Allan Kardec fundou a La Revue Spirite em janeiro de 1858. Comemorou-se, portanto, 143 anos da publicação, que pode ser considerada um verdadeiro laboratório das pesquisas e estudos do Codificador. Lançada após o surgimento de O Livro dos Espíritos, a publicação, um tanto desconhecida do público espírita, continua seu trajeto, pois que ainda editada na França pela Union Spirite Française et Francophone. Traduzida e publicada no Brasil pela Edicel (São Paulo) e pelo IDE (Araras-SP), a Revista Espírita oferece verdadeiras jóias de esclarecimento e orientação, mostrando a ímpar personalidade de Kardec, com sua flexibilidade e ao mesmo tempo o perfil de observador atento, pesquisador. Até a desencarnação, o próprio Codificador cuidou da edição da Revista, ocupando-se de pesquisas, correspondências, estudos, relatos e temas concernentes à Doutrina e à variedade de manifestações provocadas pelos espíritos.
Como se sabe, O Livro dos Espíritos surgiu em Paris aos 18 de abril de 1857, também lembrado nesta oportunidade, a cada ano.
Ocorre que agora, através de entendimento entre o CEI(1) – Conselho Espírita Internacional e a Union Spirite Française et Francophone ficou acertada a impressão da Revue por aquele órgão internacional. E para alegria do Movimento Espírita Internacional, e naturalmente dos espíritas brasileiros, coube à tradicional Casa Editora fundada por Cairbar Schutel, o nosso Bandeirante do Espiritismo, a impressão da Revue Spirite nas oficinas gráficas desta Casa Editora. Primeiramente somente na língua francesa, gradativamente será impressa em quatro idiomas na mesma edição: francês, espanhol, inglês e português.
A edição do exemplar do 2º trimestre de 2001 já foi impresso pela Casa Editora O Clarim totalmente em língua francesa. Podem estar perguntando os leitores como isto foi feito. Afirmamos que num esforço conjunto entre o CEI, a Union e esta Casa Editora, através de vários encontros e reuniões, e utilizando-se da facilidade do e-mail, os textos foram recebidos, paginados, reenviados para correção e conferência e finalmente impressos, inclusive a capa; esta com a participação e colaboração do professor e publicitário Merhy Seba, de Ribeirão Preto-SP. Para grande felicidade da família espírita mundial e, por conseqüência, ligada ao ideal de Cairbar Schutel. Fato histórico da maior importância para o Movimento Espírita Internacional!
E para cumprimentar a própria Revue, agora impressa em Matão, destacamos aos leitores a personalidade extraordinária do Codificador, exposta em frases selecionadas em número da Revista que a seguir indicamos.
Em Fevereiro de 1862, na Revista Espírita* (ano V, vol.2), Kardec faz importantes considerações em agradecimento e resposta aos cumprimentos de Ano Novo recebidas através de centenas de cartas, inclusive uma delas subscrita por duzentas assinaturas – proveniente dos espíritas de Lyon. Pela atualidade dos comentários e argumentos, deixemos que fale o Codificador, em transcrições parciais:
- “( …)Aos que julgam saber muito e que dispensam as lições da experiência, nada direi, a não ser que desejo não tenham um dia que lamentar por terem confiado demais nas próprias forças. Tal pretensão, aliás, acusa um sentimento de orgulho, contrário ao verdadeiro espírito do Espiritismo. (…)”
- “(…) A tática ora em ação pelos inimigos dos Espíritas, mas que vai ser empregada com novo ardor é a de tentar dividi-los, criando sistemas divergentes e suscitando entre eles a desconfiança e a inveja. Não vos deixeis cair na armadilha; e tende certeza de que quem quer que procure, seja por que meio for, romper a boa harmonia, não pode ter boas intenções. Eis porque vos advirto para que tenhais a maior circunspecção na formação dos vossos grupos, não só para a vossa tranqüilidade, mas no próprio interesse dos vossos trabalhos. A natureza dos trabalhos espíritas exige calma e recolhimento. Ora isto não é possível se somos distraídos pelas discussões e pela expressão de sentimentos malévolos; mas não pode haver fraternidade com egoístas, ambiciosos e orgulhosos.(…)”
- “(…) Se um grupo quiser estar em condições de ordem, de tranquilidade, de estabilidade, é preciso que nele reine um sentimento fraterno. Todo grupo ou sociedade que se formar sem ter por base a caridade efetiva não terá vitalidade.(…)”
- “(…) Devo ainda assinalar-vos outra tática dos nossos adversários – a de procurar comprometer os Espíritas, induzindo-os a se afastarem do verdadeiro objetivo da Doutrina, que é o da moral, para abordarem questões que não são de sua alçada e que, a justo título, poderiam despertar susceptibilidades e desconfianças. Também não vos deixeis cair neste laço. Em vossas reuniões afastai cuidadosamente tudo quanto se refere à política e às questões irritantes. (…)”
- “(…) Procurai no Espiritismo aquilo que vos pode melhorar. Eis o essencial. Quando os homens forem melhores, as reformas sociais realmente úteis serão uma conseqüência natural. (…)”
- “(…) O Espiritismo é uma doutrina moral que fortifica os sentimentos religiosos em geral e se aplica a todas as religiões. É de todas, e não é de nenhuma em particular. Por isso não diz a ninguém que a troque. Deixa a cada um a liberdade de adorar a Deus à sua maneira e de observar as práticas ditadas pela consciência, pois Deus leva mais em conta a intenção que o fato. Ide, pois, cada um ao templo do vosso culto; e assim provareis que vos caluniam, quando vos taxam de impiedade. (…)”
- “(…) Pela vossa união, frustrai os cálculos dos que vos quisessem dividir; provai, enfim, pelo vosso exemplo, que a doutrina nos torna mais moderados, mais brandos, mais pacientes, mais indulgentes … (….)”
Portanto, parabéns também aos bons espíritas! Parabéns aos que conseguem vencer os melindres e motivos de divisão do ideal maior! Cumprimentemo-nos mutuamente pelo importante momento histórico vivido pelo Movimento Espírita Internacional. Obrigado Kardec! Obrigado Schutel!
Orson Peter Carrara
*Edição EDICEL, tradução de Júlio Abreu Filho
1. Vide matéria nesta edição com o título Edição de “La Revue Spirite” conjunta com o CEI.