Movimento e Doutrina – Contos
Ivan René Franzolin
Conto
A espera da mediunidade
O trabalho mediúnico realizado segundo os ensinamentos de Jesus, assume infinitas formas, uma delas sempre estará ao alcance daqueles que realmente desejam melhorar o seu interior, trabalhando em favor do próximo
Dona Jucinda era uma jovem senhora, recém desperta para as lides espiritistas. Abraçou a Doutrina com visível satisfação e dedicação, embora a tenha conhecido num momento triste de sua vida. Levada pelo desespero, procurara todas as alternativas de solução, para regularizar a saúde mental do seu primeiro filho, acometido de sérios distúrbios quando iniciava sua alfabetização. Muitas vezes ela própria se perguntava ¾ por que fiquei mais da metade da minha vida, tão distante e indiferente ao Espiritismo? Por que só agora pude perceber a excelência e a coerência de seus postulados? Tudo tem o seu tempo, ou alguns se atrasam na escola da vida, pela ação do comodismo e de preconceitos inscientes?
Sabia que punha objetivos elevados demais para as suas possibilidades de disciplina, renúncia e doação
Agora, com o filho novamente saudável, conseqüência do trabalho de Assistência Espiritual no Centro Espírita próximo de sua residência, era trabalhadora assídua dessa casa. Empregara sua cooperação nos últimos quatro anos, na limpeza geral; no controle das fichas para os passes; na venda de artigos do bazar beneficente; no atendimento da livraria; na leitura e comentário de obras de reavivamento moral e, há cerca de três meses, é responsável pela entrevista de triagem dos freqüentadores, com a função de identificar suas necessidades, encaminhando-os para tratamento e/ou orientação adequada nos diversos setores de atividades do Centro.
Há dois anos é aluna interessada do curso de educação mediúnica, aguardando ansiosa o desabrochar de sua mediunidade, com o desejo sincero de ser útil e ajudar seus semelhantes. No íntimo porém, a imaginação alçava vôos altos. Via-se portadora de uma mediunidade de cura espetacular, para a qual não haveria enfermidade vitoriosa. Outras vezes concebia para si, uma vidência incrível, com a qual poderia conduzir exemplarmente as sessões de desobsessão. Vez por outra, tentava imaginar como seria bom possuir a mediunidade de psicografia, escreveria livros de afamados autores desencarnados ou cartas consoladoras à familiares que perderam um ente para a pátria espiritual ¾ , mostrar-lhes-ia a realidade da vida imortal. Assim se movimentava sua imaginação, agitada pela vontade interior. No fundo, sabia que punha objetivos elevados demais para as suas possibilidades de disciplina, renúncia e doação, mas sentia-se bem quando pensava no grande auxílio que poderia prestar e, por outro lado, não percebia os dissabores que esses pensamentos poderiam lhe trazer, muito embora algo a inquietasse.
Cada um tem o fardo que consegue carregar e recebe o trabalho meritório que realmente esteja em condições de realizar
O tempo passava e a mediunidade não aparecia. Seus colegas do curso de educação mediúnica já proferiam as primeiras mensagens psicofônicas, alguns ensaiavam na psicografia e outros poucos detectavam sinais de vidência e audiência do plano espiritual.
Com a ansiedade aumentando, a tensão crescendo e a vigilância caindo, a situação passou a ser insuportável. Jucinda antes simpática companheira de rosto alegre, olhos vivos e voz melodiosa, sempre disposta a colaborar nas atividades do Centro, agora apresentava o semblante fechado, o olhar sem brilho e a voz em desarmonia. Se afastara do trabalho de entrevistas, reconhecendo que não estava mais em condições de bem realizá-lo.
Esquecia nossa companheira que a execução de qualquer trabalho visando o bem comum, é planejado com esmero pelo Plano Maior e estará sempre em consonância com as conquistas dos espíritos envolvidos, obtidas ao longo de suas vivências. Vale dizer que cada um tem o fardo que consegue carregar e recebe o trabalho meritório que realmente esteja em condições de realizar.
Diz um ditado oriental que “a felicidade está onde nós a colocamos”. Se é salutar que fixemos metas nobres, convém que sua distância seja acessível em tempo razoável, considerando nossa capacidade para o trabalho e a nossa disposição de perseverar, sem extinguir o reservatório de paciência ou comprometer nossa posição de humildes andarilhos do caminho que leva a perfeição.
