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Palestra “Cristianismo e Espiritismo”

Quando Jesus esteve entre nós, pregou, ensinou, operou milagres, andou sobre
águas, ressuscitou mortos, foi julgado, condenado e crucificado. Nunca escreveu
nenhuma palavra, nunca pintou ou construiu nada. Seu legado foram suas idéias. E
se hoje, contamos o ano de 1996 de seu nascimento, é porque sentimos que estas
idéias eram importantes, que tinha algo mais ali além de palavras. E lutamos
para compreende-las até hoje. O Espiritismo é o Consolador prometido, enviado
para auxiliar na compreensão das idéias de Jesus. Este é o tema que falaremos
hoje, Cristianismo e Espiritismo, a ligação que há entre eles e a forma como
este último auxilia o primeiro.

Cristianismo

O que sabemos sobre Jesus, está basicamente nos Evangelhos, a parte do Novo
Testamento da Bíblia. Como já foi dito, Jesus nunca escreveu nada enquanto
esteve vivo. Também nenhum de seus discípulos pensou em anotar tudo o que ele
dizia na mesma hora. Suas idéias e conceitos foram transmitidos de boca em boca
por mais de 50 anos, quando então o primeiro dos Evangelhos, o de Marcos, foi
colocado, parcialmente, no papel. Naquele tempo os judeus viviam tempos difíceis
com os romanos, tentaram expulsa-los de suas terras, e o resultado foi o
contrário, os romanos é que os expulsaram. É a diáspora, quando eles de
dispersam por toda a Europa. Apenas este século é que conseguiram se juntar de
novo. Por causa disso, havia muito ressentimento no ar, e em diversos trechos,
este é o tom do evangelho de Marcos. Em seguida vieram os de Mateus e Lucas, já
quase no final do século I, finalmente veio o de João. Todos eles começaram
pequenos, e foram sendo acrescentados de outros textos, pouco a pouco. Na mesma
época surgiram diversas outras narrativas, hoje se conhecem mais de vinte.
Lucas, no primeiro versículo de seu evangelho nos fala “Tendo por muitos
empreendido a missão de por em palavras o que Jesus trouxe até nós”,
demonstrando aqui que ele não estava só. Os apóstolos originais apenas pregavam,
transmitiam de boca em boca, os que escreveram, apenas reproduziram o que
ouviram. Claro que nenhum deles ficou ao lado dos apóstolos o tempo todo, de
modo que cada um destes textos traz uma parte do conjunto. No século III, os
líderes da igreja quiseram criar um texto único para se basearem, assim foi
designado um relator, conhecido hoje como São Jerônimo, ele pegou tudo o que
havia sido escrito, selecionou o que julgava correto e criou o que chamou-se de
Vulgata, ou texto comum a todos os outros. O resto foi considerado apócrifo, e
desprezado.

Assim, vemos que muito do que temos hoje, foi mudado, não por má fé, mas
simplesmente porque foi transmitido de boca em boca, parcialmente, sem uma base
comum, de modo que temos um texto cheio de informações contraditórias quanto aos
atos de Jesus, aos milagres, às profecias e às palavras que serviram de
estabelecimento aos dogmas. Mas há um ponto comum e pacífico a todos os que se
dizem cristãos, que é a sua moral. O ensino moral de Jesus não é discutível,
pois ele está mesmo acima da moral dos homens. O Espiritismo vem fortalecer o
Evangelho, porque este foi contado na forma de parábolas, estórias, que causaram
dúvidas e mal entendimentos.

Quando Kardec iniciou a codificação da doutrina, sabia que uma parte dela
seria baseada em conceitos morais, pois havia sido avisado disso. Mas que moral
seria essa, uma nova ? não. A moral Espírita é a moral do Evangelho. Não era
preciso nenhuma outra, quando Kardec pergunta, na questão 625 do L.E. qual o
modelo maior de moral a ser seguido, a resposta é simples e direta: “Jesus”.
Assim, nada mais nos resta então do que tentar entender o que Jesus nos disse,
agora à luz das explicações da Doutrina, e aplicar. Quanto aos outros aspectos
dos evangelhos, o Espiritismo abstém-se de dar qualquer opinião, pois são por
demais controversos. Claro que se pode estudar estas diferenças, estudar e
compreender de onde elas vêm é sempre bom, mas deve-se lembrar sempre que é no
progresso moral que residem as maiores conquistas da alma do homem, estas só são
obtidas pela prática dessa moral.

