Considerações sobre a Evangelização Espírita da Criança e do Jovem das Camadas Populares
Gustavo Filizola
“Que responsabilidade assumem os que recusam instrução às classes pobres da sociedade! Acreditam que com polícia e soldados se previnem crimes . Que grande erro!” Jacques Latour –O Céu e o Inferno –2ª parte Cap.VI.
O trabalho de evangelização espírita tem o objetivo preciso de despertar a condição Divina no Homem , tornando este um SER FELIZ na medida em que se conscientiza das Leis Divinas (Morais e Físicas) criando sentidos para o seu existir , tornando os conhecimentos Espíritas úteis (de forma imediata) para sua Vida. Assim, faz-se necessário que meditemos sobre o papel do trabalho de Evangelização em nossas Casas Espíritas em relação as crianças e jovens que nelas aportam.
Nós que militamos no Movimento Espírita Brasileiro e em especial Pernambucano, temos uma grande responsabilidade diante dessa parcela da sociedade que clama por respeito , dignidade e cidadania . Segundo informações trazidas pela imprensa do nosso Estado temos: ” Nordeste tem maior mortalidade infantil e menor expectativa de vida” – Diário de Pernambuco 11/03/1999; “…levantamento feito pelo Jornal do Commercio junto aos arquivos do Instituto de Medicina Legal (IML) do Recife revela que 319 menores foram assassinados no ano passado” – Jornal do Commercio 20/06/1999.
Não podemos ficar cegos , mudos e surdos diante deste quadro tão triste que ao nosso ver cresce a cada ano, e pergunto para mim mesmo: O que o Movimento Espírita Pernambucano tem feito para reduzir esse quadro negativo da nossa sociedade ? Gostaria de ouvir respostas concretas e não apenas um discurso através de palavras douradas e promessas futuristas, pois estas crianças e jovens estão morrendo sem terem a oportunidade sequer de aprenderem a ler e a escrever o próprio nome.
Com muita sabedoria e propriedade o Espírito de Benedita Fernandes através da psicografia de Divaldo Pereira Franco , na mensagem “Emergência para a criança” nos alerta : “Esse problema de emergência – o menor abandonado – deve ser atendido por todas as pessoas criteriosas , visando-se a solucioná-lo com urgência.”
Nós que vivemos no Brasil , que é considerado um país que tem a missão de ser “o coração do mundo e a pátria do evangelho” temos uma grande responsabilidade diante dessa parcela da sociedade que clama não apenas por alimento espiritual mas também pelo pão que venha matar sua fome , casa , roupa , escola ,etc. Um grande trabalho , que é de urgência , surge a frente dos dirigentes e trabalhadores da causa espírita no Brasil , que é de colaborar na valorização da vida dessas crianças e jovens enquadrados nas camadas populares.
Ressaltamos sobre a importância do Evangelizador-Educador se capacitar permanentemente , para que as crianças e os jovens ao chegarem nas salas de aula não sejam proibidas de trazerem à escola sua maneira de falar , suas experiências de “família” e cultura do bairro em que moram ,pois uma vez proibidos , podemos gerar neles uma recusa pela escola , um mudismo em sala de aula , uma sensação de fracasso na vida e desinteresse pela trabalho evadindo-se.
Importante é que o evangelizador , no trabalho de Educação Espírita , perceba da necessidade de sua AUTONOMIA na escolha e definições dos conteúdos de ensino que mais se adequem a sua realidade e de seus alunos.
Com isto , acreditamos que estaremos realizando um trabalho efetivo junto a estas crianças e jovens quando resgatamos a auto-estima dessas crianças , mostrando que elas são filhas de Deus , iguais a nós , e por isso mesmo possuem o direito de serem felizes. Quando o nosso objetivo principal não seja a transmissão de conteúdos doutrinários e acumulo dos mesmos por parte do aprendiz , mas o contato dele com o tesouro chamado Doutrina Espírita , doutrina esta relacionada com a própria VIDA , fazendo com que ele desenvolva um olhar crítico que lhe permita desviar-se das “armadilhas” do caminho , reconhecendo no meio delas as verdadeiras estradas que o conduzem ao conhecimento e a fraternidade de irmãos.
Eis o grande desafio do Movimento de Evangelização-Educação Espírita Brasileiro : ENSINAR A VIVER a esta população que enfrenta em seu dia-a-dia problemas de discriminação social e racial , a violência dentro e fora de casa , a prostituição e a maternidade precoce , o trabalho explorador , os problemas de alimentação , saúde e moradia .É preciso garantir a esses espíritos reencarnados o pleno sucesso de suas existências terrenas.
Com estas reflexões não temos a pretensão de querer ser o “salvador da pátria” nem tão pouco ser um normalizador , porém , acreditamos que é na reflexão permanente e conjunta que poderemos construir alternativas para que essas crianças e jovens possam ter ao menos uma VIDA mais digna e FELIZ.
– Gustavo Filizola ( PE )
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