Tamanho
do Texto

Movimento e Doutrina – Doutrina Espírita

F. C. Xavier & W. Vieira/Esp. diversos, FEB

 


Movimento e Doutrina – Doutrina Espírita

 

Enfermidade psíquica que o Espiritismo esclarece sua origem,
desenvolvimento e prevenção

 

O que é?

Trata-se da centralização da atenção em uma única idéia ou pensamento,
ocasionada por desequilíbrio psíquico, às vezes combinada com obsessão, própria
tanto de encarnados como de desencarnados. O termo Monoideísmo foi utilizado
pelo espírito de André Luiz, no livro Evolução em Dois Mundos (1958),
psicografia de Francisco Cândido Xavier. Presume-se que esse vocábulo seja de
criação do Barão Karl du Prel.

Tipos de Monoideísmo

Podemos depreender da literatura espírita, que existem diferentes tipos e
graus de Monoideísmo, assim como são diversas as causas que o originam.
Didaticamente, pode-se dividir em dois os tipos desta patologia
psico-espiritual, muito perigosa e que todos nós estamos sujeitos a fomentar no
próximo ou a despertá-la em nosso íntimo.

 

Monoideísmo espontâneo

 

Quando o espírito encarnado ou desencarnado, localiza seus pensamentos na
esfera dos sentimentos improducentes, como a dor, o remorso, o orgulho e o ódio,
de modo a situar toda sua atenção em uma idéia fixa. Tal procedimento, resultado
do livre arbítrio, reduz o padrão vibratório do indivíduo, favorecendo o
intercâmbio de idéias semelhantes e dificultando a ação benéfica de espíritos
que queiram auxiliar. Dependendo da duração, predisposição ou intensidade, pode
ocasionar o monoideísmo compulsório.

Monoideísmo Compulsório

Quando a entidade encarnada ou desencarnada, passa obrigatoriamente a
contemplar, dentre suas possibilidades sensoriais, as cenas, sons e percepções
relacionados com os atos indevidos que tenha procedido, contrariando às leis da
natureza, pelo tempo equivalente àquele gasto nos atos cometidos. Existem
diversos relatos de espíritos que permaneceram séculos isolados do mundo
exterior, escravizados a um tipo de pensamento ou idéia, só conseguindo se
libertar pela bênção da reencarnação, igualmente compulsória, com o auxílio da
expiação renovadora.

Conceito de tempo

Precisamos reconhecer a relatividade do conceito de tempo, muito dependente
das características físicas do planeta e do estágio evolutivo ainda primário da
capacidade de percepção do espírito. O que são séculos para um ente que é
imortal? Como comparar e medir esta escala chamada tempo?

Causas do monoideísmo

Certamente as causas são os pensamentos que criamos e exteriorizamos,
revestidos de vibrações próprias de sentimentos inferiores. Há espíritos que se
revoltam contra sofrimentos que enfrentaram, movidos pelo orgulho e pela falta
de fé, constituindo um conceito equivocado de injustiça.

Léon Denis em O Problema do Ser, do Destino e da Dor, Cap. XXIII, destaca:

 

“Mais cedo ou mais tarde, todo o produto do espírito reverte para seu autor
com suas conseqüências, acarretando-lhe, segundo o caso, o sofrimento, uma
diminuição, uma privação de liberdade…”

 

“O pensamento, dizíamos, é criador, não atua somente ao nosso redor,
influenciando nossos semelhantes para o bem ou para o mal, atua principalmente
em nós; gera nossas
palavras, nossas ações e, com ele construímos,
dia-a-dia, o edifício grandioso ou miserável de nossa vida presente e futura”.

André Luiz em Evolução em Dois Mundos, diz que o pensamento energiza o fluido
vital que somos portadores, levando o comando automático de todas as funções
celulares, através dos centros de força. Estes fulcros energéticos são órgãos do
perispírito que, como aqueles do corpo físico, sofrem desajustes e atrofias,
quando cometemos excessos e usamos indevidamente os órgãos. Assim, quando no
plano mental, passamos a vibrar o pensamento em faixas inferiores, favorecemos a
obliteração dos canais de comunicação, impedindo a recepção de pensamentos
construtivos, despertando no recôndito do ser, estados de natureza primária e
insciente, que nos levarão a cometer uma série de ações perniciosas.

Uma pequena queda então, acumulada a outras do mesmo teor, pode desencadear
uma determinada disfunção, derivando daí uma forma mais intensa de fixação
mental, de difícil reversão. Nas mentes invigilantes podem aflorar sentimentos a
serem depurados, enrustidos em nossa memória profunda, como o remorso ou a
vingança, com ou sem a ajuda de espíritos obsessores. São agentes facilitadores
dessa situação, a falta de oração, mente ociosa, a vontade debilitada e a
valorização do instinto em detrimento da razão.

Conseqüências do monoideísmo

Dor moral proporcional aos débitos contraídos. Grande probabilidade de gerar
doenças físicas e mentais. Há risco, inclusive, de perder a forma perispiritual,
tornando-se um ovóide estacionado por tempo indeterminado na ascensão evolutiva.

Em Libertação, Gúbio esclarece André Luiz sobre os ovóides:

 

“O vaso perispirítico é também transformável e perecível, embora estruturado
em tipo de matéria mais rarefeita.”

 

Mais adiante o mesmo instrutor aponta um caso específico:

 

“São entidades infortunadas, entregues aos propósitos de vingança e que
perderam grandes patrimônios de tempo, em virtude da revolta que lhes atormenta
o ser. Gastaram o perispírito, sob inenarráveis tormentas de desesperação e
imantam-se, naturalmente, à mulher que odeiam…”

 

Miramez assinala no seu livro Horizontes da Mente:

 

“Uma mente desajustada provoca conturbação de igual desajuste, e ainda coleta
forças da mesma sintonia para seu próprio convívio, altera a função orgânica e
desencarrilha o carro da vida por tempo indeterminado”.

 

Salientamos ainda o que diz Martins Peralva no Capítulo XXXVII do livro
Estudando a Mediunidade, para nos ajudar a entender as conseqüências da fixação
mental:

 

“Podemos definir o estado de fixação mental de uma criatura, encarnada ou
desencarnada, como aquele em que ela nada vê, nada ouve, nada sente além de si
mesma.

O espírito isola-se do mundo externo, passando a vibrar unicamente ao redor
do próprio desequilíbrio, cristalizando-se no tempo.”

 

Trata-se de uma auto-hipnose negativa que cerceia o intelecto do espírito,
induzindo-o a repetir os mesmos raciocínios.

Pode também ser considerada como uma auto-obsessão em que o indivíduo passa a
ser simultaneamente o obsidiado e o obsessor, pois segundo Martins Peralva, a
fixação mental é a influência do espírito sobre si mesmo, tornando-se muito
difícil de ser removida. A reencarnação surge, para estes casos mais críticos,
como o único caminho para a solução, gerando, entretanto, criaturas com
problemas físicos ou mentais.

Favorece ainda a aproximação de espíritos obsessores, devido aos pensamentos
negativos exteriorizados a comungarem com os afins, agravando ainda mais os
problemas criados.

Prevenção

Atender ao chamado do evangelho. Manter objetivos e ideais nobres, do ponto
de vista espiritual. Intensificar a reforma íntima. Estudar as leis da natureza.
Orar e vigiar. Disciplinar a vontade. Ter mente e mãos ocupadas no trabalho.
Usar ponderadamente a razão entre o impulso do instinto e as ações. Detectar e
concentrar esforços para eliminar os hábitos infelizes, por mais insignificantes
que pareçam.


Materialista ou espiritualista?

 

Uma análise do comportamento dos espiritualistas, parece
demonstrar grande incoerência com os princípios que eles dizem adotar

 

Podemos agrupar o pensamento filosófico em duas grandes correntes, conforme o
título desse artigo.

Todas as religiões são necessariamente espiritualistas. Isso por que crêem no
Criador de todo o universo e no princípio espiritual que nos habita.

Conhecendo algumas pesquisas e tomando por base a pequena amostra das pessoas
do nosso relacionamento, podemos deduzir que a grande maioria dos indivíduos são
espiritualistas.

Os materialistas por acreditarem apenas na existência da matéria, estão
certos que após a morte, nada encontrarão na outra dimensão. Cessando a carga
elétrica do cérebro humano, será o NADA – o grande vazio. A vida em todas as
espécies seria simples obra do acaso, como se a ousadia dessa explicação, fosse
mais lógica do que supor a existência de Deus – causa primária de todas as
coisas. Não há para eles, objetivos maiores para a criação, assim como não
existem leis que nos regem, senão as da matéria.