É na combinação destes dois elementos, inteligência e moral que se baseará a
sociedade do futuro. E o Espírito da Verdade já nos fala, em sua resposta à
questão 930 do L.E., que numa sociedade organizada pela lei do cristo, ninguém
deverá morrer de forme, ou seja, quando este mundo chegar, será bastante
diferente do que temos hoje. Já a interpretação espírita do Evangelho evita que
este vá a extremos, tanto de um lado quanto outro, não chega no intelectualismo
inócuo e evita o evangelismo improdutivo.

A moral do Evangelho, no que ela tem de mais límpido e perene, em todas as
latitudes, desde que seja vivida e não apenas sabida de cor, é o mais seguro
ponto de apoio para que o homem se torne melhor e mais feliz. Assim, segundo o
espiritismo, o Evangelho não é apenas um tratado de fé, um conceito ou idéia
para conversa e discussão, mas um modo de vida, motivo de ação regeneradora.
Respeitamos o que não pensam dessa forma, mas temos o direito de pensar como
queremos. Na verdade, entre aqueles que se dizem cristãos não deveria haver
conflito, pois a moral de Jesus se resume no amor ao próximo, preconizado no seu
mandamento maior.

Três fatores levam o Espiritismo ao Evangelho:

  1. Cultura ocidental, que é mais cristianizada. Existem outros códigos morais
    de excelente qualidade em outras culturas, mas onde surgiu o espiritismo, a
    maioria é cristão, assim é mais fácil para todos compreende-la. Ademais nenhum
    outro sistema tem a envergadura moral fornecida por Jesus.
  2. Os espíritos assim dirigiram. Mesmo que se desejasse seguir outras linhas
    morais, os próprios espíritos que criaram a doutrina direcionaram-na ao
    cristianismo. Eles sabiam o que faziam.
  3. É dinâmica, assim como o próprio Espiritismo. Ela combina direitinho com o
    espiritismo porque sua essência é de trabalho. Não há resultado sem ação.
    Assim o é com o Espiritismo.

Comparações

Quais são os pontos concordantes entre o evangelho e a doutrina.

Primeiramente a existência de Deus. A questão 1 do L.E. inicia perguntando o
que é Deus. E a resposta é que Ele é a causa primária de todas as coisas. Quando
perguntaram a Jesus qual o maior mandamento, ele começou dizendo o primeiro
mandamento da lei de Moisés, “Amarás ao teu Deus de todo coração e todo
entendimento” (Mateus XXII:34-40). Também se refere sempre a “Meu Pai que está
no céu”.

A imortalidade da alma é outro ponto concordante. Nas questões 23 a 29 do
L.E., Kardec questiona diversos aspectos sobre o espírito e a alma, as quais são
respondidas pelo espírito da verdade como princípio inteligente do universo, e
que conserva sua individualidade depois da morte, ou seja, depois de
desencarnado a alma é a mesma que quando encarnada. Jesus prega o mesmo conceito
ao dizer que para alcançar o reino de Deus é necessário nascer de novo (João
III:1-12). E para nascer de novo é preciso que a alma tome forma em novo corpo,
dessa forma ela se preserva, é imortal.

Mais um, é a vida futura. Nas questões 149 a 153, Kardec discute a natureza
da alma e seu destino, ali fica claro que após a morte, o espírito continua como
é, e que procura, algum tempo depois, novo corpo, para poder aprender, até
chegar à perfeição. A passagem anteriormente mencionada já ilustra este ponto,
ao dizer que é preciso nascer de novo. Mas Jesus vai mais além, quando está
sendo julgado perante Pôncio Pilatos, diz que seu reino não é desse mundo (João
XVIII:33-37), ilustrando-nos com a idéia que existe muito mais além dessa vida,
e que é esse reino que devemos procurar.

O Evangelho prega: “A cada um segundo suas obras” (Lucas XII:47-48), é
condicional, portanto, à atitude do indivíduo. Não basta crer em Jesus, devemos
fazer o que ele nos mandou. O espiritismo concorda e amplia isso, o capítulo II
do livro IV do L.E. fala das penas e gozos futuros, onde ele define que tudo o
que recebemos hoje, é conseqüência de nossos atos no passado, e que tudo o que
iremos receber no futuro, é conseqüência de nossos atos de agora em diante.