Dona Jucinda deixou-se invadir pelo sentimento de frustração, passando a queixar-se com freqüência, ausentando-se do trabalho dignificante, dos momentos de reflexão e oração. Pequenos problemas tornavam-se grandes, pequenos inconvenientes eram motivos de grande irritação.
Vibrando neste diapasão, passou a colher os frutos de seu desequilíbrio, a refletir-se principalmente no lar. Amargurada com o curso dos acontecimentos, procurou o conforto do leito acolhedor. Sob o influxo de fluidos estabilizantes doados por amigos invisíveis, voltou sua atenção para o Pai, pedindo a intercessão do seu guia espiritual, senão para trazer a solução, pelo menos para prestar uma orientação…
Dormiu e sonhou. Sonhou que era arrebatada do corpo físico por bondoso ancião, levada a um lugar aprazível e acomodada em frente a uma espécie de tela de cinema. De súbito, a tela iluminou-se apresentando a imagem de singela sala onde uma senhora vista de costas, rodeada de espíritos, atendia uma fila de criaturas necessitadas. Para cada um tinha uma palavra de esperança, esclarecendo, fortalecendo a fé, serenando ânimos exaltados, suavizando o desespero, revigorando a vontade de progredir e a coragem de enfrentar os percalços da vida. Enquanto esta senhora falava, via-se um espírito iluminado impondo a destra em sua fronte, outras entidades estavam encarregadas de limpar os agregados de energia negativa incrustados no corpo dos consulentes, outras ainda, incumbiam-se de transmitir fluidos reconstituintes e reequilibrantes. As pessoas saíam da pequena sala visivelmente mais felizes, mais confiantes e com uma nova e tênue luz a reluzir no perispírito.
Acordou pela manhã, com perfeita lembrança do seu sonho. Sentiu-se entretanto, ainda mais triste e desconsolada. Havia se dedicado tanto para conseguir uma mediunidade como a que vira no sonho, sentia que todo seu esforço tinha sido em vão, ao passo que outras companheiras, com menor dedicação e tempo despendido, já tinham sido premiadas com esse precioso recurso…
Desalentada, passou o dia sem perceber, envolvida que estava por esses pensamentos. À noite resolveu fazer uma última tentativa de obter uma orientação para o seu caso. Voltaria ao Centro e recorreria ao mentor amigo. Quem sabe ele teria pena de suas amarguras?
A reunião transcorreu normalmente e ao final da mensagem espiritual que abordou o tema do grão de mostarda, o mentor, como de costume, cumprimentou e trocou algumas palavras com os colaboradores da casa.
Jucinda que esperava aflita uma palavra de encorajamento, via a sessão chegar ao fim, sem que o mentor lhe dirigisse a atenção. Sentia-se então muito infeliz e desamparada, pensando no que poderia ter feito para merecer essa indiferença? quando então o espírito lhe perguntou:
¾ Jucinda, nós estamos muito felizes de vê-la de volta. Como vai você?
A resposta saiu de chofre, num amargo desabafo:
¾ Ah! mentor amigo, sinto-me a mais infeliz das criaturas. Aquela que muito se dedicou a propósitos tão sublimes como a caridade e mesmo assim foi recusada no trabalho de intermediária do plano espiritual. Vim recorrer a sua bondade para encontrar ao menos uma explicação.
Vi uma pessoa privilegiada com o dom mediúnico, a exercitá-lo sob o amparo de amorosos guias espirituais
¾ Saiba querida irmã, que você tem sido assistida por espíritos familiares que muito a querem e que procuram, na medida do possível, orientá-la nesta questão. Ontem mesmo, eles atenderam a sua rogativa e procuraram clarear suas idéias durante o sono. Você lembra do seu sonho?
¾ Recordo apenas que vi uma pessoa privilegiada com o dom mediúnico, a exercitá-lo sob o amparo de amorosos guias espirituais. Exatamente o que almejo e pela qual tanto me esforcei. Que atos mais sórdidos devo ter cometido em outras encarnações? Que espírito aviltante devo ser, para não merecer o exercício do trabalho edificante, com a assistência dos obreiros de Jesus?
Como Dona Jucinda não conseguia controlar o pranto, a entidade comunicante aguardou uns instantes e falou carinhosamente:
¾ Minha querida irmã, já havíamos dito anteriormente para confiar no Pai e aguardar. Neste ínterim, seu reservatório de paciência secou, fendendo o vaso que a conservava e que representava, nesta comparação, a sua confiança em Deus. Isto ocorreu como resultado da excitação mental a que se propôs, dando asas excessivas a imaginação. O calor gerado pelo atrito do pensamento fixo, fez evaporar seus recursos de tolerância e humildade ante os desígnios do Criador.