Ocorre então um fato curioso. Essa minoria que se diz materialista, adota um
comportamento perfeitamente compatível com a filosofia abraçada. Procuram em
síntese, viver intensamente a vida material, canalizando aos sentidos, o máximo
de prazer que conseguem obter. O raciocínio é claro pois o corpo é todo o
patrimônio que pensam possuir.

Por outro lado, os espiritualistas representando a grande maioria, revelam em
geral uma postura profundamente incoerente com os postulados que dizem seguir.
As suas atitudes descem muitas vezes, ao nível dos materialistas mais
ignorantes. Medo de ser diferente, de ser marginalizado? É difícil resistir aos
apelos instintivos que nos envolvem na neblina do comodismo, mas é preciso
insistir e concentrar esforços para manter metas edificantes na mente
superconsciente.

Naturalmente não se espera uma transformação imediata em seres angelicais.
Isso requer tempo e trabalho contínuo. Pequenas atitudes porém, podem ser
melhoradas com certa facilidade e dependem apenas do nosso desejo sincero.

É preciso ainda, ter cuidado para não adotar um comportamento excessivamente
passivo, o que poderá nos conduzir no terreno perigoso da indiferença. O
candidato a reforma íntima pode e deve assumir um comportamento ativo e
operante, servindo e sendo útil no caminho que adotou e no nível evolutivo que
se encontra. A questão é de decisão, vontade e coerência. Afinal, você é ou não
espiritualista ? Então assuma!

 


Um peso e duas medidas

 

Até que ponto o espírita deve aceitar ver seu comportamento
variar de acordo com o local ou ambiente?

 

Participava de uma reunião da empresa onde trabalho, quando de súbito, pedí a
palavra e prorrompí em fala ríspida e agressiva, contestando o assunto em pauta.
Ao final da reunião, um companheiro alertou, muito polidamente, que este tipo de
retórica poderá conduzir à um ambiente inadequado para os resultados esperados.

Pedí desculpas a todos, mas fiquei incomodado com o meu comportamento. Por
que teria eu agido dessa maneira se, nas inúmeras reuniões que participo no
movimento espírita, sempre sou mais paciente, compreensivo e humilde?

Ao que parece, adotei inconscientemente dois padrões de conduta. Um na casa
espírita e outro na sociedade. Na primeira, eu oro e peço ajuda espiritual,
procuro estar sempre predisposto a ouvir os outros, a buscar a melhor decisão em
consenso com todos. Na sociedade, eu esqueço de orar, de pedir auxílio
espiritual, desejo me sobressair como bom funcionário, bom pai etc., fico irado
facilmente e quero fazer prevalecer minha opinião.

Ora, se o padrão de conduta moral instituído por Jesus e revisto por Kardec é
o comportamento humano por excelência – o objetivo maior a ser alcançado em
nossas encarnações, por que voltarmos nosso esforço para aplicá-lo apenas nas
lides espíritas? Será mais fácil ou será que ainda separamos as coisas sagradas
das profanas, acreditando no íntimo, que um comportamento conflitante com esse
código moral, pode justificar-se em alguns casos?

Nosso esforço deve se estender a todos os momentos da vida, tendo em vista um
único modelo de conduta, enfrentando menor ou maior dificuldade de bem proceder,
conforme o caso e a situação. Só assim obteremos gradativo progresso,
transformando para melhor nosso modo de pensar e agir. Caso contrário, estaremos
sendo hipócritas, adotando o critério capcioso de “um peso e duas medidas”,
mesmo que inconscientemente.

Dessa forma, muita atenção com as lições do cotidiano. Elas não cansam de nos
ensinar, apontando erros e mostrando caminhos. Cabe a nós, candidatos a
discípulos de Cristo, procurarmos enxergar essas lições agora ou na
reminiscência natural de “post mortem”.


O Espiritismo é alienante?

 

O espírita entusiasmado com a doutrina que esclarece e
consola, vive sob a preocupação de duas ameaças: o fanatismo e a alienação

 

Convidamos os leitores a uma breve e interessante incursão nas fronteiras
demarcatórias dos estados de alienação, não patológicos ou gerais, para
tentarmos situar até onde a vivência dos postulados espiritistas pode alienar
uma pessoa.

Podemos definir alienação, como o estado mental que dificulta ou incapacita o
indivíduo a agir segundo os padrões sociais, em relação a algum assunto ou
situação. Assim temos pessoas mais ou menos alienadas da política, da economia,
dos esportes etc.

De uma forma geral, não é bom estar alienado. Viver em sociedade é necessitar
de amplo intercâmbio de idéias e experiências em todos os setores, não só para
se relacionar bem, como para evoluir.

O estado mental é resultante do conjunto de leis intelectuais e morais que
regem a conduta de cada ser, também chamado de valores.

Cada pessoa tem um conjunto próprio de valores, parecido em linhas gerais,
com os valores de outros cidadãos de uma mesma região, classe sócio-econômica
etc. Entretanto, muito diferente de qualquer outro, considerando o grau de
entendimento das questões intelecto-morais da vida.

Isso é natural se levarmos em conta as diferentes experiências de cada
espírito, desde seu nascimento, tanto no plano material como no espiritual.

Quando adotamos um comportamento errado, de vingança por exemplo, estamos
sendo coerentes com o nosso modo de pensar e sentir, conseqüência da influência
dos nossos valores.

Através do estudo e das experiências da vida, assimilamos conhecimentos e
sentimentos novos ou antigos parcialmente alterados. Esse é o processo de
aprimoramento que vai nos levar à perfeição relativa.

Transformando gradativamente os nossos valores, alcançaremos num passo
hipotético adiante, embora ainda sentindo o desejo de vingança, conseguir
exercer algum controle na exteriorização desse desejo.

Vamos analisar então, a tendência comportamental do cidadão espírita que
tenha aceitado integralmente a Doutrina, compreendendo sua grandeza,
motivando-se com seus ensinamentos, o suficiente para empreender de forma
objetiva e racional sua reforma-íntima.

 

A grande maioria das pessoas do seu relacionamento não
compreendem o seu esforço de melhorar e até reagem contra

 

Em seus momentos de lazer, não mais concebe ficar horas no ostracismo,
prefere empregar esse tempo em atividades que antes não eram entendidas como
lazer, como a leitura edificante, a caridade e o estudo.

Não mais encontra o entusiasmo de outrora como torcedor de times esportivos.
Continua a gostar do esporte em si, mas começa a enxergar com outros olhos o
excessivo espírito de competição e a violência que caracteriza os esportes
atualmente.

No trabalho, começa a sentir-se incomodado com as rodinhas de maledicência em
que se vê envolvido, na antiga necessidade de ser aceito em um grupo informal
dentro da empresa. Aqueles planos de galgar postos na hierarquia de qualquer
jeito e no menor tempo possível, não encontram agora o mesmo ímpeto de ontem.

A grande ambição de só ser feliz profissionalmente, comandando outros, em
cargos elevados revestidos de prestígio, parece estar esmorecendo
aceleradamente.

Aquelas noitadas em casas noturnas, o jogo a dinheiro, os filmes violentos e
eróticos, já não suscitam a mesma receptividade em seu íntimo.

Os hábitos de falar com rispidez, pronunciar muitos palavrões, olhar e pensar
maliciosamente para com o sexo oposto, agora parecem lhe dar algum
constrangimento.

Sente muita dificuldade de se conduzir, evitando os velhos hábitos e tentando
adquirir novos. A grande maioria das pessoas do seu relacionamento não
compreendem o seu esforço de melhorar e até reagem contra.

 

O espírita, principalmente o novo espírita, encontrará muita
reação à sua mudança

 

Para os outros e as vezes até para ele mesmo, parece estar querendo assumir
um comportamento de santo, moralista. Tem medo de estar assumindo essa postura
por um desejo oculto de querer ser superior. Mesmo não criticando, as pessoas ao
seu redor sentem-se incomodadas, acusadas por elas mesmas de alguma coisa, e por
isso acabam não gostando da sua proximidade.

As tentativas de compartilhar a Doutrina com os outros, parece piorar o
relacionamento. Já o chamam de fanático e alienado.

Começa a ser marginalizado e precisa optar em voltar ao padrão antigo
(impossível retroceder), ser falso para ser aceito, ou manter sua linha e
aceitar a reclusão.

