Roque Jacinto
Um grupo de desobsessão é luz que se acende, em esperanças novas, a almas inúmeras que se encontram escravizadas a planos inferiores da espiritualidade. São portas de libertação franqueadas a quantos aceitem a reforma íntima e a reformulação de seus programas individualistas, incorporando-se às normas santificadoras do Cristianismo Redivivo.
I – Tarefa
Mas, como toda tarefa nobre, conta com inimigos.
Os Espíritos que se opõem a esses esclarecimentos espíritas-cristãos movimentam os seus recursos para dar combate àqueles que, até então súditos passivos de um reinado negro, se elegem agora por roteiros vivos de regeneração e de arrependimento.
E procuram desbaratar os obreiros congregados.
Para atingir seu objetivo não têm escrúpulos de qualquer ordem, valendo-se de todos os artifícios para os seus propósitos tenebrosos. Entre esses, um existe que produz espantosos efeitos desagregantes e que, pelo mal gerado, deve ser estudado com particular carinho e interesse por quantos componham os círculos de tarefas desobsessivas.
É o da insinuação de imoralidade.
Quando esses irmãos desequilibrados sentem que todas as suas investidas resultam infrutíferas e que o grupo se sustenta afinizado, ameaçando-lhes os redutos mais profundos, aproximam-se do núcleo de trabalhos e insinuam ou afirmam mesmo, face a face, que o doutrinador encarnado não tem qualidades morais para o posto que ocupa.
II — Reação
A afirmação de que o doutrinador tem falhas, preparada psicologicamente pelas mentes conturbadas, não raro encontra companheiros invigilantes, dentro do grupo de encarnados, que sé escandalizam intimamente com a informação venenosa e gratuita. É-lhes inconcebível aceitar que à cabeceira da mesa de socorro esteja alguém com um passado enodoso.
Desse momento em diante as suas emissões mentais, que antes se regulavam pela vivência fraterna e pelo ideal de caridade ao desencarnado, afloram com alternâncias de dúvidas e de desconfiança, coloridas por um pudor extremado e farisaico.
Vestindo-se com tal zelo doentio e com as aparências de virtudes, elegem-se em duros censores do doutrinador, denegrindo-o mentalmente ou relatando na roda de amigos as «surpreendentes revelações do obsessor».
Olvidam anos de trabalhos e incontáveis sacrifícios, detendo-se em comentar o escândalo criado pela afirmativa. E consorciando-se, sem o perceberem, aos interesses do próprio obsessor, a pouco e pouco se fazem inabilitados aos trabalhos redentores ou, então, permanecem no agrupamento e expurgam o doutrinador.
Acreditam-se dignos de compor assembléias de anjos.
III — O silêncio
Perante tais sucessos, qualquer reação do doutrinador será vã.
Se contra-argumenta com o obsessor para alijar de si a condenação verbal que nasceu no decorrer do trabalho socorrista, o comunicante foge de analisar a afirmativa ou, então, reafirma suas expressões, quer lançando mão da calúnia, quer lançando mão da maledicência e revirando o lixo das paixões em que já nos imantamos um dia.
Se o doutrinador silencia, confiando ao tribunal de sua própria consciência o julgamento de seus atos, o Espírito procura mostrar-se um vitorioso, deixando claro que, segundo a afirmação popular: «Quem cala, consente».
Na realidade, em momentos tais, o doutrinador deve silenciar e confiar em seus amigos de tarefas cristãs, mesmo que seja para ver desbaratar o grupo, se este for invigilante.
IV — Resposta certa
A atitude de acerto cabe, pois, aos amigos encarnados que formam o grupo desobsessivo. Devem lembrar-se de que estão face a face com Espíritos dementados, para os quais todos os recursos são válidos e todas as mentiras poderão receber a capa de uma verdade. Acompanhá-los em seus propósitos será sempre acumpliciar-se com seus desequilíbrios e imanar-se às suas ondas mentais, rompendo com a harmonia que deve viger nesse setor de serviços.
A vigilância é importante.
Não deve, pois, o participante da reunião agasalhar em seu coração as informações levianas. Nelas descobrirá as investidas ardilosas que visam a desbaratar o próprio agrupamento.
Evidente que nenhum dos participantes da reunião é perfeito.
Nossa ficha espiritual tem manchas.
Mas, essas nódoas os nossos Mentores já as conheciam e as toleravam, porque sabem que o trabalho dedicado e permanente é o verniz corretor que apagará, uma a uma, todas as mazelas que houvermos escrito em nosso currículo de aprendizagem terrena.
V — Os mentores
Se a afirmativa do obsessor é falsa, porque os nossos Mentores Espirituais hão de permitir os riscos enormes, um dos quais é a desagregação que se instalava na área de trabalhos?
A razão é simples.
Estamos todos em fase de aprendizagem. Temos de aprender a ser fortes em tolerância, em fraternidade, em caridade, em amor aos nossos semelhantes. E o meio mais apropriado ao exercício dessas virtudes é aquele em que nos integramos no serviço.
Em permitindo que o veneno circule nesse meio, visam os Orientadores proporcionar-nos um teste de nossas aquisições reais, a fim de que nos dotemos de virtudes efetivas e não aparentes.
Onde haja tristeza, provaremos nossa alegria.
Onde haja desalento, provaremos nosso ânimo.
Onde haja montanhas, provaremos nossa fé.
Onde haja maledicência, provaremos nosso amor.
É contristador o destrambelhamento de um grupo de trabalhos desobsessivos, sob o peso da mentira. Porém é mais contristador o continuar a iludir a nós mesmos, adornando-nos com qualidades que ainda não conquistamos.
Correndo, pois, todos os dolorosos riscos de tumultuar uma reunião que se propõe a sérios propósitos, ainda é por amor a nós que os nossos Mentores Espirituais concordam em que nos submetamos à prova que triará as conquistas íntimas ou que nos enviará aos caminhos amargosos da reaprendizagem.
VI — Utilidade
À vista, portanto, de nossa extrema necessidade de progressão espiritual, os Mentores permitem que a leviandade visite o nosso meio como lição viva e inolvidável que compreenderemos no curso dos séculos.
Nossa reação, no entanto, depende do livre arbítrio que nos é concedido.
Se estivermos interiormente jungidos às zonas do mal, o mal aflora à nossa alma, qual a tiririca que brota à primeira chuva. Se estamos voltados efetivamente para os Céus, o Bem nasce generoso em nossos pensamentos e devotaremos, então, ainda mais amor e ternura ao companheiro que aceitou o posto sacrificial da doutrinação e da evangelização de obsessores tenazes, humilhando-se por muito amar e parecendo derrotado, para vitoriar-se junto a Jesus na redenção dos pobres irmãos do caminho.
*Nas ocasiões da visita do escândalo, sufoquemos o mal com as nossas orações em favor do companheiro que suporta, calado, as insinuações deprimentes e revelemos que efetivamente estamos com Jesus, pois: «Quem não é por nós é contra nós».
Reformador – janeiro de 1966