Cornélio Pires
Cornélio Pires nasceu na cidade de Tietê, Estado de São Paulo, no dia 13 de
julho de 1884, e a sua desencarnação aconteceu na cidade de S. Paulo, no dia 17
de fevereiro de 1958.
Homem de personalidade inconfundível, tornou-se figura popular e de bastante
destaque em todo o Brasil, graças ao trabalho, por ele encetado, de viajar pelas
cidades do Interior do Estado de S. Paulo e outros Estados, estreando na
condição de caipira humorista.
Em sua juventude aspirava participar de um concurso de admissão numa
Faculdade de Farmácia. Animado desse propósito viajou de Tietê para S. Paulo, a
fim de se inscrever como candidato a um desses concursos, porém, apesar do seu
desempenho não logrou êxito nesse seu intento.
Tomou então a deliberação de dedicar-se ao jornalismo, passando a trabalhar
na redação do jornal O Comércio de São Paulo, em cujo cargo desenvolveu um
aprendizado bastante estafante. Posteriormente passou a exercer atividades nos
jornais O São Paulo e O Estado de São Paulo, tradicional órgão da imprensa
paulista, onde desempenhou a função de revisor e, finalmente, no ano de 1914,
passou a dar a sua contribuição ao órgão O Pirralho.
Numerosos escritores teceram comentários sobre a personalidade de Cornélio
Pires e, para ilustração, passemos a citar Joffre Martins Veiga, que em seu
trabalho A Vida Pitoresca de Cornélio Pires, escreveu “ Ninguém amou tanto a sua
gente como Cornélio Pires; ninguém se preocupou tanto com seus semelhantes como
esse homem, que foi, antes de tudo, um Bom”. O famosos poeta Martins Fontes, por
sua vez, escrevendo sobre ele, afirmou: “é um bandeirante puro, um artista
incansável, enobrecedor da Pátria e enriquecedor da língua”.
Admirado também pelo grande jornalista Amadeu Amaral, este deu-lhe a sugestão
de tornasse um dos maiores divulgadores do folclore brasileiro.
Pelos idos de 1910, Cornélio Pires lançou o livro Musa Caipira, obra que foi
largamente saudada pela crítica, graças ao seu conteúdo tipicamente brasileiro.
Sílvio Romero tornou-se um dos seus mais salientes críticos, comentando da
seguinte forma o lançamento dessa obra: “ Apreciei imensamente o chiste, a cor
local, a graça, a espontaneidade de suas produções que, além do seu valor
intrínseco, são um ótimo documento para o estudo dos brasileirismos da nossa
linguagem”.
No início do presente século, Cornélio Pires começou a freqüentar a Igreja
Presbiteriana, entretanto não conseguiu conciliar os ensinamentos dessa religião
com o seu modo de pensar. Ele não admitia a existência das penas eternas e de um
Deus que desse preferência aos seguidores de determinadas religiões. O demasiado
apego aos formalismos da letra, na interpretação dos textos evangélicos fez com
que ele quase descambasse para o materialismo.
Nessa época ele desconhecia o que era Espiritismo, entretanto, durante as
suas viagens ao Interior, aconteceram com ele vários fenômenos mediúnicos,
inclusive algumas comunicações do Espírito Emilio de Menezes, as quais muito o
impressionaram. Como conseqüência ele passou a estudar obras espíritas
principalmente as de Allan Kardec, Leon Denis, Albert de Rochas e alguns livros
psicografados pelo médium Francisco Cândido Xavier.
Dali por diante integrou-se decididamente no Espiritismo, interessando-se
muito pelos fenômenos de efeitos físicos. Nos anos de 1944 a 1947 ele escreveu
os livros Coisas do Outro Mundo e Onde estás, ó morte?, tendo desencarnado
quando escrevia Coletânea Espírita.
De sua vasta bibliografia destacamos: Musa Caipira, Versos Velhos, Cenas e
Paisagens de minha Terra, Monturo, Quem conta um conto, Conversas ao Pé do Fogo,
Estrambóticas Aventuras de Joaquim Bentinho – O Queima Campo, Tragédia Cabocla,
Patacoadas, Seleta Caipira, Almanaque do Saci, Mixórdias, Meu Samburá, Sambas e
Cateretês, Tarrafas, Chorando e Rindo, De Roupa Nova, Só Rindo, Ta no Bocó, Quem
conta um Conto e outros Contos…, Enciclopédia de anedotas e Curiosidades, além
dos dois livros espíritas acima citados.
Num de dos seus escritos sobre o Espiritismo, dizia ele: “ O Espiritismo,
mais cedo ou mais tarde, fará aos católicos romanos, aos protestantes e aos
adeptos de outros credos, a caridade de robustecer-lhes a Fé, com os fatos que
provam a imortalidade da Alma, que se transforma em Espírito ao deixar o
invólucro material” e mais adiante “ O Espiritismo nos proporciona a FÉ
RACIOCINADA, nos arrebata ao jugo do dogma e nos ensina a compreender DEUS como
Ele é”.
Pouco antes da sua desencarnação, Cornélio Pires, demonstrando que havia
assimilado o preceito de Jesus Cristo: “ Amai ao próximo como a ti mesmo”,
voltou para a cidade do Tietê e ali comprou uma chácara, onde fundou a “ Granja
de Jesus”, lar destinado a crianças desamparadas. Infelizmente ele não chegou a
ver a conclusão da obra.
Cornélio Pires chegou a organizar o “ Teatro Ambulante Cornélio Pires”
perambulando de cidade em cidade, sendo aplaudido por toda a população
brasileira por onde passava. Esse intento foi concretizado após ter abandonado a
carreira jornalística.
O presente trabalho representa uma apagada biografia desse batalhador
infatigável, que desenvolveu na Terra uma tarefa altamente meritória.
Bibliografia:
Personagens do Espiritismo (do Brasil e de outras Terras) de Antônio de Souza
Lucena e Paulo Alves Godov
Edições FEESP, S.Paulo, SP