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Visão Espírita do Idoso – VII – Conclusão II

Mudanças de comportamento de corpo e mente – Além dessas reflexões é
hora de ser cuidadoso com a saúde. Verificar os benefícios médicos a que tem
direito, quer como previdenciário ou segurado em planos de saúde a que
eventualmente pertença. Converse com o médico sobre necessidades e dúvidas.
Desvincule-se, em função desses esclarecimentos, do excesso de medicação,
atenda-se o prescrito, quando necessário. Quanto a um programa de atividade
física, caminhada, exercícios, ainda o médico, é o elemento capaz, seguro e
confiável, para avaliações e encaminhamentos. Associações, centros esportivos
comunitários, escolas e grêmios oferecem variedade de programas e atividades
gratuitas.

Não necessitando de tantas calorias, a alimentação também precisa ser
acompanhada e onde a dieta equilibrada cuidará dessa manutenção. Cuidado para a
tendência do que vive só, habituar-se a lanches. São eles pouco nutritivos e o
idoso precisa alimentar-se, comer, daí que, para aquele que não quer cozinhar,
beneficiar-se da entrega de refeições a domicílio. Em relação às adaptações no
campo sexual, se não há mais possibilidade ou prazer, contacto sexual, nada
impõe limites ao estar juntos, no contato terno, íntimo, afetuoso, aconchegante,
duradouro a se exteriorizar na calma cúmplice onde parceiros se sentem plenos,
integrados no campo emocional recíproco.

Recorde-se sempre que o “velho” é teimoso, inflexível, dono da verdade o que
ensina aos outros nada mais tendo que aprender. Não está desperto para perceber
que a Vida é o melhor professor continuamente ensinando através do filho, do
neto, da empregada, do gari, da estudante, de uma criança. de um doente onde
cada situação trás lições, experiências, sabedoria. Para o que sabe trabalhá-las
levam ao crescer, aos interesses, dão qualidade, plenificam ações, metas,
objetivos, burilam sentimentos interagindo com o Universo onde a lei de harmonia
que o sustém passa a agir em seu favor devido a essa sintonia mental onde tudo
se plasma para o melhor.

Mudança de interesses e oportunidades – é hora de, por exemplo, ler ou
dedicar-se a um prazer que em outros tempos não foi possível. O livro é caro? Há
os aconchegantes ambientes das bibliotecas públicas onde se encontra todo tipo
de leitura, bem como outras atividades culturais, como palestras, filmes,
oficinas culturais. Idade não é limitante para a sede de conhecimento. Ah! sou
analfabeto!!! Bem próximo de cada um, na escola pública, na associação de
bairro, na igreja, no centro espírita, há oferecimento de bem montados cursos de
alfabetização. Sei ler, concluí cursos, sou de formação universitária? A todos
os casos, há oferecimento das reciclagens. Estão aí mais ou menos 115 cursos em
Universidades ou mesmo cursos que realizam aspirações que em momentos passados
não puderam ser atendidos.

Ter presente que os acontecimentos naturais da Vida: nascimentos,
desencarnes, separações, novos casamentos, mudança de ambiente, redução de
renda, dependência ou imobilidade, doenças, acontecem não só ao idosos, mas que
podem afetá-lo de forma mais critica. A idade avançada, mesmo não sendo
incapacitante, é limitante. Daí ser importante a formação de uma consciência
lúcida onde a organização e adaptação a um ritmo novo ajudarão sobremodo.

Essas reflexões necessárias levam a perceber que envelhecer bem requer
planejamento, compreensão realista das mudanças e desafios.

Ruth Kay (Instituto Nacional de Saúde Mental – EUA), ao final de seu trabalho
visando “a arte de envelhecer” enfatiza que nunca é cedo para se fazer as
seguintes perguntas:

  • dentro de minhas possibilidades, hoje ou num tempo de futuro, que tipo de
    moradia e estilo de vida me proporcionarão conforto, conveniência,
    independência e companhia?
  • sendo apto, que tipo de trabalho, atividades, lazer me interessam,
    causando-me prazer e realização?
  • que organizações de prestação de serviço (públicas ou particulares) são de
    meu interesse conhecer?
  • que serviços, benefícios médicos e de saúde estão disponíveis enfim, quais
    providências que tomadas a tempo, proporcionarão equilíbrio, não só na idade
    avançada mas em qualquer fase da vida, uma vez que mudanças e desafios
    constituem o processo existencial?

Pensar, planejar, mudar, adaptar significa estar desperto, consciente da
realidade interior, das infinitas possibilidades de crescimento e que incluem:
libertar-se dos medos que imobilizam na inutilidade, redescobrir alegria de
viver, de agir; ampliar a comunicação com a Natureza e com todos os seres,
multiplicar meios de dignação humana, envolver-se na eloqüente proposta de
iluminação que, querendo, estando desperto pode ser encontrada em toda parte.

Quando se caminha nesse campo de consciência “(…) o ser se move em encontro
e conquistas que acima de tudo são internos, resplandecentes, calmos,
poderosos como um raio e suaves como a brisa do amanhecer (…)”.

Todo instante, nesse enfoque, é momento da retomada.

