Depois da prece inicial costumeira, o professor Giordano explicou que o assunto
daquela noite: demônios, diabo, satanás, satã e lúcifer, era um dos mais importantes
de todas as religiões, pois são comuns as interpretações erradas e supersticiosas
sobre o assunto. Deus é visto como sendo, entre outras coisas, o princípio do bem.
E já que no Universo tudo tem o seu pólo oposto, que não significa necessariamente
inimigo, o ser humano logo imaginou que esse pólo oposto de Deus ou do bem tinha
também que existir. Mas lhe deu o sentido de adversário ou de inimigo de Deus, denominando-o
de mal. E como há espíritos maus, não deu outra. Foram eles identificados com o
mal, o oposto de bem, de Deus. E, assim, surgiu a idéia de demônios, que de fato
existem, mas não como a maioria das pessoas os vê.
O mal, em princípio, não existe como tal, pois, na verdade, é a ausência do bem,
como o definiu Santo Agostinho. Por exemplo: a doença é um mal, ou seja, a ausência
da saúde. Mas as pessoas deram tanto valor ao princípio do mal, que acabaram por
endeusar os espíritos representantes do mal, chamando-os mesmo de deuses. E, se
Deus propriamente dito é um só e único, criaram também em algumas culturas religiosas,
como o Cristianismo, o chefe único dos espíritos do mal, ao qual foi dado o nome
de Lúcifer e, às vezes, Belzebu (deus das moscas). Mas, na verdade, os espíritos
maus nada mais são do que espíritos humanos atrasados, como os anjos, também, nada
mais são do que espíritos humanos evoluídos. Destarte, aquela história de que uns
anjos se rebelaram contra Deus é mitológica, pois um anjo é um espírito altamente
iluminado, jamais, pois, se rebelaria contra Deus. Essa história é mais uma analogia
que se criou com os espíritos do alegórico primeiro casal humano, representado por
Adão e Eva, que se rebelaram também contra Deus. Segundo o grande sábio e biblista
francês, padre François Brune, representante do Vaticano para Transcomunicação (contato
com os mortos via eletrônica), no seu livro Os Mortos Nos Falam, Editora EDICEL,
quando a Bíblia fala em anjos, ela está referindo-se a espíritos de luz de pessoas
falecidas.
E é oportuno lembrarmo-nos aqui de que a própria Bíblia, ao referir-se aos espíritos
humanos desencarnados, costuma chamá-los de deuses (1 Samuel 28,13). E os espíritos
que se manifestavam fora da Bíblia eram chamados também por ela de deuses, ou mais
precisamente, de deuses pagãos, por exemplo: Baal, que, na verdade, é também um
espírito humano atrasado, como são, igualmente, espíritos humanos atrasados todos
aqueles outros espíritos chamados de deuses pagãos. E é ainda oportuno lembrarmo-nos
também do que disse santo Agostinho em seu livro De Cura Pro Mortuis (Tratado dos
Mortos): Os espíritos iluminados de pessoas falecidas podem trazer conhecimentos
para nós deles mesmos e de outros espíritos superiores a eles, e até de Deus. E,
realmente, esse santo da Igreja deixou-nos um exemplo disso, pois, em seu livro
Confissões, ele diz que se comunicou com santa Mônica, sua mãe, já desencarnada.
Aliás, todos os santos da Igreja, com os quais os católicos se comunicam, implorando-lhes
auxílio para a solução de seus problemas, são espíritos de pessoas falecidas, já
que com os cadáveres dos santos é impossível qualquer tipo de comunicação.
Jussara, o pastor Barsanulfo e as cinco pessoas visitantes daquela noite estavam
atentos a tudo o que dizia o professor Giordano. E o pastor, como sempre, parecia
muito acabrunhado com tudo aquilo que ouvia. E quis fazer uma pergunta:
– Mas a Bíblia, professor, não explica isso do jeito que você está falando.
Ao que o professor Giordano respondeu:
– De fato, a Bíblia não explica isso. Mas ela não explica quase nada da cultura
geral dos povos. E, inclusive, São João diz no fim de seu Evangelho que, se fosse
falar tudo sobre as verdades da Doutrina de Cristo, nem os livros do mundo todo
comportariam o que ele tinha para escrever.
E o professor Giordano voltou à sua fala afirmando que a palavra Lúcifer vinha
do Grego eosforos (porta-luz) e do Latim lucis (luz) e ferre (transportar), portanto,
significando também porta-luz, ou seja, figuradamente, a inteligência. Lúcifer significa,
igualmente, de modo figurado, a aurora, que prenuncia o Sol nascente. E também serpente
tem a conotação de inteligência. Daí a serpente que tentou Eva e Adão. E essa conotação
de inteligência da palavra serpente está em todas as culturas, inclusive na Bíblia.
Por isso Jesus disse: Sede vós prudentes como as serpentes e mansos como as pombas.
A psicóloga Jussara levantou a mão e disse:
– Muito interessante, professor, esse assunto. Confesso que estou adorando essa
palestra de hoje, aliás, são muito interessantes todos os assuntos que você aborda
aqui nesse nosso estudo.
Mas o professor Giordano ainda não terminara a sua explanação sobre demônios
e diabos, e tomou novamente a palavra:
– O vocábulo demônio vem do Grego daimon e daimonion, com o plural daimones,
cujo significado é alma (espírito). E a alma pode ser boa ou má. Mas, por influência
do Zoroastrismo e do Maniqueísmo, a palavra demônio, usada mais no plural, demônios,
passou a significar no Cristianismo somente espíritos maus ou impuros, como sendo
o pólo oposto de Deus, o princípio único do bem. O texto bíblico em Grego, quando
se refere a um espírito mau, usa a palavra akarthatos.
Já para designar um espírito bom ou santo, usa estas duas palavras: pneuma hagion
(Espírito Santo). Observe-se que o princípio do mal é representado por espíritos,
no plural, numa analogia com os espíritos pagãos, que eram considerados como sendo
maus, mas que, como vimos, são também espíritos humanos. Isso nos leva a imaginar
que eles pensavam que os espíritos humanos representassem o pólo oposto de Deus,
o que é um absurdo. Diabo, satã, satanás, etc., têm origem no Grego diabolos, ou
seja, adversário. Mas não são espíritos. São coisas internas de nós mesmos e que
obstaculizam a nossa evolução espiritual. Exemplos: orgulho, avareza, inveja, ciúme,
ressentimento, coisas que são contrárias ao nosso Eu Interior, ao nosso Cristo Interno
ou Espírito Santo que habita em nós. Isso levou São Paulo a dizer que nós somos
santuários (templos) do Espírito Santo. Na verdade, como está no original grego,
nós devemos dizer “dum” e não “do” Espírito Santo, pois cada um de nós é um Espírito
Santo encarnado. Vimos que diabo, satã, satanás, lúcifer (inteligência) e serpente
(inteligência) são nossos adversários, mas reitero que não são espíritos, pois são
coisas negativas de nós mesmos (adversárias) ou contrárias ao nosso crescimento
espiritual e moral. Assim é que Jesus tirou demônios ou espíritos impuros das pessoas
possessas. Mas nunca Jesus tirou de ninguém satanás, satã, diabo, lúcifer ou serpente.
Foi uma reunião muito especial essa, já que foi um verdadeiro banho do assunto
sobre espíritos. Por isso todos retornaram muito felizes para as suas casas. E o
professor Giordano estava mais feliz, ainda, pois se sentia muito gratificado com
a alegria e a satisfação do pessoal do grupo de estudo.