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Estudar o Espiritismo

Estudar o Espiritismo

Allan Kardec foi quem fez essa importante colocação em “O Livro dos
Espíritos”, Capítulo VIII-Introdução, o que consideramos um alerta para os que,
ao se aproximarem do Espiritismo, o julgariam ou o questionariam sem o devido
estudo prévio.

Na nossa vida diária como espíritas, acostumamo-nos a conversar com as
pessoas que estão se aproximando do Espiritismo e sermos bombardeados por uma
série de perguntas, as quais geram respostas que intrigam aqueles que as fazem.
Somos da opinião de que, em qualquer crença, as respostas às seguintes questões
deveriam ser dadas com muita clareza: “O que somos? De onde viemos? Para aonde
iremos? O que é Deus? Devo ser bom? Por quê?…” e assim por diante.

Recorreremos, ainda, às palavras de Bruno Bertocco, em seu livro intitulado
“Deus”:

“O que toda criatura desapaixonada, equilibrada, sincera e
honesta deve fazer, antes de julgar qualquer coisa, de fazer suas críticas a
respeito, de negá-la ou aceitá-la, é, inicialmente, adquirir as respectivas
informações concernentes à sua existência, aproximar-se para o devido
reconhecimento da sua natureza, através da pesquisa e do estudo dos fatores
relacionados à sua causa, ou dos fenômenos produzidos pelas forças originárias
da parte fundamental, podendo, dessa forma, com conhecimento de causa, tirar
suas conclusões, baseadas nos fatos, e formular seu veredicto com justeza, a
respeito de tal coisa.”

Muitas pessoas aproximam-se do Espiritismo pelos mais variados motivos. No
entanto, poucas conseguem perseverar no estudo necessário para entendê-lo: ficam
à margem, deslumbrados por alguns de seus aspectos e com grandes dúvidas sobre
outros.

É por isso que o Movimento Espírita tem enfatizado, ao longo do tempo, a
necessidade da implantação do estudo sistematizado da Doutrina Espírita em cada
centro espírita. Lembrando o memorável Herculano Pires (1914-1979), o
Espiritismo ainda continua um “desconhecido”, e, a maioria, movida pela ânsia de
soluções imediatistas, ainda não busca uma nova filosofia de vida, a par de uma
explicação para o porquê “do ser, do destino e da dor”.

O slogan “Comece pelo Começo”, utilizado nas campanhas
promovidas pela USE-União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, tendo
como figura nos cartazes as obras da Codificação – “O Livro dos Espíritos, O
Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e O Inferno, e A
Gênese” -, pode parecer óbvio. No entanto, constatamos que muitas pessoas que
são espíritas, ou as que estão estudando o Espiritismo há algum tempo, não
começaram pelo começo; muitas vezes, nem o “O Livro dos Espíritos” chegaram a
ler.
Ora, não há nada mais aconselhável, se quisermos de fato estudar o
Espiritismo: começar pelo começo, e o começo é a Codificação.

Depois de Allan Kardek – o Codificador do Espiritismo -, podemos citar
autores importantes, tais como: Léon Denis, Gabriel Delanne, Ernesto Bozzano,
Camille Flamarion, Herculano Pires, Deolindo Amorim, Eliseu Rigonatti, Yvonne A.
Pereira, Hermínio C. Miranda, Martins Peralva, Cairbar Schutel, Richard
Simonetti e muitos outros, além, é claro, dos autores espirituais Emmanuel,
André Luiz, Humberto de Campos, Manoel Philomeno de Miranda e vários outros.

Há muito para ler e estudar. Assim, torna-se necessária uma boa organização
por parte daquele que vai estudar o Espiritismo, para não empregar o tempo de
forma equivocada, seja não começando realmente pelo começo, ou mesmo lendo obras
“pseudo-espíritas” ou controvertidas, sem pureza doutrinária. Portanto, que cada
um possa analisar sua posição, de forma a encontrar o caminho verdadeiramente
correto.

