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Auto descobrimento

Auto descobrimento

Muito antes da valiosa contribuição dos psiquiatras e psicólogos humanistas e
transpessoais, quais Jubler Ross, Grof, Raymond Moody Júnior, Maslow, Tart,
Viktor Frankl, Coleman e outros, que colocaram a alma como base dos fenômenos
humanos, a psicologia espírita demonstrou que, sem uma visão espiritual da
existência física, a própria vida permaneceria sem sentido ou significado.

O reducionismo, em psicologia, torna o ser humano um amontoado de células sob
o comando do sistema nervoso central, vitimado pelos fatores da hereditariedade
e pelos caprichos aberrantes do acaso.

A saúde e a doença, a felicidade e a desdita, a genialidade e as patologias
mentais, limitadoras e cruéis, não passam de ocorrências estúpidas da
eventualidade genética.

Assim considerado, o ser humano começaria na concepção e anular-se-ia na
morte, um período muito breve para o trabalho que a Natureza aplicou mais de
dois bilhões de anos, aglutinando e aprimorando moléculas, que se transformaram
em um código biológico fatalista…

Por outro lado, a engenharia genética atual, aliando-se à biologia molecular,
começa a detectar a energia como fator causal parea a construção do indivíduo,
que passa a ser herdeiro de si mesmo, nos avançados processos das experiências
da evolução.

Os conceitos materialistas, desse modo, aferrados ao mecanismo fatalista,
cedem lugar a uma concepção espiritualista para a criatura humana, libertando-a
das paixões animais e dos atavismos que ainda lhe são predominantes.

Inegavelmente, Freud e Jung ensejaram uma visão mais profunda do ser humano
com a descoberta e estudo do inconsciente, assim como dos arquéticos,
respectivamente, constatando a realidade do Espírito, como explicação para os
comportamentos variados dos diferentes indivíduos que, procedentes da mesma
árvore genética, apresentam-se fisiológica e psicologicamente opostos, bem e mal
dotados, com equipamentos de saúde e de desconserto.

Não nos atrevemos a negar os fatores hereditários, sociais e familiares na
formação da personalidade da criança. No entanto, adimos que eles decorrem de
necessidades da evolução, que impõem a reencarnação no lugar adequado, entre
aqueles que propiciam os recursos compatíveis para o trabalho de
auto-iluminação, de crescimento interior.

O lar exerce, sem qualquer dúvida, como ocorre com o ambiente social,
significativa influência no ser, cujos ônus serão o equilíbrio ou a desordem
moral, a harmonia física ou psíquica correspondente ao estágio evolutivo no qual
se encontra.

A necessidade, portanto, do auto descobrimento, em uma panorâmica racional
torna-se inadiável, a fim de favorecer a recuperação, quando em estado de
desarmonia, ou o crescimento, se portador de valores intrínsecos latentes.
Enquanto não se conscientize das próprias possibilidades, o indivíduo aturde-se
em conflitos de natureza destrutiva, ou foge espetacularmente para estados
depressivos, mergulhando em psicoses de vária ordem, que o dominam e
inviabilizam a sua evolução, pelo menos momentaneamente.

A experiência do auto descobrimento faculta-lhe identificar os limites e as
dependências, as aspirações verdadeiras e as falsas, os embustes do ego e as
imposturas da ilusão.

Remanescem-lhe no comportamento, como herança dos patamares já vencidos pela
evolução, a dualidade do negativismo e do positivismo diante das decisões a
tomar.

Não identificado com os propósitos da finalidade superior da Vida, quando
convidado à libertação dos vícios e paixões perturbadores, das aflições e
tendências destrutivas, essa dualidade do negativo e do positivo desenha-se-lhe
no pensamento, dificultando-lhe a decisão.

É comum, então, o assalto mental pela dúvida: Isto ou aquilo? A definição
faz-se com insegurança e o investimento para a execução do propósito novo
diminui ou desaparece face às contínuas incertezas.

Fazem-se imprescindíveis alguns requisitos para que seja logrado o auto
descobrimento com a finalidade de bem-estar e de logros plenos, a saber:
insatisfação pelo que se é, ou se possui, ou como se encontra; desejo sincero de
mudança; persistência no tentame; disposição para aceitar-se e vencer-se;
capacidade para crescer emocionalmente.

Porque se desconhece, vitimado por heranças ancestrais – de outras
reencarnações -, de castrações domésticas, de fobias que prevalecem da infância,
pela falta de amadurecimento psicológico e outros, o indivíduo permanece
fragilizado, suscetível aos estímulos negativos, por falta de auto-estima, do
auto-respeito, dominado pelos complexos de inferioridade e pela timidez,
refugiando-se na insegurança e padecendo aflições perfeitamente superáveis, que
lhe cumpre ultrapassar mediante cuidadoso programa de discernimento dos
objetivos da vida e pelo empenho em vivenciá-lo.

Inadvertidamente ou por comodidade, a maioria das pessoas aceita e submete-se
ao que poderia mudar a benefício próprio, auto punindo-se, e acreditando merecer
o sofrimento e a infelicidade com que se vê a braços, quando o propósito da
Divindade para com as suas criaturas é a plenitude, é a perfeição.

Dominado pela conduta infantil dos prêmios e dos castigos, o indivíduo não
amadurece o eu profundo, continuando sob o jugo dos caprichos do ego,
confundindo resignação com indiferença pela própria realização da ocorrência –
dor sem revolta, porém atuando para erradicá-la.

Liberando-se das imagens errôneas a respeito da vida, o ser deve assumir a
realidade do processo da evolução e vencer-se, superando os fatores de
perturbação e de destruição.

Ao apresentarmos o nosso livro aos interessados na decifração de si mesmos,
tentamos colocar pontes entre os mecanismos das psicologias humanista e
transpessoal com a Doutrina Espírita, que as ilumina e completa, assim
cooperando de alguma forma com aqueles que se empenham na busca interior, no
auto descobrimento.

Não nos facultamos a ilusão de considerar o nosso trabalho mais do que um
simples ensaio sobre o assunto, com um elenco amplo de temas coligidos no
pensamento dos eméritos da alma e com a nossa contribuição pessoal.

Uma fagulha pode atear um incêndio.

Um fascículo de luz abre brecha na treva.

Uma gota de bálsamo suaviza a aflição.

Uma palavra sábia guia uma vida.

Um gesto de amor inspira esperança e doa paz.

Esta é uma pequena contribuição que dirigimos aos que sinceramente se buscam,
tendo Jesus como Modelo e Terapeuta Superior para os problemas do corpo, da
mente e do espírito.

Rogando escusas pela sua singeleza, permanecemos confiantes nos resultados
felizes daqueles que tentarem o auto descobrimento, avançando em paz.

Salvador, 30 de novembro de 1994.

(Do livro Autodescobrimento – Uma busca interior por Joanna de
Ângelis/Divaldo P. Franco)