Orar e Vigiar é recurso de amparo e proteção
Para a nossa própria felicidade e paz interior, não deve existir qualquer dúvida em nossa confiança no Pai. Nosso esforço deve ser dirigido nesta meta e conquistando-a, devemos disciplinar nossa mente para mantê-la, cônscios de sua extrema importância e da fragilidade do nosso estágio espiritual.
“Orar e Vigiar” é recurso de amparo e proteção destinado não somente aos seres mais distanciados do entendimento e da prática do código moral de Cristo. Quanto maior a nossa compreensão e atuação sobre as leis de amor que regem o Universo, mais nuanças descobrimos em nossa necessidade de aperfeiçoamento e constataremos sempre a imorredoura verdade encerrada neste ensinamento. A possibilidade de utilizar este recurso com maior plenitude, é proporcional a capacidade que cada um conquistou de entender e vivenciar o evangelho.
Confiar no pai, minha irmã, é reconhecer que ele sabe, mais do que nós, o que é melhor para seus filhos.
¾ Mas, acaso ainda terei oportunidade de desenvolver minha mediunidade? – indagou a melancólica senhora.
¾ Como não? só depende de você.
Respondeu o mentor, silenciando por alguns segundos, como se desejasse aguçar a atenção da irmã. Depois continuou:
¾ O objetivo do seu sonho foi mostrar a importância do trabalho executado de boa vontade, com apenas o desejo de ajudar ocupando a mente, sem o entrave do orgulho, da cobiça ou da vaidade, merecendo com isso, o concurso dos espíritos amigos da causa do Cristo, interessados na difusão do bem. Minha irmãzinha assistiu as cenas do seu próprio e nobre trabalho mediúnico que desempenhava nesta casa, antes que sua imaginação abrisse brechas enormes no escudo das orações que a protegiam da sintonia mental inferior.
O aprendizado é feito de quedas
As palavras, embora carinhosas, a atingiram como se um raio estremecesse o seu íntimo. O pranto jorrou forte, doloroso, mas agora lavava a alma envergonhada, refazendo sua energia interior e propiciando condições, para breve reinício das tarefas como aprendiz da caridade que todos nós somos.
¾ Entende agora o que se passou? – inquiriu o mentor.
¾ Sim. Foi só o que Jucinda conseguiu responder.
¾ Não se amargure mais, pois o aprendizado é feito de quedas e Jesus, nosso Divino Mestre lhe estende a mão para reerguê-la e reconduzi-la na trajetória espiritual que nos prepara para – conseguirmos, cada vez mais, sentir e suportar o amor do Pai.
¾ Vá e descanse, retorne porém a esta casa para receber o nosso carinho e prestar novamente, sua preciosa colaboração.
Na semana seguinte lá estava Jucinda, alegre, feliz, com os olhos brilhando e a voz agradável. Insistia em ajudar na limpeza do Centro.
Conto
Aprendendo a confiar
Os fatos da vida podem levar uma pessoa a descrer da vida e até de Deus, se ela não cultivar uma “fé raciocinada”
Era um dia como outro qualquer. O despertador lembrava a responsabilidade do trabalho. Josias acordou diferente, um pouco mais introspectivo, mais sensível talvez. Depois dos hábitos de higiene, tomou o desjejum com os familiares, durante o qual mostrou pouca expansividade. Em seguida, dirigiu-se ao banco onde trabalhava como auxiliar de escritório. Iniciou, nessa mesma organização, como contínuo, há três anos, tendo sido promovido ao completar dezoito anos.
Naquela manhã de céu limpo, ele estava particularmente perceptivo. Cenas comuns da cidade de São Paulo, que os seus sentidos já haviam se habituado a identificar, sem a preocupação do questionamento, agora pareciam emolduradas pela atenção dos seus pensamentos.
