Camille Flammarion
Flammarion foi um homem cujas obras encheram de luzes o século XIX. Ele era o
mais velho de uma família de quatro filhos, entretanto, desde muito jovem se
revelaram nele qualidades excepcionais. Queixava- se constantemente que o tempo
não lhe deixava fazer um décimo daquilo que planejava. Aos quatro anos de idade
já sabia ler, aos quatro e meio sabia escrever e aos cinco já dominava
rudimentos de gramática e aritmética. Tornou- se o primeiro aluno da escola onde
freqüentava.
Para que ele seguisse a carreira eclesiástica, puseram- no a aprender latim
com o vigário Lassalle. Aí Flammarion conheceu o Novo Testamento e a Oratória.
Em pouco tempo estava lendo os discursos de Massilon e Bonsuet. O padre Mirbel
falou da beleza da ciência e da grandeza da Astronomia e mal sabia que um de
seus auxiliares lhe bebia as palavras. Esse auxiliar era Camille Flammarion,
aquele que iria ilustrar a letra e a significação galo- romana do seu nome —
Flammarion: “Aquele que leva a luz”.
Nas aulas de religião era ensinado que uma só coisa é necessária: “a salvação
da alma”, e os mestres falavam: “De que serve ao homem conquistar o Universo se
acaba perdendo a alma?”.
Foi dura a vida dos Flammarions, e Camille compreendeu o mérito de seu pai
entregando tudo aos credores. Reconhecia nele o mais belo exemplo de energia e
trabalho, entretanto, essa situação levou- o a viver com poucos recursos.
Camille, depois de muito procurar, encontrou serviço de aprendiz de gravador,
recebendo como parte do pagamento casa e comida. Comia pouco e mal, dormia numa
cama dura, sem o menor conforto; era áspero o trabalho e o patrão exigia que
tudo fosse feito com rapidez. Pretendia completar seus estudos, principalmente a
matemática, a língua inglesa e o latim. Queria obter o bacharelado e por isso
estudava sozinho à noite. Deitava- se tarde e nem sempre tinha vela.
Escrevia ao
clarão da lua e considerava- se feliz. Apesar de estudar à noite, trabalhava de
15 a 16 horas por dia. Ingressou na Escola de desenho dos frades da Igreja de
São Roque, a qual freqüentava todas as quintas- feiras. Naturalmente tinha os
domingos livres e tratou de ocupá-los. Nesse dia assistia as conferências feitas
pelo abade sobre Astronomia. Em seguida tratou de difundir as associações dos
alunos de desenho dos frades de São Roque, todos eles aprendizes residentes nas
vizinhanças. Seu objetivo era tratar de ciências, literatura e desenho, o que
era um programa um tanto ambicioso.
Aos 16 anos de idade, Camille Flammarion foi presidente da Academia, a qual,
ao ser inaugurada, teve como discurso de abertura o tema “As Maravilhas da
Natureza”. Nessa mesma época escreveu “Cosmogonia Universal”, um livro de
quinhentas páginas; o irmão, também muito seu amigo, tomou- se livreiro e
publicava- lhe os livros. A primeira obra que escreveu foi “O Mundo antes da
Aparição dos Homens”, o que fez quando tinha apenas 16 anos de idade. Gostava
mais da Astronomia do que da Geologia. Assim era sua vida: passar mal, estudar
demais, trabalhar em exagero.
Um domingo desmaiou no decorrer da missa, por sinal, um desmaio muito
providencial. O doutor Edouvard Fornié foi ver o doente. Em cima da sua
cabeceira estava um manuscrito do livro “Cosmologia Universal”. Após ver a obra,
achou que Camille merecia posição melhor. Prometeu- lhe, então, colocá-lo no
Observatório, como aluno de Astronomia. Entrando para o Observatório de Paris,
do qual era diretor Levèrrier, muito sofreu com as impertinências e perseguições
desse diretor, que não podia conceber a idéia de um rapazola acompanhá-lo em
estudos de ordem tão transcendental.
Retirando- se em 1862 do Observatório de Paris, continuou com mais liberdade
os seus estudos, no sentido de legar à Humanidade os mais belos ensinamentos
sobre as regiões silenciosas do Infinito. Livre da atmosfera sufocante do
Observatório, publicou no mesmo ano a sua obra “Pluralidade dos Mundos
Habitados”, atraindo a atenção de todo o mundo estudioso. Para conhecer a
direção das correntes aéreas, realizou, no ano de 1868, algumas ascensões
aerostáticas.
Pela publicação de sua “Astronomia Popular”, recebeu da Academia Francesa, no
ano de 1880, o prêmio Montyon. Em 1870 escreveu e publicou um tratado sobre a
rotação dos corpos celestes, através do qual demonstrou que o movimento de
rotação dos planetas é uma aplicação da gravidade às suas densidades
respectivas. Tornando- se espírita convicto, foi amigo pessoal e dedicado de
Allan Kardec, tendo sido o orador designado para proferir as últimas palavras à
beira do túmulo do Codificador do Espiritismo, a quem denominou “o bom senso
encarnado”.
Suas obras, de uma forma geral, giram em torno do postulado espírita da
pluralidade dos mundos habitados e são as seguintes: “Os Mundos Imaginários e os
Mundos Reais”, “As Maravilhas Celestes”, “Deus na Natureza”, “Contemplações
Científicas”, “Estudos e Leitura sobre Astronomia”, “Atmosfera”, “Astronomia
Popular”, “Descrição Geral do Céu”, “O Mundo antes da Criação do Homem”, “Os
Cometas”, “As Casas Mal- Assombradas”, “Narrações do Infinito”, “Sonhos
Estelares”, “Urânia”, “Estela”, “O Desconhecido”, “A Morte e seus Mistérios”,
“Problemas Psíquicos”, “O Fim do Mundo” e outras.
Camille Flammarion, segundo Gabriel Delanne, foi um filósofo enxertado em
sábio, possuindo a arte da ciência e a ciência da arte. Flammarion–“poeta dos
Céus”, como o denominava Michelet — tornou- se baluarte do Espiritismo, pois,
sempre coerente com suas convicções inabaláveis, foi um verdadeiro idealista e
inovador.