Vanda Simões
Introdução
A aproximação do fim do milênio tem gerado na humanidade reações as mais diversas, nos últimos tempos. São interpretações que variam de grande desdém ao fato, ao extremo de considerar que o mundo será destruído fisicamente pelas catástrofes. A Doutrina Espírita, no entanto, nos mostra outro caminho: o da racionalidade. Fundamentada inteiramente na moral do Cristo, prega a reformulação dos princípios básicos do ser imortal, que faz suas conquistas através da oportunidade reencarnatória e compreende em plenitude as conseqüências da lei de Deus. O Espiritismo bem compreendido tem como conseqüência a melhoria inevitável da criatura, desenvolvendo no homem a necessidade de construir um mundo melhor, mais justo e de menos sofrimento. Esse é o mundo do terceiro milênio. Até chegar a ele, porém, a humanidade percorreu um longo caminho, e ainda percorrerá longa estrada até chegar à compreensão plena dos mecanismos da Criação. O homem do terceiro milênio é um homem liberto das amarras da ignorância e sabedor da profundidade e importância da Lei de Deus.
As três revelações de Deus aos homens
- Moisés
- Jesus
- A Doutrina Espírita
a) Moisés
Moisés foi o homem escolhido por Deus para semear entre os primitivos a lei de todos os tempos e de todos os povos. Estruturou-a em Dez Mandamentos, resumindo os deveres que fariam das criaturas, homens de bem. Ao lado disso, porém, estabeleceu leis disciplinares que pudessem deter uma comunidade de homens primitivos dentro de um sentido mínimo de convivência. Há, portanto, que se separar o que é divino (Lei de Deus) do que é humano (lei disciplinar) na obra desse legislador hebreu. A grande missão dele foi preparar o terreno para que mais tarde Jesus pudesse semear a mensagem da fraternidade universal. Recebeu, portanto, a Primeira Revelação de Deus aos homens.
“Os mandamentos de Deus, dados por Moisés, trazem o germe da mais ampla moral cristã. Os comentários da Bíblia reduziam-lhes o sentido, porque, postos em ação em toda a sua pureza, não seriam então compreendidos. Mas os Dez Mandamentos nem por isso deixaram de ser o brilhante frontispício da obra com um farol que devia iluminar para a humanidade o caminho a percorrer” – (Um Espírito Israelita, Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap.1, 9).
Lei disciplinar:
Os cinco livros de Moisés – Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
Lei divina:
Os Dez Mandamentos
- Eu sou o Senhor teu Deus. Não terás deuses estrangeiros diante de mim. Não farás para ti imagens de escultura, nem figura alguma de tudo o que há em cima no céu, e do que há embaixo na terra, nem de coisa que haja nas águas debaixo da terra. Não adorarás, nem lhes darás culto.
- Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão.
- Lembra-te de santificar o dia de Sábado.
- Honrarás a teu pai e a tua mãe.
- Não matarás.
- Não cometerás adultério.
- Não furtarás.
- Não dirás falso testemunho contra teu próximo.
- Não desejarás a mulher do próximo.
- Não cobiçarás a casa do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem outra coisa alguma que lhe pertença.
“Esta lei é de todos os tempos e de todos os países, e tem, por isso mesmo, um caráter divino” – (Allan Kardec, Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap.1, 2).
b) Cristo
Desenvolvimento da lei de Deus revelada por Moisés, portanto a Segunda Revelação.
- Veio apropriá-la ao grau de adiantamento dos homens.
- Base fundamental: deveres do homem para com Deus e para com o próximo.
- Missão de caráter divino, dada a grandeza de sua tarefa e a magnitude de sua natureza espiritual.
- Sentido oculto de certas palavras seriam desvendados mais tarde, com o avanço do conhecimento do homem, ou seja, com o homem em melhores condições intelectuais.
- Era necessário aguardar o amadurecimento do espírito humano e junto com ele o avanço da ciência.