Paulo Roberto Wollmer

TEORIA E PRÁTICA

“Espíritas, Amai-vos!” – esse é o primeiro ensinamento;
“Instruí-vos” – esse, o segundo.
O Espírito da Verdade

O conhecimento do Espiritismo é absorvido por cada um de nós de modo e
intensidade diferentes, variando de acordo com a bagagem de inteligência e nível
moral que possuimos, resultado das nossas experiências acumuladas em nossas
diversas encarnações.

Não estamos aqui nos referindo à mera curiosidade sobre os fenômenos
mediúnicos, tampouco sobre a “procura de soluções imediatistas” para os
problemas de cada um, causas que levam muitas pessoas aos centros espíritas.
Grande número de pessoas, tendo aprendido algo sobre o Espiritismo, acomodam-se
nessa atitude, esquecendo que nosso aprendizado em qualquer situação da vida
deve ser constante e progressivo.

Não basta, em absoluto, fazer um “intensivo” sobre Espiritismo, coletando
informações aqui e acolá, lendo alguns romances espíritas, assistindo a algumas
palestras, mas, sim, são necessários, pelo menos, a leitura constante e o estudo
rigoroso das obras básicas, a chamada Codificação Espírita ou “Pentateuco
Kardequiano”.

Ouve-se constantemente que isso não é muito fácil de ser feito: trata-se de
leitura difícil para alguns, falta o tempo necessário para outros, e assim por
diante. Porém, os que assim pensam ficam, na maioria das vezes, embatucados com
as questões mais simples sobre o Espiritismo, isso quando não se lançam a
debater as questões complicadas, aquelas que requerem bom conhecimento
doutrinário.

Diante de tal situação, o estudo nos centros espíritas revela-se como
atividade essencial para seus freqüentadores, o que na prática tem mostrado
ótimos resultados, propiciando sempre novos colaboradores mais preparados, com
melhor formação doutrinária, isto é, com melhores conhecimentos sobre o
Espiritismo como um todo. O próprio Codificador, depois da terceira viagem por
várias cidades da França, no ano de 1862, já afirmava: “Há algum tempo,
constituíram-se alguns grupos de especial caráter e cuja multiplicação
entusiasticamente desejamos encorajar. São os denominados grupos de ensino.”

Daí a recomendação a todos os que buscam conhecer o Espiritismo, para
procurar os centros espíritas que oferecem o estudo sistematizado, o qual deverá
ser, sempre, estritamente baseado nas obras de Kardec.

O aprendizado em grupos de estudo coordenados e aplicados por pessoas
devidamente preparadas permitirá um intenso e frutífero intercâmbio de idéias e
esclarecimento de dúvidas, alargando os horizontes do pensamento, que, passo a
passo, levarão às respostas das questões mais complexas sobre a nossa
existência, nossa origem e nossa destinação futura.

Dessa maneira, estaremos melhor preparados para o entendimento do Evangelho
de Jesus como norma de conduta para toda a Humanidade, iniciando, assim, a nossa
reforma íntima, especialmente no aspecto moral, bem como a mudança de nossos
hábitos, visando sempre ao nosso aperfeiçoamento espiritual.

Adaptação de Artigo de Paulo Roberto Wollmer

DESVIOS PERIGOSOS

Certo ferroviário de extinta Companhia de Estradas de Ferro, após muitos anos
de trabalho, resolveu se aposentar, cabendo a ele ensinar suas tarefas ao seu
substituto. No primeiro dia de treinamento, o futuro aposentado entregou ao
funcionário contratado para substituí-lo um martelo, explicando-lhe que o seu
serviço consistia em bater com o mesmo nas rodas dos trens que chegassem à
estação. O novo contratado perguntou por que deveria assim proceder. O
ferroviário, nervoso, respondeu-lhe irado: “Ora essa: há mais de trinta anos que
eu venho fazendo isso todos os dias e ainda não sei, e você, que apenas acaba de
chegar, já quer saber?”

(Logicamente, a pancada na roda era para verificar, através do som produzido,
se ela estava trincada).

De maneira semelhante ao ferroviário, alguns médiuns e dirigentes de centros
espíritas vêm assim procedendo: adotando práticas que são perigosos desvios
doutrinários. Muito embora alguns deles sejam possuidores de ilibado caráter,
são desconhecedores da Doutrina Espírita e incapazes de discernir o certo do
errado. Acatam cegamente as determinações dos espíritos comunicantes, sem
qualquer questionamento se elas são ou não condizentes com a Doutrina dos
Espíritos.

