Um é o Que Semeia, e o Outro Que Ceifa
‘Eu vos enviei a ceifar onde vós não trabalhastes; outros trabalharam e
vós entrastes no seu trabalho”. ( João, 4;38 )
Não são somente os participantes das religiões terrenas que desfrutam do
privilégio de, após ultrapassarem o limiar do túmulo, receberem do Alto as
recompensas pelo esforço dispendido e pelas atribuições suportadas na Terra. Os
chamados hereges, relegados pelas religiões terrenas, também receberão,
independentemente do caráter religioso que deixaram de emprestar à sua vida, os
frutos das sementes que plantaram, na razão direta do bem que tenham feito.
Muitos materialistas que fazem de suas vidas um apostolado de dedicação ao
bem-estar e em benefício do gênero humano, procurando conquistar melhores dias
para a humanidade, de modo algum perderão o seu galardão.
O preceito “Um é o que semeia, e outro o que ceifa” tem seu profundo sentido
evangélico. Jesus Cristo, quando do desempenho do seu Messiado na Terra,
praticamente só semeou no seio do povo de Israel. Ele mesmo chegou a dizer que
não havia sido enviado senão às ovelhas perdidas da “Casa de Israel” (
Mateus, 15;24); nem por isso os gentios, muitos dos quais não tiveram a
graça de assimilar os ensinos do Mestre, mas tiveram uma vida reta e pautada nas
Leis do amor ao próximo, deixaram de receber a devida recompensa, relativa ao
seu estágio evolutivo, quando suas almas demandaram o reino espiritual. Talvez
muitos dos judeus que habitavam a velha Jerusalém, ao tempo que o Mestre fez a
sua sementeira, não tenham tido acesso tão fácil no mundo dos Espíritos como
muitos dos gentios seus contemporâneos.
Paulo de Tarso não ouviu diretamente as palavras de Jesus Cristo, e, não
obstante, se tornou um dos mais ardentes paladinos da Boa Nova. Alguns dos
antigos Filósofos gregos também não receberam as palavras de Jesus, pois viveram
alguns séculos antes; no entanto, seus conceitos merecem os mais efusivos
encômios por parte dos verdadeiros cristãos.(Allan Kardec, em sua obra, menciona
os filósofos Sócrates e Platão.) Os sábios e cientistas, que não tiveram
oportunidade de dispensar muito dos seus esforços para elevação espiritual, não
deixarão, contudo, de fazer jus às recompensas do Poder Divino, uma vez que suas
ações e descobertas serviram para beneficiar acentuadamente o gênero humano,
dando-lhe novos impulsos.
A misericórdia divina é eqüitativa e distribui, como o sol, os seus raios
vivificantes sobre todos aqueles que, de um modo ou de outro, tenham contribuído
para elevação do homem na senda do progresso, predispondo a criatura a mais
rápida aproximação com o seu Criador.
(Jornal Mundo Espírita de Março de 1998)