Um Manto de Estrelas
Era cerca de oito horas da noite e o céu escuro mostrava um maravilhoso manto
estrelado. Eram tantas as estrelas que parecia que disputavam um lugar para se
mostrarem aos homens.
Alguns garotos vinham caminhando pela calçada mal iluminada quando pararam
curiosos. Uma mulher magra, muito magra, vestida com trapos sujos, espalhou
alguma folhas de jornal no chão e praticamente desabou sobre elas. Sentou-se com
muito esforço e tirou de uma sacola de pano, também suja, uma garrafa de
aguardente e bebeu com sofreguidão. Depois deitou-se e cobriu-se com algumas
folhas que restaram.
Um dos meninos quis zoar com ela, mas um outro impediu-o com decisão. O grupo
de garotos entre risadas e sarcasmo passou pela mulher estendida no chão, menos
aquele que impediu a violência contra ela. Ele parou como que fascinado por
aquela figura maltrapilha de corpo e de alma. Entre eles houve como uma ligação
magnética instantânea.
Na mente do menino apareceram imagens. No recesso do lar muitas vezes ele
vira a mãe alcoólatra caída, e as discussões terríveis entre ela e o pai. Teve
um grande medo do futuro, mas jurou a si mesmo que jamais permitiria que tal
coisa acontecesse com sua mãe adorada. Olhou para o céu estrelado enquanto duas
grossas lágrimas caíram de seus olhos molhando sua camisa. Imaginou que o céu
fosse um cobertor de estrelas cobrindo aquela infeliz, e fez uma prece por ela.
A mulher, talvez sentindo o magnetismo do olhar daquele garoto, olhou para
ele e sorriu, no que foi correspondida pelo menino. Ela falou com certa
dificuldade:
– Vai para sua casa meu filho, sua mãe já deve estar preocupada.
O menino disse: – Boa noite, dona! E saiu correndo para alcançar a turma, mas
de vez em quando olhava para traz e pedia às estrelas que a mantivesse coberta.
Enquanto tivermos a ternura de um coração infantil temos a certeza de que a
paz vencerá. Vamos lutar contra o mal, porém com amor no coração.