“(…) Maria de Magdala ao encontrar Jesus, decidiu e transformou-se
totalmente; Paulo de Tarso, desperto ao chamado do Mestre, nunca mais foi o
mesmo; Francisco de Assis, aceitando Jesus, renasce. Leonardo da Vinci, Galileu,
Newton, Descartes, Pasteur, Schuwitzer e tantos outros no campo do pensamento,
da ciência, da arte, da religião e do amor (…)” após despertarem para
realidade “(…) alteraram a própria rota, erguendo para si e para Humanidade um
patamar de maior beleza e de mais ampla felicidade”.

Essa coragem “do mudar” estabelecendo novas metas “(…) significa
encontrar-se construindo, livre de preconceitos e de limites, aberto ao bem e à
verdade de que se torna vanguardeiro e divulgador”.

As reflexões até aqui levantadas falam do ser em relação a si mesmo, quer já
seja idoso ou a caminho de sê-lo.

Não podemos por isso, deixar de abordar a posição daqueles que podem estar
vivendo essa realidade ao lado de familiares, pais ou amigos idosos.

Se é claro ao homem, a imagem de que aos pais cabe cuidar, assistir e amparar
os filhos, a recíproca, embora também seja real, nem sempre encontra respostas a
altura, nas posições do filhos. Chegará sim, o momento no tempo, em que lhes
caberá o dever, a obrigação natural de assistência aos pais. Será ela tanto mais
abrangente, equilibrada e feliz na proporção em que os filhos respeitarem a
individualidade, mantendo-se prontos, alertas, disponíveis sem serem impositores,
dirigentes, afastando, impedindo participação, ditando normas e obrigando a
posicionamentos e atitudes.

Seja os pais quem forem – probos ou viciosos, responsáveis ou não – serão
sempre credores de homenagem, gratidão e apreço, uma vez que através deles,
recebeu-se um corpo físico, bênção incomensurável diante das necessidades do
Espírito.

Esse cuidado é tão especial, que ainda Jesus, em seus últimos momentos de
vida física, exemplifica confiando sua mãe a João, conclamando-o para que
cuidasse dela.

Necessitamos estar atentos, pois numa sociedade de consumo, imediatista e
baseada no lucro, quem deixa de produzir, é visto como estorvo. Nesse enfoque,
os idosos, os pais passam a ser entendidos como obstáculos, onde o asilo, a
“casa de repouso” ou afins acenam como solução (Ressalte-se o valor dos asilos
quando agasalham e cuidam de idosos em casos excepcionais, sem família,
sem renda, sozinhos, abandonados nas ruas. Há outras situações especialíssimas
como por exemplo: a demência onde o atendimento médico ininterrupto requer esse
afastamento do lar. A vontade dos filhos, permanece no sentido de
querê-los junto a si, mas o acompanhamento especializado obriga à
internação. Essa providência nascida da necessidade far-se-á acompanhar da
visita diária, do coração em prece em favor daquele ser querido, agora em
instante senil desestruturados da própria personalidade).

Excetuando-se essas situações especiais, a maior parte dos anciãos ali
depositados
, têm condições e necessitam conviver com a família. A realidade
mostra ainda que, após as primeiras visitas, filhos e netos vão sumindo,
realizando aparições breves cada vez mais espaçadas a refletir o egoísmo destes
e demais parentes frente à alguém que agora não serve mais.

Emmanuel no estudo “Compaixão em família, reflete que “(…) cidadãos que
julgamos a toda prova, que se destacam pela palavra e caridade, não hesitam
em exportar
mo rumo do asilo, o avô/avó, tio/tia menos feliz que a provação
expõe a caducidade”.

“Indagando a essas pessoas que moram em tais núcleos, a dedução é clara:
nenhuma delas decidiu por conta própria ir ali morar, deixar seu lar,
filhos, netos enfim, o mundo construído e sonhado para reciprocidade do
aconchego”.

Nos casos em que há a decisão pessoal, o motivo real está nas
tragédias da vida familiar onde os filhos deixaram extravasar o
sentimento de peso, estorvo, empecilho, traste que o idoso agora representa. O
pai, a mãe percebe, não é preciso que lhe falem – as desavenças
recíprocas entre filhos, noras, genros, netos, as grosserias, a falta de
delicadeza quando não até de educação, e que leva o idoso a “livremente optar”
ir para a “casa de repouso”/asilo, onde ainda por amor a esses mesmos filhos,
abre mão do convívio com os entes queridos na família que se esfacela.

Nasce nesse instante, o Espírito enfermo no medo, na insegurança, na
depressão, dor, sofrimentos diversos, na perda da memória em que se refugia.
Descrente do amor, fecha-se no trato difícil, agressivo, revoltado, hostil ou na
indiferença, no mutismo, na tristeza onde tudo perdeu o valor, onde nada mais
vale a pena.

Os familiares, desconhecendo-se como geradores ou propiciadores dessas
exteriorizações, usam-nas como justificativa do acerto da decisão tomada,
“pacificando” a consciência nos remorsos pequeninos que vez por outra teimam
aparecer.

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(Jornal Verdade e Luz Nº 184 de Maio de 2001)