Diante da Morte
Numa pequena e pacata cidade do interior, vivia Maria Antônia com seu marido
José Eduardo, recém casados, na maior felicidade do mundo. Até parecia que só
existia o casal.
Moravam em uma casa modesta, mas confortável, adquirida com as economias que
o previdente casal amoedara antes do casamento. Tinha uma vista panorâmica da
cidade. Era toda arejada, pois lá ventava muito. Não tinha ninguém que não
gostasse da casa e da sua localização.
Passados alguns anos começaram a pensar na possibilidade de terem seu
primeiro bebê. E diante da estabilidade financeira que tinham, resolveram então
tomar “as providências necessárias” para que o primeiro herdeiro do casal
chegasse.
A gravidez de Maria Antônia correu sem maiores problemas. Como ia sempre ao
médico ficava tranqüila quanto à saúde do bebê. Lembrava-se ainda do primeiro
ultra-som realizado, e sentiu-se imensamente feliz por estar participando da
formação de uma nova vida. Aquele minúsculo pontinho ali viria a ser um dia um
homem, pois sua intuição já lhe falava que a criança seria do sexo masculino.
No dia marcado para o parto, foi acompanhada de José Eduardo, para o único
Hospital da cidade, onde seu médico se encontrava de plantão. Nasceu a criança
forte e muito bonita. Não havia quem não se encantasse com ela.
Voltaram para casa, onde já estava tudo preparado para receber o novo
hóspede; berço, fraldas, cobertores, comprados com muito carinho. Enfim tudo
necessário para a criança havia.
No primeiro aniversário foi realizada uma festinha para José Maria, seu nome
de batismo, onde foram convidadas quase todas as crianças da pequena cidade.
A mãe acompanhava na mais completa felicidade o crescimento e o
desenvolvimento do garoto. Sua ida para o jardim da infância, ainda guardava na
memória. A felicidade estampada no rostinho de José Maria, quando ao entrar na
escolinha deparou com muitas crianças de sua idade.
Mas certo dia José Maria passou muito mal e foi levado às pressas para o
Hospital. O médico ainda não tinha nem diagnosticado a causa da doença repentina
do garoto, quando ele partiu para o outro lado da vida.
Foi como se o mundo desabasse sobre a cabeça de Maria Antônia. Completamente
desesperada e em prantos gritava a pleno pulmões: Por que meu Deus? Não é justo,
levar assim meu filho ainda na flor da idade. Revoltada, a amorosa mãe, não
conseguia entender o porquê da morte precoce de seu amado filho. Nunca mais foi
a mesma pessoa. Desiludida, não mais freqüentou a Igreja que fazia parte.
Situação como essa é muito comum vermos em nosso dia-a-dia, pois infelizmente
as religiões tradicionais não nos preparam para a morte, umas até dizem que ela
é um castigo de Deus. Se aceitarmos que somos, em verdade, espírito eterno, a
morte deveria ser para nós um fenômeno natural. Até mesmo porque faz parte das
leis da natureza, pois tudo à nossa volta nasce, cresce e morre. Nem o nosso
planeta escapará desta lei.
Na atitude de Maria Antônia merece destaque o fato dela não achar justo Deus
ter levado o seu filho. Com o que normalmente a maioria de nós concorda. Mas
perguntaríamos: o que ela achava quando Deus levava os filhos das outras mães?
Diremos que aceitava como justo, pois é desta forma que muitos de nós pensamos.
Entretanto este fato demonstra ser apenas um forte egoísmo de nossa parte, pois
só quando isso acontece com os outros é que nós achamos normal.
Devemos, pois, repensar a nossa maneira de encarar a morte. Ela não é o fim
de tudo, mas apenas o começo (ou recomeço) de uma nova vida. Assim como uma
lagarta que deixa seu pesado corpo para voar às alturas, agora como uma
borboleta, nós também deixaremos o nosso corpo físico para recebermos de Deus o
nosso corpo espiritual, retornando à nossa condição de espírito eterno.
Certamente um dia todos nós encontraremos os nossos familiares que partiram na
nossa frente para a pátria espiritual. Se uma semente não morrer nunca se
transformará numa frondosa árvore. Assim a morte nada mais é que uma
transformação. Pense nisso.
Mai/2001.