O Melhor é Crescer em Família
As funções da família são determinantes na manutenção da civilidade. Mas
dentro da observação espírita esses papéis se estendem para a sociedade
espiritual pois vemos que o Espírito participa, na verdade, de uma
cosmossociedade espiritual na condição de cidadão do universo que
exercita na Terra o aprendizado dessa função. E a família consangüínea se lhe
apresenta como a oportunidade primeira de exercitar o aprendizado do amor ao
próximo como a si mesmo, lei áurea que regula as relações espirituais
superiores.
O Espiritismo oferece ao homem um programa de desenvolvimento que pretende
enfocá-lo em suas dimensões biológicas, psicológicas, sociais e espirituais. E
dentro desse programa são definidos como objetivos gerais:
- a integração consigo mesmo;
- a integração com o próximo; e
- a integração com Deus
Aqui a família desempenha um papel fundamental. Primeiro como veículo de
reeducação do espírito reencarnado que experimenta na infância uma oportunidade
de redefinir seus valores pessoais, seus pensamentos e hábitos para com a vida.
Depois, por ser no ambiente familiar que o indivíduo vai experimentar nova
oportunidade de integração com o próximo, através da qual vai igualmente se
integrando consigo mesmo para finalmente integrar-se com Deus.
Quando em “O Livro dos Espíritos” Kardec dialoga com os prepostos espirituais
acerca da lei de sociedade recebe deles o esclarecimento de que:
“O homem tem que progredir. Insulado, não lhe é isso possível, por não
dispor de todas as faculdades. Falta-lhe o contato com os outros homens. No
insulamento ele se embrutece e estiola.”
O desenvolvimento dessas faculdades pelo contato social tem início no
ambiente doméstico aonde o Espírito dá continuidade ao seu processo de
aprendizado intelecto-moral. O Espírito reencarnado no seio familiar não é
concebido como uma “tábula rasa” sem conhecimentos ou experiências
anteriores, mas é tido como uma individualidade que traz consigo seus valores e
problemas conquistados nessa ou em anteriores existências. Por isso o processo
de desenvolvimento não é começado, mas continuado a cada nova experiência de
renascimento.
A perspectiva de integração global do ser consigo mesmo, com o próximo e com
Deus, traz para a sociedade uma dimensão profundamente mais ampla no que diz
respeito à família. Traz uma concepção que estabelece o conceito da Família
Universal, o qual supõe a interrelação fraterna entre todos os Espíritos,
encarnados e desencarnados, num processo de mútua cooperação objetivando o
crescimento comum dos seres e das coisas. Esse conceito, uma vez implantado no
indivíduo, fa-lo-á proceder como cidadão cósmico que zela e respeita sua morada
e os que a compartilham com ele. As conseqüências destas idéias têm grave
repercussão sobre a ordem social, por esse motivo Allan Kardec, após finalizar o
insólito diálogo com os Espíritos da Codificação, estabeleceu na parte quinta da
conclusão de “O Livro dos Espíritos “que:
“Por meio do Espiritismo, a Humanidade tem que entrar numa nova fase, a do
progresso moral que lhe é conseqüência inevitável.”
E nesta “Era do Progresso Moral” a família desempenha o papel de catalisadora
das experiências sociais e, como tal, contribuirá de maneira decisiva para o
êxito do processo. Suas funções bio-psico-socio-espirituais são o sustentáculo
da estrutura social que aos poucos vai nascendo das experiências humanas ao
longo dos séculos. Graças a ela o homem desenvolveu o sentimento de
fraternidade, exercitou o amor e construiu a civilidade e temos razões para
supor que através dela a humanidade irá se transformar mais.
Por isso, quando nos deparamos com a conclusão de Spengler a respeito dos
processos diretivos da história em “A Decadência do Ocidente” e vemo-lo afirmar
que:
“Não somos livres de obter isso ou aquilo. Mas (que) temos plena
liberdade de fazer o necessário ou de não fazer nada. “ – e
conclui que – “Os problemas que cria a necessidade histórica sempre se
resolvem ou com o indivíduo ou contra ele”. – Somos forçados a
considerar que neste mesmo processo histórico, que cria necessidades e
circunstâncias para a experiência de crescimento dos indivíduos e das
sociedades, persiste uma proposta mais ampla de progresso e ascensão social.