A lei revelada por Jesus, assim se resumia: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”- (Mateus 22; 34 – 40).
Assim manifestou-se o Cristo, a respeito do futuro da humanidade: “O céu e a terra não passarão, enquanto não se cumprir até o último jota” – (Mateus 5; 17-18). Significa dizer que a lei de Deus terá de ser praticada sobre toda a humanidade, com toda a sua pureza, com todas as suas conseqüências.
c) Espiritismo
A Doutrina Espírita foi a Terceira Revelação de Deus aos homens.
- Existência e natureza do mundo espiritual e suas relações com o mundo material.
- Desenvolve, completa e explica o que foi dito de forma alegórica por Jesus.
- Dá um sentido à vida e explicação lógica ao sofrimento e dificuldades vivenciadas pelas criaturas.
- Abre um vasto campo de possibilidades de crescimento e dá ao homem a definitiva certeza de sua imortalidade e universalidade.
O Espiritismo: “Ele é portanto obra do Cristo, que o preside, assim como preside ao que igualmente anunciou: a regeneração que se opera e que prepara o Reino de Deus sobre a terra” – (Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 1, 7).
O Ponto de Vista
Postura atual (niilista)
A idéia de que a vida se resume entre o nascer e o morrer tem sido a grande razão pela qual a humanidade se mantém no atraso moral. A dúvida sobre o futuro faz com o que o homem concentre seus pensamentos apenas na vida terrena. Sem idéia do porvir, dedica-se inteiramente ao presente, depositando sobre ele todas as suas esperanças de felicidade. Considera os bens terrenos muito preciosos e sua perda causa-lhe pungente dor e sofrimento. A idéia da nulidade é o mais grave engano da humanidade, o que leva o homem a posturas de extremo egoísmo que tem caracterizado o comportamento em todos os tempos. Com esse pensamento, o homem elaborou seu alicerce em valores transitórios, dando à vida uma importância calcada unicamente na aquisição de riquezas materiais, único bem a que se dispõe adquirir. Tivesse a idéia da conseqüência danosa desse pensamento para a sociedade e para a edificação de seu Espírito imortal, trataria de rever urgentemente seu ponto de vista. Sem perspectivas de futuro (para o Espírito) todas as suas lutas resumem-se em superar o outro, em contraponto com o verdadeiro objetivo da vida, que é a superação de si mesmo. Como a idéia da vida futura lhe é vaga, e às vezes resume-se apenas a frágeis concepções religiosas ou filosóficas, trata de suprir apenas o presente, esbaldando-se em esforços nas conquistas da matéria, única coisa real e justificável em sua ótica niilista.
Postura futura (imortalista)
No dizer de Allan Kardec, o homem que vê a vida terrena sob o ponto de vista da vida futura é como aquele que vê uma floresta do alto de uma montanha: tem idéia da universalidade do conjunto onde está inserido; grandes e pequenos se confundem; compreende que operários e poderosos têm o mesmo valor diante de Deus e cada um cumpre com suas responsabilidades assumidas diante da vida e que tudo será feito conforme as necessidades de cada ser.
O homem que assim entende, não se desespera com o sofrimento, pois dá ao presente uma importância relativa, tendo a convicção da transitoriedade de suas experiências. A idéia da imortalidade e a certeza do futuro o faz antever uma paz e felicidades que não encontra nas coisas materiais.
O Espiritismo dá ao homem essa amplitude de pensamento, abrindo-lhe um interminável horizonte de conhecimento. A compreensão das leis de Deus o faz assimilar que na verdade tem apenas uma liberdade relativa ao seu grau de entendimento e que só será realmente livre quando estiver de posse de sua pureza espiritual, na morada dos justos.
O ponto de vista imortalista dará à humanidade uma nova postura diante da vida, pois certamente o homem trabalhará suas potencialidade tendo em vista o futuro eterno e não o presente transitório.
