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Movimento e Doutrina – Movimento Espírita

Movimento e Doutrina – Movimento Espírita

Ivan René Franzolin


Onde está a Ética?

Os meios de comunicação (mídia) devem seguir um código de ética? O jornalismo brasileiro tem o seu código desde 1985, mas será que o segue?

Fundamentado no interesse da coletividade, muitas vezes a mídia expõe as mazelas humanas sob este pretexto; publicam denúncias contra esta ou aquela pessoa sem preocupar-se com a exatidão, veracidade e as conseqüências do ato para os denunciados e seus familiares. Veiculam anúncios que oferecem os mais estranhos produtos e serviços que incentivam comportamentos doentios. Onde enquadrar as dezenas de revistas que sobrevivem às custas dos desajustes sexuais humanos? Que dizer da maioria dos programas de rádio e televisão que invadem lares divulgando comportamentos desajustados como sendo naturais e até sinônimos de sucesso e realização na vida?

Ajudemos uns aos outros para não faltar
empenho, vontade e entusiasmo

Fica difícil encerrar a ética (ou moral) num código e esperar que todos a obedeçam. Assim como este código, existem leis, decretos, convenções sobre comportamentos, educação e até o evangelho, embora sejam ignorados ou desprezados por muitos. O apelo do dinheiro e dos prazeres físicos ainda dominam os ideais humanos e alimentam o egoísmo, o orgulho e a vaidade.

É preciso fazer os homens saírem dessa nuvem de materialismo que parece predominar. É preciso despertar aspirações elevadas que só uma religião racional pode proporcionar, particularmente a espírita, vinculada que está à idéia de Deus, desvendando as leis que regem o universo (material e espiritual), esclarecendo a razão da nossa existência e o destino que nos cabe. Só assim o homem incorpora em seus valores pessoais, a meta de melhorar-se gradativamente, ganhando virtudes e perdendo defeitos, passando a obedecer, não a códigos escritos no papel, mas em sua consciência.

Essa terra hoje chamada Brasil, que abriga espíritos de todas as partes, muitos compromissados com a implantação do evangelho nos corações dos homens, tem todas as condições para executar esse trabalho. Ajudemos uns aos outros para não faltar empenho, vontade e entusiasmo.


A renovação do movimento espírita

Sopra uma brisa nova que vai motivar muitos e ajudar na realização de bons trabalhos

A vida se incumbe naturalmente de realizar a renovação necessária em todas as áreas, para garantir o progresso geral. Tudo indica que o movimento espírita passa por um processo mais acelerado de renovação de idéias, desenvolvendo concomitantemente uma estrutura e uma organização mais adequada ao momento atual.

Aqueles que mantém contatos com as sociedades espíritas, têm tido a mesma percepção de que o movimento espírita parece estar construindo uma base mais sólida e homogênea, que permitirá realizar melhor as atividades que compõem o quadro dos seus desafios.

Diversos são os fatores que estão influenciando positivamente os espíritas e os centros. A consciência do dever de participar das atividades que afetam a sua comunidade, tem levado muitos cidadãos espíritas desejarem se integrar no trabalho dos centros.

A concepção agora mais ampliada do termo qualidade, faz com que as pessoas mais esclarecidas se organizem na busca de níveis sempre mais elevados de qualidade para o próximo, mesmo por que, ninguém pode atingir a qualidade total, desconsiderando a situação daqueles que formam o seu meio-ambiente.

O entendimento, cada vez mais profundo da necessidade de ajudar a si, ajudando o próximo, também é responsável por engrossar as fileiras nas tarefas árduas da assistência social e espiritual das casas espíritas.

A situação de penúria e instabilidade que o país se encontra, tem o mérito de incentivar a constituição de grupos que possuem como pontos comuns, a vontade de fazer a sua parte para melhorar essa situação através da doutrina.

A compreensão, cada vez maior da importância do estudo em todas as atividades humanas, tem contribuído para reunir pessoas em torno da doutrina visando facilitar o seu aprendizado.

O aperfeiçoamento dos processos de comunicação, levando mais informações e de melhor qualidade, responde pela eficaz integração, fortalecimento e conseqüente troca de experiências entre os grupos. A imprensa espírita certamente tem contribuído de forma expressiva para essa renovação.

Nota-se claramente uma energia nova, diferente, tomando conta das casas espíritas. São veteranos e jovens que desenvolveram novos mecanismos para trabalharem em grupo com harmonia e bons resultados.

Uns grupos mais adiantados que outros, alguns acertando e outros vivenciando ainda a fase de experimentação, mas a maioria tentando, procurando e se esforçando para encontrar o seu bom caminho.

De todo o complexo de variáveis que respondem pelas transformações que o movimento espírita está passando, preparando-se para um desempenho diferenciado, a Internet, sem dúvida alguma, será responsável por uma relevante contribuição.

A concepção de “aldeia global”, a tônica no trabalho em equipe, a ênfase no diálogo, na descentralização de atividades, no esforço para o fortalecimento das sociedades espíritas, a busca da qualidade, a visão centrada nos resultados, a difusão de técnicas modernas de administração e comunicação, são características que estão conseguindo bons resultados, despertando talentos e incentivando a iniciativa pessoal e dos grupos.


Proselitismo e caridade

Para o Espiritismo reviver o Cristianismo primitivo, necessário se faz o anúncio da “Boa Nova”

É fato incontestável que o espiritismo não deve fazer proselitismo. A dificuldade, porém, reside em identificar a fronteira que divide os limites do proselitismo com as formas de comunicação e de propaganda doutrinária – perfeitamente válidas e importantes para o progresso da doutrina.

