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Conhecendo Melhor o Evangelho

Conhecendo Melhor o Evangelho

Ivan René Franzolim

O que realmente significa o evangelho para o espiritismo? Que valor teria um documento tão antigo, face a uma doutrina tão nova? Essas são dúvidas que habitualmente encontramos naqueles que estão iniciando no espiritismo, mas ainda não absorveram sua base.

Em primeiro lugar, devemos evidenciar que o espiritismo é essencialmente cristão. Os espíritas acreditam seriamente que Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida; por isso, o espiritismo se propõe a reviver o cristianismo primitivo — aquele estágio inicial em que os homens, mais próximos do Cristo , puderam absorver e viver seus postulados com o mínimo de influências intelecto-sociais-religiosas.

Tanto o Catolicismo como o Protestantismo acreditam que o Antigo Testamento e o Evangelho constituem a Revelação Divina — sustentáculo maior das religiões e, como tal, consideram que esses documentos representam a própria palavra de Deus.

Do ponto de vista dessas religiões, Deus sendo a expressão máxima da perfeição, a sua palavra representaria também a mesma perfeição, isto é, a verdade absoluta.

Assim, através de um raciocínio lógico, chegaram a conclusão que esses manuscritos, contém o conhecimento integral acerca da existência humana e da sua ligação com o criador. Dessa forma, essa verdade suprema seria estática, imutável, inquestionável (daí os dogmas) e ainda, passível de se alcançar durante a vida carnal (exemplos dos santos), afinal, para essas Doutrinas a vida material é uma só.

O espiritismo está alicerçado na Lei de Evolução. Essa é uma das características que o torna diferente das outras religiões. Para ele a evolução é compulsória, o que evolui é o princípio espiritual que habita em cada um de nós e que nasceu igual a todos: simples e ignorante.

Baseado em Kardec, Emmanuel, André Luiz e Humberto de Campos, o espiritismo também aceita o princípio da Revelação Divina, mas no sentido de uma permissão de Deus, para que seus competentes emissários, cujo nível evolutivo é adequado ao progresso moral da humanidade, possam transmitir novos ensinamentos indicando o caminho rumo à perfeição.

Para isso, eles se valem do processo natural de comunicação entre mentes, ou seja: a mediunidade. Esse foi o caso dos profetas, sábios e grandes líderes religiosos da nossa civilização, exceção se faz a Jesus – o condutor da humanidade, intérprete maior da vontade Divina.

Os médiuns porém, por mais preparados que tenham sido para as suas missões, estão condicionados ao livre-arbítrio, tomando suas decisões sob a influência de suas tendências inferiores em processo de burilamento. Sendo assim, é natural que a recepção e transmissão das idéias dos espíritos superiores, ocorram segundo a capacidade intelectual e moral de cada um. A fidelidade às mensagens espirituais é diretamente proporcional ao grau de sintonia e apassivação que o médium consiga obter e por quanto tempo ele mantém. Dada essa dificuldade, é comum que as mensagens possuam determinada parcela das idéias do próprio médium, o que “ipso facto”, não tira o mérito da comunicação se o teor e os objetivos da mensagem não for alterado.

É inegável o seu valor como o maior repositório
de ensinamentos morais de todos os tempos

Sob o prisma do conhecimento histórico, sabemos hoje que os evangelhos foram escritos muito tempo depois dos fatos ocorridos, em outras localidades e por pessoas que não foram testemunhas oculares. Nenhum evangelho foi encontrado na sua versão original, as cópias mais antigas que dispomos é do século IV e alguns fragmentos do ano 200. Mateus, ou melhor, um discípulo ignorado dele, deve ter escrito seu Evangelho no ano 70 ou pouco após utilizando-se das anotações de Levi que já circulava, conforme Emmanuel em Paulo e Estevão, no ano 34. Lucas deve ter escrito seu evangelho original e Atos dos Apóstolos nos anos 63 a 64. Marcos deve ter feito suas anotações na mesma época de Mateus até um ou dois decênios depois. João, isto é, um discípulo desconhecido dele, provavelmente escreveu seu evangelho em sua forma definitiva nos anos 90.

