Existem termos específicos para identificar um texto?
Embora envolva ao mesmo tempo aspectos do conteúdo e da linguagem, podemos considerar a terminologia como um critério de avaliação da redação do ensaio. Ela é a responsável pela “cara” do texto. Lemos um texto de Geografia e sabemos que estamos lendo sobre Geografia. Do mesmo modo, temos a clareza semelhante ao ler um texto de Informática, ou de futebol, ou de Química, ou uma bula de remédio, ou de Astronomia. Se fizermos um levantamento do vocabulário de um texto bem característico de qualquer uma dessas áreas, procurando isolar as palavras que o identificam, observaremos que há dois tipos de vocábulo: um que é próprio da área em questão e outro que não é, mas que também transmite conceitos importantes para a compreensão do texto.
1. A definição de terminologia
Terminologia é o conjunto dos termos próprios de uma ciência, de uma arte, de uma área de conhecimento ou de uma atividade humana. Assim, “gene” é um termo da Biologia (Genética); “clave” é um termo da Música; “médium” é um termo do Espiritismo; “nota fiscal” é um termo comercial.
Terminologia são as palavras que transmitem conceitos precisos, relativos ao conteúdo da ciência, da arte, da área de conhecimento ou da atividade. Nomenclatura pode ser um sinônimo correto para terminologia. |
2. Tipos de terminologia
A terminologia pode ser de dois tipos: específica e geral. Terminologia específica são termos exclusivos de uma área de conhecimento. Exemplos: bissetriz, hemoglobina, mais-valia, ventos alísios, bite, pênalti, superego, sujeito indeterminado, bemol, movimento retilíneo uniforme, proparoxítona etc. Alguns são termos específicos de mais de uma área de conhecimento, mas ainda assim se encaixam na terminologia específica. Exemplos: campo (Geografia, Física, Arquitetura, esportes, pintura), linha (Geometria, desenho), ponto (Matemática, Gramática, Geometria, Física, Química).
3. Terminologia e conhecimento
A terminologia transmite conceitos básicos de uma determinada área de conhecimento e sustenta seu conteúdo essencial. Grande parte do processo de escolarização é usada para ensinar os alunos a conhecer os conceitos expressos por esse vocabulário básico.
4. Terminologia geral
São termos do vocabulário comum cumprindo função terminológica, como indica uma declaração de Ulysses Guimarães, então deputado federal: “Há políticos que são como certos torcedores de time de futebol. Quando seu time não ganha o campeonato, rasgam a carteirinha de sócio e passam a torcer para o time vencedor”. Ulysses Guimarães, evidentemente, não estava falando de futebol, mas de política. Em sua declaração, “time de futebol” correspondia a “partido político”; “torcedor”, a “político”; e “campeonato”, a “eleições”. Nesse caso, as palavras “time de futebol”, “torcedor” e “campeonato” são exemplos de terminologia geral. Quando dizemos que concisão não é propriamente a linguagem de um telegrama, significa que a palavra “telegrama” traz um conceito implícito.
Uma linguagem concisa não é aquela que tem apenas as palavras essenciais, que omite artigos e preposições e está preocupada em economizar ao máximo os vocábulos, como acontece nos telegramas. |
Toda a explicação acima está implícita na palavra “telegrama”, que, na frase, cumpre função terminológica.
5. Facilitando a comunicação
A terminologia geral muitas vezes é utilizada para atenuar a frieza do conceito ou para tornar o texto mais acessível a um número maior de leitores. Alguns autores notabilizaram-se por usar esse recurso expressivo. É o caso do próprio Ulysses Guimarães, em sua declaração.
O discurso político e o religioso são pródigos exemplos de utilização da terminologia geral, com a intenção de tornar uma fala ou um texto mais acessíveis. |
Algumas frases que cumprem esse papel se transformaram em citações facilmente reconhecíveis e muito utilizadas: “Há tempo para todos os propósitos debaixo do sol”; “Na casa de meu Pai há muitas moradas”; “A religião é o ópio do povo”; “Os capitalistas são tigres de papel”, e muitas outras.
6. Terminologia e compreensão
Por expressar conceitos básicos de uma área do conhecimento, pode ser difícil, ou mesmo impossível, escrever sobre um determinado assunto sem o domínio da terminologia. Por exemplo: seria complicado falar de Genética sem usar a palavra “gene” ou outra que a substitua. Do mesmo modo, o leitor precisa dominar a terminologia para entender o texto.