Devemos estar atentos para não forçar ninguém a se tornar espírita, a obedecer seus preceitos ou a seguir uma orientação seja ela particular ou de uma instituição. No exercício da assistência social, por exemplo, muito cuidado para oferecer o conhecimento espírita, sem exigir a atenção dos assistidos em troca da satisfação de suas necessidades.

Nas entrevistas e palestras públicas, devemos cuidar para não utilizar o tom de admoestação e de ameaça, muitas vezes inserido nas elucidações evangélicas e doutrinárias. Na primeira, exaltamos a inferioridade e os erros da humanidade, face ao seu modelo: Jesus. Na segunda, salientamos as conseqüências dos atos contrários às leis naturais, algumas vezes criando temores quanto a vulnerabilidade dos não espíritas às trevas e ao sofrimento.

Por outro lado, se devemos querer bem ao próximo e acreditamos que o espiritismo apresenta o caminho mais racional para direcionar a vida humana rumo à felicidade, seria uma falta de caridade deixar de anunciar esta crença alternativa para aqueles que a desconhecem.

Sendo pessoal a opção de se tornar espírita, não havendo cobrança ou aferição pelo movimento espírita do progresso de cada um na doutrina, é natural que haja uma variação muito grande tanto no conhecimento, quanto na convicção das pessoas. Assim, é preciso um grande e permanente esforço de esclarecimento e educação que só é possível através dos meios de comunicação e de propaganda.

Uma mensagem que consola, esclarece, fortalece e cria esperança, merece nossa maior atenção e esforço para multiplicar sua ação benéfica

O anúncio da “boa nova” na visão espírita, não deve ser entendido como prática de proselitismo, embora colabore para despertar e trazer novos adeptos à doutrina, pela força de compreensão da mensagem espírita.

Vamos realizar boas palestras no centro espírita e fora dele – explicativas; fazer entrevistas e dar orientação com responsabilidade; confeccionar placas externas, cartazes e formulários – esclarecedores; manter boletins, jornais e revistas com conteúdo; elaborar boas colunas espíritas na imprensa – interessantes; criar e manter bons programas de rádio e TV – atrativos; confeccionar folhetos e mensagens de utilidade; realizar feiras, bancas e clubes do livro espírita com competência; realizar cursos, estudos, debates e pesquisas com qualidade.

Vamos intensificar os meios de propagação, com bom-senso, qualidade e sincera intenção de procurar estar sempre melhorando o modo de realizar as atividades, sem receio de estarmos agindo em conflito com os postulados espíritas.

Precisamos atender bem as expectativas e anseios daqueles que procuram o espiritismo, sabendo transmitir, através de qualquer veículo de comunicação, a grandeza e a utilidade dos ensinamentos contidos na codificação. Uma mensagem que consola, esclarece, fortalece e cria esperança, merece nossa maior atenção e esforço para multiplicar sua ação benéfica. Afinal, segundo Emmanuel: a divulgação do espiritismo é a maior caridade.


A transparência das idéias

O desafio do jornal espírita é atender ao compromisso com sua doutrina, obedecer as técnicas jornalísticas e respeitar o leitor

Um jornal espírita não deve se manter afastado das discussões sobre a doutrina e o movimento, em razão do seu compromisso com o espiritismo, que deve estar acima do seu vínculo com instituições espíritas ou com a opinião de um grupo de pessoas. É inconcebível que um órgão de imprensa relegue a um segundo plano o direito maior do leitor que é o acesso às informações, saber o que está acontecendo, sejam essas notícias boas ou ruins.

O periódico espírita deve ter como principal objetivo servir a doutrina, adotando, divulgando e defendendo os seus princípios e sua moral. É um equívoco pensar que a finalidade do periódico espírita é consolar. Esta é uma das metas do espiritismo que acaba direcionando a elaboração de muitas matérias do jornal, que consolam pela força da mensagem espírita. Contudo, não se pode comparar com as centenas de livros especializados e melhor estruturados para essa função. O jornal também não educa, mas pode reforçar aspectos para quem já se educou ou está em processo de aprendizado.

O leitor tem o direito de saber o que se pensa e se discute no movimento espírita

Além de publicar o que acontece, é necessário argumentar sobre a importância, a origem e as conseqüências dos acontecimentos, dando espaço para diferentes interpretações de um mesmo fato.

O estudo da doutrina também necessita de matérias mais consistentes, fundamentadas em raciocínio lógico, em bibliografia fidedigna e na pesquisa competente. A publicação das idéias (matérias opinativas e interpretativas), com nuances novos ou conflitantes, apresentadas com seriedade e respeito, são úteis e incentivam o aperfeiçoamento do conhecimento espírita, uma vez que desperta a natureza do homem para defender ou para combater as idéias ¾ nunca as pessoas.

Deixar de debater é deixar de lutar pela causa abraçada, deixando crescer as idéias equivocadas

O compromisso do jornal espírita com o espiritismo não pode cercear a expressão, pois as leis de igualdade, liberdade e progresso, que aceitamos e divulgamos, pressupõe o livre debate das questões que incomodam as pessoas. O leitor tem o direito de saber o que se pensa e se discute no movimento espírita, para isso ele procura um veículo de comunicação vinculado a sua doutrina. Deixar de debater é deixar de lutar pela causa abraçada, deixando crescer as idéias equivocadas – naturalmente derivadas do raciocínio precipitado ou não organizado do homem, sem oferecer o recurso caridoso do esclarecimento e do intercâmbio sadio de argumentos e raciocínios lógicos. A verdade convive com o trabalho, a boa vontade e a tranqüilidade, afastando-se da simples imposição, da omissão, ou da agressividade.

