O Pai Nosso
O Pai Nosso afigura-se-nos o ponto culminante do Sermão da Montanha, que foi
iniciado com as bem-aventuranças, das quais se infere que as atenções de Deus, nosso
Pai, estão sempre voltadas sobretudo para os que sofrem, para os mansos, para os
limpos de coração, para os que forem injuriados e perseguidos por causa do Cristo,
seu plenipotenciário entre os homens.
São nove as bem-aventuranças, numa demonstração de que o Pai, em sua infinita
misericórdia, está sempre atento em amparar os carentes de Paz, de Luz e de Amor.
Ora, hoje, que já somos detentores de uma visão realista da Vida Eterna e do
Espírito, sabemos que todos os que se fizerem incluir nas bem-aventuranças mencionadas
por Jesus são almas que um dia faliram e foram condenadas a mundos de expiações
e provas, por cujos destinos o Pai nunca deixou de se interessar. Meditemos nessas
palavras do Espírito Santo Agostinho, contidas no capítulo III, item 16, de “O Evangelho
segundo o Espiritismo”, que aqui destacamos:
“Já se vos há falado de mundos onde a alma recém-nascida é colocada, quando ainda
ignorante do bem e do mal, mas com a possibilidade de caminhar para Deus, senhora
de si mesma, na posse do livre-arbítrio. Já também se vos revelou de que amplas
faculdades é dotada a alma para praticar o bem. Mas, ah! há as que sucumbem, e Deus,
que não as quer aniquiladas, lhes permite irem para esses mundos onde, de encarnação
em encarnação, elas se depuram, regeneram e voltam dignas da glória que lhes fora
destinada.”
Vê-se, aí, a função dos mundos como o nosso, onde somos almas que, um dia, falimos
e, hoje, depurando-nos, regenerando-nos, buscando alcançar as bem-aventuranças de
que trata o Mestre, esperamos chegar, dignos da glória a que nos fora destinada,
à presença do Pai celestial.
Depois de advertir-nos de que não veio destruir a lei e os profetas, mas cumpri-los,
previne-nos contra os perigos do mal, colocando bem alto o dever da fraternidade,
os preceitos da caridade, a importância do perdão e a necessidade da oração.
E ensina-nos o segredo da oração, como deve ser ela simples e sincera, nunca
recheada de vãs repetições, de longos fraseados de efeito. E elucida-nos que os
gentios é que assim se portam quando oram. Pois, em verdade, o Pai conhece as nossas
necessidades antes mesmo que lhas peçamos. Oferece-nos, então, o exemplo do “Pai
Nosso”, todo ele em apenas cinco versículos do capítulo VI do evangelista Mateus:
“Pai nosso que estás no Céu, santificado seja o teu nome.
Venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na Terra como no Céu;
Dá-nos o pão de cada dia;
Perdoa as nossas dívidas, como perdoamos aos nossos devedores;
Não nos deixes entregues à tentação, mas livra-nos do mal
Assim seja.”
Meditemos, profundamente, sobre cada uma das luminosas sentenças dessa prece
que fluiu do coração daquele Mestre incomparável que se fez manifestar perante o
mundo, na condição de plenipotenciário divino.
Temos ouvido, aqui, ali e alhures, deste país continental, no seio das comunidades
espíritas, alguns exemplos de “Pai Nosso” entremeados de frases de adorno, como
se condição tivéssemos de acrescentar alguma coisa a esse verdadeiro hino de luz!…
Nunca ousamos criticar os nossos companheiros que, de boa-fé, fazem acréscimos
verbalísticos às palavras do Senhor nesses cinco versículos (9 a 13). Porém, se
atentarmos bem em seu conteúdo, verificaremos que eles estão completos e perfeitíssimos.
Vamos refletir, não de modo místico mas filosófico, sobre cada uma das luminosas
frases do Pai Nosso, tentando desvendar-lhes o espírito e a sabedoria.
O Pai criador de todos nós está no Céu, administrando, infinitamente bem, todo
o Universo, que é a Sua Casa, com seus bilhões de galáxias – como a nossa Via Látea
– cujo número de moradas (estrelas, planetas, satélites e cometas) é infinito, porquanto
é um reino sem fronteiras que não pode ser quantitativamente avaliado, na simplicidade
do versículo 2 do capítulo XIV do Evangelho segundo João.
