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Qual é o melhor jeito de se expressar?

Qual é o melhor jeito de se expressar?

O conteúdo é o principal aspecto do ensaio. Mas se reconhecemos que o texto traduz a intenção de seu autor, então concluímos que a linguagem é o mais importante. Uma das qualidades do ensaio e de qualquer texto conceitual é a de que seja objetivo, traga dados e informações corretas, que seja bem fundamentado etc. Além dessas condições, existem outros fatores, por exemplo, o modo como essas idéias objetivas são organizadas, as técnicas utilizadas para isso, as opções do autor ou suas preferências.

Ou seja, há algo de “pessoal” no texto. A junção do que é pessoal e do que é objetivo é o que caracteriza, no texto, o que chamamos linguagem. Se no texto final o predominante é o caráter objetivo, temos a linguagem conceitual. Se o que predomina é o caráter subjetivo, temos a linguagem poética. Seja qual for, ela é a própria essência do ato de redigir, já que é através dela que se confirma a relação autor/leitor.

1. Conceitual
A linguagem conceitual possui características bastante definidas, que levam o leitor a ter frente ao texto uma postura que exige:

Objetividade.
Compreensão denotativa (no sentido normal, não interpretativo) da mensagem.
Utilização do raciocínio ou de uma postura racional.
Compreensão da realidade, partindo do geral para o particular.
Abstração da realidade, pois todo conceito é abstrato.

2. A personalidade da linguagem
Por mais conceitual que seja a linguagem, ela sempre será pessoal. Aliás, a questão principal da linguagem conceitual não é a quantidade de elementos subjetivos do texto. Essa condição vai depender muito da função que o texto tem — e, portanto, do leitor a que se destina.

“Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público
com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de
apreço ao Sr. diretor

Estou farto do lirismo que pára e
vai averiguar no dicionário o cunho
vernáculo de um vocábulo

Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo
os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo
as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo
os inumeráveis …”

Manuel Bandeira, trecho do poema “Poética”, in Libertinagem

A linguagem poética e subjetiva dá o tom na poesia de Manuel Bandeira

3. Autoria
A linguagem é conseqüência de um ato intencional do autor. Por mais objetiva que ela seja, temos de entender que a subjetividade do autor simplesmente não pára de funcionar no momento em que ele começa a escrever. É necessário aceitar esse fato, inclusive para que o excesso de subjetividade não prejudique a comunicação com o leitor.

A objetividade absoluta não existe. Quando ela predomina no texto, é porque o autor em geral fez um grande esforço para controlar sua subjetividade.
A reforma do ensino básico

A reforma educacional que o Brasil requer para sobreviver e se afirmar no próximo século como nação próspera, soberana e, sobretudo, justa socialmente exige mudança nos rumos da evolução de nosso sistema educacional em duas direções principais. De um lado, precisamos assegurar educação básica de qualidade para todos. Isso significa garantir que todas as nossas crianças concluam o primeiro grau e todos os jovens concluam o segundo. De outro, precisamos também ampliar substancialmente as ofertas de oportunidades de profissionalização para jovens e adultos, nos níveis secundário, pós-secundário e superior de ensino.
É nesse contexto que se insere a reforma do ensino técnico, que já está em marcha. O País necessita de um sistema de ensino técnico amplo, diversificado e ágil para oferecer alternativas concretas e atraentes de profissionalização a nossos jovens.”

Trecho de artigo do ministro da Educação, Paulo Renato Sousa, publicado no jornal O Estado de S.Paulode 17 de abril de 1997

No texto do ministro da Educação , de caráter objetivo, predomina a linguagem conceitual

4. A intuição do leitor
No caso do leitor, mesmo quando ele é suficientemente determinado, sempre há um lado intuitivo a ser considerado.

4a. A posição do redator
Pense, por exemplo, em dois redatores de jornal. Eles têm de redigir um texto objetivo, seguindo as normas do veículo para o qual trabalham e ainda contam com algumas garantias:

Consciência de um leitor médio, que é normalmente aferida por pesquisas.
Domínio de técnicas de redação do texto jornalístico.
Conteúdo da notícia.
Presença do revisor do texto (quando existe), das chefias de redação e da direção do jornal.
Tamanho predeterminado da matéria.

Se os dois redatores escrevem textos sobre o mesmo assunto, nenhuma das reportagens será idêntica. Haverá semelhanças, mas a presença da subjetividade ditará as diferenças.

5. Faça isso, não faça aquilo
Pensar em linguagem nos leva a considerar a pessoalidade do texto. Por isso devemos encarar com cautela orientações rígidas do tipo “faça isso, não faça aquilo”. O autor deve saber o que é melhor para seu texto. Ninguém precisa dizer a uma secretária, por exemplo, que ela jamais deve iniciar uma carta da seguinte forma: “Olha, Dr. Fulano, o meu chefe mandou dizer pro senhor que ele está encaminhando aquele negócio que o senhor tratou com ele”. A secretária sabe a linguagem que deve ter a correspondência — ou pelo menos deveria saber.

6. Bom senso
A opção por um ou outro tipo de linguagem exige bom senso do redator, que deve exercitar essa capacidade.

6a. Repense o lugar-comum
O excesso de chavões, clichês, lugares-comuns, frases feitas — e outros tantos nomes que se dão a essa atitude — em grande parte dos casos é fruto da insegurança de quem escreve. Sem saber se vai acertar, o redator prefere repetir frases chatas a criar outras formas mais interessantes.

Somente em algumas situações muito especiais os chavões e os
lugares-comuns podem ser usados de modo crítico e interessante.

Também nesses casos, só o bom senso do autor pode definir quando o chavão tem valor e quando ele é simplesmente uma limitação da expressividade.

7. Sempre pensando no leitor
Não importa se se escreve espontaneamente ou para cumprir uma tarefa. Qualquer texto — do poema ao relatório, do romance ao memorando — deve sempre levar em conta a necessidade de comunicação com um ou mais leitores. Essa necessidade, se assumida como tal, vai gerar uma outra, a de expressar-se adequadamente.

Quem redige recorre a técnicas e recursos para conquistar o interesse do leitor. Sem isso, o texto perde seu valor.

7a. Hora de escolher
Na hora de escrever, podemos ter duas atitudes: apoiarmo-nos no lugar-comum ou buscarmos a linguagem expressiva. Às vezes, quando temos muitas opções, ficamos confusos. Mas, se somos críticos e confiamos um pouco em nossa criatividade, vamos, no mínimo, optar por um texto vivo. As soluções mais adequadas só podem ser encontradas por quem escreve. Elas são marcas tão pessoais quanto uma assinatura.

Glossário

Aferido: estimulado, conferido, medido, avaliado.
Revisor: profissional que revê ou corrige um texto.

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