O jornal espírita deve assumir sua posição face aos debates que ocorrem nos diferentes ângulos do conhecimento humano, através da encomenda e seleção de matérias, do editorial, das matérias e notas da redação. Deve voltar atrás ao perceber que errou, e sobretudo, deixar claro, transparente, o seu modo de pensar. O público se sentirá mais confortável, sabendo o que esperar do seu jornal, assim como ficamos mais à vontade quando sabemos a posição de um amigo sobre determinado assunto, mesmo discordando dela.

Temos exemplos de bons jornais que possuem entre seus leitores, inúmeras pessoas que não compartilham de algumas posições assumidas pelo periódico, mas admiram o trabalho realizado e reconhecem a importância de uma tribuna livre, prestigiando-a com sua assinatura.

O ser humano necessita fortalecer suas convicções e os veículos de comunicação têm um papel relevante

O debate das idéias deve ser incentivado, desde que conduzido com respeito e fraternidade. Quando as opiniões apresentam alguma divergência, há estímulo para a busca da verdade e o enriquecimento é geral. Caso a matéria apresente alguma hostilidade, o jornal deve remeter o texto ao autor, solicitando a necessária adequação aos padrões e normas estabelecidos, senão aos princípios básicos da educação.

O ser humano necessita fortalecer suas convicções e os veículos de comunicação têm um papel relevante, apresentando diferentes posições sobre um mesmo assunto, questionando e permitindo o questionamento e, sobretudo, apresentando sólido material que subsidie um estudo mais profundo por parte do leitor.


Debates doutrinários

Toda discussão séria e interessada na busca do conhecimento é benéfica, desde que fundamentada nos princípios morais

Os veículos informativos se prestam a uma série de objetivos benéficos, na área sócio-cultural que estão inseridos. Os periódicos espíritas e seus articulistas possuem uma responsabilidade a mais, que é a de exemplificar a Doutrina Espírita. É uma posição difícil, perigosa, pois medeia entre a demagogia e o esforço sincero. Trata-se de uma situação natural daqueles que se expõem publicamente, com o nobre intuito de auxiliar a divulgação e o processo evolutivo do Espiritismo.

Neste campo onde viceja a preocupação com os textos publicados, desponta ainda, o desejo de encontrar nos artigos oriundos da contenda sadia, que se desencadeia por vezes em nossa imprensa, a palavra esclarecedora, mas realmente fraterna, sem ironias, menosprezo, necessidade acentuada de mostrar os erros cometidos pelo parceiro da discussão, ou de explicitar as calúnias e mentiras de que foi alvo.

Se é verdade que perseguimos o intento de nos conduzirmos com elevação, pautados na moral e na bondade, a realidade demonstra que precisamos de tempo, para que a reflexão anule as tendências passíveis de burilamento e a vontade melhore nossas ações instintivas. Concluímos então, que a palavra oral flui com maior dificuldade, entretanto, a palavra escrita permite sempre o recurso precioso da revisão, norteada pela razão e conduzida com o coração.

O ideal do contendor espírita, seria então, aquele que vibra na faixa da compreensão, da humildade e do anseio de elevação geral, muito embora tenha postura positiva e o seu dizer seja “sim-sim, não-não”.

Acompanhamos alguns interessantes debates e verificamos que os envolvidos são pessoas geralmente muito qualificadas, profundamente dedicadas, mas que se deixam resvalar em pequeninos declives no comportamento cristão. É como olhar para um lindo jardim, muito bem cuidado, mas que ao exame minucioso, revelasse a existência de diminutas ervas daninhas ocultas entre as flores. Elas não tiram a beleza do conjunto ou o mérito do jardineiro, todavia, denotam que este deixou de fazer um trabalho perfeito, por abster-se de realizar um pequeno e último esforço. Nosso objetivo é a perfeição, vamos perseguí-la sem fanatismo, mas com perseverança.


O retorno do exorcismo

A “Santa Inquisição” também voltará?

A Rede Globo de Televisão apresentou no programa Fantástico (14/04/91), um documentário sobre exorcismo na Igreja Católica de Nova Iorque, Estados Unidos.

Vimos estarrecidos, uma garota de 16 anos chamada Gena ser tratada com violência física e pior, psicológica, não condizente com a sua situação de enferma ou com a condição daqueles que se nomeiam representantes de Cristo no ministério do amor.

O padre “A”, que não quis ser identificado e o padre James Lebar, realizaram um ritual de exorcismo da mesma forma como era feito há quinhentos anos atrás. Digno de um filme misto de ficção e terror.

Os padres disseram que costumam estudar a possibilidade de executarem um exorcismo, por cerca de seis meses, tomando a precaução, nesse caso, de conversarem antes com o médico psiquiatra da paciente em questão. Confessaram sentir muito medo, preponderando entretanto, a sensação de “dever religioso”, levando-os a participarem da eterna e gloriosa luta do bem contra o mal. Esqueceram que as armas apregoadas por Jesus foram o amor, o perdão e a fé em Deus que é o único soberano do universo.

A cerimônia medieval se desenvolveu com muita reza, água benta e diversos crucifixos colocados no corpo da garota vestida de branco. Amarraram seus braços, seguraram suas pernas e sua cabeça. Após o ritual, ela reclamou da dor sofrida pela pressão dos crucifixos no rosto e na cabeça.

A televisão mostrou essa adolescente em aparente transe mediúnico, embora pudesse ser anímico também. Ria dos padres e os ameaçava. Falava ora como homem, ora como criança. Apresentava, segundo os participantes, força acima do normal.