O mestre Kardec, ao indagar se o espaço universal é infinito ou limitado, na
questão 35 de “O Livro dos Espíritos”, teve como resposta as seguintes palavras:
“Infinito. Supõe-no limitado: que haverá para lá de seus limites?” Meditemos, então,
sobre a nossa responsabilidade de espiritistas ao proferir estas palavras: “Pai
nosso que estás no Céu.”
Santificado seja o teu nome. É uma saudação, na qual reconhecemos a santificação
de Seu nome. Ele próprio nos adverte no Decálogo: “Não pronunciareis em vão o nome
do Senhor, vosso Deus.” É dever de todos nós amá-LO e respeitá-LO, pois dEle somos
filhos. É imperioso dever de todos nós compreender que nos falece qualquer condição
ou capacidade de atingi-Lo com as nossas ofensas. Assim, quando Lhe desobedecemos
ou agimos contrariamente à Sua vontade, somos nós que nos machucamos atingidos pela
nossa desobediência e desrespeito. Quem quer que se manifeste contra o Pai celestial,
desconhecendo-O, melhor fora ter nascido privado de consciência.
Venha o teu reino. O reino do Pai é de paz e de venturas inimagináveis destinado
a todos os que se fizerem eleitos ao gozo de Sua presença. Portanto, quando o amado
Mestre nos ensina a dizer: “Venha o teu reino” é que por Ele foi autorizado a assim
expressar-se, assegurando-nos que o Pai nos quer perfeitos e puros.
Faça-se a tua vontade, assim na Terra como no Céu. Com esta frase quis o Senhor
alertar-nos da necessidade de sermos também humildes, de sabermos pedir e o que pedir.
É que nem sempre pedimos a Deus aquilo que nos convém. Quase sempre somos exagerados
em nossas solicitações, e as coisas que nos julgamos no direito de reivindicar far-nos-iam
mais mal do que bem. Ele, o Pai, é a sabedoria infinita, cuja vontade é lei. Basta-nos,
para a efetiva intensidade de nossa fé, a conscientização de que dEle somos filhos,
o que já nos toma venturosos. Recordemos a oração de Jesus, no horto: “Se possível,
Pai, passa de mim esse cálice; contudo, cumpra-se a tua vontade e não a minha.”
É pena, leitor amigo, que a ventura de sermos filhos de Deus não seja, ainda,
reconhecida por todos os homens deste orbe. Tal reconhecimento já seria suficiente
para tornar ditosos os que não o são.
Dá-nos o pão de cada dia, através da saúde que nos torne fortes e aptos para
o trabalho honesto que nos garanta o salário justo. E pelo trabalho digno que conquistamos
o alimento necessário à manutenção da vida no templo de nosso Espírito, que é o
corpo. No entanto, que o alimento conquistado não sirva apenas ao corpo, mas à alma
também…
O Consolador, que o Pai nos enviou no tempo certo, tem-nos ensinado que não basta
nutrir o corpo; é imprescindível, também, manter alimentado o Espírito, cujos nutrientes
se chamam bondade, exercício da caridade, higienização da mente, estudo, abnegação,
boa vontade para com os outros, renúncia e amor. Sustentados por esses nutrientes,
prosseguiremos em marcha para Deus, eternizando no imo do ser o bem, a esperança
e a luz.
Perdoa as nossas dívidas, como perdoamos aos nossos devedores. Realmente, como
esperar do Pai-Criador perdão para as nossas faltas, nossos gravíssimos erros, se
não nos predispormos a perdoar aqueles que errarem contra nós? Qual o pai imperfeito,
neste mundo de paixões, que se agrade de perceber manifestação de ódio entre seus
filhos? Ora, Deus é o Pai perfeito que nos ama a todos. Logo, não Lhe pode agradar
a ausência de fraternidade entre os homens. Ausência esta marcada de ódios, de maldades
infamantes, de crimes hediondos, tudo isso sob o império absoluto do egoísmo avassalador
e cruel.
