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Transcomunicação: mundo de fantasias e ilusões

Desde as primeiras publicações na imprensa espírita falando da chamada Transcomunicação
Instrumental com o mundo invisível, A Voz do Espírito foi o primeiro jornal a publicar
matérias mostrando que tais técnicas estavam envolvidas com fantasias e obsessão
provocadas por Espíritos inferiores.

Na época, o espírita baiano Clóvis Nunes andou pelo interior do Estado de São
Paulo fazendo palestras sobre o tema, induzindo dirigentes e trabalhadores espíritas
a ficarem acordados depois da meia-noite, tentando sintonizar aparelhos de rádio
com supostas “estações transmissoras” existentes no Além. Por incrível que pareça,
encontrou crédulos que seguiram seus conselhos.

Hernani Guimarães Andrade, conhecido como cientista no meio espírita, publicou
nos jornais algumas matérias que falavam da chamada “nova ciência”. Um Espírito
pseudo-sábio chamado “Técnico”, transmitiu para o famoso casal de Luxemburgo, Jules
e Maggy Harsh, os maiores absurdos científicos que, para espanto de todos, eram
aceitos com toda naturalidade pelo pesquisador. Uma das utopias ditas pela entidade
foi o “aviso” de que se alguém gravasse algum transcontato, ele poderia ser “sugado”
para a quarta dimensão. Impressionante, mas o “meio cientista espírita” acolheu
a informação com naturalidade e comparou o possível fenômeno com o que acontece
no “triângulo das Bermudas”. E todos se entusiasmaram.

A Transcomunicação só despertou algum interesse dos espíritas por causa da realização
de dois congressos falando do tema, e pelo estardalhaço que fazia a Folha Espírita,
periódico dirigida pela médica Marlene Severino Nobre. Durante anos seu jornal apresentou
para todo o Brasil, aquilo que julgava ser uma importante novidade do mundo espiritual.
Artigos imensos, assinados por Hernani, falavam de uma nova nomenclatura para os
fenômenos da mediunidade, lançando confusão já no confuso Movimento Espírita.

Sônia Rinaldi, também discípula de Hernani e exaltada adepta da TCI, chegou a
publicar livros falando do assunto.  Esmerou-se em fazer as pessoas acreditarem
que ela recebia telefonemas do Além na própria residência.

A Folha, depois de publicar uma fotografia (chamada pomposamente de “transfoto”
) de um castelo existente na Espiritualidade, viu-se obrigada a manifestar-se publicamente
para reconhecer a fraude de que tinha sido vítima. Um leitor desconfiado encontrou
uma fotografia do templo de Jain (na Índia), quase idêntica à tal “transfoto”, mostrando
que o fenômeno era mesmo uma fraude. Resultado: o jornal resolveu parar de publicar
as “novidades” da Transcomunicação.

Recentemente o programa Globo Repórter, da Rede Globo de Televisão, entrevistou
um grupo de pesquisadores do Rio de Janeiro que dizia captar sons das “estações”
transmissoras do Além. O resultado simplesmente foi catastrófico. Tudo era feito
no mais puro empirismo. As “mensagens” resumiam-se em palavras que dependiam de
determinadas colocações feitas por locutores de rádios alemãs, sintonizadas propositalmente
para produzirem o “fenômeno”.

A equipe da reportagem levou a gravação para os peritos da Unicamp examinarem.
Os melhores técnicos do país, usando modernos equipamentos de investigação disseram
que não havia nada ali. Tudo dependia da imaginação das pessoas em querer ouvir
sons que na verdade não existiam.

Não precisamos falar do prejuízo que isso traz à imagem do Espiritismo.

A Transcomunicação é cercada de teses sem consistência científica. Os fenômenos
que envolvem gravação de vozes dos Espíritos são antigos e nada mais significam
do que os efeitos físicos a que se referia Allan Kardec. Alguns escritores espíritas
e editoras acreditaram numa nova revelação. Houve até quem achasse que ela teria
vindo provar à humanidade a existência do Espírito. Livros foram escritos para tentar
convencer que a TCI era mesmo  a salvação do planeta.

No I Congresso Internacional de Transcomunicação, realizado em São Paulo, foi
possível conhecer os “pesquisadores” do exterior. Na verdade, eles eram alguns aposentados
professores, que montavam parafernálias eletrônicas e ficavam a investigar possíveis
contatos com o mundo dos Espíritos. Qualquer sussurro de vozes, ou “fantasmas” de
transmissões, logo eram tidos como transcontatos.

Quanto indagados sobre os princípios dessas comunicações eles não conseguiam
oferecer nenhuma hipótese convincente que pudesse explicar as vozes paranormais.
Para eles as comunicações ocorriam ao acaso. Não havia aparelho específico. Poderia
ser um rádio, um gravador, uma velha TV ou qualquer coisa onde na verdade os Espíritos
pudessem interferir com efeitos físicos. Cientificamente nada disso tinha valor,
mas as pessoas envolvidas continuavam fascinadas pela idéia de que iriam transformar
a humanidade.

O que as idéias não conseguiram fazer iria ser feito pelos aparelhos. Sim, Deus
iria salvar a humanidade usando a matéria. Idéia absurda, mas ninguém se importava
com isso.

Os congressos de Transcomunicação fracassaram doutrinariamente. Fizeram muito
barulho para nenhum resultado palpável. E, é bem possível, que não se encontre mais
grupos dispostos a promover tais eventos.

Na verdade ainda não existem mensagens vindas por esses meios que mereçam crédito.
Ao contrário, muitas coisas que as entidades ligadas à TCI escrevem mostram estreiteza
de visão dos “técnicos” do lado de lá e obsessão e fascinação daqueles que estão
do lado de cá.

A Transcomunicação é uma doutrina inócua quando pretende colocar uma máquina
entre o homem e Deus. Normalmente, para se conseguir boas comunicações com os Espíritos,
as pessoas têm de esforçar-se na prática do Bem e no automelhoramento. Se insistirem
na Caridade, conseguirão a simpatia dos bons Espíritos que virão comunicar-se com
elas. Na TCI nada disso é necessário. Basta sintonizar com as tais “estações” existentes
no plano invisível, sem qualquer esforço nessa área.

Dizem que na TCI só existem Espíritos bons. Os inferiores não podem entrar nas
“estações”. Isso é um absurdo doutrinário, mas parece os adeptos desse mundo de
ilusões não o percebe.

O Espiritismo é uma doutrina essencialmente moral. É a integração da consciência
do homem à Consciência Divina.

O espírita não necessita de acessórios para contactar com o mundo dos Espíritos,
conforme nos ensina Allan Kardec, pois tem seu próprio pensamento. As mesas girantes
tiveram seu papel no início do Espiritismo e não tem qualquer sentido querer retornar
ao passado, mesmo que seja numa versão eletrônica. Teorias esdrúxulas como a TCI
só encontram espaço no meio espírita porque ele está enfraquecido, improdutivo,
sem novidades. É isso que precisa mudar.

Os dirigentes espíritas possuem as melhores máquinas de contato com o mundo invisível:
são os médiuns. O laboratório de pesquisas da casa espírita é sua sala de atividades
mediúnicas. Deixemos de lado as fábulas e as fantasias criadas pelos Espíritos enganadores
e sigamos conforme nos orienta o Codificador do Espiritismo.

(Jornal A Voz do Espírito Edição 90: Março – Abril de 1998)