Concluindo, quando decidimos pela fidelidade ao compromisso de crescimento
espiritual, passamos a adotar um comportamento de alienação, frente ao
contingente das pessoas de nossa relação, uma vez que elas não alteraram seu
modo de entender e sentir, e muitas vezes ainda nem cogitaram dessa pretensão.

Tendo o Espiritismo o peso da Terceira Revelação, é natural que tenha o poder
de mexer com os valores das pessoas, alterando-lhes gradativamente o
comportamento. Esse é seu principal objetivo – mudar as pessoas para melhor.
Construído sob o arcabouço filosófico do cristianismo primitivo, veio aclarar o
sentido dos ensinamentos evangélicos, embora envolva seus seguidores num certo
clima de tensão e luta, como nos fala o versículo 34 do capítulo 10 segundo
Mateus: “Não penseis que vim trazer a paz à Terra. Não vim trazer a paz e sim a
espada”.

O espírita, principalmente o novo espírita, encontrará muita reação à sua
mudança. Sofrerá lutas internas e externas, muitas vezes ficará receoso de estar
beirando o fanatismo. Terá de conviver com a alienação natural do velho ser,
para fazer surgir o novo ser, tendo para esse empreendimento, o consolo de
possuir as melhores armas: a sina de evoluir sempre, a ajuda infalível dos bons
espíritos e a luz emanada do Evangelho e da Codificação, iluminando seu caminho
e auxiliando suas decisões. Pegue sua espada! Vá à luta! Talvez não seja você o
alienado, mas todos os que se mantém alheios aos ensinamentos de Cristo.

 


Discutindo o vegetarianismo

 

Embora o Espiritismo não recomende diminuir a matança de
animais para nossa alimentação, o conteúdo de seu ensino, baseado no amor e na
bondade, deixa evidente que esse será um passo no caminho da nossa evolução

 

Sendo vegetariano há vários anos, tomo a iniciativa de escrever para A Voz do
Espírito, no intuito de contribuir para o aprofundamento da discussão do
assunto, apresentando mais elementos para subsidiar a análise dos leitores.

Assim como o Espiritismo não faz proselitismo, os vegetarianos não devem
cobrar nenhuma mudança de comportamento daqueles que se alimentam de carne; como
também, estes devem respeitar a posição dos primeiros.

O homem tem uma infinidade de passos a serem dados rumo ao progresso, alguns
mais singelos, outros complexos. Não comer carne deve ser um dos passos mais
simples na conquista da perfeição relativa, face às virtudes que almejamos.
Contudo, certamente é um passo que deverá ser dado em algum instante no tempo.

Sabemos que a passagem para a erraticidade não nos livra dos hábitos e
necessidades que criamos enquanto encarnados. Temos o relato de André Luiz no
livro Nosso Lar, mostrando que os espíritos habitantes dessa colonia, foram
compelidos a deixarem este hábito por imposição do seu governador, em benefício
deles próprios, embora essa decisão tenha acarretado um período de perturbação
interior até a sua adaptação.

Em O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta ao Espírito de Verdade se: “A
alimentação animal é, com relação ao homem, contrária à lei da Natureza?”

(pergunta 723, grifo meu). A primeira frase da resposta foi: “Dada a vossa
constituição física, a carne alimenta a carne, do contrário o homem perece.”

Como teria sido a resposta caso ele tivesse perguntado se o homem deveria se
preparar para um dia parar de comer carne? Podemos depreender da resposta, que a
alimentação carnívora é parte do processo evolutivo (natural) do homem, até um
instante da sua evolução o que, para alguns vegetarianos, já teria ocorrido para
aqueles mais evangelizados. Podemos considerar ainda, que os conhecimentos e o
estágio de desenvolvimento na época (136 anos atrás), não permitiriam incitar o
homem a uma mudança da sua alimentação, sem prejuízo de sua saúde.

A situação atual apresenta diferenças muito favoráveis à alimentação
vegetariana, aumentando consideravelmente as opções dessa dieta. Criamos
variedades vegetais capazes de produzirem mais, em outras estações, outros
climas e países; temos melhores processos de armazenamento e conservação;
possuímos sistemas de distribuição mais eficazes; conhecemos mais sobre os
mecanismos da digestão, das nossas necessidades alimentares e das propriedades
dos alimentos; descobrimos outras fontes de proteína, como a soja e o glúten; a
indústria de laticínios apresentou grande progresso e diversificação. Tudo isso,
permitindo que milhões de pessoas possam viver com saúde sem usar a carne como
alimento.

Confrontando o hábito de comer carne com a lei de evolução, constatamos que
muitos outros hábitos considerados normais nos primórdios da evolução hominal,
hoje são inaceitáveis. Citamos os sacrifícios de animais e homens, o
canibalismo, a poligamia e as formas violentas de lazer, como aquelas ocorridas
no circo romano. A atividade sexual também evoluiu, de modo que comportamentos
socialmente aceitáveis no passado, hoje são considerados crimes. Graças ao
Espiritismo, o homem já está aprendendo a manipular as energias criativas, fora
do relacionamento sexual, mediante a prática da caridade e das ações voltadas ao
bem comum.

Através da Doutrina Espírita aprendemos que o homem deve automatizar seu
comportamento com base nos ensinamentos de Jesus. Buscamos então, a nossa
transformação interior procurando viver cada vez mais em clima de amor, bondade
e caridade. Não parece racional limitarmos nossa esfera de ação para a prática
do bem apenas aos seres humanos. Tudo que pudermos fazer em benefício da criação
é nosso dever e isso, parece transcender a chamada consciência ecológica.

Alguns querem crer que Jesus endossa a matança dos animais para alimentação
humana, independente do estágio evolutivo do homem, quando disse sobre a
tradição de lavar às mãos antes de comer: “Não é o que entra pela boca que
torna o homem impuro, mas o que sai da boca.”
(Mt 15:11) O espírita, mais
que qualquer outro, sabe que não deve interpretar ao pé da letra, pois assim,
poderíamos concluir equivocadamente, que tomar álcool ou comer terra, conforme
procedimento atual de algumas tribos do Amazonas, não molestaria o corpo e até
mesmo o espírito, no caso do álcool.

Aqueles que se decidirem pela abstinência da carne, devem deixar de comê-la
consciente e gradativamente, obtendo orientação médica e exercendo um controle
maior da vontade no período inicial, para depois assumir naturalmente o novo
padrão de alimentação. Surgindo qualquer inquietação interior ou distúrbio
orgânico, deve interromper a fase de transição e programar outra tentativa no
futuro, se assim desejar, sem constrangimento nenhum, pois cada espírito tem
características, condições, necessidades e obrigações completamente diferentes
de qualquer outro.

O próprio Chico Xavier parece se alimentar de carne, embora tenha
psicografado dezenas de livros cujas mensagens nos instigam a sua eliminação. O
jornal O Espírita Mineiro publicou uma entrevista com o médium em junho de 1991,
no qual ele salienta os prejuízos desse hábito, convidando-nos a trabalhar pela
sua erradicação. Ele deixa claro em sua entrevista e nos seus livros, que a
alimentação carnívora gera compromissos cármicos a serem resgatados, além de
favorecer o assédio de espíritos inferiores que ocasionam problemas de obsessão
de difícil solução.

A bibliografia apresentada para consulta dos leitores, menciona apenas 17
obras cujos autores analisam a questão de modo favorável ao vegetarianismo. São
eles: Emmanuel, Humberto de Campos, André Luís, Maria João de Deus, Rev. G. Vale
Owen, Angel Aguarod, Camille Flammarion, Yvone A. Pereira, J. Herculano Pires e
Carlos Imbassahy. Além dessas indicações, temos registrado cerca de trinta
livros de: Edgard Armond, Miramez, Luiz Sérgio, Ranieri, Ramatis e outros
autores.

Seguindo esta linha de raciocínio, parece lógico concluir que o homem
esclarecido e evangelizado, deve procurar reduzir a carne na alimentação,
caminhando para sua extinção, de forma serena e consciente, nessa ou em outra
encarnação, certo de estar se esforçando para esse objetivo moral, entre tantos
outros a serem atingidos, muitos de importância maior, mas que não excluem a
conquista dos objetivos menores.

