“O Espiritismo não é apenas uma bela Doutrina, é a própria mensagem de Jesus,
em caráter de atualidade, visitando as nossas almas.
“A Doutrina Espírita é a revelação da verdade, mas o Movimento Espírita é
aquilo que dele fizerem os espíritas. Convém não confundir Doutrina com
Movimento. A Doutrina está exarada na Codificação e nas obras que lhe são
subsidiárias, e o Movimento é a incorporação da Doutrina ao modus operandi
daqueles que se encantaram pela mensagem kardequiana.”1
A Doutrina está alicerçada nos cinco postulados: a existência de Deus, a
existência e imortalidade da alma, a pluralidade das existências, a pluralidade
dos mundos habitados e a comunicabilidade dos espíritos.
Nesse contexto é que nos deparamos com a mediunidade, até então somente
faculdade inerente ao homem, embora com objetivos elevados, agora, também, com
paradigmas de utilidade e instrumental de redenção espiritual programado para o
serviço do amor e do esclarecimento da criatura humana e, pois,
conseqüentemente, da humanidade.
Fora da orientação espírita, a mediunidade fica fadada a práticas que se
darão quase sempre ao sabor das concepções filosóficas desse ou daquele, segundo
pontos de vista pessoais, dificilmente conseguindo escapar das enxertias
folclóricas e da valorização exagerada dos fenômenos mediúnicos. Ressalte-se que
não afirmamos sua desorientação total, até porque há práticas respeitáveis
levadas a efeito por outras doutrinas espiritualistas.
No entanto, há que se considerar que “o Espiritismo se abre como diáfana
claridade, albergando sob sua luz a todos os que na mediunidade encontraram a
motivação para se fazerem úteis à Vida, avançando para Deus.”2
O Espiritismo veio tirar a mediunidade do seio do extraordinário e do
fantástico, onde somente o fenômeno em si mesmo interessa, dando-lhe conotação
acertada de que ele, o fenômeno mediúnico, é apenas meio; a sua finalidade é a
estrada da redenção.
Razão pela qual, continua ensinando Camilo (livro citado em nota de rodapé,
cap. 5), o fenômeno mediúnico não deve estar dissociado dos anelos de
renovação e progresso de cada indivíduo.
Para que não pairassem dúvidas entre os adeptos estudiosos da veneranda
Doutrina, Allan Kardec editou O Livro dos Médiuns ou Guia dos Médiuns e
Evocadores, no qual não fez qualquer concessão às crendices nem aos
atavismos antropológicos ou sócio-religioso-culturais, antes e então vigentes.
“Toda a obra é um tratado sério, realizado por um estudioso consciente,
que arrancou do obscurantismo e da degradação, do misticismo e dos privilégios,
a mediunidade – que é uma faculdade neutra em si mesma – e as manifestações
espirituais, estabelecendo regras, mediante as quais se podem colimar resultados
práticos e úteis para um comportamento equilibrado e a coleta de resultados
opimos, no exercício dessas funções de ordem paranormal e suas manifestações
extrafísicas.”3
A grandeza exponencial do Espiritismo e a nobreza da mediunidade espírita não
comportam arranjos nem concessões desfigurativas de seus postulados graníticos.
Assim, o Movimento Espírita não pode aceitar a Apometria e a Projeciologia no
seu meio, por não serem práticas espíritas. O fato de se lidar com o espírito,
não caracteriza tal lida como espírita. Cada um que busque seu lugar ao sol, sem
misturar-se.
Aqueles que não conseguem visualizar a clareza da orientação espírita e a
fortaleza de suas propostas, se bem aplicadas e vivenciadas, para o alcance da
saúde integral do ser, realmente estão precisando deixar as hostes do Movimento
Espírita e buscar outros rumos para seus anseios.
Aos espíritas basta o Espiritismo!
(Jornal Mundo Espírita de Julho de 1999)