“Ele (o Espiritismo) nos mostra que esta vida é um simples elo do conjunto harmonioso e grandioso da obra do Criador e revela a solidariedade que liga todas as existências de um mesmo ser, todos os seres de um mesmo mundo, e os seres de todos os mundos” – (Allan Kardec, Cap. 2, 7).
Reencarnação
“E havia um homem dentre os Fariseus, por nome Nicodemos, senador dos Judeus. Este, uma noite, veio buscar a Jesus e disse-lhe: Rabi, sabemos que és mestre, vindo da parte de Deus, porque ninguém faz estes milagres que tu fazes se Deus não estiver com ele. Jesus respondeu e lhe disse: Na verdade, na verdade te digo que não pode ver o Reino de Deus, senão aquele que nascer de novo. Nicodemos lhe disse: Como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura pode entrar no ventre de sua mãe e nascer outra vez? Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade te digo que quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. O que é nascido da carne é carne e o que é nascido do Espírito é Espírito. Não te maravilhes de eu te dizer que importa-vos nascer de novo. O Espírito sopra onde quer e tu ouves a sua voz, mas não sabes de onde ele vem, nem para onde vai. Assim é todo aquele que é nascido do Espírito. Perguntou Nicodemos: Como se pode fazer isto? Respondeu Jesus: Tu és mestre em Israel e não sabes estas coisas? Em verdade, em verdade te digo, que nós dizemos o que sabemos e damos testemunho do que vimos, e vós, com tudo isso, não recebeis o nosso testemunho. Se quando eu vos falo das coisas terrenas, ainda assim não me credes, como creríeis se eu vos falasse das celestiais?” – ( João, III: 1-12).
Lei Natural
A reencarnação é uma condição absolutamente necessária para se compreender o movimento do mundo e dos seres que nele habitam. Sem ela não há como entrar no entendimento pleno da lei de Deus. A justiça divina fica incompreendida e, nesse caso, o homem tem dois caminhos: ou nutre uma fé cega ou entra pelas trilhas dolorosas da descrença que leva inexoravelmente à revolta contra Deus. Como a fé cega não pode mais ser possível num mundo de tanto avanço intelectual, a humanidade deverá procurar compreender à luz da razão, as causas de seus sofrimentos. Apenas a reencarnação pode explicar as aparentes anomalias existentes no mundo, fruto certamente das imperfeições do Espírito. A reencarnação é, portanto, uma lei natural que dá a chave para todas as outras leis, colocando um sentido racional à mensagem divina trazida pelo Cristo aos homens.
“Sem esse princípio da preexistência da alma e da pluralidade das existências a maior parte das máximas do Evangelho são ininteligíveis” – (Allan Kardec, Cap. 4, 17).
Combate sistemático ao niilismo
A reencarnação justifica todas as anomalias e aparentes injustiças da vida. Coloca o rico na mesma situação do pobre, o poderoso no mesmo nível do subordinado, o orgulhoso em situação de humilhação, para que possam as criaturas caminhar nas diversas experiências que comporão o patrimônio daquele que um dia será justo e bom.
Entretanto, a aceitação da idéia reencarnacionista pelos homens é difícil, porque ela combate sistematicamente o niilismo e põe por terra todo o edifício onde se sustenta o materialismo, ou seja, o espírito do mundo. A sociedade se sustenta em cima do que é transitório, acumulando apenas para si os bens que julgam ser os mais importantes. Aceitar a idéia da reencarnação é admitir e lei de amor do Criador para com Suas criaturas e isso implica em rever atos, posturas, leis, distribuição de riquezas, prioridades e valores. O mundo não aceitará tal fato com tanta naturalidade, a não ser que seja mostrado de uma outra forma que a evolução do planeta é uma necessidade e faz parte de um plano d’Aquele que a tudo criou.
Causas das aflições
Atuais (ignorância e provas)
Conseqüência natural do caráter e da conduta daqueles que sofrem os reveses.
Vítimas da imprevidência, orgulho, ambição
- Falta de ordem individual e coletiva, perseverança, mau comportamento, desejos ilimitados.