Ali um transeunte bêbado; mais à frente um corpo caído no chão ¾ estaria vivo ou morto? Havia uma fila de apostadores numa mesa improvisada de caixotes, onde um homem desafiava a sorte dos outros movimentando, com extrema rapidez, três tampinhas que escondiam uma bolinha. Mais uns passos e ali estavam diversas crianças sujas e maltrapilhas a pedir esmola; sentada na calçada, uma pobre senhora segurava a cabeça com as mãos, os olhos fixos, divisando algo longínquo em sua imaginação; ao seu lado, uma menina descalça, com as vestes rasgadas, ensaiava as primeiras letras num velho caderno de caligrafia, a despeito das provações que passava, do barulho infernal do trânsito e da poluição dos escapamentos. Na esquina, atrapalhando o fluxo de pedestres que se comprimiam contrafeitos por detrás do poste, um homem sentado pedia esmolas, exibindo nas pernas grandes feridas úmidas. No viaduto, lá estavam os aleijados de toda espécie e as ciganas de colorido desbotado, oferecendo seus préstimos remunerados para a leitura da “buena dicha”.
Moças em trajes sumaríssimos, circulavam em contraste com mendigos e homens impecavelmente trajados de terno e gravata. A calçada da direita estava momentaneamente livre, em razão do forte e fétido odor que exalava de um esgoto quebrado, onde alguns funcionários da prefeitura manipulavam detritos imundos sem ao menos usarem luvas. Na porta de um hotel barato, duas meretrizes tentavam conseguir clientes, enquanto passava indiferente um grupo de homossexuais.
Nas bancas de revistas, a grande maioria dos periódicos apresenta apenas alta violência e sexo degradante.
Semana passada, lembrava Josias, uma senhora gritava por socorro nesta praça, enquanto um homem corria entre o tráfego com uma bolsa na mão. Senhores idosos, à semelhança de anúncios ambulantes, passam o dia em pé, nas calçadas, segurando placas que instigam o povo ao perigoso comércio de ouro e prata.
Esses quadros se tornaram, esta manhã, demasiadamente constrangedores para sua mente em processo de amadurecimento, acostumada com o clima de amor e fraternidade com que se desenvolviam, aos sábados, as reuniões espíritas em sua casa. Desde pequenino habituou-se a participar dessas reuniões voltadas ao estudo do evangelho, onde aos poucos sua mãe desenvolvera a mediunidade de psicofonia, transmitindo mensagens de espíritos amigos, incitando todos à reforma íntima, à compreensão, ao estudo, à caridade e à vivência do evangelho. Não podia conceber que, na terceira ou quarta cidade maior do mundo, em plena virada de milênio, estas coisas pudessem estar acontecendo diante da indiferença do mundo.
Sua mente agitara-se: era a constatação de que os homens nada aprenderam desde a vinda de Jesus; da vitória dos instintos primitivos contra a razão; do caos; da desordem tomando as rédeas do planeta. É mesmo o fim do mundo, tão apregoado por diversas religiões e profetas.
Passou o dia chocado e triste, convivendo com esses pensamentos e ainda ouviu mais notícias desalentadoras sobre a incidência dos tóxicos nas escolas e o alastramento da corrupção nas organizações.
No dia seguinte, abatido e desanimado, tomou seu lugar na reunião que se realizava semanalmente em sua residência. A prece inicial, feita por seu pai, calou fundo no seu coração:
– Senhor Deus do Universo infinito! Vós que sois todo poder e bondade! fazemos nossa humilde reunião em vosso nome, reconhecidos da nossa posição de ínfimos grãos de areia da vossa grandiosa criação, cuja origem nos escapa à razão e cuja eternidade nos tonteia.
Somos pequeninas mônadas recentemente premiadas com o pensamento contínuo e o livre-arbítrio
A grande maioria dos seres criados por vós deve estar em estágio superior ao nosso, auxiliando-O no processo de co-criação em Plano Maior. Mas sabemos do vosso amor infinito de Pai magnânimo que nos enviou um dos espíritos que conquistaram grande evolução, para nos trazer a dádiva da Boa Nova – a porta estreita, o caminho difícil para as nossas imperfeições morais, mas que nos levará a uma trajetória ascendente – rumo a perfeição. Agradecemos ao Mestre Divino por ter-nos acolhido como tutelados; recebemos, como escola ¾ a vida e por livro de estudo, o evangelho. Perdoai a emoção que nos assalta o coração. Ainda somos tão ignorantes e, contudo, sentimos vosso amparo, mesmo quando insistimos em desrespeitar as leis que Ele instituiu.
Já próximo do final daquela reunião, Estela, mãe de Josias, deu passividade à amorosa palavra de Eriel – o espírito orientador do grupo.
O espírito familiar, após ter mantido breves diálogos com cada um dos presentes, iniciou sua preleção costumeira, apresentando como tema: A Confiança em Deus.
