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Quando Jesus Teria Sido Maior?

Lauro Scheleder

Não se sabe bem quando Jesus teria sido maior:

… se ao nascer em Belém sobre as palhas de u’a manjedoura, com isso iniciando sua incomparável exemplificação da humildade…ou quando no templo, ainda na infância, discutia com os doutores, confundindo-os…

… se ao dizer: “quando trouxer sua oferenda ao altar, e aí se lembrar de que seu irmão tem alguma coisa contra você, deixe ali diante do altar sua oferta, e vá reconciliar-se primeiro com seu irmão, e depois venha e apresente sua oferta”…

Não se sabe bem quando Jesus teria sido maior:

… se ao ensinar: ame seus inimigos, bendiga os que o maldizem; faça o bem aos que o odeiam, e ore pelos que o maltratam e perseguem… ou quando recomenda que, ao darmos uma esmola, cuidemos que não saiba nossa mão esquerda o que fez a direita…

… se ao dizer que, para orar, devemos entrar em nosso aposento e, fechando a porta, dirigir-nos ao nosso Pai que está oculto, pois que Ele, que vê secretamente, nos recompensará… ou quando nos previne a respeito dos falsos profetas, que vêm vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores…

Não se sabe bem quando Jesus teria sido maior:

se ao alertar-nos de que não deveríamos julgar, para não sermos julgados… ou quando indicava sensatamente a medida desse conceito, mencionando que não estávamos impedidos de julgar de acordo com a reta justiça…

… se proferindo coisas que teriam lugar 20 séculos após: “o irmão entregará à morte o irmão, e o pai ao filho; e os filhos se levantarão contra os pais”… ou quando profetizava: “não vim trazer a paz, mas a luta, a divisão, a espada” (o que é paradoxal no protótipo da paz, da mansuetude). É que Ele conhecia a Humanidade e, portanto, sabia de antemão que Sua Doutrina _ pelas diferentes interpretações que os homens lhe dariam _ seria dividida em mil pedaços, com lutas, divisões, incompreensões e perseguições…

Não se sabe bem quando Jesus teria sido maior:

… se ao dizer aos discípulos que fossem e ensinassem a Verdade, curassem os enfermos, purificassem os leprosos, ressuscitassem os mortos, dando de graça o que de graça recebessem… ou quando acentuava que não necessitavam de médico os sãos, senão os doentes…

… se ao dizer, em maravilhosa síntese: “Eu sou o Caminho, a Verdade, a Vida; ninguém vai ao Pai senão por mim”… ou quando, interpelado por Nicodemus, sublinha: “aquele que não nascer de novo não poderá ver o reino de Deus”…

Não se sabe bem quando Jesus teria sido maior:

… se no famoso episódio da pecadora: “Mulher, onde estão seus acusadores? Ninguém a condenou? Nem eu também a condeno. Vá e não peque mais”… ou quandodiante do sumo sacerdote e dos que o acusavam, respondia à difamação, ao opróbrio com o silêncio e a serenidade dos inocentes e dos justos…

… se ao recomendar aos discípulos fossem pelo mundo a pregar o Evangelho a toda criatura, em Seu nome expulsando demônios, falando novas línguas e pondo as mãos sobre enfermos e os curando… ou quando ao erigir o portentoso monumento, que é o Sermão da Montanha, traçava para a Humanidade de todos os tempos o mais autêntico e belo código de conduta…

Não se sabe bem quando Jesus teria sido maior:

… se ao dizer:” um homem que tem 100 ovelhas, e uma delas se desgarra, não irá ele pelos montes, deixando as 99, em busca da que se desgarrou?”… ou quando, em memorável lição, menciona: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”…

… se ao antecipar a fraqueza do discípulo amado: “antes que o galo cante duas vezes, três vezes me negarás tu”… ou quando, resignado ante os divinos desígnios, fala: “se este cálice não pode passar de mim sem o beber, faça-se a Tua vontade, Pai do Céu”…

Enfim, não se sabe bem quando Jesus teria sido maior:

… se na parábola máxima _ a do Bom Samaritano _ ao apontar ao doutor da lei que fosse e fizesse o mesmo que o samaritano, com exuberante prova de amor ao próximo, fizera… ou quando anunciava a vinda do Consolador, quando Ele fosse, o qual nos faria lembrar de tudo quanto Jesus nos falara…

… se, no momento supremo, ao referir-se aos seus algozes, dizendo: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem!”… ou quando, ao assim conceituar, lança para a posteridade o maior dos libelos contra a pena de morte… Sua morte, a morte de um inocente, de um justo, para a criminosa satisfação de interesses políticos e religiosos da época, ficou a clamar até hoje _ e clamará sempre _ contra um tal instrumento da inferioridade humana, a serviço da maldade, das paixões insopitáveis, dos fanatismos, da ignorância…

Não sabemos, francamente, quando Jesus teria sido maior.

Sabemos, sim, que passados quase 2.000 anos, ainda rastejamos na Terra, num intérmino aprendizado de Sua Doutrina.

Até quando continuaremos como aprendizes? Quando nos disporemos a praticá-la?

O aprendiz de ferreiro, logo que aprende a fazer ferraduras, saí a fazer ferraduras. O aprendiz de sapateiro, logo que aprende a fazer sapatos, sai a fazer sapatos… Entretanto, nós, aprendizes da Doutrina do Cristo, devemos ficar sempre a aprender… a aprender?!…

Quando será que a Excelsa Doutrina passará do nosso cérebro ao nosso coração, da teoria à prática?

(Jornal Mundo Espírita de Julho de 2000)