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Vencendo a Morte

Vencendo a Morte

“(…) O episódio de uma Vida não finda sob o selo de um sepulcro! Encerrado
em sua tumba, o homem renasce de suas mesmas cinzas, desenlaça as prisões que o
enleavam à carne e entra a viver de novo, a palpitar, a se agitar, a gozar ou a
sofrer…” (1)

Sem rebuços, afirmou Jesus(2):

“Aquele que ouve as minhas palavras e as pratica, jamais verá a morte.”

Segundo Sócrates(3), os homens que viveram sobre a Terra se reencontram,
depois da morte, e se reconhecem. O Espiritismo no-los mostra continuando as
relações que tiveram, de tal sorte que a morte não é uma interrupção, nem uma
cessação da Vida, mas uma transformação, sem solução de continuidade. Esse
ínclito filho da Grécia afirmou(3):

“De duas coisas uma: ou a morte é uma destruição absoluta, ou é passagem da
Alma para outro lugar. Se tudo tem de extinguir-se, a morte será como uma dessas
raras noites que passamos sem sonho e sem nenhuma consciência de nós mesmos.
Todavia, se a morte é apenas uma mudança de morada, a passagem para o lugar onde
os mortos se têm de reunir, que felicidade a de encontrarmos lá aqueles a quem
conhecemos! O meu maior prazer seria examinar de perto os habitantes dessa outra
morada e de distinguir lá, como aqui, os que são dignos dos que se julgam tais e
não o são.”

Afirma Sanson (4):

“(…) Regozijai-vos ao invés de vos queixardes, quando praz a Deus retirar
deste vale de misérias um de Seus filhos. Não será egoístico desejardes que ele
aí continuasse para sofrer convosco? Ah! essa dor se concebe naquele que carece
de fé e que vê na morte a separação eterna.

(…) Habituai-vos a não censurar o que não podeis compreender e crede que
Deus é justo em todas as coisas.

Muitas vezes, o que vos parece um mal é um bem. Tão limitadas, no entanto,
são as vossas faculdades, que o conjunto do grande todo não o apreendem os
vossos sentidos obtusos. Esforçai-vos por sair, pelo pensamento, da vossa
acanhada esfera e, à medida que vos elevardes, diminuirá para vós a importância
da Vida material que, nesse caso, se vos apresentará como simples incidente, no
curso infinito da vossa existência espiritual, única existência verdadeira”

Em aditamento aos registros da Codificação Espírita, ensina Joanna de
Ângelis(5):

“Os seres a quem amas e que morreram, não se consumiram na voragem do
aniquilamento. Eles sobreviveram.

A Vida seria um engodo, se se destruísse ante o sopro desagregador da morte
que passa.

A Vida se manifesta, se desenvolve em infinitos matizes e incontáveis
expressões. A forma se modifica e se estrutura, se agrega e se decompõe,
passando de uma para outra expressão vibratória, sem que a energia que a
vitaliza dependa das circunstâncias transitórias em que se exterioriza. Não
estão, portanto, mortos, no sentido de destruídos, os que transitaram ao teu
lado e se transferiram de domicilio.

Prosseguem vivendo aqueles a quem amas.

Aguarda um pouco, enquanto, orando, a prece te luarize a Alma e os envolvas
no rumo por onde seguem.

Não te imponhas mentalmente com altas doses de mágoas, com interrogações
pressionantes, arrojando na direção deles os petardos vigorosos da tua incontida
aflição.

Esforça-te por encontrar a resignação. O amor vence, quando verdadeiro,
qualquer distância, e é ponte entre abismos, encurtando caminhos. Da mesma forma
que anelas por volver a senti-los, a falar-lhes, a ouvir-lhes, eles também o
desejam.

Necessitam, porém, evoluir, quanto tu próprio. Se te prendes a eles
demoradamente ou os encarceras no egoísmo, desejando continuar uma etapa que ora
se encerrou, não os fruirás, porque estarão na retaguarda. Libertando-os, eles
prosseguirão contigo, preparar-te-ão o reencontro, aguardar-te-ão…

Faze-te, a teu turno, digno deles, da sua confiança, e unge-te de amor com
que enriqueças outras vidas em memória deles, por afeição a eles. Não penseis
mais em termos de “adeus” e, sim, em expressões de “até logo mais”.

Todos os homens na Terra são chamados a esse testemunho: o da temporária
despedida. Considera, portanto, a imperiosa necessidade de pensar nessa injunção
e deixa que a reflexão sobre a “morte” faça parte do teu programa de assuntos
mentais, com que te armarás, desde já, para o retorno, ou para enfrentar em paz
a partida dos teus amores…

Quanto àqueles que viste partir, de quem sofres saudades infinitas e
impreenchíveis vazios no sentimento, entrega-os a Deus, confiando-os e
confiando-te ao Pai, na certeza de que, se souberes abrir a Alma à esperança e à
fé, conseguirás senti-los, ouvi-los, deles haurindo a confortadora energia com
que te fortalecerás até ao instante da união sem dor, sem sombra, sem separação,
pelos caminhos do tempo sem fim, no amanhã ditoso.”

  1. Camilo Castelo Branco/Pereira, Y. in “Nas Telas do Infinito”- Capítulo
    VIII
  2. João, 8:51
  3. Kardec, A in “O Evangelho Segundo o Espiritismo” – Introdução
  4. Kardec, A in “O Evangelho Segundo o Espiritismo” – Capítulo V, itens 21 e
    22
  5. Joanna de Ângelis/Franco, D.P. in “Sementes da Vida Eterna” – Capítulo 56

“Os seres a quem amas e que morreram, não se consumiram
na voragem do aniquilamento. Eles sobreviveram”.

(Jornal Mundo Espírita de Novembro de 98)