“Aqui foi dito, com muita propriedade, que Deus é todo poder e bondade. Contudo, pude captar algo de constrição, de tristeza na concepção que fazem desses atributos divinos. Essa bondade infinita, meus irmãos, é parceira irremovível da alegria. O Pai é a maior expressão de felicidade e alegria, por que Ele é a essência do amor que todos nós estamos aprendendo a sentir e a praticar.
Confiar no Pai é ver em tudo, em qualquer ato ou situação, o progresso, a alegria de evoluir no aprendizado do amor.
Crer em Deus é confiar na sua incalculável sabedoria, saber que não se engana, que não esquece nenhum detalhe de sua criação, que conhece intimamente a cada um e, por isso, nunca se decepciona com os atos de seus filhos, pois Ele conhece as nossas conquistas, as nossas tendências e o nosso potencial. Nós, entretanto, é que nos decepcionamos com nós mesmos – porque ainda não nos conhecemos. Ele acompanha o nosso esforço, na difícil escalada da montanha chamada evolução, pois os nossos pensamentos têm vida e se exteriorizam no Seu próprio hausto – que é o fluido cósmico.
Se soubermos enxergar, veremos que a dor, o sofrimento, são bênçãos que a misericórdia divina nos concede, quando necessário, para nos encaminhar à conquista da felicidade plena. São breves instantes inseridos na infância da nossa imortalidade, que os nossos ainda parcos sentidos só conseguem perceber como pesar…
Precisamos, então, cultivar com empenho e satisfação a consciência da suprema excelência do governo do Pai. Ter a certeza de que suas leis – expressão máxima de sua vontade, regem amorosa e absolutamente o Universo e que a desordem, o desequilíbrio e a maldade são situações temporárias, criadas quando infringimos as suas leis e aproveitadas com maestria pelo Criador, para dar origem à Justiça Divina, instrumento maior para o nosso aperfeiçoamento e intensificação da nossa luz interior.
Observando a luta constante das criaturas com a sua própria ignorância, a expressar-se em comportamentos grosseiros e deprimentes, podemos ter a incorreta impressão de retrocesso espiritual e descontrole Daquele que nos comanda. Estejam certos, porém, de que a evolução é compulsória, a centelha divina que nos deu vida impulsiona à frente, impedindo que a inércia domine. Por isso, mesmo que algumas criaturas pareçam estacionadas, estarão sempre adquirindo algum progresso a revelar-se no tempo adequado. Em casos extremos, recebem ao menos a preciosidade da memória profunda a registrar-lhes as ações e suas conseqüências, permitindo que a mente, ao processar esses dados, imponha uma alteração para melhor nos seus hábitos automatizados. Cada gotícula de experiência tem sua importância no objetivo de preencher os espaços vazios de nossas futuras asas de sabedoria e amor.
Quando Jesus nos ensinou a não julgar, pensamos que se referia também à extrema complexidade com que se reveste cada espírito, em relação ao individualíssimo acervo de conquistas de cada um, bem como aos particularíssimos compromissos estabelecidos com as Leis Maiores. Cada ser é um mundo único, diferente de qualquer outro e, para considerar um julgamento correto, seria necessário conhecer, em profundidade, milhares de fatos da história de quem se julga, além de se averiguar a extensão de todas as ramificações do seu comportamento, isto é, até que ponto ele foi influenciado ou influenciou outros na consecução de atos positivos e negativos. Por esta pálida idéia, acreditamos que tal atuação seja competência apenas de espíritos grandiosos, que possuam, além da autorização do Pai, capacidade para exercer tais julgamentos. A força que move essa ação é o amor e o objetivo primordial e exclusivo é auxiliar os irmãos menores. Com estas condições, só conhecemos Jesus.
Pelo exposto irmãos, tenham sempre a certeza indubitável de que o Pai dirige toda sua criação, com absoluto controle. Cultivem, pois, a fé e o equilíbrio, e por pior que sejam os quadros com que venham a se defrontar, lembrem-se de que Deus acompanha todos os acontecimentos e que, quanto maiores forem os nossos recursos de conhecimento, melhores explicações encontraremos para entender e perdoar. Portanto, não julguem – procurem ajudar; não desanimem – tenham confiança; não se entristeçam – vibrem pela melhoria; não lamentem – procurem reparar. Deus os abençoe”.
O grupo, emocionado, sentia uma paz agradável dominando o ambiente. Josias, agradecido, percebia que as palavras de Eriel lhe foram particularmente dirigidas. Fez a prece final ansioso por encarar o mundo sob outro prisma.
Fim