7. Terminologia e precisão
A terminologia específica é a característica mais marcante da linguagem conceitual, principalmente na linguagem das Ciências Exatas e Biológicas. As ciências buscam uma linguagem universal que expresse uma compreensão totalmente objetiva da realidade. Para isso, são usados termos precisos, que procuram garantir a exatidão do conceito. Embora esse seja um procedimento válido, ele limita o número de leitores que precisam dominar a terminologia para poder entender o que se escreve.
Para lembrar:
A necessidade de dominar as terminologias é um dos fatores que tornam o ensaio um texto difícil de ser redigido. Nesse aspecto, ler bastante, ou estudar, é importante para escrever. |
| Os dois extratos de texto ao lado são exemplos de terminologia específica |
8. Terminologia e poder
Em teoria, é possível escrever sobre qualquer assunto sem utilizar a terminologia específica. Provavelmente, o texto ficará mais longo e perderá muito em concisão e precisão. Por outro lado, pode ser compreendido melhor por qualquer pessoa que se interesse pelo assunto, independentemente de seu domínio terminológico. Se isso é verdade, significa que a terminologia específica é elitizante e pode ser utilizada por algumas pessoas para impor uma discutível superioridade de seu conhecimento. De fato, isso acontece na sociedade.
É comum que profissionais especializados utilizem seus conhecimentos para exercício de poder ou o chamado argumento de autoridade. É o que ocorre com alguns médicos, economistas, advogados etc. Assim, temos o “economês”, o “sociologuês”, o “pedagogês” e outros. |
Conhecer e ter idéias sobre um assunto não significa necessariamente dominar sua terminologia específica. Nossa inteligência pode ser expressa por palavras. Mas as palavras por si só não contêm nossa inteligência.
8a. Preconceito com o não-saber
Há um preconceito generalizado na nossa sociedade de que falta de instrução é sinônimo de falta de inteligência. É certo que quem estuda tem acesso a um poderoso instrumento de atuação social. Mas daí a afirmar-se que as pessoas que não têm instrução são incapazes, é uma falácia inaceitável. É impossível dominarmos todo o conhecimento acumulado pela humanidade. Um estudante secundarista típico, por exemplo, conhece um pouquinho de tudo, mas não muito profundamente. Quem tem formação universitária domina bem a área em que se formou e algumas afins. Contudo, em geral, ignora várias outras.
8b. Especialização e superioridade
A dinâmica das sociedades modernas tem exigido especialização. Um profissional de qualquer área encontra dificuldades para acompanhar os progressos e as freqüentes inovações de seu setor de atuação. Se ele for bem-sucedido nesse acompanhamento, será um especialista em alguns aspectos e um ignorante no restante. Poderá, por exemplo, saber menos de eletricidade do que o eletricista da esquina ou menos de futebol do que seu filho pequeno. Poderá ser um brilhante médico especialista em ortopedia, mas com enormes dificuldades para consertar uma torneira pingando ou para preparar seu alimento. Essa fragmentação do conhecimento, exigida pelo progresso, limita a compreensão do mundo e também pode criar a presunção do poder para quem domina uma certa área, com o especialista considerando-se superior aos outros.
Para lembrar:
Nossa maneira de nos comunicar expressa nosso modo de pensar. Podemos considerar nosso conhecimento específico como marca de nossa superioridade ou nos orientar pelo princípio de que as pessoas têm potencialmente capacidade de compreensão, independentemente de sua instrução e escolaridade. |
8c. O conhecimento
Muitas vezes, os termos específicos facilitam o contato com o leitor. Para isso, criam-se classificações e nomenclaturas. Em outros casos, podem ser um entrave à comunicação. Assim, o ideal é evitar o uso de termos específicos. Mas o aprofundamento de um texto e sua qualidade não devem nunca ser menosprezados sob o pretexto de que o leitor não tem capacidade para compreendê-lo. Na maioria das vezes, é o escritor que não tem capacidade de se fazer entender. A redação deve sempre ser sinônimo de interação e entendimento. Caso contrário, não serve para nada.
8d. Domínio do vocabulário
Desconhecer ou não dominar um vocabulário especializado não significa falta de capacidade. Com o tempo e com a experiência, vamos aumentando nosso domínio e nossa capacidade de compreensão. Por isso, preocupe-se em fazer um texto sério e uma análise aprofundada. Hoje seu vocabulário pode não ser dos melhores e é possível que você não o considere suficiente para uma boa redação, mas com estudo e leituras atentos certamente você conseguirá superar esse ponto fraco.
Glossário
Falácia: qualidade de falaz, que significa enganoso, ilusório, ardiloso, vão.
Nomenclatura: conjunto de termos peculiares a uma arte ou ciência, terminologia; vocabulário de nomes.
Pródigo: generoso, esbanjador, que despende com excesso.
Copyright Klick Net S.A. Todos os direitos reservados.