita na Rádio Educadora Paulista.

Em 1939 Mero adquiriu do Sr. Floriano Peixoto Costa o Prefixo PRH-3 por cento e sessenta e cinco mil cruzeiros e inaugurou, em 8 de março de 1940, a Rádio Piratininga, que funcionou até 22 de outubro de 1942, quando foi arbitrariamente fechada pelo Decreto n.º 10.659 do Presidente Getúlio Vargas.

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O Caso da Rádio Piratininga na Assembléia

Legislativa de S. Paulo

Na sessão do dia 28 de março, um dos brilhantes representantes do povo, o médico e nosso confrade Dr. Euclydes de Castro Carvalho como primeiro orador dos trabalhos do dia, ocupou a tribuna daquele congresso constituinte para tratar do fechamento da Rádio Piratininga, em 1942, dizendo que esse ato foi uma injustiça praticada pelo governo federal. Finalizando seu discurso, o orador enviou um requerimento à mesa, pedindo prefixo para o funcionamento daquela emissora. (Revista O Revelador).

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A moção Votada pela Constituinte Paulista

A moção n.º6, do Deputado Euclydes de Castro Carvalho ( – 1972), foi redigida nos seguintes termos: “Em vista da exposição clara e incisiva que fiz em relação ao fechamento da Rádio Piratininga, proponho à Casa que autorize o Sr. Presidente da Assembléia Legislativa de São Paulo, a redigir telegramas aos Exmos. Srs. Presidente da República, Ministro da Viação e Diretor Geral dos Correios e Telégrafos, pedindo a reabertura da Rádio Piratininga, praticando assim 4, um ato justo e francamente democrático que se ajusta com o regime atual da nossa Pátria. Outrossim, dirigir, ao Sr. Governador do Estado de São Paulo, um oficio, enviando cópia de tudo quanto foi exposto, para que ele, também, como digno paulista, defensor de todas as causas nobres e justas, como paladino de direito dos oprimidos, possa, com a autoridade que a lei lhe confere, interceder, igualmente, junto aos poderes competentes para que cesse tamanha iniqüidade e injustiça que recaem sobre grande parte do povo brasileiro e sejam reparadas, pois que a Rádio Piratininga, sem favor, gozava de grande simpatia de todos os corações bem formados, que colhiam grande proveito dos seus programas, moral e espiritualmente selecionados, que eram por aquela emissora irradiados. Sala das Sessões, 7 de Abril de 1947. – Castro Carvalho”.

A Mesa pôs em votação a moção n.º 6 de 1947 do Deputado Sr. Euclydes de Castro Carvalho. E, por fim, o Sr. Presidente da Assembléia a considerou aprovada pelos senhores representantes do povo paulista.

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Chico Xavier psicografa mensagem de incentivo

Mostrando que a Espiritualidade Maior se encontrava preocupada com os destinos da Radiodifusão Espírita, Humberto de Campos psicografa mensagem de incentivo a Caetano Mero e sua equipe da Rádio Piratininga através da mediunidade de Chico Xavier.

Vinícius (1878 – 1966) teve a primazia de ler no ar a comunicação por ocasião da inauguração da Emissora, em 30 de março de 1940. Apresentamos aqui, trecho da mesma, intitulada “A Voz de Piratininga”:

(…)

Essas imagens consoladoras e simples dos tempos apostólicos surgem, naturalmente, na tela infinita da nossa imaginação, nesta hora em que a família espírita paulista inaugura a sua tribuna evangélica, continuando as suas tradições de amor e de trabalho, dentro do organismo ciclópico do Brasil.

A “Rádio Piratininga”, sob as bênçãos de Deus, será essa cátedra da Verdade, instalada com a sua poderosa antena no céu, reafirmando a palavra de Jesus do cimo dos telhados coerente com as promessas sublimes da profecia.

Enquanto o mundo confuso e atormentado utiliza os microfones para as mensagens de guerra e extermínio, a Pátria do Evangelho mobiliza as suas forças do progresso humano para o advento da era nova, de concórdia e de redenção, pelo esforço sereno de seus filhos.

E, como não devemos perder de vista as missões individuais e coletivas, somos compelidos a identificar nesse feito os antigos trabalhadores dos primórdios da evolução brasileira, aqueles mesmos bandeirantes que devassaram a noite verde do sertão áspero e solitário, enfeitando a terra moça de frutos e de flores, enquanto buscavam o ouro de suas experiências. Eles também haviam abandonado o conforto da família, sangrando os pés no apostolado de trabalho e de edificação, seguindo sempre na mesma rota de beleza, para deixar, atrás de seus passos e de suas lágrimas, um Brasil sempre novo, sorrindo no berço de sua grandeza indefinida.

Observando a canalização da fortuna paulista para esse feito, de profunda significação para as energias espirituais, lembramos, então, que os bandeirantes novos sairão, outra vez, de São Paulo na boa cooperação com os seus companheiros de fé, localizados em outros setores da doutrina, não mais revolvendo as riquezas do coração da terra, mas entornando o ouro da Verdade sobre os corações dos homens, na sua maravilhosa bandeira espiritual, pela voz sadia e alegre, generosa e renovadora de Piratininga.