- Uniões infelizes, por interesses, vaidade, egoísmo ou orgulho.
- Doenças e mutilações, efeitos da intemperança e excessos de toda ordem.
- Pais infelizes, que não combateram as más tendências dos filhos desde o princípio; afligem-se com os desequilíbrios que geralmente surgem na idade da contestação.
Relativas ao passado (expiações)
Sempre são conseqüência natural das faltas cometidas, só que em experiências pregressas.
- Anomalias da distribuição de riquezas, da condição de felicidade, desgraça, dos sofrimentos etc. Problemas apenas aparente, visto quando se encara os problemas sob o ponto de vista da vida presente, mas quando se eleva a compreensão de maneira a abranger a plenitude da Criação, compreende-se que a todos é dado conforme a justiça de Deus. O homem só é retido num mundo inferior pelas suas imperfeições.
- Imposição aos Espíritos endurecidos ou demasiado ignorantes, sem condições de fazerem uma escolha consciente – são ao mesmo tempo expiações do passado, que castigam, e provas para o futuro que preparam.
As cinco categorias de mundos
- Mundos primitivos: onde se verificam as primeiras encarnações da alma humana
- Mundos de expiação e de provas: onde o mal predomina e se expiam faltas
- Mundos regeneradores: onde o bem predomina sobre a ignorância e as leis sociais são mais justas.
- Mundos felizes: estado superior de adiantamento, mas ainda não atingiu o estado de pureza
- Mundos celestes ou divinos: morada dos Espíritos purificados
A vida nos mundos de regeneração
Metas da sociedade
- Leis mais justas
- Crescimento individual e coletivo
- Desenvolvimento do verdadeiro sentimento de fraternidade
- Experiências provacionais em busca do aperfeiçoamento do Espírito
Situação das religiões
- Núcleos com sentido mais verdadeiro de prática cristã.
- Várias vertentes, de acordo com o grau de entendimento do Espírito.
- Sentimento de respeito entre os grupos, sem a intolerância que caracteriza os mundos de atraso.
- Tendência a se desfazer de dogmas, na medida em que os Espíritos se conscientizam da Verdade.
Perspectivas de um mundo melhor
A Doutrina Espírita, com sua racionalidade, nos dá uma real esperança de um futuro melhor, desde que esclarece que a lei natural da reencarnação vem a tudo explicar, dando à vida terrena um sentido e objetivo justos e úteis para o Espírito. À medida que o homem entra nesse entendimento, realiza dentro de si uma viagem sem volta rumo à iluminação interior, um caminho sem atalhos, uma trilha de esclarecimento definitivo para sua libertação. O mundo será melhor porque os homens serão melhores. Os maus e empedernidos estarão em outra experiências, em planos que se ajustem mais às suas necessidades. Dentro dessa ótica, pode-se vislumbrar um mundo mais justo para o nosso planeta, num tempo que, segundo Jesus, só o Pai o sabe.
Vida moral no III Milênio
- Consciência crítica e participativa
- Educação intelectual, moral e filosófica
- Reestruturação da Família
- Distribuição justa de rendas
- A Caridade, como regra de conduta
- O Papel do Espiritismo
“O verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a lei de justiça, de amor e caridade, na sua maior pureza. Se interroga a sua consciência sobre os próprios atos, pergunta se não violou essa lei, se não cometeu o mal, se fez todo o bem que podia, se não deixou escapar voluntariamente uma ocasião de ser útil, se ninguém tem do que se queixar dele, enfim, se fez aos outros tudo aquilo que gostaria que os outros fizessem a ele” – (Allan Kardec, Cap. 12, 3).
O homem do planeta de regeneração já terá mais condições de maturidade e conseqüente noção das responsabilidades que lhe compete como Espírito imortal. Terá, portanto, uma ação mais atuante na sociedade da qual faz parte, contribuindo verdadeiramente para a formação de uma estrutura mais sólida e justa.
