Deus e o Stress
Em recente pesquisa, uma psicóloga concluiu que o temor do castigo divino
perturba crianças de até doze anos, ao ponto de causar stress.
Elas se acreditam vigiadas em tempo integral e sujeitas a punições, caso não
se comportem devidamente.
Como conseqüência têm terror noturno, sentimento de culpa exacerbado,
irritação, taquicardia, dores de estômago, dificuldade de concentração,
gagueira, sudorese nas mãos e até enurese noturna.
A pesquisa revelou ainda que, de um modo geral, o problema não é religioso
mas de educação. São os pais, na ânsia de colocar limites que apresentam a
imagem punitiva de Deus. Algo semelhante a outros que utilizam a figura do
guarda, do policial, do inspetor como símbolo aterrador, afirmando à criança que
ele a levará , trancará em local escuro, se ela não cumprir o que se lhe pede.
É a educação pelo terror, sempre de conseqüências desastrosas. Criança
amedrontada tornar-se-á o adulto inseguro, com incapacidade de ousar coisa
alguma, de construir, pensar além dos limites estabelecidos e, desta forma,
exercitar o seu poder de criatividade.
Enquanto os pais estiverem a necessitar de uma autoridade externa para impor
limites aos filhos, demonstram que eles mesmos temem tomar atitudes, colocar
regras. Em síntese, desejam que os filhos obedeçam, sem desgastarem a própria
imagem, sem parecerem, aos seus pares, antiquados, “fora de foco”,
ultrapassados.
É comum se observar no supermercado pais em quase desespero perante os filhos
que exigem a compra de determinado produto e ameaçam provocar escândalos. “Ou
você compra, ou grito. Jogo-me no chão.”
O olhar aterrado dos pais é para os lados, a verificar se alguém os observa.
E antes que um mais perspicaz possa se dar conta do que ocorre, os pais
sussurram ao ouvido do pequeno tirano: “Não grite. Pode levar o produto.”
Mais uma vez se perde a preciosa oportunidade de colocar limites aos
pequenos, a fim de que, logo cedo, aprendam que nem tudo lhes é possível ter e
fazer.
Antes de nos preocuparmos com o julgamento alheio, seria bom que
considerássemos que a cada pai e a cada mãe Deus indagará: “(…) Lembrai-vos de
que a cada pai e a cada mãe perguntará Deus: que fizestes do filho confiado à
vossa guarda? Se por culpa vossa ele se conservou atrasado, tereis como castigo
vê-lo entre os Espíritos sofredores, quando de vós dependia que fosse
ditoso.(…)”
Antes de nos inquietarmos com o comportamento da moda, importante que nos
recordemos do nosso compromisso de orientadores das almas dos nossos filhos, na
presente etapa, e nos esmeremos em cultivá-las, à semelhança de cuidadoso
jardineiro em primoroso jardim.
“Nossos filhos não são nossos filhos”, escreveu o poeta árabe Gibran Khalil
Gibran, enquanto o divino cantor galileu ensinou que o “espírito sopra onde
quer; e tu ouves a sua voz, mas não sabes donde ele vem, nem para onde vai.”
Se, na qualidade de pais, nos empenharmos em bem conduzi-los, poderemos desde
o presente guardar a certeza de que os espíritos dos filhos da nossa carne
alçarão vôo ao progresso, galgando degraus rumo ao Pai, que é Amor, Bondade e
Perfeição.
A tarefa não é tão difícil como possa parecer. “”(…) Não exige o saber do
mundo, Podem desempenhá-la assim o ignorante como o sábio, e o Espiritismo lhe
facilita o desempenho, dando a conhecer a causa das imperfeições da alma
humana.”
E antes e acima de tudo, ensinemos à criança que ela é filha de Deus, que a
todos criou e sustenta por Amor. Falemos-lhes da Bondade e da Sua Providência
que se manifesta nas menores coisas. Deus justo que faz que o sol se erga sobre
justos e injustos, oferece as fontes cristalinas e de ímpar beleza para as
necessidades dos seus filhos, preparou a escola terrena para que nela pudéssemos
todos aprender, crescer, progredir.
Não ressuscitemos as velhas fórmulas mosaicas, fórmulas que serviram numa
época específica e para um povo determinado. Recordemos que desde há dois mil
anos, o Cristo nos falou do Pai que veste a erva do campo e providencia alimento
às aves do céu. Mostremos aos nossos rebentos que eles, como espíritos imortais,
fadados à perfeição são muito valiosos, jóias raras que hão de se burilar no
transcurso do tempo, ao ritmo do trabalho, do esforço e do conhecimento.
Bibliografia:
- O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, FEB, 97. ed., cap. XIV,
item 9. - Evangelho de João, III, 8.
(Jornal Mundo Espírita de Maio de 1997)