A mãe relatou constrangida, que nos ataques que sua filha vem sofrendo, ela fala de coisas de que não conhece e línguas que nunca estudou.

Que razão é essa dos homens que parece ter ficado estática no último meio milênio? Por que a tendência de se acreditar demais ou de menos?

Findo o transe, Gena revela os nomes dos “demônios” presentes: um chama-se Sion, africano; o outro é um homenzinho pequeno chamado Mingo.

Foram sete horas de exorcismo! Sete horas de reiterados pedidos para os pseudos diabos se retirarem. Sete horas de ingênuas tentativas de intimidar os representantes espirituais da ignorância, com água benta, cruzes, terços etc. Felizmente todavia, os “demônios” (espíritos inferiores), se retiraram da Jovem, para júbilo de todos. Provavelmente por puro cansaço ou por ordem Divina.

A reportagem mostra então a divisão dos louros da vitória. Os padres julgaram que Gena foi libertada graças ao exorcismo. O médico concluiu que a paciente apresentou melhoras, graças às novas drogas administradas nas duas semanas subseqüentes ao exorcismo, quando esteve internada num hospital psiquiátrico. A questão porém é outra. Quem serão os responsáveis pelos prováveis distúrbios psicológicos que a Jovem terá em sua vida, decorrentes dessa experiência? Afinal, ela foi tratada como se abrigasse em seu corpo, o mito horrendo de Satanás, criado pela igreja como estratégia de ganhar e manter adeptos. Para uma mente não amadurecida, poderá ser a ruína de sua vida útil e saudável.

Onde ficou o bom senso? Que razão é essa dos homens que parece ter ficado estática no último meio milênio? Por que a tendência de se acreditar demais ou de menos? Alguns acreditam apenas nos poderes da massa encefálica e outros, preferem os poderes mitológicos do príncipe das trevas.

Não há luta do bem contra o mal. Há o esforço evolutivo natural de transformar a ignorância e os sentimentos brutalizados em inteligência e amor

A reportagem finaliza com uma pesquisa que apresenta 49% dos americanos acreditando no diabo e em seu poder de tomar o corpo das pessoas; outros 35% não acreditam nisso e 16% não tem opinião formada.

Ah! Esses americanos! como podem ser tão desenvolvidos, tão racionais e ao mesmo tempo tão ingênuos. Esqueceram de sua própria história. Não mais se recordam das irmãs Fox, de Henry Slade, Eleonora E. Piper, C. H. Foster, os irmãos Davemport, Andrew Jackson Davis, Edgar Cayce e muitos outros médiuns de projeção nesse país, estudados por pessoas idôneas, que mostraram a realidade do mundo espiritual. Até o pai da parapsicologia moderna – Joseph Banks Rhine, já havia constatado a interferência de inteligências extracorpóreas, denominada função psi-theta. Onde a coerência?

Como explicam, aqueles que acreditam em Lúcifer, as milhares de pessoas atendidas diariamente nos Centros Espíritas, com problemas de obsessão, fascinação e possessão? Seria o Brasil um país dominado por Belzebú? Casos semelhantes ao dessa garota americana, são tratados com amor, orientação evangélica e espírita, tanto para os obsidiados, como para os obsessores – espíritos ignorantes ou cujo sofrimento bloqueia momentaneamente o discernimento.

Esses espíritos não são, portanto, demônios e sim, pessoas que morreram e estão necessitando de compreensão, estudo e eventual atendimento médico espiritual. Alguns, continuam sendo o que eram, ociosos, zombadores ou mesmo perversos. Aproveitam dessas ocasiões em que são tratados como diabo, para agirem como tal e intimidarem seus crentes.

Para uma mente espiritualista e racional, deveria parecer mais estranho e fantasioso, acreditar na existência e no poder de um rei dos infernos, dividindo o governo do universo com Deus, do que supor na existência de um só poder oriundo do Criador, na sobrevivência do espírito depois da morte e na comunicação com os vivos. Não há luta do bem contra o mal. Há o esforço evolutivo natural de transformar a ignorância e os sentimentos brutalizados em inteligência e amor.

A terapia espírita parte da premissa da transformação moral dos indivíduos, como fator preponderante para a conquista da felicidade. Procura mostrar a importância dos indivíduos e a necessidade de serem úteis ao próximo e à sociedade.

Vamos exorcizar sim o atavismo e os preconceitos que atravancam o raciocínio. Vamos libertar o conhecimento do seu insulamento, aproximando-o da religião, mas da religião natural, alicerçada no amor, na moral, na fé e na devoção em Deus e totalmente distanciada das práticas exteriores e de medidas salvacionistas exclusivas.


Telemarketing e Espiritismo

A busca do dinheiro não pode fazer esquecer os princípios éticos e deixar longe os doutrinários

Toda a instituição espírita precisa de recursos financeiros para a sua manutenção. Quanto a isso não há dúvida. O que se discute e contesta é a forma e os limites dessa busca.

Telemarketing é uma técnica moderna de abordagem das pessoas via telefone visando a venda de um bem ou serviço. Sua utilização não tem nada de condenável, a forma, porém, é discutível. Não se pode admitir que uma organização que proponha a fazer o bem segundo os ensinamentos evangélicos, possa usar de espertezas e artimanhas psicológicas para conseguir o seu intento.

A instituição que vive da caridade para poder fazer o bem, deve entender de modo muito claro duas coisas: primeiro, que os meios não justificam os fins e segundo, que há um objetivo paralelo a ser perseguido que é educar as pessoas para a caridade.