Não nos deixes entregues à tentação, mormente nos dias atuais quando, na condição
de espiritistas, propõe-nos o Espírito de Verdade a aceitação da tarefa misericordiosa
de trabalhadores da última hora. Na época em que o Pai Nosso nos foi ensinado tinha
o Senhor e Mestre os olhos no futuro, porquanto já foi dito que o Evangelho é lei
de paraíso. E, consoante o que nos vem revelando a Espiritualidade Superior, estamos
vivendo os últimos instantes da era sombria e triste assinalada por este Segundo
Milênio que se escoa na esteira do tempo.
Na verdade, o Pai sempre nos procurou preservar das tentações, até mesmo colocando
ao alcance de nossa consciência um Espírito-guia. Com essa frase, Jesus simplesmente
nos advertia da necessidade de administrarmos bem o nosso livre-arbítrio. Se alguém
ainda tem dúvida atente para esse manancial de luzes que desce ininterruptamente
dos Céus através da mediunidade, desde os primeiros momentos de vida, na história
deste planeta!
Livra-nos do mal, dando-nos toda a assistência dos bons Espíritos, nossos guias
e guardiães, para, seguros, permanecermos na estrada da perfeição. Saibamos todos
aproveitar o Seu Amor, sem desperdiçarmos a coragem, a inteligência e as energias
vitais na prática dos vícios que nos acenam, aqui e ali, nas margens do caminho.
Não sejamos nós novos Ulisses fascinados com os cantos enfeitiçantes das sereias,
diante das seduções materialistas deste mundo, cujos ilusórios encantos a tantos
têm perdido.
Assim seja.
Deixemos, por enquanto, que os nossos olhos súplices se derramem por toda a extensão
deste maravilhoso orbe repleto de cores, de flores, de paisagens virentes, de ricos
oceanos, mares e rios abençoados, cujas nuanças escuras que lhe afeiam o cenário
social são resultados das ações iníquas dos homens que a si mesmos se ignoram como
criaturas de Deus.
A dor, a tristeza, o dissabor, as lágrimas, toda a dramaticidade do infortúnio
têm sido frutos amargos de nossas ações infelizes. Compete-nos, agora, a nós e não
a Ele, o exercício da limpeza e purificação desta pequena morada de apenas 510 milhões
de metros quadrados de superfície, dos quais somente um terço de terra firme.
Deus, nosso Pai, fez-nos a todos perfectíveis. Concedeu-nos a bênção da inteligência
associada à capacidade de encontrarmos os roteiros seguros do bem-estar e da felicidade,
mesmo quando subordinados à ação dolorosa da expiação e das provas. No entanto,
utilizando mal o livre arbítrio, incidimos em novos erros, dificultando a ação da
amorabilidade divina.
Feliz, portanto, aquele que se faz consciente dessa graça, porquanto disporá
de todos os meios para acertar mais e errar menos. No terceiro e no quinto trabalho
desta série, oferecemos didaticamente aos nossos leitores algumas técnicas que nos
permitem, se bem utilizadas, a conquista de nosso aperfeiçoamento através da disciplinação
de nossos hábitos, reforçando os bons e não dando reforço algum àqueles que nos
possam retardar o progresso.
Bastará, para isso, manter em estado de alerta a consciência, que não deverá
dormir, ainda mesmo quando em repouso o templo somático da alma. Para isso, nunca
olvidarmos o significativo sentido destas palavras: “Pai nosso, que estás no Céu…”
Eis que nos exercitando no conhecimento e na vivência do Evangelho dispomos de
todos os meios e recursos para manter dentro de nós, na arca do coração, toda a
vibração amorável do Pai, vindo a fazer morada no Seu Reino. É o que nos afiançam
estas palavras do Mestre registradas pelo evangelista João (14:23):
“Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para
ele, e faremos nele morada.”
E mais adiante, no mesmo evangelista João (15:10 e 12): “Se guardardes os meus
mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos
de meu Pai, e permaneço no seu amor. O meu mandamento é este: Que vos ameis uns
aos outros, assim como eu vos amei.”
Seja, pois, o espírito do Pai Nosso a nossa sustentação de todas as horas, de
todos os momentos, integrando-nos no Bem, alicerçando-nos a Fé, e mantendo-nos unificados
nos princípios da Doutrina que nos irmana e na unificação de nossas almas na Vinha
do Senhor!…