O amor conjugal, o materno, o filial ou fraterno, o da pátria,
da raça, da humanidade, são refrações, raios refratados do amor divino, que
abrange, penetra todos os seres, e, difundindo-se neles, faz rebentar e
desabrochar mil formas variadas, mil esplêndidas florescências de amor.
Até às profundidades do abismo de vida, infiltram-se as radiações do amor
divino e vão acender nos seres rudimentares, pela afeição à companheira e aos
filhos, as primeiras claridades que, nesse meio de egoísmo feroz, serão como a
aurora indecisa e a promessa de uma vida mais elevada.
É o apelo do ser ao ser. é o amor que provocará, no fundo das almas
embrionárias, os primeiros rebentos do altruísmo, da piedade, da bondade. Mais
acima, na escala evolutiva, entreverá o ser humano, nas primeiras felicidades,
nas únicas sensações de ventura perfeita que lhe é dado gozar na Terra,
sensações mais fortes e suaves que todas as alegrias físicas e conhecidas
somente das almas que sabem verdadeiramente amar.
Assim, de grau em grau, sob a influência e irradiação do amor, a alma se
desenvolverá e engrandecerá, verá alargar-se o circulo de suas sensações.
Lentamente, o que nela não era senão paixão, desejo carnal, ir-se-á depurando,
transformando num sentimento nobre e desinteressado; a afeição a um só ou a
alguns converter-se-á na afeição a todos, à família, à pátria, à Humanidade.
E a alma adquirirá a plenitude de seu desenvolvimento quando for capaz de
compreender a vida celeste, que é toda amor, e a participar dela.
É mais forte do que o ódio, mais poderoso que a morte, Se o Cristo foi
o maior dos missionários e dos profetas, se tanto império teve sobre os homens,
foi porque trazia em si um reflexo mais poderoso do amor divino. Jesus passou
pouco tempo na Terra; foram bastantes três anos de evangelização para que o seu
domínio se estendesse a todas as nações. Não foi pela ciência nem pela arte
oratória que ele seduziu e cativou as multidões; foi pelo amor! Desde sua morte,
seu amor ficou no mundo como um foco sempre vivo, sempre ardente. Por isso,
apesar dos erros e faltas de seus representantes, apesar de tanto sangue
derramado por eles, de tantas fogueiras acesas, de tantos véus estendidos sobre
seu ensino, o Cristianismo continuou a ser a maior das religiões; disciplinou,
moldou a alma humana, amansou a índole feroz dos bárbaros, arrancou raças
inteiras à sensualidade ou à bestialidade,
De “O Problema do Ser do Destino e da Dor”