Com o desencarne, o espírito não se torna sábio, nem santo ou demônio, de uma
hora para outra, como pensam alguns. Ele continua sendo o mesmo que era antes,
apenas mudando de dimensão, tendo a mesma personalidade, os mesmos sentimentos,
as mesmas simpatias e antipatias, os mesmos conhecimentos e as mesmas
necessidades, de acordo com o seu grau de evolução. Portanto, o espírito, ao se
comunicar através do médium, transmite os conceitos que possui.

Por isso, é necessário estudar, analisar e passar pelo crivo da razão toda e
qualquer orientação antes de levá-la a sério, verificando se ela não conflita
com a Doutrina Espírita e nem a compromete. O espírito Erasto, discípulo de
Paulo, recomenda que é preferível duvidarmos de nove verdades do que
acreditarmos em uma única mentira. Os Espíritos Superiores não se ofendem quando
questionados; ao contrário, eles se alegram com a nossa precaução doutrinária,
ao passo que os espíritos inferiores, estes sim, se ofendem e se aborrecem.

A pretexto de atualização da Doutrina, quantas obras psicografadas por
espíritos, com pareceres conflitantes com a Codificação Kardequiana, estão sendo
editadas, gerando confusão entre os adeptos do Espiritismo! O que é mais
lamentável ainda é que algumas dessas obras são recomendadas, e até mesmo
adotadas, por dirigentes espíritas menos avisados, que, por ignorância,
ingenuidade, ou mesmo por envolvimento obsessivo, se deixam conduzir,
comprometendo sobremaneira o Cristianismo Redivivo! São bem oportunas as
palavras do espírito Emmanuel, quando afirma:

“Compreendemos, com Allan Kardec, que, na Doutrina
Espírita, foi pronunciada a primeira palavra, mas, em face do caráter
progressivo dos seus postulados, ninguém poderá dizer a última. Na Doutrina
Espírita, não se dirá que Allan Kardec foi ultrapassado, de vez que nossos
princípios avançam com o fluxo evolutivo da própria vida e, à maneira do
edifício que para crescer não prescinde do alicerce, a Doutrina Espírita não
fugirá das diretrizes primeiras, a fim de ampliar-se em construções mais
elevadas.”

Sabemos que a Doutrina codificada por Kardec é o alicerce sólido,
indestrutível, feito para sustentar um número infinito de andares, mas é
necessário ter o cuidado de que os andares a serem construídos sobre esse
alicerce sejam da mesma qualidade, estrutura e robustez, para suportarem os que
forem construídos acima, caso contrário comprometerão todo o edifício. Toda e
qualquer prática fora dos preceitos doutrinários é um andar fragilizado, que,
com o tempo, ruirá. Compete a nós, espíritas conscientes, a grande
responsabilidade de preservar a pureza do Cristianismo Redivivo, e, de forma
alguma, a pretexto de tolerância cristã, usar de condescendência para com as
deturpações que invadem o Espiritismo!

Ary Lex, em seu livro “Pureza Doutrinária”, alerta-nos:

“É urgente e fundamental que todos aqueles que tiveram a
ventura de entender o Espiritismo lutem, dia a dia, pela manutenção da pureza
doutrinária. Que não se omitam. Que não se escondam atrás de um comodismo
preguiçoso, alegando que, cada qual tem o direito de adotar a prática que
quiser, e que cada qual vive a religião de acordo com seu grau de evolução
intelectual. Realmente, não temos o direito de apontar o dedo ameaçador à face
dos profitentes de outras religiões e cultos. Eles têm o direito de ter a
religião que quiserem e adotar os cultos que bem entenderem. O que não se pode
permitir é que, em nome do Espiritismo, se pratiquem atos totalmente condenados
pela Doutrina.
Amados, não deis crédito a qualquer espírito: antes, provai os espíritos se
procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo afora.” (S.
João, 1 Epístola, Cap. IV, v. 1)

Fernando Norberto Massaro

Gentileza da “Associação Espírita de Estudos Evangélicos
Francisco de Paula Victor”, Limeira-SP.

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