O dinheiro parece nunca sobrar.
Quanto mais temos, mais necessidades criamos.

Não se deve pressionar as pessoas pedindo de modo ostensivo, ligando várias vezes, nunca aceitando um não, fazendo menção ao bom emprego ou a boa casa que possui, armando uma situação constrangedora, dramatizando, implorando e até ameaçando! Há instituições que ligam para o local de trabalho das pessoas pedindo altas contribuições e deixando claro que conhecem até o salário delas!

Felizmente existem também organizações (poucas) que usam a técnica da simpatia aliada a boa educação. Pedem qualquer contribuição, não insistem, entendem de imediato uma negação e ainda agradecem a atenção, pedem autorização para ligar depois de um determinado tempo e agradecem de modo simples e agradável quando se decide pela doação.

Todas essas instituições deveriam publicar na imprensa espírita o seu balanço e um relatório mostrando quanto foi arrecadado, onde e como foi aplicado, bem como o parecer de um conselho fiscal ou similar. Visitando algumas delas, sequer vimos algum tipo de prestação de contas em seu mural. Fora os aspectos legais que exigem tal procedimento, há ou deveria haver, o fator moral que deveria falar bem mais alto.

A destinação do dinheiro também é preocupante. Arrecadando dinheiro para crianças órfãs, por exemplo, não se deveria aplicar em outras áreas, como a criação de uma gráfica. Todo relacionamento com o público deve ser sempre claro, transparente e honesto. Respeitar para ser respeitado. Afinal, a imagem da Doutrina está em jogo e pode sair machucada perante a opinião pública, caso em que enfrentará muitas dificuldades para se recuperar.

Haverá limites para a arrecadação de dinheiro? Ocorrendo que uma campanha ou programa alcance rapidamente a quantia desejada, o que se deve fazer? Parar o trabalho de arrecadação ou aproveitar para ganhar mais? O dinheiro parece nunca sobrar. Quanto mais temos, mais necessidades criamos. Haverá limite para a instituição de caridade? Até que ponto a busca do dinheiro não se torna uma obsessão fazendo esquecer compromissos mais importantes? A preocupação de Kardec em não deixar os Centros crescerem muito, parece se aplicar tão bem ou melhor para uma instituição de caridade. Ganhando muitos recursos hoje (não se sabe amanhã), talvez seja mais apropriado abrir outra casa do que deixá-la crescer.

Através do telefone as pessoas poderiam ser convidadas a conhecerem a instituição que estão contribuindo ou a ouvir uma palestra em suas instalações para conhecerem de perto o trabalho realizado.

Um folheto deveria ser enviado junto com o recibo fornecendo mais informações sobre a instituição e a caridade que pratica.

Uma técnica de marketing pode ser facilmente dominada e exercitada, mas os preceitos morais exigem um esforço muito maior para serem bem utilizados. Esse artigo é uma contribuição para o estudo e aprofundamento desse assunto objetivando o benefício das instituições, dos assistidos, dos doadores e, particularmente, da imagem pública do Espiritismo.


O conhecimento espírita precisa de desenvolvimento

Kardec deixou uma obra que parece depender mais da ação do tempo e dos espíritos para seu crescimento, do que dos homens

O Movimento Espírita precisa estar consciente da importância de se organizar e estruturar mecanismos de incentivo ao aprofundamento do conhecimento espírita, à pesquisa e à investigação por parte das instituições espíritas habilitadas, oferecendo alternativas de viabilização. Neste campo a carência é geral, desde um levantamento bibliográfico por assunto até uma avaliação metódica de um tratamento de cura.

Embora o espiritismo esteja alicerçado na religião (ou moral), filosofia e ciência, esta última tem recebido menos atenção, fazendo com que os espíritas continuem utilizando o mesmo referencial científico do século passado, quase nada construindo nos últimos 50 anos. A situação fica ainda pior, considerando o avanço científico que o homem está vivendo em todos os segmentos do conhecimento.

O espiritismo não está incluído no acervo do conhecimento humano como ciência

A filosofia espírita também não tem recebido esforço para o seu desenvolvimento. Existem alguns cursos de espiritismo, mas não se tem notícia de grupos com amplo conhecimento da doutrina, organizados com o objetivo de aprofundar o que já se sabe, identificando as lacunas existentes e as eventuais alternativas de complementação para serem submetidas a uma aprovação universal, como ocorre na ciência, onde diariamente há novas descobertas.

Do ponto de vista da comunidade científica, o espiritismo não está incluído no acervo do conhecimento humano como ciência. O que está faltando para isso? A confirmação dos fenômenos por que método de trabalho? Por quais técnicas? Talvez esteja faltando, antes de qualquer especificação, que os espíritas possam efetivamente assumir a ciência espírita. A questão é: o que realmente pode ser feito para gerar ações concretas em favor da ciência espírita?

A Codificação menciona a necessidade da doutrina espírita, assumir o seu papel como ciência que estuda as leis que regem o espírito, utilizou para isso, o método científico teórico-experimental (vigente na época). O Codificador também deixa claro que o espiritismo deverá sempre acompanhar a evolução de todos os ramos da ciência, aperfeiçoando e adequando seus conhecimentos nos pontos que se fizerem necessários.

Parece inadequada a atitude de deixar à parapsicologia, à pesquisadores agnósticos ou mesmo a individualidades isoladas do movimento espírita, a responsabilidade de desenvolver a ciência espírita, empregando métodos científicos na investigação dos fenômenos paranormais. É este desleixo que vem permitindo a pressão de grupos que desejam a mudança da doutrina, incorporando conceitos prematuros de TCI, cromoterapia etc.