Todos os historiadores são unânimes em afirmar que o Novo Testamento, incluindo aí os quatro evangelhos, sofreu alterações intencionais como duplicação ou omissão de letras, sílabas e palavras e voluntárias como correções gramaticais, ajustes de concordância com o Antigo Testamento e até interpolação de texto, isto é, acrescentaram palavras e até pequenas frases, com a intenção de dar mais credibilidade e atender a conceitos e necessidades religiosas da época. Há consenso quanto algumas partes que foram alteradas.

Até o século IV os evangelhos foram copiados manualmente por diversas de vezes. Tudo indica que eles tenham sido escritos em grego na sua versão original, exceto o de Mateus que deve ter sido escrito em Aramaico. Algumas palavras e expressões usadas na época de Cristo foram transformadas em vocábulos mais conhecidos e para isso sofreram uma interpretação de competência duvidosa. No caso de originais escrito em Aramaico, a situação piora pelas dificuldades de encontrar termos equivalentes em outra língua.

Segundo Emmanuel em Paulo e Estevão, o Evangelho de Mateus foi o primeiro a circular entre os novos cristãos, a partir do ano 34. De conformidade com esta mesma fonte, Marcos (João Marcos – evangelista) fez a primeira viagem com Paulo de Tarso aos 16 anos.

Quadro resumo dos quatro evangelhos

Documento Original

Características

Evangelho

Capí-
tulos

Versí-
culos

Data
Provável

Língua
provável

Local
provável

Autor
provável

Escrito
para:

Objetivo

Quem é o
autor

Mateus
– o publicano
– Levi, – filho
de Alfeu

28

1068

após

70 dC

Grego, possível Aramaico

Síria

discípulo ignorado de Mateus

Judeus

Divulgar a
mensagem
de Cristo

– judeu culto
– conhecedor das escrituras e das tradições

Marcos

16

661

entre

65 a 70 dC

Grego

Roma

João Marcos, companheiro de Pedro e Paulo

Novos cristãos

Apresentar a Boa Nova de Jesus

– intérprete de Pedro
– judeu nativo de Jerusalém

Lucas

24

1149

após

70 dC

Grego

Acaia
Beócia
Grécia
Roma
Antioquia

companheiro de João Marcos

Teófilo

Para melhor conheceres a firmeza da Doutrina em que fostes instruído

– médico, gentio
– companheiro de Paulo
– autor de Atos dos Apóstolos

João

21

879

90 dC

Grego

Éfeso

discípulo ignorado de João

Judeus

Para que creais em Jesus e crendo tenhais a vida em seu nome

– intérprete do pensamento de João
– autor do Apocalipse

Apesar de tudo, é inegável o seu valor como o maior repositório de ensinamentos morais de todos os tempos. Essa é a sua essência, a finalidade maior da sua existência. Instruído pelo Espírito da Verdade e antes, por Pestallozzi, foi isso que Kardec captou e procurou passar através do Evangelho Segundo o Espiritismo (1864).

Em sua extensa parte filosófica o Espiritismo apresenta a Lei da Evolução, informando que os espíritos estão destinados a progredir eternamente. Como ciência ele estuda e investiga as leis que regem os fenômenos mediúnicos e como religião ele nos indica o caminho para a evolução vertical, que é através da reforma íntima alicerçada no Evangelho.

O exemplo e os ensinamentos que Jesus nos deixou, é material sublime para meditação e reflexão constante pela humanidade, pois é objetivo do Criador que o nosso comportamento mental seja automatizado nas leis morais encerradas no evangelho. Essa é a meta maior que devemos atingir para passarmos a outro plano evolutivo. Você já iniciou o estudo do evangelho no lar? Hoje é um bom dia…

Ivan René Franzolim