Herculano Pires escreveu no seu pequeno, mas extraordinário livro, O Reino,
uma frase causticante para a nossa consciência: Chamar de Cristão ao mundo
atual, é blasfemar contra o Cristo e escarnecer do seu Evangelho.
O livro de Herculano é de 1967, portanto, tem pouco mais de trinta anos, e a
situação não é diferente. Certamente, são necessários séculos para as conquistas
verdadeiras. Entretanto, já se passaram dois mil anos da passagem de Jesus de
Nazaré na Terra, e apesar dele ensinar a necessidade do perdão, da tolerância,
da bondade, o que temos feito com mais insistência são as guerras, perseguições
sobre aqueles que pensam diferente, ou mesmo sendo cristãos, são considerados
heréticos.
As cruzadas, a Inquisição, e muitas outras guerras são exemplos típicos desta
realidade. Guerras santas. Guerras em nome de Deus e em nome de Jesus tem
acontecido sempre. Existem ainda as guerras econômicas. O egoísmo humano é tão
virulento que não se importa com o que aconteça com populações inteiras, desde
que o lucro seja assegurado.
Para ficarmos apenas com o mundo que se diz cristão, é fácil verificar que
milhares de dólares são gastos por minuto, com armas de guerra, armas fabricadas
e vendidas por nações cristãs, que abre as sessões do seu legislativo em nome de
Deus.
Chamar o mundo atual de Cristão é blasfemar contra o Cristo e escarnecer de
seu Evangelho. O mundo cristão explorou a África, exaurindo suas riquezas, isto
depois de ter caçado e escravizado muitos de seus filhos. Chegou ao disparate
moral de criar um aparthaide dentro da própria África, marginalizando o povo
negro e dando-lhes as piores condições de vida.
A mesma África e outros países emergentes, se depender dos países ricos,
estão condenados a perder parte da sua população para o vírus HIV, porque
patentes insensíveis protegem os fabricantes. O protecionismo comercial dos
países do primeiro mundo para os seus produtos são vistos de uma maneira, e
tolerados, incentivados. Contudo, quando são países emergentes que usam essas
práticas, são condenados à sanções comercias arbitradas por instituições
dirigidas pelos poderosos.
O que tem tudo isto a ver com o Espiritismo, com um programa de rádio
espírita? Tem a ver com a construção de um mundo melhor. Tem a ver com o nosso
egoísmo pessoal, que reforça o egoísmo coletivo. O dever das nações mais
adiantadas é ajudar as mais atrasadas, porém, sem explorá-las. Como as pessoas
precisam se ajudarem mutuamente pela solidariedade. Logicamente existem pessoas
e Instituições fazendo o bem, e quando os bons quiserem predominarão, diz O
Livro dos Espíritos.
Precisamos cultivar o amor, ensinar o altruísmo, iluminar o mundo, ser o sal
da Terra. Com certeza, Jesus espera muito mais dos cristãos, e nós, os
espíritas, trabalhadores da última hora, estamos convocados a realizar muito
mais. Somos poucos, mas se exemplificarmos aquilo em que acreditamos, certamente
influenciaremos muitos outros. Um bilhão e trezentos milhões de cristãos podem
mudar o mundo, e não mais blasfemaremos contra o cristianismo, nem
escarneceremos do Evangelho, antes, o amaremos e o praticaremos.