Um Convite ao Estudo
Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo” cap. XIV – 7, Allan Kardec ao analisar
a fé, escreve: “À fé é preciso uma base e essa base é a inteligência perfeita daquilo
em que se deve crer; para crer não basta ver, é preciso sobretudo compreender”.
“(…) A fé raciocinada, a que se apóia sobre os fatos e a lógica, não deixa atrás
de si nenhuma obscuridade”.
Desse modo, fé, no entender espírita, se baseia na razão e esta, sem dúvida se
estrutura no estudo que leva a questionar, buscar, desenvolver, compreender apoiada
em fatos, na lógica que não permite atrás de si nenhuma obscuridade.
Na busca desse fortalecimento da fé, é de grande alegria para os espíritas, recordar
que em 15 de janeiro de 1861 Allan Kardec publicava em Paris “O Livro dos Médiuns”
e em 6 de janeiro de 1868 – “A Gênese – os milagres e as predições segundo o Espiritismo”
– fruto, ambos, de maior detalhamento de conteúdos de “O Livro dos Espíritos”, publicado
em 18 de abril de 1857. A parte primeira desse livro “Das Causas Primárias”, Kardec
abre em “A Gênese”. Do livro segundo “Do mundo dos Espíritos” constituir-se-á “O
Livro dos Médiuns”.
Anterior ao “Livro dos Médiuns”, Allan Kardec já havia publicado com o mesmo
objetivo de guiar os médiuns “Instrução prática”. Esgotada, “(…) apesar de a ter
realizado com um fim grave e sério”, conforme explica o autor na Introdução de “O
Livro dos Médiuns”, não a quis reeditar por não considerá-la “bastante completa”
preferindo substituí-la “(…) por uma reunião de dados, fruto de longa experiência
e conscenciosos estudos” visando imprimir “(…) ao Espiritismo caráter sério que
lhe forma a essência”, constituindo-se de uma parte prática para aqueles que já
tivessem estudado a parte filosófica da Ciência Espírita em “O Livro dos Espíritos”.
Ao escrever sobre a importância dessa obra para a Doutrina Espírita, citaremos Martins
Peralva em “Mediunidade e Evolução” – pág. 24: “O Livro dos Médiuns” constitui junto
com os demais livros da Codificação, a base do aprendizado espírita. Na Casa
Espírita deverá estar presente não apenas nas reuniões de estudo sobre mediunidade,
mas fazer parte dos livros de consulta, tanto daqueles responsáveis pelas tarefas
expositivas, como pelos médiuns da casa, pois estudar sempre, dá segurança à caminhada”.
“O Livro dos Médiuns”, no seu estudo, leva a compreender a mecânica da Mediunidade
em seus diferentes aspectos, das manifestações físicas à psicofonia e psicografia.
Liberta das mistificações, do endeusamento dos médiuns. Mostra a faculdade como
inerente ao homem “(…) não se constitui privilégio” onde todos sendo médiuns com
funções específicas leva a maior compreensão de nossa natureza, papel objetivo e
função de cada um no inter-relacionamento entre todos como Espíritos imortais não
importando estejam encarnados ou desencarnados.
Essa compreensão encaminha para perceber o processo da Criação onde “A Gênese”
analisa em detalhes lógicos, coerentes todo um encadeamento que organiza a matéria
dentro de leis naturais. Herculano Pires na Introdução (A Gênese – LAKE Editora)
reflete que “(…) o estudo de “A Gênese” é de importância fundamental para a compreensão
do Espiritismo pois Kardec deixa o campo exclusivamente doutrinário para a faixa
de relações da Ciência revelando de maneira prática as contribuições do Espiritismo
para o desdobramento da nossa cultura”.
Kardec estuda o criacionismo e o evolucionismo mostrando que sem o princípio
espiritual, eterno e estável, origem de mundo e seres careceriam de base lógica
inclusive como objetivos, uma vez que esse existir, não tem finalidade coerente.
A gênese orgânica e espiritual, no entanto, aí estudadas, ressalta perfeito entrosamento
entre o pensamento espírita e a Ciência.
Contando cento e quarenta anos, mantém-se atual, na análise como as intrincadas
questões de espaço e tempo, o Universo físico, estudos específicos sobre criação
e evolução da Terra onde nada do que ali está contido, encontrou contestação ou
desmentido pela Ciência chamada oficial. Além das abordagens científicas há a análise
das curas realizadas por Jesus, dos milagres, do sobrenatural, da impossibilidade
da derrogação das Leis Divinas ou Naturais. Estuda as predições em fundamentos lógicos
para compreensão do futuro da Humanidade. como fecho o fim do mundo, ressurreição
e juízo final são trazidos em análises racionais tão claras que acalmam, consolam,
fortalecem afastando o fanatismo, a cegueira, o medo do desconhecido, o misticismo
levando à “(…) fé raciocinada, que se apóia sobre os fatos e a lógica, e que não
deixa atrás de si nenhuma obscuridade (…)”, levando a certeza de que Deus está
em nós.
Referências bibliográficas:
- Kardec Allan – A Gênese – Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo
– Tradução de Guillon Ribeiro – Edição FEB, Rio de Janeiro 1949. - Kardec Allan – A Gênese – Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo
– Tradução de Sylvia Mele Pereira da Silva – Apresentação de J. Herculano Pires
– LAKE Editora, 1979. - J. Martins Peralva – Mediunidade e Evolução – Edição FEB, Rio de Janeiro 1979.
- Kardec Allan – O Evangelho Segundo o Espiritismo – 144, 1.ª edição, tradução
Salvador Gentile – IDE, 1991. - Natalino D’Olivo – Da Gênese ao Apocalipse, Edição FEESP, 1988.
- J. Herculano Pires – Mediunidade, Edição Paidéia, 1986.
- Dirce Nunes Kablukow – Estudo Dirigido da Gênese, Panorama Comunicações, 2000.
(Jornal Verdade e Luz Nº 182 de Março de 2001)