Trata-se de uma proposta de dimensões espirituais visando a sociedade
espiritual e os indivíduos que as compõem. Mas, ao contrário do que afirma
Spengler, nós somos livres para tomar nossas decisões e obter resultados de
transformação individual e coletiva. Entretanto, para isso ocorrer é preciso
que o indivíduo e a coletividade tenham consciência dos objetivos e processos
a que estão submetidos na escalada do progresso.
Ao Espiritismo cabe, então, a tarefa de ampliar o sentido da sociedade humana
e fazê-la entrar nessa nova era de progresso moral em que os problemas criados
pela necessidade histórica se resolvam não contra o indivíduo mas com e
para ele. E que isso se dê no sentido espiritual do seu crescimento, isto
é, rompendo as barreiras milenares do seu egocentrismo e levando-o a uma visão
sócio-espiritual da vida.
Fazendo com que a sociedade perceba que “Há no homem alguma coisa a mais,
além das necessidades físicas” vem o Espiritismo convidar o indivíduo à
vivência do amor verdadeiro cujo exercício começa no ambiente familiar. O
carinho, a amizade, a solução de conflitos e o diálogo franco e aberto são
instrumentos de burilamento que na oficina doméstica edificam o progresso
espiritual. Exercita-se o perdão, a compreensão, o silêncio, a cooperação, o
respeito e a liberdade em circunstâncias múltiplas porque “há no homem a
necessidade de progredir” e o Espiritismo entende que “Os laços sociais
são necessários ao progresso e os de família mais apertados tornam o primeiro.
(…) Quis Deus que, por essa forma, os homens aprendessem a amar-se como
irmãos.”
A Doutrina Espírita vem, dessa forma, contribuir de maneira fundamental para
a ação do homem no sentido de valorização da família como instrumento de
ascensão individual e coletiva. Ao demonstrar que o Espirito em experiência da
carne precisa de elementos propulsores do seu progresso nessa sua difícil e
árdua escalada rumo ao amor universal o Espiritismo convoca a humanidade a uma
postura diferente diante de si mesma e particularmente convida o homem a uma
ação mais educativa no contexto da família.
Poderíamos indagar: Mas de que maneira podemos colocar tais idéias em
nossa prática diária? – pergunta de vital importância já que o Espiritismo é
uma doutrina de caráter transformador.
A prática do Espiritismo é decorrente do seu estudo. Nele vemos esclarecidos
os problemas centrais da existência, os valores reais da vida e os motivos pelos
quais sofremos e podemos nos libertar do sofrimento. Além disso, a Doutrina
Espírita apresenta o recurso profilático da prece; o passe e a reflexão elevada
aliada à nossa transformação íntima como de inestimável valia para superação de
dificuldades. Não só. Por esclarecer os aspectos morais do Cristianismo sob nova
ótica, o Espiritismo nos coloca a necessidade do diálogo nas bases do “sim, sim
– não, não”; a prudência de não apontar o argueiro no olho do próximo quando no
nosso encontra-se uma trave; a urgência de utilizarmos o perdão como um veículo
para manutenção do nosso próprio equilíbrio, etc. A esse respeito, inclusive, a
bibliografia espírita é de inequívoco valor. Obras como A Vida e Sexo, Veredas
Familiar, Jesus no Lar, Renúncia, Conduta Espírita, A Vida Conjugal, O Evangelho
segundo o Espiritismo , e a Família e Espiritismo- dentre outras que
recomendamos a leitura para aqueles que enfrentam problemas no ambiente familiar
– trazem em seu conteúdo orientações muito seguras para tornar bastante claro
que à luz da Doutrina Espírita O MELHOR É CRESCER EM FAMÍLIA.