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Um Gesto em Betânia…

Um Gesto em Betânia…

Betânia dista cerca de 3 quilômetros de Jerusalém. Era ali, na
chácara dos irmãos Marta, Maria e Lázaro, o local onde Jesus costumava se
acolher à noite, após as pregações em Jerusalém, cidade que lhe era hostil.

Uma semana antes dos acontecimentos que culminariam na sua prisão e morte,
Jesus esteve em Betânia. Certa noite, foi convidado por um tal de Simão,
ex-leproso, para um banquete em sua casa.Os irmãos também foram convidados, eis
que Jesus era hóspede em sua casa.

Pois, enquanto todos pareciam alegrar-se, uma figura havia que se mostrava
muito triste. Ela olhava para o Mestre e seu coração pressentia que aquelas eram
as horas da despedida. Que logo mais o Mestre amado partiria para outras
paragens.

Essa figura se chamava Maria, a irmã de Lázaro e de Marta. Então, em meio ao
banquete, ela se ausentou e correu até sua casa. Remexeu em seus guardados, até
encontrar um vaso de alabastro finíssimo, cheio de perfume de nardo genuíno.
Devia pesar cerca de 350 gramas. Tomando-o nas mãos, retornou mais que depressa
ao local do banquete.

Postou-se por trás de Jesus e destilou, caprichosamente, o precioso conteúdo
do frasco pelo trigal maduro dos cabelos do Mestre.

Para aproveitar até a última gota, quebrou o gargalo fino, deitou o restante
sobre as vestes de Jesus.

Ao seu gesto, seguiu-se um grande murmúrio pela sala e todos os olhos se
cravaram em Maria.

Houve quem falasse de desperdício, de venda do produto e auxílio aos
pobres…

Ao tempo do Cristo, entre o povo de Israel, os perfumes eram muito usados
pelos homens e pelas mulheres. Serviam-se deles os judeus tanto para atenuar os
inconvenientes da sudação, no país quente em que viviam, quanto por apurado bom
gosto.

Lê-se no Velho Testamento que a rainha de Sabá trouxe camelos carregados de
perfumes ao rei Salomão, que Ester, antes de se apresentar ao rei Assuero, tinha
se perfumado durante um ano. A noiva descrita no “Cântico dos Cânticos”
derramava óleo de odores fortes.

Por isso mesmo, as mulheres de Israel encontravam, nos textos sagrados, um
grande encorajamento para se utilizarem de perfumes.

Em Jerusalém, as mulheres podiam despender em perfumes um décimo de seu dote,
preparando-se, com certeza, de forma muito especial para o seu amado, na sua
noite de núpcias.

Algumas chegavam mesmo a portar sob os pés minúsculos vaporizadores de pele.
Ao desejarem, bastava-lhes pressionar o dedo grande para que uma onda de
perfumes as abraçasse, encantando o seu pretendente.

Alguns perfumes eram extremamente caros e raros. Tal o nardo, de odor
penetrante, esse mesmo que Maria derramou sobre a cabeça de Jesus e inundou a
sala inteira.

Ao seu gesto, escandalizaram-se naturalmente os que ali se encontravam, por
imediatamente fazerem a associação ao processo de sedução utilizado pelas
mulheres, em que o perfume era o ingrediente primordial.

Eis porque Jesus, entendendo-lhe a intenção e o grande amor que ela ali
expressava, disse a todos: “Deixai-a em paz! Por que molestais essa mulher? Ela,
derramando sobre o meu corpo este bálsamo, prepara-me para a sepultura. Em
verdade vos digo que, onde quer que for pregado este Evangelho, em todo o mundo,
será contado também em sua memória o que ela fez.”

O amigo entendeu o gesto de quem amava com extremos de ternura e por isso
expressa, no ensino, o valor incondicional da manifestação do afeto,
convidando-nos a aprender a valorizar as expressões da amizade e do amor
elevado.

(Jornal Mundo Espírita de Junho de 1999)