É curioso notar que pela disposição de contribuir para aliviar o sofrimento
dos irmãos inferiores, pequena quantidade de indivíduos se aventura em qualquer
grau do vegetarianismo. Muitos são os que aderem pelo estímulo da moda, como as
correntes ecológica e naturalista. A hipertensão, o colesterol e diversas
enfermidades, têm, levado muitas pessoas a um regime das chamadas carnes
vermelhas e embutidos. Mais pessoas ainda, migram para o vegetarianismo pelo
interesse em manter um corpo atraente. Nos Estados Unidos, Canadá e Europa, são
diversas as associações, os produtos e as revistas destinadas aos vegetarianos.
Será que a reforma-íntima está desvinculada de nossos hábitos, mesmo os
alimentares? Será que o conhecimento espírita não nos dá argumentos mais
consistentes para imprimirmos uma mudança em nossa dieta?

Independente da análise quanto ao tipo de alimento que ingerimos, se faz
necessário a eliminação dos excessos e de qualquer postura que nos coloque
próximo da posição de quem vive para comer, ao invés de comer para viver. Bom
apetite! Tanto no alimento físico como no espiritual que a Doutrina nos oferece.

Bibliografia

 

O Consolador

 

Xavier, F. Cândido/Emmanuel

FEB – páginas: 78, 79, 129 e 136

 

A Caminho da Luz

 

Xavier, F. Cândido/Emmanuel

FEB – página: 34

 

Através do Tempo

 

Xavier, F. Cândido/ Espíritos diversos

Lake – página: 43

 

Cartas e Crônicas

 

Xavier, F. Cândido/ Irmão X

FEB – capítulo 4

 

Contos e Apólogos

 

Xavier, F. Cândido/ Irmão X

FEB – páginas: 69 a 72

 

Luz Acima

 

Xavier, F. Cândido/ Irmão X

FEB – página: 123

 

Nosso Lar

 

Xavier, F. Cândido/André Luiz

FEB – páginas: 54 a 58

 

Missionários da Luz

 

Xavier, F. Cândido/André Luiz

FEB – páginas: 40, 44, 135 e 136

 

Os Mensageiros

 

Xavier, F. Cândido/André Luiz

FEB – página: 222

 

Cartas de uma morta

 

Xavier, F. Cândido/Maria João de Deus

Lake – página: 79

 

História do Espiritismo

 

Doyle, Arthur Conan

Pensamento – página: 480

 

Grandes e Pequenos Problemas

 

Aguarod, Angel

FEB – páginas: 197 e 198

 

A Vida Além do Véu

 

Owen, G. Vale (Rev.)

FEB – páginas: 12 e 13

 

Mediunidade (Vida e Comunicação)

 

Pires, J. Herculano

Edicel – páginas: 99 a 101

 

O que é a Morte

 

Imbassahy, Carlos

Edicel – páginas: 47 e 48

 

Narrações do Infinito

 

Flammarion, Camille

FEB – página: 144

 

Devassando o Invisível

 

Pereira, Yvone A.

FEB – páginas: 92, 93 e 102

 


Quando a mediunidade pode ser
pública

 

O bom exercício da mediunidade precisa ser demonstrado, como
forma de exemplificação e coerência com os preceitos espíritas

 

Muitas casas espíritas experimentam dúvidas quanto a conveniência da adoção
do exercício da mediunidade em reuniões públicas. Há aquelas que preferem não
expor quase nenhum tipo de mediunidade. Outras, colocam em público quase todos
os tipos, através de médiuns em diferentes estágios de desenvolvimento e
aprendizado.

Para analisar esta questão, necessário se faz definir algumas premissas que
nos ajudarão a entender o contexto onde a mediunidade se insere.

 

A literatura espírita desaconselha qualquer tentativa de
tornar público os trabalhos de desenvolvimento mediúnico e desobsessão, muitas
vezes indevidamente incluídos nas reuniões públicas

 

Sendo o Centro Espírita o lugar apropriado para o exercício da mediunidade, é
preciso estar atento quanto ao objetivo principal do Centro e da própria
doutrina espírita. Embora todas as atividades desenvolvidas sejam meritórias, a
educação do homem nos postulados espiritistas é a finalidade maior do Centro
Espírita, visando a transformação interior das pessoas como o melhor caminho
para viver a vida com êxito, sendo útil à sociedade, preparando-se para a vida
na pátria espiritual, entendendo e sabendo se conduzir segundo as leis naturais,
compreendendo e sabendo utilizar suas faculdades em benefício próprio e do
próximo.

Atrelado nesta meta, fazendo parte do seu conjunto, podemos identificar
também a divulgação da doutrina e a prática de outras formas de caridade.

A mediunidade é o meio para se atingir o objetivo principal da casa espírita.
Ela possui um papel importante no espiritismo, uma vez que só a doutrina
espírita veio esclarecer sua origem, seus mecanismos e sua finalidade,
retirando-a do religiosismo e do materialismo exacerbado.

Considerando esses aspectos, seria conveniente que o público interessado
tivesse acesso a pratica correta da mediunidade e as mensagens equilibradas de
consolo e edificação, provenientes do plano espiritual. Mesmo por que, muito
sensacionalismo se faz nas ocorrências mediúnicas distanciadas das diretrizes
espíritas. O povo acaba conhecendo o mediunismo vulgar e não a mediunidade
educada que procura viver os ensinamentos de Jesus.

 

Acontecendo um deslize em público, médium e dirigentes são
responsáveis pela imagem deturpada que o Espiritismo possa sofrer

 

Estamos nos referindo as tradicionais reuniões públicas, em geral assim
organizadas: prece inicial, leitura e comentário de um trecho de um dos livros
da codificação, abertura e avisos, palestra evangélica, comunicação mediúnica
opcional, passes, vibração, prece final e encerramento. A literatura espírita
desaconselha qualquer tentativa de tornar público os trabalhos de
desenvolvimento mediúnico e desobsessão, muitas vezes indevidamente incluídos
nas reuniões públicas.

Por outro lado, existe a preocupação salutar de evitar a evidência pessoal do
médium, a vulgarização do fenômeno e a atenção voltada à curiosidade. Sabemos
também que nenhum médium pode se considerar imune às influências momentâneas de
espíritos ignorantes ou sofredores. Acontecendo um deslize em público, médium e
dirigentes são responsáveis pela imagem deturpada que o Espiritismo possa
sofrer.

Temos constatado em diversas Sociedades Espíritas que embora executem
trabalhos dignos de menção, paradoxalmente ainda insistem na comunicação de
mensagens mediúnicas em linguagem piegas, de admoestação, esotérica, exaltando
os extraterrestres e seus discos voadores ou profetizando o final dos tempos, em
vez da mensagem de esperança, erguimento e consolo que caracteriza a doutrina
espírita.

Não deve haver nenhum direcionamento para salientar o fenômeno mediúnico em
si mesmo, pois sabemos se tratar de uma faculdade natural do espírito a ser
aprimorada. As pessoas que se defrontam com a evidência de um fenômeno
indiscutível, acabam sendo forçadas a admitir um corpo de doutrina para o qual
ainda não se acham preparadas.

 

O objetivo da doutrina é a educação do espírito para evitar as
enfermidades decorrentes

 

A comunicação mediúnica em público deve se restringir a cinco ou dez minutos,
abordando temas que favoreçam o esclarecimento das questões em estudo à luz do
evangelho, fugindo de colocações polêmicas, consultas dos presentes e
referências pessoais a membros da instituição. Deve-se evitar dar o nome de
entidades afamadas, preferindo o anonimato ou um nome genérico.

A psicografia parece ser a mediunidade ideal para ocorrer numa reunião
pública, pela possibilidade de conhecimento prévio da mensagem antes da sua
divulgação. Todavia, a psicofonia também pode ser adotada, desde que o médium
seja bem selecionado e o objetivo da comunicação esteja muito claro para o
médium e os dirigentes.

Maior cuidado ainda deve-se ter nas manifestações mediúnicas voltadas às
artes. Na dúvida é melhor não expor ao público e muito menos anunciar os nomes
de artistas famosos desencarnados. O espiritismo precisa mais de critério e
ponderação, do que alarde e uma postura próxima à presunção.

 

O espiritismo não tem nada a esconder. Ficou no passado a
época das sociedades secretas.

 

Cuidado igual nas atividades de tratamento do corpo físico, uma vez que o
objetivo da doutrina é a educação do espírito para evitar as enfermidades
decorrentes. A aplicação de passes deve ser realizada em sala específica.

A mediunidade de efeitos físicos (levitação, transporte, materialização),
deve ser mantida em reuniões fechadas ao público, pela exaltação do fenômeno e
pelo perigo que proporciona aos médiuns e assistentes.