Disse Kardec: “…a Doutrina não foi ditada completa, nem imposta à crença cega; porque é deduzida, pelo trabalho do homem, da observação dos fatos que os Espíritos lhe põem sob os olhos e das instruções que lhe dão, instruções que ele estuda, comenta, compara, a fim de tirar ele próprio as ilações e aplicações.” [A Gênese, Capítulo I, página 19, número 13]

A mediunidade de efeitos físicos é um bom exemplo
do descaso com a ciência

É preciso criar condições para o desenvolvimento do conhecimento espírita, dentro do movimento espírita. Não é imprescindível ser doutor em ciências ou filosofia para fazer este trabalho, embora certamente poderemos contar com alguns. Muitas atividades podem ser realizadas com uma simples orientação ou pelo fornecimento de um método de trabalho explicitado por técnicas específicas.

A mediunidade de efeitos físicos é um bom exemplo do descaso com a ciência. Em pesquisa feita com as federações do país, recebemos como resposta: “essa mediunidade já teve sua importância”; “estamos preocupados com a evangelização”; “o espiritismo não precisa provar nada” e outras frases sofísticas que denotam preconceito, ignorância ou confusão.

Assim sendo, muitas casas espíritas não sabem como proceder diante de colaboradores que manifestam esse tipo de mediunidade. Na falta de uma orientação de como utilizar adequadamente esse recurso, acabam por deixar atrofiar essa capacidade de trabalho, como se a mediunidade fosse adquirida ao acaso, sem a interferência de espíritos superiores, interessados no melhor aproveitamento das encarnações e na disseminação do conhecimento. Resultados mais lastimáveis ainda podem advir da ausência de esclarecimento, como a sua utilização destituída de preparo, de conhecimentos e até mesmo divorciada da causa do Cristo.

Seis centros já realizaram 4.500 reuniões
de materialização, com mais de sete mil horas

Usamos e abusamos do referencial sobre o assunto, oriundo da iniciativa de sábios e cientistas do século passado, a maioria descompromissada com o espiritismo. Por outro lado, o Brasil possui no histórico desse século, vasto material de estudo e de referência, sejam estas experiências boas ou más. Haja vista as mediunidades marcantes de Eurípedes Barsanulfo, Ana Prado, Carmine Mirabelli, Francisco Peixoto Lins, João Rodrigues Cosme, José Pedro de Freitas, José Correa Neves, Otília Diogo e muitos outros ilustres desconhecidos que se dedicaram com amor, as vezes por decênios, sem que essa experiência seja aproveitada para estudo ou, pelo menos, respeitada pelos confrades.

Podemos citar seis Centros que já realizaram cerca de 4500 reuniões de materialização, totalizando mais de sete mil horas de contato físico e direto com os espíritos. Quem orienta essas casas? Quem estuda seus trabalhos? Que utilidade tem para a doutrina?

Referencial brasileiro em efeitos físicos

Nome da Instituição Início-Fim Anos Reuniões
1 Centro Espírita Padre Zabeu 1945-1985 40 1800
2 Assoc. Cristã Pe. Z. Kauffmann 1952-1986 34 1500
3 Templo do Cristianismo Espírita 1956-1986 30 700
4 Centro Espírita Irmão Geraldo 1960-1970 10 100
5 Casa dos Espíritos 1966-1989 23 200
6 Núcleo Espírita Irmão Kamura 1963-1989 26 200
Total 163 4500

André Luiz tem transmitido alguns conhecimentos, ainda parciais, que nos auxilia a melhor compreender os ensinamentos de Kardec sobre o ectoplasma. Parece tratar-se de substância situada entre os limites da matéria e do espírito, derivada do fluido vital que por sua vez, deriva-se do fluido cósmico, absorvido no ato de pensar e transformado pelo teor dos nossos pensamentos, passando a energizar e a enviar comandos para a manutenção de todas as unidades celulares do corpo.

Os fluidos positivos que o ser humano pode doar como forma de caridade, variam bastante em sua tipologia. Entretanto, tudo indica serem da mesma espécie ou família do ectoplasma. Graças a essa substância, exalada dos nossos poros nos momentos de prece e concentração em objetivos elevados, os espíritos especializados conseguem levar muitos benefícios aos necessitados: auxiliando os processos de vidência, criando quadros para orientação de entidades inferiores, atuando no tratamento de saúde do corpo humano, agindo diretamente no perispírito, materializando, transfigurando, levitando, transportando, tornando visível objetos e aparelhos espirituais, além de atuar na possível transmutação de elementos físicos. Apenas nesse exemplo, fica claro o quanto ainda temos estudar e pesquisar.

Um caminho para reviver a filosofia e a ciência espírita, poderia ser a criação de departamentos inseridos no contexto das organizações espiritistas, voltados para o estudo mais profundo da doutrina, para a pesquisa e a investigação dos fatos espíritas. Seria um começo.

A constituição desses departamentos estaria condicionada a algumas exigências básicas:

  • adotar um modelo padrão de estrutura e organização administrativa;
  • acolher como integrantes os colaboradores que tenham realizado cursos de espiritismo, com pelo menos 200 horas, ou que possuam notório conhecimento;
  • utilizar metodologia científica para desenvolvimento e registro dos estudos e pesquisas;
  • desenvolver os trabalhos, tomando por base as obras de Kardec.

