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O Retrato de Bezerra e a Aristocracia Intelecto-Moral

O Retrato de Bezerra e a Aristocracia Intelecto-Moral

(Ética e terceiro milênio)

“Ainda que eu fale todas as línguas dos homens e a língua dos próprios anjos, se eu não tiver caridade, serei como o bronze que soa ou o címbalo que retine. Ainda que tenha o dom de profecia, que penetre todos os mistérios, e tenha perfeita ciência de todas as coisas; ainda que tenha toda a fé, até o ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada serei. E mesmo que tenha distribuído os meus bens para alimentar os pobres e entregado meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, tudo isso de nada me servirá. A caridade é paciente; é branda e benfazeja; a caridade não é invejosa; não é temerária, nem precipitada; não se enche de orgulho. Não é desdenhosa; não cuida de seus interesses; não se agasta, nem se azeda com coisa alguma; não suspeita mal. Não se rejubila com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre.

O presidente da União das Sociedades Espíritas do Rio de Janeiro, Gerson Simões Monteiro, enviou correspondência (71/2001) ao NEU-Fundão. Gerson se dirige ao presidente da Câmara Municipal em 29 de março do corrente. Desta forma tomamos conhecimento de que a Vereadora Lílian de Sá, integrante daquela Casa Legislativa Municipal, mandou retirar, da sala por ela ocupada, o retrato de Adolfo Bezerra de Menezes, sob o fundamento de que era “evangélica” e não poderia ter em “sua” sala o retrato de um “espírita”.

O presidente da USEERJ lembrou ainda que “a integrante da Câmara Legislativa parece desconhecer o princípio constitucional estatuído no art. 3º, inciso IV, da Constituição da República Federativa do Brasil, que proíbe qualquer forma de discriminação, bem como que a Lei Nº 7.716, de 05/01/89, em seu art. 20, pune, com a pena de reclusão, quem praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia ou religião.”

No Núcleo Espírita Universitário acreditamos que “a educação da alma é a alma da educação”. Educação como formação, aquela que desenvolve interesses, valores e atitudes. Seu princípio organizador é a internalização – incorporação de valores éticos-morais de outra pessoa ou da sociedade. É a aceitação, como se fosse próprio, de atitudes, regras, princípios e sanções que o levam à formação de julgamentos de valor ou à determinação de sua conduta. Nela existem diversos estágios de desenvolvimento. Há estágios baixos onde “Certo” é aquilo que satisfaz necessidades pessoais. Há igualdade e reciprocidade por motivos pragmáticos, não por lealdade, gratidão ou justiça. Neste nível, significa: “Se ele me bate, eu bato nele”. No entanto, há outros níveis mais altos onde as decisões da pessoa são guiadas por princípios éticos selecionados por ela própria, como justiça, reciprocidade, igualdade e respeito pela dignidade do ser humano.

Nós que estamos interagindo no NEU, temos uma proposta de contribuição para que a comunidade acadêmica, a sociedade em geral e o Poder Público possam ter facilitadas pelos espíritas que trabalham nas universidades, o cumprimento do seu dever de assegurar a efetivação dos direitos à educação, à cultura, à dignidade, à liberdade e à convivência universitária e comunitária.

O projeto tem possibilitado o intercâmbio, entre alunos, funcionários e professores espíritas de diferentes Instituições de Ensino Superior sediadas no Rio de Janeiro. O encontro dos diversos saberes proporcionado pela reunião de pessoas com formações universitárias diferentes é um estímulo ao desenvolvimento de suas consciências críticas. É mais um espaço de sensibilização individual e coletiva para questões complexas como violência, pobreza, exclusão social, corrupção, entre outros.

Nossas atividades são programadas com objetivo de desenvolver a espiritualidade do ser. Procuramos contribuir no desenvolvimento da fé, da esperança, da caridade, dos valores supremos do espírito provisoriamente encarnado, que deverá receber estímulos para o compromisso da construção de um planeta regenerado, amparado na Lei de Justiça, Amor e Caridade. O NEU é mais um espaço de discussão de saberes, onde se pode exercer o direito ao conhecimento, a produção desse conhecimento e as imbricações na dimensão ética de sua apreensão.

O NEU possui, no momento, quatro frentes de atividades. Prevenção – buscamos alguns temas naturalmente mais complexos para discutir na comunidade, como por exemplo Drogas-AIDS-Aborto; Defensiva– buscar promover os direitos do cidadão e atuar em casos de violação de direitos individuais e coletivos. Como exemplo destacamos a luta contra o leproestígma. Emergencial – procuramos responder às solicitações que possam ser cobertas pelo trabalho voluntário dentro de nossas especificidades e principalmente a Formação – promover o desenvolvimento e aperfeiçoamento da conduta espírita, de modo a que nossos companheiros de jornada venham a exercer a cidadania com nível de consciência, cada vez, mais alto. Nessa questão do aperfeiçoamento da prática sócio-afetiva enfatizamos que: Modelo e Guia, Jesus afirmou: “Os meus discípulos serão conhecidos por muito se amarem”.

É a lição de que o progresso do conhecimento é estimulado pelo regime de diálogo franco e aberto.

É convite à fraternidade, ao amor em ação, na aceitação da diversidade e no relacionamento pacífico entre os diferentes.

Tornando relativo o conhecimento humano, de modo geral, e, em particular, o das coisas espirituais, a lição nos faz suspeitar que a coexistência pacífica, proporcionada pela fraternidade autêntica, é o ambiente mais favorável à produção intelectual e à tolerância das nossas diferenças, que podem ser exibidas sem conflitos, inibindo o autoritarismo, o fanatismo, o preconceito e a exclusão.

“Amai-vos e Instruí-vos” indicou que o segundo verbo é adequado, quando apoiado pelo primeiro. Isto é o que no NEU denominamos de “Ética da Tolerância”.

Luiz Carlos D. Formiga
neufundã[email protected]