As diversas modalidades de vidência também devem ser evitadas, incluindo a
psicometria, em razão da desconfiança natural do ser humano e do conseqüente
destaque do médium. A importância dessa mediunidade parece ser de apoio a outras
mediunidades e às atividades de assistência.

O espiritismo não tem nada a esconder. Ficou no passado a época das
sociedades secretas. Contudo, é preciso ter discernimento e bom senso para
apresentar o conhecimento espírita com método e tempo adequado, prevenindo
qualquer transtorno que possa produzir algum impacto na sua projeção. Estamos
todos compromissados e seremos todos responsáveis.

 


Quem sabe e quem faz reforma-íntima?

 

A maioria dos espíritas não sabe como instituir
o auto-aprimoramento consciente e os Centros
ainda não despertaram para essa necessidade
tão básica quanto urgente

 

Todos os meios de comunicação espírita não cansam de repetir sobre a
necessidade da reforma-íntima. Todos os dirigentes, instrutores, expositores,
escritores e divulgadores em geral são unânimes em indicar essa reforma interior
como o único caminho para a evolução acelerada e consciente do homem. Embora
possa parecer óbvio demais, a grande maioria dos Centros Espíritas não fazem
nada de concreto para ajudar as pessoas a realmente realizarem o
auto-aprimoramento.

Os expositores abordam a reforma-íntima invariavelmente. Os dirigentes estão
sempre aconselhando essa prática. Os livros e artigos de jornais também estão
sempre voltando a esse assunto. É verdade que freqüentadores, trabalhadores e
espíritas em geral acabam absorvendo algum conceito, definição, explicação e
argumentação sobre o assunto, mas constituem unidades de conhecimento isoladas
que facilmente dispersam pela ausência de ligações que auxiliam o entendimento.

Quem decididamente deseja iniciar o aprimoramento do seu modo de pensar,
sentir e agir com base na Doutrina Espírita, acaba penetrando num labirinto de
dúvidas e confusões. Daí a necessidade imperiosa das casas espíritas criarem
mecanismos efetivos de ajuda e motivação para a empreitada.

 

Uma orientação efetiva precisa ser
implantada nas instituições espíritas

 

Qual a preparação necessária para iniciar a reforma? Por onde começar? Qual é
a bibliografia existente? Deve-se definir prazos? Quais os critérios para a
fixação de tempo? Como lidar com pressões sociais contrárias? Como conviver bem
com pessoas tão heterogêneas do nosso círculo social? Como proceder para não
enveredar pela hipocrisia? Quais os limites entre o interesse sincero pela
doutrina e o fanatismo? Como avaliar os resultados do trabalho de melhoria
íntima?

Essas são perguntas que surgem naturalmente na mente daqueles que
verdadeiramente querem iniciar esse desenvolvimento interior. Precisam ser
respondidas adequadamente. Uma orientação efetiva precisa ser implantada nas
instituições espíritas, construída sob bases racionais, fundamentada na
Codificação e amparada pelo conhecimento científico atual, para evitar
distúrbios psicológicos, descontroles emocionais, aumento de ansiedade,
problemas de relacionamento, decepções contraproducentes e outros conflitos da
natureza íntima do ser humano.

Antes ou concomitantemente à reforma-íntima será necessário conhecer melhor a
parte doutrinária mais diretamente vinculada ao assunto, como:
pensamento/sentimento, lei de ação e reação, lei de cooperação,
evolução/reencarnação, vigiar/orar e muitos outros itens. Além disso, deve
também exercitar o autodescobrimento para que o ser possa tomar consciência dos
aspectos positivos, neutros e negativos de sua personalidade, assim como de suas
possibilidades reais de melhoria imediata e de seus limites ou dificuldades mais
expressivas. Fase em que se faz necessário manter baixo o nivel emocional e alto
o racional, ambos atrelados a perspectivas motivacionais maduras e reais
conduzindo a metas claras e definidas sustentadas pelo desejo sincero de mudança
e pela perseverança.

Parece difícil e complicado, mas é verdadeiramente tudo isso. Mais uma razão
para encontrar formas de ajudar as pessoas a realizarem sua reforma-íntima.

O que pode ser feito pelos Centros Espíritas nesse sentido? Muito! Desde
ciclo de palestras sobre o assunto, indicação de bibliografia, criação de um
serviço de orientação pessoal, designação de trabalhos individuais e em grupo,
criação de cursos, criação de grupo de estudo para debate dos casos particulares
tipo terapia, lançamento de campanhas, apresentação de exemplos motivadores e
tudo que qualquer mente interessada possa vir a plasmar nesse sentido. Aí está
um desafio para instituições e espíritas, para o qual esperamos receber
rapidamente notícias de experiências e ações efetivas nessa direção. Sucesso aos
empreendedores.


Reunião de desobsessão

 

Técnica que ajuda o esclarecedor a melhorar os resultados de
seu trabalho

 

Porque se faz reunião de assistência espiritual, senão para auxiliar os
espíritos desencarnados que passam por sofrimento e desequilíbrio. Naturalmente
há outros objetivos e utilidades como oferecer oportunidade para os encarnados
exercitarem a mediunidade e a caridade. Na sua finalidade principal, direta, a
abordagem das entidades nas reuniões deve ter muita objetividade e uma técnica
de comunicação que garanta o melhor resultado no menor espaço de tempo. A
técnica a seguir divide o diálogo com o espírito em cinco passos e orienta a
ação do esclarecedor em cada passo.

1 – Apresentação. Fase inicial em que se dá as boas vindas ao
visitante, esclarecendo quanto ao tipo de trabalho que se desenvolve nesta
reunião, procurando transmitir segurança, simpatia, respeito, interesse em
ajudar e firmeza de propósitos. É preciso dar condições para que o espírito
possa se comunicar e se predispor a falar de si e de suas necessidades.

2 – Sondagem. Fase na qual o esclarecedor usa de toda sua experiência
e os recursos da inspiração, para sondar o problema mais relevante do espírito
comunicante e saber sua opinião a respeito. Esse é o alvo a ser procurado e
atacado com as armas do conhecimento espírita somadas a paciência, vontade de
compreender, de ajudar e disposição para não julgar. Todas as perguntas devem
ser feitas para detectar a real necessidade do espírito, distanciadas de
qualquer sentimento de curiosidade.

É comum a entidade se apresentar escondendo sua real situação. Há espíritos
que querem discutir a Doutrina, a própria reunião ou a Bíblia, mas não foi para
isso que os guias espirituais permitiram sua presença. Será preciso buscar o
verdadeiro motivo. Outros se expressam com muita raiva desejando intimidar e
semear o medo, mas quando perguntado sobre sua mãe ou seu filho, abre-se em
pranto e mostra seu verdadeiro estado emocional.

3 – Argumentação. Importante fase em que o esclarecedor usa de todo
seu conhecimento e vivência para dar esclarecimentos bem fundamentados,
explicações objetivas, exemplos claros, orientação firme e consistente. Muitas
vezes haverá necessidade de refutar idéias e preconceitos errôneos ligados ao
seu problema fundamental, para preparar a entidade à mudança do seu
comportamento, facilitando sua libertação de reflexos mentais condicionados e
permitindo seu encaminhamento em condições favoráveis para tratamento em
instituições do plano espiritual.

4 -Vibração. Momento em que o esclarecedor e quem estiver acompanhando
o diálogo, procura endereçar irradiação mental de ânimo, esperança, confiança e
amor, completando o trabalho realizado, consciente de que, por mais inflexível
que o espírito possa ter se apresentado, ele levou no seu registro mental os
esclarecimentos dados que irão, a seu tempo, crescer e frutificar, assim como
foi ajudado pelos bons sentimentos que geraram fluidos de alta qualidade.
Conforme o caso, pode-se fazer uma oração e dar um passe.

5 -Encerramento. Fase na qual o esclarecedor reforça os pontos
principais em uma síntese, estimulando e motivando o espírito a perseverar no
novo caminho e nas novas idéias. Despede-se e entrega a entidade nas mãos dos
guias espirituais solicitando o encaminhamento para tratamento mais específico,
de acordo com a natureza dos problemas identificados.

Naturalmente, cada caso merece uma atenção especial e a padronização ao
extremo favorece a insensibilidade que não se coaduna com a Doutrina Espírita.
Use o bom senso e adapte essas sugestões ao estilo das reuniões de seu grupo,
nunca esquecendo, porém, que toda nova técnica ou método só deve ser aplicada
quando sua utilidade for plenamente compreendida por todos. Analise tudo e faça
bom proveito.