O Evangelho prega: “Buscai primeiro o reino de Deus e sua justiça, e todas
esses coisas vos serão acrescentadas” (Mateus VI:33). Quem procede com justiça,
honestidade e respeito às leis de Deus pode viver em paz com sua consciência e
com o mundo. O espiritismo repete isso ao dizer que é necessária a reforma
íntima, na qual procuramos corrigir nossos defeitos, é a tal procura do reino de
Deus, estas idéias são apresentadas no L.E. cap. XII livro III. As coisas que
nos são acrescentadas não são necessariamente materiais, mas principalmente a
paz de espírito e o ânimo para continuar nossa vida, sabendo que com nossos atos
estamos plantando para um futuro melhor.

Ensina Jesus: “Buscai e achareis” (Mateus VII:7-11). Para que se ache algo é
preciso esforço procurando, se nada fizermos, nada acontece. Na questão 674 do
L.E. vemos na resposta: “O trabalho constitui uma necessidade”. Assim vemos que
não são aceitas atitudes contemplativas, mas ações concretas. É preciso sair a
campo, tentar, errar, falhar, mas atuar, quem atua, mesmo que erre muito,
consegue mais do que quem não faz nada, este pode não cometer erros, mas também
não obtém vitórias. Deus premia apenas aquele que faz por merecer.

Recomenda Jesus: “Pedí e obtereis” (Marcos XI:24). Jesus falava aqui do valor
da prece, da oração para Deus, mas é preciso saber pedir. No L.E., pergunta 660
temos a resposta: “O essencial não é orar muito, mas orar bem”, orar com justiça
e sinceridade, sabendo pedir, não absurdos ou coisas materiais, mas forças para
superar as provas e problemas da vida.

Sobre o aprimoramento pessoal, Jesus disse: “Sede perfeitos” (Mateus V:48).
Jesus dizia-nos que deveríamos procurar a perfeição, tendo como objetivo
principal alcançar a Deus e estar a seu lado. No E.S.E., Cap. XVII item 3 temos
aquela que considero a mais bela passagem de toda a codificação, onde se
descreve ali os caracteres do homem de bem. Por esta descrição vemos que ele
está sempre à procura da perfeição, como ordenou Jesus.

Conclusão

Cristianismo e Espiritismo são uma coisa só. O primeiro veio trazer a base da
moral dos homens, o segundo veio explicar como usar esta moral para se aprimorar
e ser melhor. Muito há para aprender. Ainda hoje discutimos essa moral, tentando
entende-la. No fundo, devemos ter sempre em mente o exemplo de vida de Jesus,
que não apenas falava, mas fazia, mostrava. Procuremos seguir seus passos e suas
palavras, tornando-nos mais cristãos, contando com todo o apoio do Espiritismo.

Exemplo de transparência em preto e branco.

EvangelhoEspiritismo
Mateus XXII:34-40 – Amarás a teu DeusL.E. 1 – Deus é causa primária
João III:1-12 – Nascer de novoL.E. 23/29 – Princípio Inteligente
João XVIII:33-37 – Meu reino não é desse mundoL.E. 149/153 – O espírito evolui para alcançar
a perfeição
Lucas XII:47-48 – A cada um segundo suas obrasL.E. Cap. 2 Livro 4 – Penas e gozos futuros,
ação e reação
Mateus VI:33 – Buscai o reino de DeusL.E. Cap. 12 Livro 3 – Reforma íntima
Mateus VII:7-11 – Buscai e achareisL.E. 674 – O trabalho é uma necessidade
Marcos XI:24 – Pedí e obtereisL.E. 660 – O essencial não é orar muito, mas
orar bem
Mateus V:48 – Sede perfeitosE.S.E. Cap. XVII-3 – Caracteres do homem de bem

Transparência para Impressora Jato de Tinta Colorida

 

Evangelho

 

Espiritismo

Mateus XXII:34-40 – Amarás a teu
Deus
L.E. 1 – Deus é causa primária
João III:1-12 – Nascer de novo
L.E. 23/29 – Princípio Inteligente
João XVIII:33-37 – Meu reino não é
desse mundo
L.E. 149/153 – O espírito evolui
para alcançar a perfeição
Lucas XII:47-48 – A cada um segundo
suas obras
L.E. Cap. 2 Livro 4 – Penas e gozos
futuros, ação e reação
Mateus VI:33 – Buscai o reino de
Deus
L.E. Cap. 12 Livro 3 – Reforma
íntima
Mateus VII:7-11 – Buscai e achareis
L.E. 674 – O trabalho é uma
necessidade
Marcos XI:24 – Pedí e obtereis
L.E. 660 – O essencial não é orar
muito, mas orar bem
Mateus V:48 – Sede perfeitos
E.S.E. Cap. XVII-3 – Caracteres do
homem de bem