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Vacinação desafio de urgência

Mas se o ano de 1890 é um marco na história da saúde física, o ano de 1857 é
o marco na história da saúde física e mental com a chegada do Consolador. Quando
Allan Kardec inspirado pelas “Vozes dos Céus” publicou “O Livro dos Espíritos” a
filosofia tremeu nas suas bases. Porque a Doutrina Espírita é a vacina que
arranca da treva, que apresenta a estrada da redenção e que diz que todos os
nossos erros são resgatáveis. O homem está na Terra em experiência evolutiva. A
Terra não é um lugar de degredo, não é o vale das lágrimas, não é o inferno. É a
bendita escola, é o jardim onde colhemos e semeamos. A Terra é o educandário de
luz, no qual forjamos a nossa própria evolução, no qual adquirimos as
experiências da nossa redenção. A Doutrina Espírita desde 1857, 123 anos atrás,
inaugurou a era do espírito imortal. Tem-se agora a certeza de que os mortos
voltam e voltam para nos arrancar do caos e nos levar na direção de Deus. Se nós
devemos a Behring, Kitasato, Klebs, Löeffler e a Ramon a era da vacinação,
devemos a Denis, Flammarion, Crookes, Delanne, Bezerra e a Kardec, iluminados
por Jesus, a era da vacinação mental, o prenúncio de uma era melhor, sem
poluição psíquica. Porque, à semelhança da Medicina, a Doutrina Espirita
institui da mesma forma as técnicas de vacinação, apresentando como referência
bibliográfica o Evangelho de Jesus, o maior tratado de Imunologia que a
humanidade conhece, como o afirmou Joaquim Murtinho pelas mãos de Francisco
Cândido Xavier. Os instrutores religiosos, mais do que doutrinadores, são
médicos do espírito, que raramente ouvimos com a devida atenção, enquanto na
carne.

A semelhança da soroterapia para as doenças orgânicas, instituiu a Doutrina
Espírita a desobsessão que vai desenvolver defesa estabelecida por ação
exterior. É um tratamento com dose muita vez indeterminada, porque é muito mais
fácil educar do que reeducar.

Os estados mórbidos da mente humana costumam ser distribuídos por duas
condições gerais de desordem mental: neurose e psicose, distintas primariamente
por intensidade de desarranjo. A primeira pertence à área da Psicanálise e a
segunda à da Psiquiatria. Neurose é um distúrbio emocional da personalidade que
conduz o doente a um estilo de vida desajustado. Ele está sempre em conflito
consigo mesmo e com o ambiente. No primeiro caso, porque tendências
contraditórias se debatem dentro dele, como a necessidade de afeto e a
hostilidade. No segundo, porque luta agressivamente contra os fatores externos
como se estes constituíssem uma ameaça à sua vida e, ao mesmo tempo, procura
recuar diante deles como se julgasse não poder enfrentá-los. Acha o neurótico
que deve lutar antes de cooperar e, por isso, é fortemente competitivo (ainda
que não pareça).

Neurose corresponde em trabalhos espíritas ao termo clássico perturbação,
definida como estado de ânimo desajustado, em que o indivíduo não consegue
manter a estabilidade emocional e mental, desviando-se para a tristeza,
pessimismo, desânimo, agressividade e reações negativas desse tipo.

A fim de alcançar um ajuste precário com a circunstância em que vive, o
paciente vê-se forçado a criar diversas maneiras de pensar e agir, conhecidas
como pseudo-soluções, visto não resolverem o problema íntimo. Muitos são os
comportamentos apresentados, mas as pessoas assumem um de três tipos de atitude
geral (com inúmeras variações individuais) : 1) aproximam-se dos outros porque
precisam ansiosamente de afeto e não suportam a solidão; 2) opõem-se porque são
agressivamente ambiciosos e querem dominar e possuir tudo; 3) afastam-se porque
mal toleram o contacto humano e sentem-se melhor no isolamento. São três
atitudes predominantes que não excluem as opostas, também presentes mas
inaparentes. O sujeito que está em oposição aos outros é carente de afeição, mas
procura ocultar isso. Servem para caracterizar três tipos básicos de
personalidade: complacente, agressiva e indiferente. O homem normal contém esses
elementos em proporções equilibradas. É amistoso, solidário, cooperativo.
Sintomas orgânicos aparecem não em número pequeno (depressão, fobias,
palpitações, inibição, cansaço, angústia, micção freqüente, etc.)