Como a mediunidade está sendo
tratada nos Centros Espíritas?

 

O Espiritismo é a única doutrina que define, estuda e pratica
a mediunidade. Por isso, será sempre importante refletir sobre o assunto
procurando otimizar sua aplicação e desmistificar sua imagem.

 

O único lugar seguro para a prática mediúnica é o Centro Espírita, mas será
que ele está preparado ou se preparando para identificar, educar e facilitar o
exercício das faculdades mediúnicas de seus trabalhadores e freqüentadores?

Embora seja grande a diversidade de Centros, pode-se notar uma certa
tendência de afastamento da prática mediúnica. O público já não tem onde ir para
ver o correto emprego da mediunidade. Infelizmente sobram lugares onde se expõe
a mediunidade não educada e utilizada de forma equivocada, particularmente nos
cultos afro-brasileiros e nas instituições onde se pratica o Espiritismo “a moda
da casa”, isto é, repleto de sincretismos que confundem o entendimento dos
freqüentadores fazendo-os perderem o sentido de direção

Médium e mediunidade são características fundamentais do Espiritismo.
Doutrina Espírita sem mediunidade não existe, seria preciso criar uma nova
doutrina que nasceria aleijada. Atrás da mediunidade está o princípio
inalterável da vida após a morte, da comunicabilidade entre encarnados e
desencarnados, da lei do trabalho, da lei de cooperação e tantos outros
fundamentos do Espiritismo — todos interligados e interdependentes. Mexer em um
é retirar uma coluna de sustentação do edifício: mais cedo ou mais tarde o
prédio cai.

A grande mídia prefere mostrar este tipo de médium pela proximidade com o
folclore de algumas regiões do país e pela curiosidade que desperta,
particularmente nos turistas. Os médiuns espíritas só são apresentados ao
público quando curam ou produzem algum fenômeno.

A maioria dos Centros se limita a aplicar a mediunidade apenas nas reuniões
de desobsessão. Muitos são os casos situados nos extremos. Casas que não criam
nenhum trabalho voltado ao emprego útil e doutrinariamente correto de outros
tipos de mediunidade que não a psicofonia e, casas que se lançam
precipitadamente a trabalhos públicos sem as condições mínimas necessárias. É o
caso da pintura mediúnica embaraçosa e da psicografia inconsistente de cartas de
familiares desencarnados, contribuindo para a desinformação e o descrédito do
povo. Está faltando bom-senso e responsabilidade e sobrando negligência e
vaidade.

Quando alguém aparece mostrando mediunidade ostensiva, o Centro deveria
encaminhar a pessoa (quando for o caso), para um tratamento visando seu pleno
equilíbrio; proporcionar um curso que concorra para um amplo entendimento do
Espiritismo e dos processos mediúnicos, não esquecendo do último e importante
passo que é criar oportunidades para o desenvolvimento e aplicação da
mediunidade revelada. Quase nada adianta instituir cursos se os médiuns não
encontrarem lugar para exercerem bem suas mediunidades.

Sabemos nós os espíritas que ninguém encarna com uma faculdade mediúnica
patente por acaso, sem a existência de um propósito definido. Todavia, há
inúmeros médiuns de psicografia e vidência sem oportunidade de colocar em uso
sua mediunidade. São poucas as casas que possibilitam aos médiuns de psicografia
exercerem suas mediunidades nas reuniões públicas. A mensagem escrita é segura
porque permite sua prévia leitura e seleção, caso não esteja adequada. São raras
as casas que contam com médiuns videntes nos trabalhos de passe especial,
desobsessão, entrevista de avaliação etc.

Há mediunidades mais raras como de efeitos físicos e psicometria, cujos
portadores são “esclarecidos” por muitas casas e até federações que este tipo de
mediunidade já teve seu momento e lugar, convidando os seus detentores a
esquecerem suas faculdades e se dedicarem a outras atividades. É preciso dar
condições para o exercício correto e útil de todas as mediunidades. Nenhuma
forma de mediunidade deve ser desprezada. Todas possuem o seu propósito e
utilidade.

O aspecto positivo desta situação é que as pessoas estão cada vez mais
freqüentando os Centros Espíritas motivadas pelo desejo de assimilar o
conhecimento espírita, para com ele intensificar seu aperfeiçoamento interior.
Décadas atrás, muitas casas enalteciam apenas o fenômeno e transformavam a
mediunidade em espetáculo público no infantil pressuposto de que o fenômeno
ajudaria as pessoas a despertarem para o seu progresso espiritual. Ainda é assim
que acontece em muitas casas, em se tratando da mediunidade de cura que costuma
arregimentar grande número de pessoas na ânsia de verem a dor física diminuída.
Não se pode menosprezar a mediunidade de cura, mas aplicá-la bem e esclarecer o
máximo possível o público.

O aspecto negativo é que as pessoas estão se afastando do contato com a
mediunidade facilitando a aura de mistificação que a mídia ajuda a formar.
Devemos lembrar que a mediunidade está inserida no âmbito da faculdade de
comunicação — que nasce com a mônada destinada ao desenvolvimento. Os espíritos
nos asseguram que no futuro a mediunidade será uma coisa natural somada aos
cinco sentidos que tanto nos acostumamos. Só que este futuro pode ficar mais
distante de nós pela nossa própria desatenção e desinteresse.


Conceitos de transcomunicação
conflitam com Espiritismo

 

A precipitação e falta de estudo da Doutrina originou uma
série de afirmações falsas na mídia espírita

 

A transcomunicação abre um campo novo de trabalho para ser explorado a bem da
humanidade. Cientistas, pesquisadores e estudiosos afastados do conhecimento
espírita, já estão desenvolvendo teorias e explicações a respeito. Aqueles,
porém, considerados espíritas, ainda não estão aplicando efetivamente o
conhecimento espírita para compreender o fenômeno, tanto em seus efeitos como em
sua causa.

Não há dúvida que essa nova técnica de comunicação vem estender nossos
horizontes, preparando-nos para um futuro melhor. Todavia, na esteira acelerada
do progresso, muita coisa estranha costuma acompanhar as coisas boas, pedindo
mais discernimento e bom senso para proceder a necessária separação.

Assim foi com a descoberta da eletricidade. Passaram a atribuí-la muitos dos
fenômenos não explicados e até criaram dispositivos manuais para as pessoas
receberem doses diárias desse novo fluido regenerador, que pensavam capaz de
curar qualquer enfermidade.

Acompanhando os congressos, palestras e artigos na imprensa sobre o assunto,
não é difícil constatar a confusão inicial que está resultando das afirmações de
pessoas espíritas ligadas a transcomunicação, misturando aspectos doutrinários
fundamentados no sistema de investigação científica, com idéias e opiniões
apressadas e até fantasiosas. Fato lastimável e indicador que o espiritismo
ainda é o grande desconhecido, inclusive para aqueles que são notícia na
imprensa espírita, escrevem livros e proferem palestras.

O entendimento que fazem da mediunidade está longe daquele esclarecido pela
codificação e analisado pelas obras de André Luiz.

 

Hipóteses de trabalho científicas no espiritismo são muito
importantes, desde que anunciadas como tal

 

Parece incrível, mas estão confundindo (e com isso denegrindo) o próprio
conceito de mediunidade, que deveria ser de conhecimento geral dos espíritas.
Estão afirmando que o processo mediúnico ocorre somente quando um espírito
“ocupa” o corpo do médium??? Pior ainda, estão afirmando que a transcomunicação
trás um modelo mais avançado de mediunidade, denominado “channelling”. Apenas
através dele os espíritos podem se comunicar pelo pensamento! Pobre mediunidade,
pobre espiritismo, os homens nem conseguiram assimilar todo o conhecimento
contido na codificação e já pretendem substituí-lo por teorias incipientes. Como
é possível substituir algo que ainda não conhecemos plenamente? Como invalidar
um remédio do qual ainda não se conhece perfeitamente sua atuação e não se
pesquisou amplamente seus efeitos?

Isso é falta de estudo e de compromisso com o espiritismo. Vamos estudar
mais, vamos estudar sempre. Hipóteses de trabalho científicas no espiritismo são
muito importantes, desde que anunciadas como tal, devendo obedecer, senão a
princípios de ética, pelo menos a metodologia científica.

A organização de um evento eminentemente espírita, para o aprofundamento da
transcomunicação no contexto dos fundamentos doutrinários, certamente traria
mais luz ao nosso entendimento.

 


A transcomunicação funciona sem
ectoplasma?

