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Desencarnes Tranqüilos

Desencarnes Tranqüilos

Chama a atenção dos espíritas curiosos, bem assim daqueles altamente preocupados
com o “fim” desta jornada, a forma como desencarnarão: por modos violentos, sofridos,
demorados, dolorosos?

Isso é um pouco influência da literatura espírita e de muitas das comunicações
de desencarnados, que contam os dramas do momento de abandono da matéria, da morte,
na linguagem geral e comum. Espíritos contam com pormenores os “horrores” por que
passaram naquele momento e nos que se seguiram: uns, fruto de inaceitável doença
prolongada e grave, seguidas de medos, sustos, sobressaltos; outros, passaram por
desastres individuais ou coletivos, acidentes com máquinas velozes; não poucos vítimas
de assassinatos horripilantes, difíceis de avaliar se derivados de expiação ou provas;
outros ainda, induzidos ou decididos ao suicídio, descrevendo todos os desequilíbrios
daí derivados; outros mais, “vítimas” de infartos fulminantes, de cânceres corrosivos,
etc., etc., etc.

Parece um verdadeiro circo dos pavores, como se apenas tais circunstâncias valeriam
a pena descrever, para avisar “os que ficam”, para que se preparassem!

Mas, para consolo de todos nós, algumas criaturas nos dão exemplos de desencarne
manso, tranqüilo, edificante, meritório, comprovando que tal é possível e está mais
ao alcance nosso (de nós todos!) mais amiudemente do que se imagina.

Para confirmar, uma pequena história — absolutamente verdadeira — que nos foi
contada por companheiros bem chegados na Doutrina e confirmada por militantes do
Centro Espírita LAR DO AMOR CRISTÃO, lá do bairro do Ipiranga. Trata-se de uma Casa
antiga, onde militou por muitos anos o extraordinário confrade LUIZ RODRIGUES DA
CRUZ.

É ele — o LUIZ CRUZ, como o chamamos por décadas — o personagem central desta
história edificante.

Espírita de “quatro costados”, altamente evangelizado e evangelizador, incentivador
de toda atividade doutrinária, que conheci na Federação Espírita do Estado de São
Paulo, lá pelos anos 70, quando iniciei minhas lides como expositor. Uma das minhas
primeiras turma de trabalho foi exatamente dirigida por ele, que fora diretor da
Fraternidade dos Discípulos de Jesus, companheiro de trabalho do Comandante Edgard
Armond, além de Conselheiro e diretor da FEESP. Pois, essa turma (uma das muitas
que ele comandou) saiu “formada” da FEESP e assumiu, literalmente, a direção de
um Centro na Moóca, que se encontrava em fase de desativação por falta de trabalhadores:
o C. E. Emmanuel. Lá também fiz exposições, a convite do mesmo Luiz Cruz.

Quantas e quantas aulas e palestras não fiz a convite desse denodado companheiro,
especialmente no Lar do Amor Cristão, nas turmas de Aprendizes do Evangelho, que
eram sua especialidade dirigir e levar adiante, preparando milhares de trabalhadores
na Seara do Mestre e divulgando o kardecismo, tanto no País como na França, na Espanha,
em congressos de que participou, e também legando-nos obras como “Aprendendo com
as Epístolas” e “André Luiz em Reflexão”.

Criatura mansa, pacífica, de fala amorosa e doce, de gestos comedidos, elogiado
e admirado por todos — alunos, diretores, expositores, trabalhadores e assistidos
–, dada sua simpatia, dedicação, meiguice, afabilidade e ternura no trato com as
pessoas. E, com tal postura, trabalhou toda sua vida dando exemplo de reforma do
Ser, reformando os seres e preparando-os para um mundo de regeneração efetivo e
real – um verdadeiro espírita, como o definira Kardec.

Pois é, mas o Luiz Cruz (só o soubemos depois, pelos amigos, daí porque não fomos
dar-lhe o adeus no descenso do corpo físico) desencarnou, como é obrigatório a todos
nós na escalada dos estágios evolutivos.

Mas, até nesse momento nos deu um exemplo consolador: consta que ele e a esposa
estavam fazendo sua caminhada diária no parque do Ibirapuera, quando ele parou e
chamou a atenção para o alarido que os pássaros estavam fazendo, cantando alto e
vibrante. Nesse instante, dirigiu-se para um árvore, abraçou-a serenamente e, ali,
manteve-se calado, inerte, sereno, tranqüilo, brando, plácido, em paz… e desencarnou!

Assim, liberou-se do corpo físico, sem traumas, sem alarde, sem dores profundas,
sem horrores contundentes. Passou para a pátria espiritual como para tal se preparara:
mansamente!

Assim, amigos, tomemos para paradigma esse espírito exemplar: se quisermos ser
“premiados” com um desencarne pacífico e manso, como o do Luiz Cruz, temos que lutar
para tê-lo, temos que construí-lo — hoje, já, agora, na jornada da vida terrestre
— temos que angariar méritos para isso… Sabem como? – levando firmemente a cabo
os ensinos dos Espíritos (baseados na moral do Cristo): amar ao próximo como a si
mesmo; cada um dando e fazendo aquilo que estiver ao seu alcance na encarnação que
cursa, sejam quais qualidades forem – fruto da inteligência, das artes, dos ofícios,
dos dons espirituais e morais.

Lembremo-nos que está ao alcance de cada um de nós e a todos angariar aqueles
méritos, pois que cumpre ao homem “fazer o bem no limite de suas forças; porquanto
responderá por todo o mal que haja resultado de não haver praticado o bem.”

(L.E., questão 642), sendo que “fazer o bem não consiste, para o homem, apenas
ser caridoso, mas em ser útil, na medida do possível, todas as vezes que o seu concurso
venha a ser necessário.”
(Idem, questão 643).

outubro, 2001.