A consciência crítica se desenvolve à medida em que o Espírito amadurece. Sua participação no processo de progresso do orbe é, assim, mais efetiva e visa sempre um bem comum, desde que já compreende a situação de agente modificador do ambiente terreno.
A educação intelectual, moral e filosófica estará como prioridade e necessidade premente no homem do terceiro milênio. Esse será seu principal objetivo, obviamente não de maneira unificacionista, considerando as diferenças evolutivas de cada um. Entretanto, o pensar de cada ser deverá obedecer o sentido único da lei de fraternidade, que fará com que os esforços de melhoria sejam convergentes.
A família será, como sempre foi, a célula de equilíbrio da sociedade. O processo educativo será encarado de maneira mais séria e cuidadosa pela sociedade, que sabe ser ali o laboratório real do Espírito no preparo para o embate de suas provas. Por conta do estado de compreensão dos Espíritos, já adquirido nas experiências pregressas, o processo da educação será mais fácil de ser implantado e sem conflitos, pois a docilidade e a obediência às leis, tanto humanas, quanto divinas, serão naturalmente absorvidas, sem ter as características comportamentais da estrutura familiar de hoje. Sendo mais maduros, os Espíritos assimilarão com mais facilidade as lições de solidariedade, igualdade e fraternidade.
Sem dúvida, sendo a sociedade composta por Espíritos mais preparados e iniciados na compreensão das leis de Deus, tratarão de desenvolver sistemas sociais mais justos. A conduta será pautada no sentido de fazer aos outros aquilo que é bom para si. Portanto, gradativamente desaparecerão do planeta as grandes diferenças sociais e as injustiças não terão mais razão de ser, pela compreensão da lei de amor. Os povos serão solidários uns com os outros e os que têm muito dividirão com os que têm menos, na razão direta da equidade necessária ao bom funcionamento da vida.
A Caridade como regra de conduta
“Se eu falar a língua dos homens e dos anjos e não tiver caridade, sou como o metal que soa, ou como o sino que tine. E se eu tiver o dom de profecia e conhecer todos os mistérios e tudo quanto se pode saber; e se tiver toda a fé até ao ponto de transportar montanhas, e não tiver caridade, não sou nada. E se eu distribuir todos os meus bens em o sustento dos pobres, e se entregar o meu corpo para ser queimado, se todavia não tiver caridade, nada disso me aproveita. A caridade é paciente, é benigna; a caridade não é invejosa, não obra temerária nem precipitadamente, não se ensoberbece, não é ambiciosa, não busca seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo sofre. A caridade nunca há de acabar, ou deixem de ter lugar as profecias, ou cessem as línguas, ou seja a abolida a ciência” – (Paulo, I Coríntios, 13: 1 – 7).
Atributos da caridade, segundo Paulo:
- É paciente
- É benigna
- Não tem inveja
- Não tem medo, nem se precipita
- Não se ensoberbece
- Não é ambiciosa
- Não busca seus próprios interesses
- Não se irrita
- Não suspeita mal
- Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade
- Tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo sofre.
Neste texto, Paulo aborda o verdadeiro sentido da caridade. Trata a questão de forma profunda, ampla e inquestionável. Fala de uma caridade diferente da que normalmente se conhece. É o amor em sua mais sublime expressão. É este o entendimento que terá o homem do terceiro milênio.
Quando Allan Kardec perguntou aos Espíritos superiores qual o verdadeiro sentido da caridade, conforme ensinou Jesus, eles responderam: benevolência para com todos, indulgência para com as faltas alheias e perdão das ofensas! Em outras palavras, amai-vos uns aos outros, ensinamento onde está assentada toda a base de Sua doutrina.
Paulo, compreendendo toda a plenitude da mensagem de Jesus, escreveu com sabedoria sobre a caridade, entendendo que essa é a virtude maior, uma vez que traz em sua essência todas as outras embutidas. Colocou a caridade como condição essencial para se alcançar a perfeição, quando enfatiza que ela está acima até mesmo da fé. Certamente não falava para os homens de então, completamente carentes de compreensão das coisas do Espírito.