Poderia ser criado um orgão centralizador e orientador na esfera federal, estadual ou regional. Suas atribuições básicas seriam:

  1. instigar o gosto pelo estudo em base científica;
  2. cadastrar e orientar os grupos;
  3. consolidar estudos e pesquisas semelhantes;
  4. favorecer e coordenar o intercâmbio de informações;
  5. divulgar os resultados obtidos quando validados por todos dos grupos.

Obedecendo a uma metodologia padrão, as casas espíritas que possuíssem os requisitos mínimos a serem estipulados, integrariam uma rede de comunicação com os órgãos centralizadores, enviando e recebendo periodicamente informações. Com isso teria-se constituído um ciclo, onde a informação é produto e matéria-prima desse sistema, propiciando um constante desenvolvimento e colaborando na homogeneização dos conhecimentos.

Mas isso ainda não basta. É preciso finalmente, o empenho conjunto das Federações, Uniões, Institutos, Associações e da Imprensa Espírita, na divulgação e incentivo das atividades de estudo e pesquisa na doutrina espírita.

A mediunidade de efeitos físicos é um bom exemplo do não aproveitamento de fenômenos ocorridos, pela quase absoluta ausência de estudos sérios, profundos e científicos. Vamos reativar o gosto pela filosofia e a prática da ciência espírita, para equilibrar o tripé que o espiritismo está alicerçado.


Até que ponto conhecemos a obra de Kardec?

As duas únicas biografias que se conhece, são curtas e foram feitas por dois admiradores do Espiritismo, não profissionais da matéria

Do ponto de vista histórico, os 125 anos que nos separam do término da existência física de Kardec é considerado um tempo pequeno e favorável a um levantamento biográfico bastante completo. Surge então a dúvida: será que possuímos todas as informações existentes ou suficientes para o pleno conhecimento de sua vida, suas obras e o seu modo de pensar? Até que ponto novos dados poderiam contribuir para melhorar nosso entendimento sobre a Doutrina Espírita?

As biografias que dispomos são de dois admiradores do Espiritismo: Henri Sausse e André Moreil, ambas dignas do nosso respeito, mas registraram apenas dados parciais que conseguiram levantar ou que consideraram mais relevantes e enfrentaram certas limitações e influências que um biógrafo profissional com as técnicas atuais de recuperação de informações, pode superar e realizar um grande trabalho com todas as minúcias que conseguir encontrar.

A questão pode ser colocada sob outro ângulo: será que não existem registros e fontes de informações sobre Kardec que ainda não foram consultadas e que um biógrafo experimentado pudesse, com mais competência e facilidade encontrá-las?

Quanto mais o tempo passa, mais difícil se torna recuperar dados históricos, pelo risco de destruição e perda dos documentos originais.

Que livros Kardec escreveu?

Será que conhecemos e dispomos, traduzidas em português, de todas as obras espíritas de Kardec? Considerando o texto da página 354, volume III, do livro: Allan Kardec editado pela FEB, parece que não. Vejamos o início do último parágrafo do capítulo XVIII:

“A FEB, aliás, não é obrigada a publicar todos os livros de Kardec. Por que o seria? Há realmente livros do Codificador, não editados pela Federação Espírita Brasileira, que poderá, quando julgar conveniente, adotar iniciativa nesse sentido, já que ela não está igualmente obrigada a não fazê-lo.” Grifo deste artigo.

O Museu do Livro Espírita, em processo final de funcionamento em São Paulo, possui uma edição argentina de um opúsculo de Kardec impresso em março de 1869 (última obra de Kardec), com o título:Catalogue Raisonné des Ouvrages Pouvant Servir à Fonder une Bibliothèque Spirite. Parece tratar-se de um livrete de 30 páginas, editado como suplemento independente da Revue Spirite, para ser vendido aos assinantes da revista e clientes da Librairie Spirite. É dividido em três partes além de um apêndice. Apresenta as obras fundamentais da Doutrina Espírita, obras complementares ou diversas sobre o Espiritismo, livros de outros ramos do conhecimento humano e livros com argumentação contrária ao Espiritismo.

Existirão outras obras desconhecidas do codificador, sejam elas pequenas brochuras, anexos ou documentos isolados? Parentes de Canuto Abreu detém documentos e obras importantes. Alguém sabe exatamente o que eles possuem? ou o que a FEB mantém em seus arquivos? ou ainda, o que existe nas diversas associações ligadas ao espiritismo na França e na Europa? Por que esse material se mantém inacessível? Vamos tornar público todo material existente. Precisamos divulgar e reproduzir as informações por todos os meios. Vamos copiar, imprimir, microfilmar ou digitalizar.

Muita coisa precisa ser feita para recuperar, de forma mais abrangente e precisa, a história do espiritismo. Aqueles que estão na posição momentânea de mudarem esta situação, necessitam da nossa melhor vibração, não descartando porém, toda ação efetiva que puder ser feita nessa direção.


A codificação precisa de nova tradução

Para uma obra tão relevante como a de Kardec, é válido todo o esforço na direção do seu melhor conhecimento

O grande valor das obras da codificação está na sua capacidade de oferecer novos conhecimentos aos leitores.

São livros destinados ao estudo que despertam também um forte interesse na identificação precisa dos fatos, textos e dizeres ligados à vida de Kardec, pelo seu valor histórico e pela contribuição que eles proporcionam ao entendimento do espiritismo.

Obras tão importantes como essas, capazes de transformarem a humanidade, deveriam ser traduzidas de forma mais fiel possível ao texto original.