 

Há divergências entre pesquisadores espíritas e agnósticos

 

A transcomunicação encontra-se dividida em duas correntes: transcomunicação
instrumental – TCI e transcomunicação mediúnica TCM.

A primeira, parte da premissa que não é necessária a presença de um médium e
do seu fluido especial, conhecido por ectoplasma, para que os espíritos, ou
“consciências do terceiro plano”, como os pesquisadores estrangeiros preferem,
possam sensibilizar os gravadores, câmeras e microcomputadores. A segunda,
advoga a tese espírita que os espíritos necessitam do ectoplasma emanado dos
encarnados, para poderem agir sobre a nossa matéria.

Durante o Congresso Internacional de Transcomunicação, de 22 a 24 de maio de
1993, Anhembi, São Paulo, promoção da Associação Médico-Espírita e Folha
Espírita, tivemos a oportunidade de participar da entrevista coletiva com o
casal Jules e Maggy Harsh Fischbach de Luxemburgo, o professor aposentado de
física e engenharia elétrica – Dr. Ernest Senkowski, o economista Ken Webster e
o Padre François Brune. Os jornalistas presentes ouviram as seguintes
colocações, entre outras:

 

  • Temos que trabalhar juntos, a união é importante para a
    melhoria dos resultados

 

 

  • As entidades do terceiro plano são constituídas por seres ou
    consciências que habitaram o planeta Terra em diversas nações, pertencentes a
    todas as raças, religiões, incluindo até seres extraterrestres superiores.
  • Estão obtendo comunicações com equipamentos comuns, com e sem a
    presença de operadores; algumas vezes os equipamentos são ligados, as
    mensagens gravadas, sendo depois desligados por essas entidades.
  • Essas entidades necessitam de um conhecimento especializado para
    produzirem as gravações; algumas tiveram que fazer cursos e outras se
    utilizaram do serviço das entidades anteriormente treinadas nessa técnica.
  • A qualidade das gravações parece sofrer influência das pessoas que
    participam junto com os operadores; quanto mais unido o grupo, melhor; quanto
    mais os integrantes são positivos e otimistas, melhor; “o importante é o
    ambiente e a energia das pessoas”, disseram.
  • As consciências do terceiro plano obedecem uma organização social de
    acordo com seus interesses e afinidades; dizem que podem voltar a encarnar
    (não os extraterrestres), assim como os homens já encarnaram muitas vezes e
    continuarão até o final do processo (evolutivo?).
  • Essas entidades são consideradas superiores e dessa forma, não
    interferem nas vidas dos encarnados; aconselham e advertem, procurando “nos
    fazer capaz de ajudarmos a nós mesmos”.
  • Temos (os pesquisadores) que trabalhar juntos, a união é importante
    para a melhoria dos resultados, o primeiro passo já foi dado pelo Brasil nesse
    congresso”.

Quando questionados sobre o uso do ectoplasma pelas entidades, eles
demonstraram possuir uma concepção diferente sobre esse fluido. Parecem entender
o ectoplasma como uma substância que, uma vez exteriorizado, todos podem ver;
que não tem nenhuma ligação com o que eles chamam de “energia das pessoas”,
irradiação essa que dizem auxiliar a transmissão e gravação das mensagens.

Afirmaram que não conhecem nenhum grupo na Europa e nos EUA que estejam
estudando o uso do ectoplasma na transcomunicação! E no Brasil? o conhecimento
espírita ajuda ou atrapalha? Será que há pesquisadores brasileiros voltados a
esse estudo ou ficará valendo mais uma vez o ditado popular: casa de ferreiro,
espeto de pau?

 


Materialização de espíritos

 

Relato de uma reunião de materialização (09/04/88), das
inúmeras (cerca de 200) realizadas na Fraternidade Espírita Irmão Kamura

 

A aquisição dos convites davam direito ao sorteio de um prêmio e eram
trocados pela colaboração de mil cruzados por parte dos interessados. Ouvi
alguns comentários de pessoas inconformadas com o fato da casa cobrar pela
participação em uma reunião de cunho eminentemente espiritual. Houve até quem
lembrasse:” Dai de graça o que de graça recebeste”. Outros acharam o valor muito
elevado, preocupados com o impedimento natural às pessoas menos favorecidas
financeiramente, mas igualmente merecedoras desta oportunidade. Enfim, o caso é
delicado e demonstra, pelo menos, a precariedade com que vivem as instituições
espíritas e a dificuldade de contar com a entrada regular de recursos em
espécie, necessários à manutenção de qualquer organização.

Quando ofereci os convites extras que dispunha, fiquei surpreso ao verificar
certa apatia, medo e resistência que espíritas e não espíritas tem com este
assunto. A julgar por mim, um fenômeno tão raro quanto este, que procura
demonstrar a sobrevivência do ser depois da morte e a comunicabilidade com os
espíritos, é uma oportunidade que não podemos desperdiçar. Entretanto, as
pessoas são diferentes ¾ pequenos universos individualizados a expressarem-se
segundo o impulso da vontade, determinando o seu próprio caminho para a ascensão
compulsória. Todos vamos alcançar patamares mais elevados. É uma questão de
tempo. Quem estará fazendo o caminho mais curto?

Cheguei ao local às 19h15m. Assinei o livro, ganhei um número para o sorteio
e aguardamos na sala de espera, desta vez melhor organizada, com os convidados
sentados na primeira sala, ouvindo uma preleção de Dona Benê sobre o assunto,
com as recomendações de praxe. A temperatura externa era baixa, o que
prenunciava uma reunião mais agradável neste ponto de vista. Entrementes, um
senhor pergunta se não é o próprio espírito do médium que se materializa através
do desdobramento. Apesar da resposta negativa de Dona Benê, o cavalheiro
insistia, dizendo que estuda o assunto há muitos anos. Pedi a palavra e
esclareci que algumas vezes ocorre a densificação de dois espíritos
simultaneamente, o que parece demonstrar que o processo é mesmo mediúnico e não
anímico. Naturalmente não mencionei os relatos de Aksakof que propugna a
ocorrência da materialização também por processo não mediúnico. Não quis causar
polêmica ¾ o momento não era para isso.

Nos mais de cento e vinte livros que disponho sobre o tema, constatei
inúmeras insinuações análogas, em razão do espírito materializado, muitas vezes
apresentar-se semelhante ao médium, inclusive o timbre de voz. Uma explicação
seria que o ectoplasma sendo derivado, em sua maior parte, do fluído vital do
médium, é portanto, altamente influenciável pela ação de sua mente,
particularmente do inconsciente onde estão armazenadas nossas conquistas
automatizadas. Assim sendo, torna-se difícil para os espíritos sobrepujarem este
influxo mental e, por isso, quando a situação não é plenamente favorável, eles
aproveitam a aglutinação natural das moléculas do “fluido nervoso”, para
formarem parcial ou integralmente o corpo sobre o perispírito do espírito
comunicante.

Logo após, li um resumo biográfico do Papa Leão XIII, considerado como
encarnação anterior do Padre Zabeu ¾ um dos mentores da casa. Acrescentei que,
pelos estudos realizados, constatei que esta é a entidade mais presente nos
relatos de materialização no Brasil, a partir da década de 1940.

Houve o sorteio, não prestei atenção no prêmio ofertado, mas certifiquei-me
que não havia sido contemplado. O serviço de passe começou. Em fila, cumprimos o
itinerário rumo a sala principal, via a sala de passes e a sala intermediária
onde é distribuída a água fluidificada. Logo à entrada estava Dona Benê,
designando o local a ser ocupado pelos participantes, inclusive os médiuns da
casa. Sentei em bom local, no corredor da entrada ao lado da porta.

 

Colocaram algemas, correias, correntes e cadeados. Prenderam a
cadeira do médium no solo, tiraram-lhe sua roupa, jogaram talco ao chão, criaram
uma cela especial e eletrificaram a grade.

 

Lá estava o médium Benedito Cosme, aparentando segurança e serenidade. Ele é
irmão de Lúcio Cosme que cedeu suas faculdades ao Centro Espírita Padre Zabeu
desde 1940 até o início da década de 1980. É ainda primo do falecido João Cosme
– médium de grandes recursos.

A Guiomar fez uma pequena palestra e convidou os presentes a conhecerem a
cabine, observando os mecanismos de aprisionamento do médium, tais como:
corrente, algemas, porta de ferro e lacres. Foi lida uma prece, apagaram-se as
luzes e a iniciou-se o comando das orações, convidando ininterruptamente as
pessoas a orarem (como na igreja), visando manter o nível psíquico do ambiente
mais elevado e menos dispersivo. Achei difícil se concentrar nessas orações,
muitas vezes inaudíveis e interrompidas pelos próprios espíritos.