O homem do futuro compreenderá toda a grandeza do ensinamento de Paulo, pois já terá condições de emanar de si o sentimento de amor que nivela as criaturas como filhos do mesmo Pai. Fará o bem pelo bem, pois será uma condição inerente ao seu Espírito. Estará apenas exteriorizando o que tem dentro de si, sem grandes esforços e sacrifícios como ainda costuma fazer hoje. Comportar-se-á como um verdadeiro cristão, tal qual instrui Martinho Lutero em sua fala: “Contudo, se quiseres dar algo, orar ou jejuar, aconselho-te a não fazê-lo achando que é para o teu bem, mas age com desinteresse, para que os outros possam desfrutar disso; faze-o em benefício deles e serás assim um verdadeiro cristão”.
O papel do Espiritismo
O Espiritismo tem preponderante papel nesse processo. Deverá oferecer aos homens as ferramentas para a compreensão das leis de Deus. Ou seja, dar aos homens as condições de entendimento a fim de que possa promover a paz pessoal e coletiva. Os centros espíritas poderão ser estruturados de forma a ensinar a conduta cristã aos homens, que a absorverão com facilidade e rapidez. Serão, no mundo de regeneração, o que deveriam ser hoje, ou seja, núcleos equilibrados onde o homem possa abastecer-se da mensagem de Deus, sem os fanatismos, sem fantasias e idolatrias de vivos, próprios de mundos atrasados. Templo e escola, oferecendo os saberes humano e divino. O Espiritismo oferece um vasto horizonte de crescimento, explicando ao homem sua origem e a origem de seus males. Através da compreensão de seus princípios de reencarnação e da lei de causa de efeito, a humanidade poderá mudar seu ponto de vista e assim melhorar suas condições de vida terrena.
Conclusão
O planeta vive dias de muita insegurança e confusão. Tendo centrado suas prioridades em cima de valores perecíveis, vê-se agora em situação de sofrimento, sem a devida compreensão do que necessita para sanar suas deficiências. Desconhecendo a lei que rege os princípios de evolução do ser imortal, caminha com poucas possibilidades de crescimento espiritual. Basta ver as condições de desarmonia existente no planeta atualmente. E o que se vê não é só por causa da rapidez dos meios de comunicação, ou porque o bem não dá audiência, como querem fazer crer os extremados otimistas de plantão. Também não é essa catástrofe terrena como pregam os apóstolos da desgraça. Olhando com olhos de ver, pode-se bem compreender a realidade das coisas, à luz da Doutrina dos Espíritos. A idéia do nada, excita no homem o orgulho e egoísmo, grandes chagas da humanidade, que o faz agir de forma a agredir um igual, seja diretamente através das guerras por disputas insanas, seja indiretamente por promover leis injustas e uma sociedade desigual, covarde, egoísta, estúpida e desumana. O panorama mundial mostra um mundo carente de Deus, necessitado da compreensão da imortalidade, que leva irremediavelmente ao entendimento pleno da universalidade do Espírito, como um ser cósmico, pleno e eterno. Enquanto não chegar a esse nível o homem terá de sofrer os reveses de sua semeadura.
O Espiritismo, doutrina de esclarecimento, é o instrumento trazido ao mundo para a compreensão dessa nova ordem de coisas. Bem compreendido, terá como conseqüência a construção de um novo mundo, habitado por todos os que trazem em si a compreensão do que é ser um Homem de Bem.
“As palavras de Jesus são eternas porque são a verdade. Não são somente a salvaguarda da vida celeste, mas também o penhor da paz, da tranqüilidade e da estabilidade do homem entre as coisas da vida terrena. Eis por que todas as instituições humanas, políticas, sociais e religiosas, que se apoiarem nas suas palavras, serão estáveis como a casa construída sobre a pedra”- (Allan Kardec, Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 13, 9).