E é por essa razão que, deixando transbordar o meu agradecimento e o meu jubilo, ergo a Jesus o meu pensamento singelo, suplicando a sua benção para os nossos companheiros de esforço, dedicados discípulos de Seu Evangelho de Redenção.

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Rádio Progresso

O insucesso da Rádio Piratininga não foi suficiente para desanimar o idealista confrade Caetano Mero.

Em 29 de agosto de 1954, às 14 hs, ele colocava no ar a Rádio Progresso de São Paulo, com estúdio central localizado à Av. da Liberdade, 1034 (fone 32-8708), na cidade de São Paulo, também voltada à divulgação doutrinária espírita.

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Convite

Prezado Senhor,

A “Rádio Progresso de São Paulo Limitada”, será oficialmente inaugurada no próximo dia 29 de agosto, às 14,00 horas.

Com o fito de dar maior brilho ao ato solene de abertura daquela emissora, muito apreciaria o valioso concurso da presença de V. Excia. e Exma. Família. no dia e hora mencionados no convite anexo, no local dos seus estúdios provisórios: Rua André Paulinette, 319, no Bairro de Brooklin Paulista, São Paulo.

Na expectativa do honroso comparecimento de V. Excia. antecipadamente agradecemos.

RÁDIO PROGRESSO DE SÃO PAULO LIMITADA.

Caetano Mero – Presidente

Rádio Progresso de São Paulo esteve no ar sob a diretriz dos postulados espíritas por quase quinze anos. A saúde debilitada de Caetano Mero e outras razões que não nos foram possíveis detectar, provocaram o encerramento de suas atividades.

Hora Espiritual

Este Programa Radiofônico, que já vinha funcionando sob a responsabilidade da Liga Espírita do Estado de São Paulo, assume responsabilidades de personalidade jurídica, conforme documento que conseguimos recuperar no Diário Oficial de 8 de agosto de 1952.

“Hora Espiritual”

Extrato dos Estatutos

Por Assembléia Geral dos mantenedores, realizada em São Paulo em 12 de julho de 1952, foi dada a personalidade jurídica a “Hora Espiritual” patrocinada por todas as pessoas e instituições sociais espíritas objetivando pregar o Evangelho de Jesus, a Doutrina Espírita coodificada por Allan Kardec. A realizar a fraternidade humana. É dirigida por um Presidente, Secretário e Tesoureiro, mais três diretores suplentes. O mandato é de cinco anos. A Assembléia é o poder soberano. Os mantenedores não respondem subsidiariamente pelos compromissos assumidos em nome da entidade associativa. Os casos omissos são resolvidos pela Diretoria. Os estatutos poderão ser reformados após cinco anos de vigência. São seus diretores: Presidente Antenor Ramos; Secretário Dr. Eurípedes de Castro; Tesoureiro Francisco Alpiste Gomes.

Antenor Ramos – Presidente.

Rede Boa Nova de Rádio

Fundado em 1949, o Centro Espírita Nosso Lar, inicialmente estabelecido à Rua Ezequiel Freire 732, Santana, tinha pela frente grandes missões a serem cumpridos. Em 1958, um chamado do Alto fez com que os companheiros encarnados inaugurassem as Casas André Luiz com 212 crianças e que hoje mantém cerca de 1.100 crianças com deficiências física e mental carentes e sem família.

A Espiritualidade, no entanto, não estava satisfeita. O grupo poderia render mais. Outros compromissos viriam pela frente. Os espíritos começaram a insuflar mais idéias: o Evangelho deve entrar nos lares pelos telhados! O recado estava dado, mas não foi compreendido. Alguns confrades logo trouxeram à memória as palavras sonhadoras do poeta: Ora, direis, ouvir estrelas? Só foram compreender o sentido exato do “Evangelho e os telhados” quando surgiu a oportunidade da aquisição, em março de 1963, da P.R.D. 7, Rádio Clube de Sorocaba. Os proprietários da emissora, espíritas, só a venderiam a pessoas que dessem continuidade à linha doutrinária da Rádio. Sorocaba, palco da primeira palestra espírita em Rádio no Brasil, no ano de 1932, sempre teve tradição da radiodifusão espírita, conforme podemos atestar pelos registros da imprensa espírita desde então.

Iniciou-se, assim, mais um grande projeto do C. E. Nosso Lar e, entusiasmado com a aquisição, o grupo, em maio de 1964, comprou a então Rádio Difusora Hora Certa de Guarulhos, do Grupo Paulo Machado de Carvalho. Os próximos passos foram alterar o nome da emissora para Rádio Difusora de Guarulhos e aumentar a potência para mil watts.

Em 1975 a emissora passou a funcionar com 5.000 watts de potência e mudou o nome para Rádio Boa Nova, incorporando o “slogan” Em prol de um mundo melhor.

Um marco na vida da emissora foi a promoção conjunta que realizou com a FEB e a USE em 3 e 4 de outubro de 1987 denominada Encontro Regional sobre Rádiodifusão Espírita, que teve a participação de mais de 50 confrades radiocomunicadores de 5 Estados e muitas idéias discutidas.

