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Uma Falha: Sim ou Não?

Uma Falha: Sim ou Não?

Assim, em linhas gerais, está traçado um pequeno esboço de como surgiu o
primeiro ser vivente organicamente na Terra. Numa fase posterior, criou-se a
célula. Daí para a frente tudo seguiu o caminho da constante evolução biológica.

Kardec errou?

Ora, se tudo o que dissemos acima, através de estudos científicos foi
comprovado e analisado, fica a seguinte interrogação: teria Kardec errado nesta
parte?

Aí depende de interpretação. Se formos daqueles que julgam a Doutrina
Espírita como uma obra terminada, que nada deve absorver, que Kardec disse tudo
sobre tudo, então ele realmente errou. Se, no entanto, encararmos os fatos de
uma maneira dialética, isto é, tudo num eterno “vir a ser”, então podemos dizer
apenas que Kardec analisou esta questão como um sábio do século passado, e, como
tal, não poderia estar a par dos avanços tecnológicos de nosso século, e,
portanto, não errou, ruas sim deixou incompleta esta questão, para que a própria
Ciência, no futuro, melhor aparelhada, restabelecesse a verdade dos fatos,
Secundo o próprio Kardec, “caminhando par e passo com o progresso o Espiritismo
jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas forem mostrar que ele
está em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificará neste ponto. Se uma
verdade nova se revelar, ele a aceitará”.

Isso responde suficientemente a questão, mas não explica a inércia dos
espíritas em deixar permanecer em uma de suas obras básicas, erros tão crassos
como es vistos anteriormente. É incrível a nossa indolência ante teorias com
mais de cem anos de superação, que permanecem como se ainda estivessem certas,
permitindo que homens de Ciência a riam-se às custas do nosso codificador,
taxando-o de “ultrapassado”.

Por que não atualizamos os escritos de Kardec trazendo-o ao século XX, ás
conquistas espaciais, às experiências biológicas modernas? Seria medo de
tomarem-nos por herejes? Acredito que não. Acredito sim num excesso de
misticismo que impede os espíritas de verem o “outro lado” da Doutrina, isto é,
seu lado científico. Onde estão as experiências de Bozzano, de Croockes, de
Rochas? Tudo deixa transparecer que a “fé raciocinada” do Espiritismo, cada vez
mais fé e menos razão.

Até quando ficaremos discutindo bizantinamente entre nós mesmos, no nosso
próprio meio, esquecendo de comparar, estudar a verdade, e não simplesmente uma
confirmação? Afirmações como “nada deterá a marcha do Espiritismo”, que “somos o
futuro da Humanidade”, e tantas outras que ouvimos por aí, nada valem se não
arregaçarmos as mangas e partirmos para um enfoque mais racional das verdades
espíritas.

(Revista Internacional de Espiritismo – Agosto de 1972)