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Depoimento de uma Evangelizanda

Era o dia 24 de julho de 1933. Domingo, pela manhã.

Com quatro anos, segurando a mão grande de meu pai, sob o olhar feliz de
minha mãe, segui em direção ao Centro Espírita Batuíra, onde permaneci até os
quinze anos como aluna e até os dezoito como evangelizadora, quando saí de
Ribeirão Preto para lecionar, no magistério estadual, em uma escola rural no
município de Álvares Machado.

Eu não sabia então, que aquele era o segundo dia mais importante desta minha
existência! O primeiro foi o do meu renascimento na Terra para iniciar, talvez
pela primeira vez com mais determinação, uma existência de esforços na
compreensão e valorização dos bens espirituais.

E uma gratidão imensa emerge, de dentro de mim, por meus pais, por me terem
levado ao estudo da doutrina espírita, desde pequena, estudo este nunca
interrompido e pelo Centro Espírita que me acolheu com seus evangelizadores que,
sem conhecimentos especializados de psicologia infantil, de pedagogia, souberam
estimular em nós, crianças, o amor ao estudo, ao saber e ao Espiritismo. Dentre
eles destacamos D. Pequena, Sr. José Corrêa Gomes e Dona Maria das Dores Melo.

Em nosso “Catecismo Espírita Batuíra”, chegamos a ser, na década de 30, perto
de cem crianças. Existem duas fotos tiradas, em frente à casa, por um
desconhecido que passou, viu tantas crianças com Luiza Alfaya, pediu licença e
registrou a cena.

Em todos os Natais, éramos presenteados em homenagem a Jesus. Houve um ano em
que pudemos, cada um de nós, escolher o presente desejado. Era um trabalho do
Sr. José C. Gomes.

Os que se alfabetizavam, recebiam um exemplar do livro “Cathecysmo Espírita
para Crianças” de Cairbar Schutel. Nossos evangelizadores marcavam as questões a
serem estudadas em casa, durante a semana e no domingo, as respondíamos. Eram
elas então, bem explicadas, com clareza, com entusiasmo, com amor pelos nossos
evangelizadores.

Ganhávamos pontos pelos acertos que, computados no fim do ano, serviam para
classificar os alunos, método usado na época, para estimular o estudo.

Havia uma diretoria do Catecismo Espírita Batuíra, constituída por adultos
(alguns diretores do Centro) e crianças maiores. Assim, reunidos com os adultos,
nas reuniões de diretoria, íamos aprendendo a trabalhar em equipe e assumir
responsabilidades.

Há, no arquivo, dois livros de atas dessas reuniões: o primeiro de 15/3/37 a
7/6/42 e o segundo de 1.°/7/51 a 31/1/54.

Comecei a participar dessas reuniões em 13/6/37, começando a fazer parte da
diretoria em janeiro de 1939, como oradora; nas reuniões de diretoria contava
histórias e parábolas de Jesus.

Levávamos a sério nossos cargos, éramos cobrados nas reuniões até por nós
mesmos. Citamos dois trechos de atas:

Em 5/4/42: “Em seguida o Sr. José nos ensinou como devemos fazer uma
explicação de certa leitura e disse também que o Ronald falou muito bem, mas que
ele fugiu completamente do assunto, em lugar de falar sobre “Ingratidão dos
Filhos” falou sobre “O Dever dos Pais”, porém assim mesmo, merecia louvor”.

Em 5/5/42: “Apesar de ter dois oradores, não houve a explanação da leitura,
primeiro porque a 1.ª oradora deixou de cumprir com seu dever, faltando à
reunião e, segundo porque o Ariclenes que é o segundo orador, depois de tentar
dizer alguma coisa, nada encontrou para falar. Substituiu-o então, Dona Maria
das Dores, presidente-honorária, com vantagem.”

Durante alguns anos, na década de 30, ouvíamos, com naturalidade e afeição,
nossa diretora espiritual Solange, que através da mediunidade de D. Pequena,
orientava-nos a viver nos exemplos de Jesus.

Não estamos narrando esses fatos para serem imitados ou por acharmos que a
evangelização infantil daquele tempo era melhor do que a de hoje. Não, apenas
nos recordamos de como esses estudos aconteceram para nós, e como foram
importantes em nosso crescimento espiritual, no fortalecimento de nossa fé e
como somos gratos às pessoas que trabalharam conosco.

Gostaríamos sim, que os espíritas que não consideram importante para as
crianças o estudo sistemático da doutrina espírita, cuja finalidade maior é a
melhoria dos homens, pudessem nestas recordações, perceber a importância da
evangelização infanto-juvenil nas casas espíritas.

(Jornal Verdade e Luz Nº 178 de Novembro de 2000)