Estava estudando, buscando um tema para desenvolver quando bati os olhos no capítulo
I de “A Gênese”, de Allan Kardec, e encontrei, no item 10, a frase: “O caráter
essencial da revelação divina é o da eterna verdade”. Assim passei a ter vontade
de refletir sobre ela, e o papel da verdade no espiritismo, pois que
este tem a sua fonte moral sedimentada na verdade.
Podemos observar que o espiritismo se caracteriza, quanto a sua natureza, “por
ser divina a sua origem e da iniciativa dos espíritos e fruto do trabalho do homem
”(A Gênese cap. 13 in fini), mas tem seu caráter é o da eterna verdade.
Sim, é fácil compreender que o Espiritismo é exercido pela vontade, pelo livre-arbítrio,
dando a cada qual a liberdade de escolha do caminho para chegar ao entendimento
maior e conseqüentemente à evolução.
Para que alcancemos o objetivo evolutivo, precisamos direcionar nossas energias
para os canais superiores. Assim, desenvolvendo um ideal superior, determinamos
metas para direcionar nossas energias criativas.
Se a Doutrina Espírita é uma revelação divina que foi frutificada pelo trabalho
do homem, mas de iniciativa dos Espíritos Superiores, todos temos a energia de Deus,
fonte da criação, para, também nós, sermos condutores desta arte da criação. Assim,
o ser se utiliza desta energia criativa para satisfazer suas necessidades básicas
e, na seqüência, conduzir a educação do Espírito para o desenvolvimento da inteligência.
Aquele que reconhece um motivo justo, forte e verdadeiro para fazer o que faz, encontra
forças para suportar o peso de sofrimentos e dificuldades para a superação de si
mesmo e dos obstáculos externos.
O que nos parece certo e que será nosso condutor sem barreiras ao progresso é
que se preservarmos o caráter essencial da revelação divina, portanto do Espiritismo,
é termos consciência de que precisamos tudo fazer para trilhar a verdade.
Mas como podemos saber o que é verdade?
Conduzir-se com verdade é conduzir-se o mais próximo e exato possível da realidade.
É ter sinceridade e boa fé em todas as ações e pensamentos. É procurar ser autêntico,
fiel, legítimo e legal. Parecer o que realmente é.
É como a boa semente que se prolifera em idéias de progresso e desenvolvimento.
Normalmente nos iludimos e somos impedidos de ver a verdade realmente como ela
é. Enganamo-nos sobre a realidade das coisas. Deixamos que preconceitos e convicções
arraigadas e profundas, fale mais alto. Deixamos de lado o “verdadeiro ver” e nos
arrastamos em idéias que não se sabe onde são fundamentadas, embora já antigas e
passadas entre gerações.
Nossas emoções, na maior parte das vezes, são o espelho do certo ou errado, do
agir no bem ou no mal. Se não admitimos a verdade em nós de maneira honesta, como
será que poderemos chegar à verdade divina e ao princípio essencial do Espiritismo?
É preciso sentir a verdade, saber o que sentimos e adequá-la à vida.
Jesus disse: “Vim ao mundo dar testemunho da Verdade”e ainda: “Eu sou a verdade”.
Isto se fez necessário porque a humanidade inteira, o homem em si, só acredita naquilo
que vê. E se fez necessário que Jesus viesse nos dar sua vida para que acreditássemos
em sua Verdade.
Se faz humana quando acreditamos no que vivenciamos ou experimentamos
e, desta forma, vamos acreditando em verdades relativas, conceitos relativos. Costuma-se
evitar as verdades, rejeitá-la ou mesmo fugir dela.
Maneira errada de ver as coisas. Caminho difícil de sentir a moral cristã.
Faz-se necessário nos sintonizarmos à percepção intuitiva, aos olhos do espírito,
àquele que realmente vê, para que possamos ter a certeza da percepção, compreensão
e efetivação da verdade em nossas vidas.
Por mais que desejemos ter a verdade a nosso favor, e enquanto apenas desejamos
em lugar de sermos dela senhores e detentores, estamos deixando muito por fazer,
estamos cultivando uma vontade e não uma verdade. Vontade tênue, ainda desprovida
de reais sentimentos cristãos. Neste misto de verdade e mentira ou até de verdade
e ignorância, sabemos muito pouco da grande verdade da vida e do Universo.
E o Espiritismo veio consolidar. Ratificar Cristo.
Precisamos escutar novamente as palavras de Jesus através do Espírito de Verdade.
Atentemos às palavras contidas no Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. 6, item
5. Reflitamos sobre a verdade de Deus, a verdade absoluta a que nos devemos curvar.
Disse o Espírito de Verdade:
“ Venho, como outrora aos transviados filhos de Israel, trazer-vos a verdade
e dissipar as trevas. Escutai-me. O Espiritismo, como o fez antigamente a minha
palavra, tem de lembrar aos incrédulos que acima deles reina a imutável verdade:
o Deus bom, o Deus grande, que faz germinem as plantas e se levantem as ondas. Revelei
a doutrina divinal.Como um ceifeiro, reuni em feixes o bem esparso no seio da Humanidade e disse:
“Vinde a mim, todos vós que sofreis.”Mas, ingratos, os homens afastaram-se do caminho reto e largo que conduz ao
reinode meu Pai e enveredaram pelas ásperas sendas da impiedade. Meu Pai não quer
aniquilar a raça humana; quer que, ajudando-vos uns aos outros, mortos e vivos,
isto é, mortos segundo a carne, porquanto não existe a morte, vos socorrais mutuamente,
e que se faça ouvir não mais a voz dos profetas e dos apóstolos, mas a dos que já
não vivem na Terra, a clamar: Orai e crede! pois que a morte é a ressurreição, sendo
a vida a prova buscada e durante a qual as virtudes que houverdes cultivado crescerão
e se desenvolverão como o cedro.Homens fracos, que compreendeis as trevas das vossas inteligências, não afasteis
o facho que a clemência divina vos coloca nas mãos para vos clarear o caminho e
reconduzir-vos, filhos perdidos, ao regaço de vosso Pai.Sinto-me por demais tomado de compaixão pelas vossas misérias, pela vossa
fraquezaimensa, para deixar de estender mão socorredora aos infelizes transviados
que, vendo o céu, caem nos abismos do erro. Crede, amai, meditai sobre as coisas
que vos são reveladas; não mistureis o joio com a boa semente, as utopias com as
verdades.Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo.
No Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros
que nele se enraizaram. Eis que do além-túmulo, que julgáveis o nada, vozes vos
clamam: “Irmãos! Nada perece. Jesus-Cristo é o vencedor do mal, sede os vencedores
da impiedade.” – O Espírito de Verdade. (Paris, 1860.) (grifo nosso)
Encaremos de frente, por mais feia que seja.
Não utilizemos artifícios para encobrir a verdade. Usemos de doçura, de modos
amáveis e simples, mas não nos permitamos fugir dela. Como disse o Espírito
de Verdade: “No cristianismo encontram-se todas as verdades.”
Jesus veio ensinar e o Espiritismo veio ratificá-la.
O Espiritismo não inventou ou descobriu a Verdade. Não é resultado de iniciativa
dos homens. É consolo e esclarecimento. É, portanto uma revelação e tem seu caráter
na eterna Verdade que nos dá a conhecer o mundo invisível, esclarecendo os homens
acerca de coisas por eles ignoradas, já que hoje estão aptos a compreender.