Aspecto fundamental do estado neurótico são as perturbações nas relações
humanas e no trabalho. Pelas atitudes acima mencionadas, vê-se logo que o
neurótico defronta enormes dificuldades no relacionamento com os seus
semelhantes. Tanto que uma das definições afirma que “a neurose é uma
perturbação nas relações humanas”; em suma, é-lhe muito difícil gostar dos
outros, tratar com os outros e confiar na amizade deles. A atividade no
neurótico é sempre inferior à sua capacidade, de modo que no trabalho ele é
pouco produtivo. Nota-se bem que as perturbações emocionais atrapalham
fortemente o aproveitamento da encarnação.

No curso da neurose o raciocínio conserva-se normal. Parece, às vezes,
desviado da normalidade porque usa bases falsas; assim, o sujeito pensa que
ninguém gosta dele, o mundo é um lugar mau e perigoso, ou inversamente ele adora
todo mundo. Ora, esses juízos são falsos e falseiam os raciocínios enunciados.
Na verdade, o mecanismo de pensar está intacto. Existe o senso da realidade e a
vida social é possível. O neurótico convive conosco, no trabalho e dentro do
lar.

Na psicose, a desorganização da mente é muito mais avançada. O senso da
realidade e a vida social mostram-se nulos ou quase.

O psicótico não pode conviver conosco, a sociedade manda segregá-lo para
tratamento e assim é indispensável, pois não pode responder pelo que faz.

O que mais importa perguntar é o que se mostra no fundo das neuroses e
psicoses, impregnando o espírito. Lá está, bem perceptível, a citada tríade
afetiva do desequilíbrio mental. Os agentes etiológicos, os “micróbios” do
egoísmo, do orgulho e da hostilidade numa associação sinérgica.

A causa geral de qualquer perturbação psíquica reside na desobediência
constante às determinações da Lei de Deus (abandono sistemático das obrigações
impostas pela Lei). Uns estão rebelados contra a vida, o mundo e Deus; outros
estão desanimados ante os obstáculos a remover do próprio caminho. Um dia,
eclodem os variados sintomas neuróticos ou psicóticos, conforme a intensidade da
perturbação íntima. Temos assim, como causa específica as imperfeições afetivas
do Espírito, sendo o egoísmo a base dos sentimentos desequilibrantes da alma,
esse excessivo apego ao próprio bem, sem considerar o dos outros. É a chamada
“hipertrofia congênita do eu” ou ainda “obsessão neurótica do eu”. Em outras
ocasiões encontramos associado o orgulho, inflação da personalidade, o desejo de
parecer superior ao que é. Assim esses indivíduos só se ocupam de suas
conveniências e vantagens. “Eles gostam de levar vantagens em tudo” ignorando os
outros. O psicólogo Adler e o psicanalista Ralph fizeram comentários muito
pertinentes quando dizem que “todos os fracassados – neuróticos, psicóticos,
criminosos, bêbados, crianças-problemas, suicidas, pervertidos e prostitutas –
dão à vida um sentido privado; ninguém é beneficiado pelas realizações dos seus
objetivos e os seus interesses não vão além de suas próprias pessoas…”.
Aninhado nas raízes inconscientes está sempre o grande fator que influencia a
conduta consciente – o egoísmo. A pessoa que é sempre teatro de lutas e dores é
a pessoa que está sempre ocupada com pensamentos relativos a si mesma.

Um fator a mais está sempre presente, a obsessão – a influência maléfica,
intencional ou inconsciente, exercida por Espíritos imperfeitos sobre a
humanidade encarnada, de modo prolongado. “O predomínio de uma mente sobre a
outra produzindo constrição”. A obsessão complica o quadro dos desequilíbrios já
existentes e é causa única de multas formas de demência. Um homem pode
enlouquecer só porque um Espírito mau se lhe aderiu à organização perispiritual,
dominando-lhe a vontade e impondo-lhe seus pensamentos. Valiosa contribuição no
campo da obsessão pode ser encontrada no livro do médico Adolfo Bezerra de
Menezes – “A Loucura sob Nova Prisma”. Estudos mais recentes, realizados no
Hospital Psiquiátrico de Uberaba, parecem indicar que o processo é mais comum do
que se supõe. A obsessão é portanto um constrangimento que um indivíduo sente,
graças à presença perturbadora de um ser espiritual. Pode ser classificada em
três graus distintos, como se lê em “O Livro dos Médiuns”, de Allan Kardec, que
as descreveu em seu capítulo XXIII como ninguém ainda o fez com tanta segurança.
A obsessão simples – muito peculiar a quase todos os indivíduos – seria um tipo
de “gripe emocional”, que todos nós podemos ser dela vítimas, porque vivemos num
mundo atribulado, imediatista, agressivo. Desequilibrando-nos e sintonizamos com
os Espíritos também agressivos e desequilibrados. Quando ela se agrava é a
obsessão por fascinação. O indivíduo se acredita abençoado por forças superiores
e não admite o intercâmbio com os Espíritos menos ditosos; finalmente, quando
ele perde o senso de equilíbrio, cai no que o Evangelho chamava de possessão e
que Allan Kardec, muito adequadamente voltou a denominar como obsessão por
subjugação. Subjugação porque a entidade subjuga-o, imprime-lhe a vontade e
passa a exercer nele um predomínio quase total.