É importante para o estudioso do espiritismo saber exatamente como Kardec fez um comentário e como foram construídas as respostas dos espíritos. Em O Livros dos Espíritos podemos constatar em um pequeno trecho da resposta à pergunta 332, como os tradutores procuraram se diferenciar entre si, utilizando sinônimos e alterando a ordem das palavras na oração:

  • Pode apressá-lo, atraindo-o por um desejo ardente. (Guillon Ribeiro);
  • Pode abreviá-lo, solicitando-o por suas preces. (J. Herculano Pires);
  • Pode abreviá-lo, chamando-o por seus votos. (Júlio Abreu Filho).

Mesmo que as palavras substituídas do original tenham a mesma significação, permanece a dúvida: por que mudar? Os vocábulos que mudaram de significação ou as expressões da época, devem ser explicados em nota separada. Qualquer mudança, por melhor que seja a intenção, contribui para aumentar o risco de ser alterado o sentido e a ênfase original do texto.

A questão não é de se analisar qual a melhor tradução – todas deixam a desejar como expressão fiel, não só das idéias do autor, mas do texto original também.

Todos os trabalhos de tradução da codificação deixaram a marca das preferências do tradutor. Livros tão importantes deveriam ser traduzidos não por uma pessoa, mas por um grupo de indivíduos especializados, como resultado de um esforço conjunto das instituições espíritas e os direitos autorais de publicação deveria ser livre, não constituindo privilégio de ninguém.

Inegavelmente a proposta é lógica e correta. Produziria efeitos positivos e não traria nenhum problema. Todavia, poderá não ser concretizada, em detrimento de todos, em razão dos interesses comerciais ou de possíveis melindres, que não se justificam, com relação aos ilustres tradutores, todos dignos do maior respeito pelo esforço, dedicação e benefícios que suas obras tem proporcionado, mas, considerando que somos adeptos da lei de evolução, já é chegada a hora de obtermos uma nova tradução nos termos aqui expostos.


Desejando falar com o Chico

Meu insucesso em conseguir falar com o Chico, aumentou o respeito que tinha por ele e sua obra

Estive em Uberaba em agosto de 1988, para estabelecer contato com os companheiros de Doutrina, dentro do objetivo comum de auxiliar a divulgação do Espiritismo e principalmente, de facilitar o acesso ao seu infinito manancial de conhecimentos. Guardava, contudo, a esperança de falar com grande médium uberabense e, quem sabe, receber alguma orientação de trabalho na doutrina. Ficava desconsertado, porém, com o pensamento de desejar ocupar o lugar de pessoas mais necessitadas de sua palavra.

A expectativa que tinha antes da viagem, de encontrar um movimento espírita dinâmico e atuante, foi superada de longe pelos dedicados militantes da seara que lá encontramos.

Proporcionalmente ao número de habitantes, arrisco um palpite que a quantidade de instituições espíritas e de adeptos é maior que a maioria dos municípios. Afinal, lá é a terra do Chico ¾ nosso respeitadíssimo médium e maior expoente vivo do espiritismo mundial.

Muito me sensibilizou, além da agradável hospitalidade mineira, o carinho, o entusiasmo e a seriedade com que os espiritistas dessa bela cidade tratam a Doutrina de Kardec.

Procurei um meio de me aproximar do Chico e tentar ouvir algumas palavras de incentivo que certamente me colocaria de volta às lides espiritistas com o coração renovado de energia. Mas o querido médium estava fisicamente mal, para os seus 78 anos. Quase não andava, falava muito baixo com dificuldade e esforço. Foi com uma mistura de pesar e alegria que constatei sua situação. Pesar pelo sofrimento físico que ele está passando. Alegria pela oportunidade de ver seu exemplo de dedicação e responsabilidade.

Os confrades atenciosos avisaram do estado do médium e, embora desejassem que eu tivesse um contato mais estreito, não tiveram sucesso no empreendimento. Ao que parece, o seu filho adotivo, Eurípedes, pouca abertura dá a esses encontros. Embora o meu egoísmo reclamasse desse insucesso, a razão julgava bastante compreensível a atitude do Eurípedes e o coração não pode deixar de considerar muito louvável o seu zelo pela saúde do pai.

Fomos ao Grupo Espírita da Prece. Conseguimos sentar na frente do médium, distante apenas dois ou três metros e já nos sentimos vitoriosos. Ouvimos bonita e bem proferida preleção feita pela Professora Márcia Baccelli. Após a psicografia houve a leitura e o envolvimento de todos na emoção com que os parentes recebiam as mensagens daqueles que desencarnaram.

A comunicação mais comovente foi de uma garotinha chamada pelo carinhoso apelido de Fefé, dirigida a seus pais. Desencarnada há poucos dias, ainda não compreendia que havia feito a grande travessia. Disse que iria freqüentar uma nova escola e pedia para seu pai levar o caderno de notas que deixara no armário. Todos choraram com seus pais. Um pranto de respeito, misto de tristeza e alegria, incompreensão e esperança.

Durante a psicografia, fiz no silêncio da minha ainda rudimentar matéria mental, uma homenagem e agradecimento ao Chico e seus amigos espirituais, pelos livros que tanto nos ajudam em nossa transformação interior e pelo exemplo de conduta que fixamos na mente superconsciente, como meta a ser atingida.Saí de lá leve e feliz, sem contudo conseguir ao menos cumprimentar o médium ou receber dele um autógrafo. Fiquei surpreso pela pequena preocupação com que encarei o desconforto de ter ficado cinco horas e meia sentado em um banco de madeira, quase sem se mexer devido ao grande número de pessoas, a maioria tendo ficado em pé.

Retornei a São Paulo conformado e satisfeito com a oportunidade de poder falar com o Chico quando eu quisesse, mas através de seus livros.

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