Deixando de ser uma Rádio local, em 1995 houve um aumento de potência para dez mil watts e, em julho de 2000, para 40.000 watts. Em janeiro de 2000 iniciou-se a transmissão via satélite e, em março, via satélite analógico e com seus eventos nasceu a Rede Boa Nova de Rádio, que agora faz grandes coberturas nacionais, como o 1.º Congresso Espírita Brasileiro realizado em Goiânia. A administração atual da Rede tem Osmar Marsille como Superintendente; Jether Jacomini Filho como Diretor Artístico e Comercial; Éder Fávaro como responsável pela área Doutrinária; e Gastão de Lima Neto como Diretor daRádio Clube de Sorocaba. A Rede conta, ainda, com um plantel de 45 funcionários e 170 colaboradores espíritas/espiritualistas.

Rádio Boa Nova atua no prefixo AM 1450, Grande São Paulo, aguardando um prefixo FM; e a Rádio Clube no prefixo AM 1080 (Sorocaba e região). Pela Internet o endereço é www.radioboanova.com.br.

É o Evangelho penetrando nos lares pelos telhados. A missão foi compreendida e realizada.

Entre Dois Mundos

Sob o título acima, a Sociedade de Estudos Espíritas “3 de Outubro” levou ao ar, pela Rádio Difusora de São Paulo, por vários anos, nas manhãs de Domingo, este programa de difusão doutrinária.

Publicados alguns dos textos que foram ao ar, posteriormente, em livro pela LAKE, o Programa teve grandes intelectuais espíritas revezando-se ao microfone: Vinícius, Prof. Anselmo Gomes, Anita Briza, Benedito Godói Paiva, Dr. Luiz Monteiro de Barros, Herculano Pires, Profª. Luiza Peçanha de Camargo Branco, Nancy Puhlmann, Neyde Schneider, General Levino Cornélio Wischral, Dr. João Pereira de Castro, Dr. Hernani Guimarães Andrade e outros.

A Sociedade mantinha o Sanatório 3 de Outubro, em Campos do Jordão, para tratamento de tuberculosos.

No Limiar do Amanhã

Indo ao ar em junho de 1971 pela primeira vez, No Limiar do Amanhã foi um programa espírita apresentado por Herculano Pires, que logo caiu no gosto popular e se manteve vários anos irradiado pela Rádio Mulher, de São Paulo, aos domingos às 18:30 hs. Sua seção de perguntas e respostas tornou-se a grande alavanca jornalística do programa.

Convidado pelo radialista Roberto Montoro, Herculano Pires assim historiou o mesmo, em entrevista publicada no Anuário Allan Kardec – 75:

Quem inventou de levá-lo ao ar foi o Montoro e quem estruturou fui eu. Pertencemos ambos ao Grupo Espírita Emmanuel, de São Bernardo do Campo, que patrocina o programa. Tudo é feito na base do leite de pato. E graças a isso gozamos da mais ampla liberdade. Podemos tratar do Espiritismo em todos os seu aspectos sem qualquer restrição e responder a qualquer pergunta.

No começo tivemos uma equipe de colaboradores entusiastas e fizemos até mesmo programas de auditório. Depois os colaboradores se evaporaram. Hoje conto com a dedicação de Jurema Yara e Dulcemar Vieira, locutoras de rádio. Já estamos no quarto ano de transmissões, havendo cada vez maior interesse do público. Acho que acertei com a fórmula. O programa é transmitido também pela Rádio Morada do Sol de Araraquara, e pela Rádio Difusora Platinense, de Santo Antonio da Platina, Paraná. Nesta última, Aldrovandro Góes – Um sujeito que é como a girafa: não existe e nem pode existir – distribui gravações do programa para mais de uma dezena de emissoras daquele Estado, de Minas Gerais, do nosso próprio Estado e do norte e nordeste, inclusive para uma emissora do Recife.

Na Rádio Morada do Sol, de Araraquara, em 1998, o programa ainda era levado ao ar aos sábados às 19 horas, segundo conseguimos apurar.

Breves conclusões

O início das transmissões radiofônicas revolucionou as comunicações. Quando surgiu a televisão, previu-se erroneamente que a era do Rádio tinha dias contados.

Isso não aconteceu. Há espaço e público para Rádio, TV e, agora, Internet. Cada veículo tem sua própria linguagem, seu público, sua maneira de comunicar.

O rádio sobreviveu a todos os avanços tecnológicos e continuará tendo seu espaço na comunicação de massa. A dona de casa cumprindo seus afazeres domésticos, o estudante fazendo sua lição de casa, o pai lendo jornal, o executivo acompanhando o esporte à direção de seu carro, a jovem curtindo a parada de sucesso, todos têm seu momento diário junto ao rádio, embora façam uso dos demais meios de comunicação.

Daí tirarmos a conclusão de quão importante é a divulgação espírita pelas ondas hertezianas e incentivarmos iniciativas na área.

No ar, caros ouvintes, as idéias espíritas.

Eduardo Carvalho Monteiro
[email protected]