Allan Kardec, antecipando-se às descobertas de Klebs e Löeffler (1883-84),
quando demonstraram a presença de uma entidade microbiana na difteria; as de
Behring e Kitasato (1890), demonstrando um fator neutralizante no soro de
animais de experimentação, e ainda as de Ramon em 1923, que introduziu a técnica
da vacinação antidiftérica, nos traz com “O Livro dos Médiuns”, no ano de 1861 a
técnica da desobsessão e revive, com auxílio do Espíritos abnegados, a técnica
da vacinação mental deixada há quase 2.000 anos por Jesus e hoje
redescoberta pelos estudiosos do comportamento humano como Adler. “O Evangelho
segundo o Espiritismo” deixa no século passado contribuição incomensurável,
permitindo ao homem a oportunidade de desenvolver recursos próprios de defesa
contra suas próprias imperfeições. Na doença diftérica a vacinação encontrou o
caminho adequado para livrar a criança muita vez da morte. Mais interessante é
que, insatisfeitos com “apenas” o vacinar, os pesquisadores desenvolvem um teste
para avaliar a relativa susceptibilidade da criança à doença, em outras
palavras, dispõe a ciência biomédica de um teste capaz de avaliar se a criança,
vacinada ou não, possui defesas capazes de protegê-la contra um ataque da
doença. Analogicamente possui o homem um teste seguro para verificar se a
evangelização surtiu efeito no sentido do desenvolvimento de recursos contra a
poluição psíquica. Conhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação
moral.

No campo do tratamento espiritual a desobsessão corresponde à soroterapia no
tratamento antitóxico da doença infecciosa. O médico socorre o paciente com a
injeção, intravenosa ou intra-muscular, do medicamento capaz de estabelecer
defesas (imunidade passiva) previamente produzidas no exterior. O indivíduo pode
ser reequilibrado de fora para dentro, mas o processo patológico foi exercido e,
ainda, corre risco de vida ou de sequelas. A evangelização infanto-juvenil atua
no mesmo campo da desobsessão, entretanto, à semelhança da imunização ativa
(vacinação), permite o desenvolvimento de “elementos de defesa”, mesmo antes do
contacto com as fontes de infecção. A criança vacinada, mesmo que possa sofrer o
processo de agressão microbiana e ficar doente, dispõe de resistência que
acarreta quadro clínico mais brando e cura em tempo menor. A criança
evangelizada será o homem vacinado do futuro e mesmo diante de um mundo
imediatista e atribulado responderá favoravelmente à atmosfera neurotizante das
grandes metrópoles.

Estabelecer um serviço de imunização infantil eficaz e permanente é, para
qualquer país, dar um passo adiante no sentido do desenvolvimento social e
econômico; estabelecer-se uma campanha nacional permanente de evangelização
infanto-juvenil é anunciar a era nova. É lançar as bases para que o país venha a
assumir o seu destino de coração do mundo, verdadeiro celeiro de amor. É por
isso que o ano de 1857 é mais importante que o de 1890. Se o ano de 1890 trouxe
a contribuição científica para a Medicina, a mensagem de 1857 trouxe Jesus de
volta para nós, dizendo-nos que a verdadeira felicidade consiste em dar, em
servir, em reter no coração a amor para distribuir em abundância.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bol. Ofic. Sanit. Pan. (OMS), 82(4): 285-299, 1977. Franco, D. P.
Anotações palestras diversas.
Kardec, A. O Livro dos Espíritos
(tradução). 51a ed. FEB, RJ, 1980. Kardec, A. O Livro dos Médiuns
(tradução). 4a ed. FEB, RJ, 1904.

Rizzini, C.T. Evolução para o Terceiro Milênio: tratado psíquico para o
homem moderno. 1
aed. EDICEL, SãoPaulo, SP, 1977.

(Reformador, 99 (1823): 61-64, fevereiro, 1981)

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