Tamanho
do Texto

As Revelações Espirituais

Há um texto de A Gênese, cap. XVIII, item 8, segundo o qual, dizem os
Espíritos, que a movimentação que se manifesta, por vezes, em toda a população
ou um grupo social não é coisa fortuita, mas tem sua causa nas leis da natureza,
razão porque as revoluções sociais também têm sua periodicidade, como as
revoluções físicas, pais tudo se encadeia. Este tudo se encadeia, certamente
está sendo referido ao processo de aprendizagem a respeito da integração do
homem com o mundo espiritual e o aprimoramento moral da humanidade,
fundamentalmente dependente das manifestações mediúnicas, ao longo dos séculos,
cujo aprendizado, depois estabelecido como tradição religiosa, para ser
corrigido, também não dá saltos, pois a modificação dos reflexos condicionados
adquiridos erradamente ao longo do tempo, precisam de tempo para serem revistos,
gerando uma certa periodicidade. Quando se inicia o estudo da Doutrina Espírita,
logo de inicio ouve-se falar nas três revelações divinas, com base no item 45 de
A Gênese, onde Kardec escreveu que “a primeira revelação foi personificada em
Moisés, a segunda no Cristo, a terceira em indivíduo nenhum. As duas primeiras
foram individuais, a terceira coletiva; eis aí um caráter essencial de grande
importância”.

Alguns estudiosos perguntam: Será que somente o Mundo Ocidental teve
revelações? Será que Deus esqueceu do Mundo Oriental? Como associar esta
afirmação de Kardec com as religiões orientalistas (Vedismo, Bramanismo, Taoismo,
Budismo etc..), todas anteriores aos ensinamentos de Jesus e algumas até
anteriores a Moisés? Salvo o caso específico de Jesus, ora tido como o próprio
Cristo encarnado, falando por si, ora caracterizado como o médium de Deus; ora,
ainda, por outros, como um homem que se tornou médium do Cristo Planetário; o
que se tem por verdadeiro é que são sempre as manifestações do espírito que se
caracterizam como revelações divinas. Tomando-se por base esta afirmação e por
premissas que Deus não tem preferência para qualquer lado do mundo e que nas
revoluções sociais tudo se encadeia, pode-se dizer que muitas sementes foram
lançadas pelos Espíritos, como fala Jesus na Parábola do Semeador, objetivando
trazer para o homem a realidade do Mundo Espiritual. Muitos foram os
reformadores ou precursores de Jesus, com suas idéias novas neste ou naquele
grupo social, a exemplo Krishna, Zoroastro, Hermes, Fo-Hi, Lao Tse, Shidharta,
Sócrates, Maomé, afora as manifestações do politeísmo grego-romano, com suas
mitologias, seus deuses, pítias e oráculos. Muitas árvores, conseqüentemente,
foram plantadas, mas uma grande parte, como que caindo em terreno pedregoso não
vingou e morreu, outras não deram os frutos desejados, como a figueira estéril e
outras, ainda, deram frutos em percentuais menores de trinta por um.

Embora não se tenha muita segurança nos registros históricos, por sua
influência em todo o pensamento da China milenar e do grupos sociais próximos a
ela, pode-se dizer que a primeira revelação divina espiritual foi o I Ching, na
China; a segunda, 0 Vedismo, entre os Hindus; a terceira, com Moisés, entre os
Hebreus; a quarta, com Jesus de Nazaré, e a quinta, com o Espiritismo,
codificado por Allan Kardec.

BONS FRUTOS – Por que Kardec disse que com Moisés ocorreu a primeira? A
resposta está no fato de que as revelações do I Ching e do Vedismo, no Mundo
Oriental, tornaram-se árvores infrutíferas para os anseios da espiritualidade,
no que se refere às comunicações dos Espíritos.

0 I Ching ou O Livro das Mutações, cuja origem remonta há mais de 4.000 anos
antes de Cristo, provavelmente decorre das primeiras e grandes manifestações
espirituais, dentro da civilização milenar da China, e certamente a mais
completa no campo das percepções anímicas daquele povo. O Yin e o Yang foram
iguais ao sim e ao não das manifestações ocidentais, com as irmãs Fox em 1848,
em Hydesville, USA; mas na China. os ideogramas, por falta de um alfabeto
maleável. cristalizaram-se num jogo oracular e as manifestações dos Espíritos se
perderam por causa do animismo dos homens.

O Vedismo começou provavelmente perto do ano 3000 antes de Cristo. A partir
dele os hindus passaram a ter as primeiras manifestações dos assuras, Espíritos
considerados mais elevados. e dos pitris, alma dos homens que morreram. através
das manifestações do rishis, intermediários entre os dois mundos, físico e
espiritual. Concebiam a existência de um Deus único, Brahamn e dos Devas,
auxiliares do Deus Supremo; conheciam os rudimentos da progressão da alma (atman).
da reencarnação e da lei do carma ou lei causa e efeito.

Infelizmente para a humanidade, o Bramanismo depois de Krishna, por volta do
ano 1000. antes de Cristo, conquanto desenvolvesse amplamente a idéia da
pluralidade das existências. deu origem a uma grande teocracia. onde se
cristalizou a idéia das castas, referendadas pelo próprio Brahman, segundo os
bramanes (antigos rishis). As manifestações dos Espíritos foram enclausuradas e
cerceadas pela “casta sacerdotal”, ao povo restavam as preces, os hinos cantados
e a meditação como alternativa para superar o carma e alcançar a iluminação.

Os homens põem a perder o grande trabalho realizado pelos Espíritos, na
Índia. ao alegarem que a iluminação e libertação da alma do carma somente se
consegue pela meditação e reforma interior e não pela comunicação dos Espíritos.

O Budismo foi uma forma encontrada pelo enviado espiritual e reformador
Sidharta Gautama para eliminar a idéia de um Deus injusto (Brahman) e as castas
estabelecidas pela teocracia bramanica. O Budismo hindu foi buscar no Taoísmo
chinês os seus princípios fundamentais da impermanência, da insubstancialidade e
do incondicionado, pelo qual se eliminava a existência de um Deus permanente e
criador de tudo. Também no Budismo, mais que no Bramanismo, as comunicações dos
Espíritos perderam significado. pois, 0 importante não é eles virem aqui, mas a
alma do homem chegar lá, pela conquista da sabedoria ou iluminação. Restaram,
pois, as três revelações ocidentais mencionadas por Kardec, como árvores que
geraram os bons frutos da comunicação dos Espíritos, para que o homem conhecesse
a realidade espiritual e através delas soubesse como fazer sua reforma interior
e alcançar a iluminação mais rápida e conscientemente.