Os meios utilizados para o confinamento dos médiuns, originou-se da
desconfiança que tinham os cientistas, quando examinaram exaustivamente o
fenômeno, no final do século passado. Colocaram algemas, correias, correntes e
cadeados. Prenderam a cadeira do médium no solo, tiraram-lhe sua roupa, jogaram
talco ao chão, criaram uma cela especial e eletrificaram a grade. Fizeram tudo
que uma mente excessivamente materialista pode julgar conveniente, para
satisfazer sua vontade, como se a ciência não possa se expressar com respeito e
amor ao próximo.

Ouvimos batidas no peito. Informaram que era o índio Irubi que abre e encerra
os trabalhos.

Surge a Irmã Josefa com um grande crucifixo (não espiritual), preso em uma
faixa larga e fosforescente. Escuta-se alguns comentários na ala feminina: oh!
que maravilha! Parece que o crucifixo não estava na cabine, o que obrigou o
espírito a transportá-lo de outro cômodo. A irmã espiritual estava muito bem
humorada, brincando com todos. Guiomar pediu para ela ” enrolar alguns discos” e
“fazer perfume”, respondendo o espírito: – Só isso? ao que todos riram. – Porque
você não morre e vem aqui fazer tudo isso? Guiomar respondeu que quando morrer
vai dar muito trabalho, pois vai querer fazer muitas coisas.

 

Andou pelo corredor central irradiando luz pelas mãos, os
braços abertos, o rosto coberto com um tecido branco transparente, como a gaze,
podendo-se notar parcialmente o seu semblante.

 

O rosário pendurado no pescoço da freira materializada era mais fosforescente
que as demais peças como a corneta e o pandeiro. A entidade retirou o rosário e
com ele enlaçou, num gesto de carinho, a Dona Benê e o Sr. Ambrósio, que estavam
sentados na primeira fila margeando o corredor.

Irmã Josefa disse que já “enrolou muitos discos”, mas que as pessoas
presenteadas acabaram perdendo. Dona Guiomar informou que cedeu o seu disco para
o Divaldo Pereira Franco. Neste instante, a entidade materializada pediu para a
Guiomar segurar um buquê de rosas, enquanto o espírito com as mãos iluminadas
embaixo das flores, captava as gotas que surgiam transportadas de outro local.
Em seguida, passou a espargir este perfume a todos os componentes da sessão,
mesmo aqueles sentados na última fila. Perfume agradável, simples, não lembrando
ser originário de rosas, como a entidade fez supor. Desapareceu rápido sem
deixar vestígios.

Após esta chuva aromática a irmã Josefa abriu as cortinas e acendeu a luz
vermelha do teto para que todos pudessem vê-la atravessando a grade de ferro da
cabine. A irmã brincou muito, intercalando, periodicamente, a expressão: –
estamos com Jesus! Andou pelo corredor central irradiando luz pelas mãos, os
braços abertos, o rosto coberto com um tecido branco transparente, como a gaze,
podendo-se notar parcialmente o seu semblante. As mangas largas passavam sobre
as cabeças das pessoas sentadas no corredor. Sua voz tinha sotaque alemão e
assemelhava-se a voz do Padre Zabeu.

Cantaram um hino à irmã Josefa e depois, ela pediu para todos cantarem
Parabéns a Você em homenagem ao aniversário do Sr. Benedito. Ato Contínuo,
distribuiu algumas rosas, jogando-as no escuro, sobre o colo de três senhoras,
informando antes, que quem as recebesse já havia convivido com ela em outra
encarnação. As senhoras agradeceram emocionadas.

 

Parece que todos ficaram contentes pela demonstração que as
leis da física carecem de maior exame.

 

Vem o Atanásio, com sua voz característica, brincou com o pandeiro, fazendo-o
girar como um ventilador, dedilhou aleatoriamente as cordas do violão, fez
cócegas nos homens da primeira fila e pediu para todos cantarem Índia, que ele
acompanhou assobiando muito bem.

As peripécias que ele fazia com o pandeiro fosforescente eu não podia ver em
razão da intensidade de luz projetada pelo rosário, agora colocado no pescoço do
Sr. Ambrósio. Meu pensamento então, fixou-se nesta dificuldade, deixando-me
indeciso quanto ao que fazer. Pensei em pedir para este senhor retirar a peça.
Pensei também em não me concentrar neste assunto, pois poderia estar
atrapalhando o meio ambiente astral, com a emissão de matéria mental inadequada,
entretanto, meu esforço foi em vão (imaginem a força de uma obsessão!) e
considerei melhor falar com o Sr. Ambrósio. Dois ou três segundos depois já
estava eu apreciando os malabarismos do Atanásio com o pandeiro, graças a
gentileza deste cavalheiro.

Atanásio foi abraçar o médium aniversariante e em seguida ouvimos a voz do
Padre Zabeu. Cumprimentou diversas pessoas da casa, inclusive eu, que
surpreendido respondi ao cumprimento satisfeito. Padre Zabeu então agradeceu as
palavras que eu havia dito sobre a biografia.

A entidade conversou bastante, projetou luz branca das palmas de suas mãos
nas paredes, nos quadros e no teto. Irradiou ainda luz azul e vermelha. Pediu
uma prece para ele mudar sua forma de apresentação. Ficamos alguns segundos na
escuridão até que ele acendeu a luz vermelha do teto, deixando-nos perceber que
havia mudado suas roupas, apareceu uma parte de tecido vermelho nas costas, não
pude perceber outros detalhes.

O dirigente espiritual das sessões de materialização, passeou no corredor
central também com os braços estendidos, a cerca de trinta centímetros dos meus
olhos. Ao ver passar suas mãos tão próximas, pensei em verificar se a luz era
irradiada por algum aparelho trazido de seu plano ou não. A mão esquerda do
Padre Zabeu passou muito perto de minha visão, emitindo luz, mas segurando
alguma coisa… De súbito, porém, como se ele tivesse captado meu pensamento,
retornou a mão sob meu olhar e então percebi que ele segurava o interruptor da
luz vermelha em frente a cabina! Como é fácil e perigoso tirarmos conclusões
precipitadas.

Retornando ao palco próximo a cortina, avisou o espírito amigo que iria
trazer um objeto de outra sala. Dona Benê pediu uma oração e incontinente, a
entidade apagou a lâmpada vermelha e se dirigiu para a porta lateral onde eu
estava dispondo de pouca luminosidade. Não andava, deslizava, senti suas vestes
passando em minhas pernas. Chegando a porta sanfonada, percebemos a entidade
sacudi-la propositadamente, três ou quatro segundos depois, retornava o espírito
materializado, com suas mãos iluminando seu corpo, a medida que atravessava a
porta. Disse que havia trazido o objeto mais simples e que naturalmente não
deveria estar na sala principal. Era a pá de lixo! A platéia bateu palmas.
Parece que todos ficaram contentes pela demonstração que as leis da física
carecem de maior exame. Ouvi comentários: ¾ que beleza! ¾ que humildade! As
músicas se sucediam na vitrola, o Padre Zabeu entrou na cabine e logo ouvimos o
som da flauta indicando que a sessão havia terminado.

Na saída, conversei rapidamente com o Sr. Silvio Angelini, médium de efeitos
físicos aparentando cerca de oitenta anos. Estava muito feliz de poder assistir
uma sessão em vez de participar como médium. Disse ter gostado muito. Estranhou
a intimidade que os assistentes tem com os espíritos, estranhou também as palmas
e achou excessivas as orações. Contou que no seu tempo, quando trabalhava com o
Sr. Antônio Feitosa, havia quase sempre a voz direta dos espíritos se
movimentando em cima das cabeças dos participantes e a vitrola freqüentemente
levitava.

Eu que tenho visitado diversos grupos que a esse mister se dedicam, percebo
claramente a diversidade de fenômenos que se manifestam espontaneamente, porém
sob um rígido controle invisível, demonstrando existir uma direção espiritual e
uma plêiade de espíritos de todos os níveis formando uma corrente vertical para
receber orientação dos níveis mais altos, até alcançar o nosso nível. William
Crokes, Zolner, Bozzano, Aksakof e outros sábios, estudaram muito o assunto, mas
só conseguiram dar algumas respostas das muitas perguntas que aguardam nossa
evolução moral para serem respondidas.