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Cosme Mariño

Cosme Mariño

 

Seus pais foram comerciantes modestos e honrados, foi educado dentro dos
princípios da igreja católica e se sentiu atraído para o sacerdócio, no qual
vislumbrou a possibilidade de exercer a sua propensão inata de servidor da
Humanidade.

Fez o curso superior de teologia, convencendo- se logo após de que a sua
vocação não estava circunscrita aos estreitos dogmas da religião dominante.
Abandonou, portanto, a carreira iniciada e ingressou na Faculdade de Direito,
tendo em seguida interrompido também esse curso para entrar na carreira
jornalística, onde junto com José C. Paz fundou o grande diário portenho: “La
Prensa”, do qual foi diretor em 1896. Em 1871, tomou parte ativa na heróica
“Comissão Popular”, constituída com o objetivo nobilitante de combater a
epidemia de febre amarela que flagelava os seus concidadãos, e embora tivesse
sido contaminado pelo mal, conseguiu restabelecer- se, tendo posteriormente
merecido do povo de Buenos Aires a condecoração da Cruz de Ferro e a impressão
de 5.000 retratos com a inscrição: “O povo a Cosme Mariño — Epidemia de 1871”.
No evento a Municipalidade de Buenos Aires também lhe outorgou oficialmente a
medalha de ouro, como prêmio aos seus nobres serviços.

Em 1872, Mariño dedicou- se de corpo e alma no afã de promover o Comitê de
Ajuda ao Chile, durante a epidemia de varíola. Na qualidade de secretário desse
comitê teve o ensejo de, juntamente com outros abnegados, enviar meio milhão de
pesos, arrecadados em subscrição pública. A Municipalidade de Santiago do Chile
também lhe conferiu uma medalha de ouro como gratidão pela sua generosidade.

Foi Cosme Mariño fundador da Sociedade Protetora de Inválidos, conseguindo,
graças à sua incessante atividade, construir o Edifício dos Inválidos.
Transferindo sua residência para a cidade de Dolores, na província de Buenos
Aires, no ano de 1874 foi designado membro honorário da Comissão de Justiça,
membro titular do Conselho Escolar e Presidente da Comissão do Hospital de
Dolores.

Nessa cidade teve o apóstolo a oportunidade de assistir a algumas sessões
espíritas, convertendo- se a essa Doutrina. Daí por diante, revelou- se um
verdadeiro paladino da Terceira Revelação. Em 1879 ingressou nos quadros da
“Sociedad Constância”, tendo em 1881 tomado parte em sua direção. Em 1882
tornou- se diretor da revista “Constâincia”, pioneira dos periódicos espíritas
na Argentina. Em 1883 foi eleito presidente dessa instituição, desenvolvendo ali
vasto programa de atividade.

No desempenho de sua tarefa jornalística viu- se obrigado a sustentar
acirradas polêmicas com alguns clérigos que viam no Espiritismo um constante
obstáculo à manutenção do domínio da fé cega, e também com alguns cientistas que
viam no Espiritismo tão- somente loucura, fraude e sugestão.

Alguns jesuítas que publicaram artigos e opúsculos contrários ao Espiritismo,
mereceram de Mariño a mais ampla refutação, que pulverizou todas as
argumentações.

No dia 3 de abril de 1892, foi vítima de um atentado por parte de uma
fanática de nome Dolores González, que lhe disparou um tiro. Felizmente o fato
não teve maiores conseqüências.

A vida desse singular personagem foi toda ela entrecortada de gestos nobres e
altruísticos, e não cabe nesta ligeira súmula biográfica enumerar todos os fatos
ocorridos em sua existência, contudo, devemos acrescentar que Cosme Mariño foi
autor brilhante, tendo escrito vários livros; foi inspirador de várias
campanhas, destacando-se uma em favor da aquisição de livros espíritas para
serem revendidos a menor custo; outra em favor do reconhecimento da Sociedade
“Constância” como personalidade jurídica; e mais as seguintes: formação de uma
comissão permanente para auxílios funerários a indigentes, preparação de
enfermeiros através de cursos adequados, fundação da Confederação Espiritista
Argentina, para cuja concretização colaborou intensamente Antônio Ugarte e
outros, organização da Sociedade Protetora da Criança Desvalida; ação em favor
da abolição da pena de morte na Argentina, campanha contra os falsos médiuns e
exploradores do Espiritismo, e finalmente, em 1925, a inauguração do “Asilo I
Centenário”.

Foi justamente cognominado “Kardec Argentino”, pois ele representa para os
espíritas platinos o mesmo que Bezerra de Menezes representa para o Brasil, e o
mesmo que a tríade “Kardec- Denis- Delanne” representa para a França.

Em outubro de 1947, escrevia Ismael Gomes Braga sobre Cosme Mariño: “A luta
contra os preconceitos materialistas e o fanatismo religioso somente pode ser
levada a bom término por Espíritos muito superiores à massa humana que habita
nosso planeta. 0 missionário que se encarna para defender uma idéia nova contra
erros arraigados durante milênios, para forçar a Humanidade a dar um passo mais
no caminho do progresso, não pode ser um espírito comum, porque falharia antes
do fim da jornada, espantado pelos ataques de toda classe de adversários que
surgem das trevas, furiosos, defendendo suas tradições, que julgam sagradas e
seus interesses, que consideram divinos.

A luta do missionário argentino foi mais prolongada e mais violenta que a de
Kardec, que trabalhou pelo Espiritismo durante 14 anos, mas Cosme Mariño teve
que lutar meio século para conquistar e consolidar as posições que nos legou.
Foi agredido não somente por palavra e por escrito, senão também por arma de
fogo: uma fanática religiosa tentou assassiná-lo a tiros; sem embargo, nada o
fez desanimar, nada o intimidou, porque foi um grande Missionário consciente do
seu poder, certo do valor imenso da idéia que defendia com risco da própria
vida. A superioridade de Cosme Mariño se revelava em toda sua vida e lhe
conferia um prestígio social que lhe dava autoridade para predicar essa grande
revolução espiritual que é o Espiritismo.”