Uma interessante matéria publicada por Allan Kardec na Revista Espírita (1) utiliza
a expressão loucura obsessional. O texto, que recomendamos aos leitores,
é um estudo sobre os Possessos de Morzine, uma localidade em determinada
região francesa, alvo de carta endereçada ao Codificador pelo capitão B.
(membro da Sociedade Espírita de Paris e naquele momento radicado na cidade de Anecy).
Allan Kardec publicou a carta na edição de abril (2), seguida de instruções dos
espíritos Georges e Erasto e ainda acrescentou lúcido comentário sobre a questão.
Depois na edição de dezembro (3) voltou ao assunto, desdobrando-o em bem argumentada
análise.
Trata-se de uma obsessão coletiva que atingiu toda uma coletividade e Kardec
usa nas duas edições referidas toda a lógica da Doutrina Espírita para explicar
a questão da natureza dos espíritos e sua permanente influência junto à humanidade
através do perispírito e da mediunidade. Porém, abre importante caminho no entendimento
da enfermidade classificada como loucura e acrescenta que “(…) Ao lado de todas
as variedades de loucura patológica, convém, pois, acrescentar a loucura obsessional
(…)” E acrescenta: “Mas como poderá um médico materialista estabelecer essa diferença
ou, mesmo admiti-la? (…)” (1).
A questão suscita observações interessantes sobre a saúde mental. Ocorre que
é grande o número de pessoas consideradas como lesionadas no cérebro e portanto
internadas em hospitais psiquiátricos ou em tratamento mental ou psicológico, quando
na verdade estão apenas sob forte influência de espíritos que agem ainda com ódio
premeditado ou mesmo atuam inconscientemente. Claro que há, e isto ninguém contesta,
os que podem ser considerados vítimas de lesões cerebrais irreversíveis com indicações
claras de tratamentos ou internações inadiáveis. Mas, a influência perniciosa de
um espírito desequilibrado e “que não passou de acidental, por vezes toma um caráter
de permanência quando o Espírito é mau, porque para ele o indivíduo se torna verdadeira
vítima, à qual ele pode dar a aparência de verdadeira loucura. Dizemos aparência,
porque a loucura propriamente dita sempre resulta de uma alteração dos órgãos cerebrais
(…) Não há, pois, loucura real, mas aparente, contra a qual os remédios da terapêutica
são inoperantes, como o prova a experiência (…)” (1), conforme acentua o Codificador.
Como sabem os estudiosos da Doutrina Espírita, a obsessão é capítulo importante
no relacionamento entre encarnados e desencarnados, tendo inclusive merecido capítulo
específico em O Livro dos Médiuns (4) e como destacado pelo próprio Codificador
o desafio está em enfrentar esta loucura aparente – pois não há lesões cerebrais
–, causada pela presença e influência de espíritos maus e perversos, que constrange
e/ou paralisa a vontade e a razão de sua vítima, fazendo-a pensar, falar e agir
por ele, levando-a a atos e posturas extravagantes ou ridículas. Considere-se que
estamos num planeta ainda dominado pelo egoísmo, onde a maioria das criaturas que
o habitam – estejam encarnados ou desencarnados – estão envolvidas com interesses
mesquinhos e sem finalidades educativas ou de aperfeiçoamento. E fica fácil, então,
imaginar o mundo invisível formando inumerável população que forma a atmosfera moral
do planeta, caracterizado pela inferioridade das lutas mundanas e dos interesses
que o egoísmo, a vaidade, o orgulho ou a inveja podem criar. Para resistir a tudo
isso, usando palavras do próprio Kardec, “são necessários temperamentos morais dotados
de grande vigor”.(5)
E é interessante notar que, conforme ponderações do próprio Kardec (6), “(…)
a ignorância, a fraqueza das faculdades, a falta de cultura intelectual” oferecem
mais condições de assédio aos espíritos imperfeitos que tentam e muitas vezes conseguem
dominar as criaturas humanas através do real fenômeno da obsessão, tantas vezes
confundido como loucura ou lesões no cérebro.Diante desse quadro todo, percebe-se
claramente a importância do estudo e da divulgação espírita perante todas as classes
de indivíduos do planeta. Nesta área da saúde, o Espiritismo vem esclarecer a obscura
questão das doenças mentais, apresentando uma causa que não era considerada e constitui
perigo real evidente, provado pela experiência e pela observação: o da obsessão
ou influência dos espíritos sobre os seres humanos.
(1) Dezembro de 1862, páginas 360, edição EDICEL, tradução de Júlio Abreu Filho.
(2) Abril de 1862, páginas 107/108, edição EDICEL, tradução de Júlio Abreu Filho.
(3) Dezembro de 1862, páginas 360 a 365, edição EDICEL, tradução de Júlio Abreu
Filho.
(4) Capítulo XXIII.
(5) página 356 da edição de Dezembro de 1862 da Revista Espírita, edição EDICEL,
tradução de Júlio Abreu Filho.
(6) Abril de 1862 da Revista Espírita, página 111, edição EDICEL, tradução de
Júlio Abreu Filho.
Matéria publicada originariamente no jornal O CLARIM, edição de dezembro de 2004.