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Nós e a Parábola do Semeador

Nós e a Parábola do Semeador

A vivência cristã tem suas raízes mais profundas na Parábola do Semeador, conhecida
como a “parábola das parábolas”. É claro que em todas elas encontramos os
elementos das nossas aulas e motivos para a reforma íntima, mas estamos nos referindo
ao campo mais amplo do qual ela fala, que é o trabalho cristão, fruto da
harmonia entre o mundo íntimo e o mundo exterior, ou ainda da nossa relação de
amor
incondicional com mundo íntimo dos nossos semelhantes. Nessa parábola podemos
comprender a verdadeira dimensão da Doutrina Espírita porque ela mostra as fases
ou graus de aprendizagem que os adeptos percorrem até atingirem a condição
de Espírita, que não é um “título” nem muito menos o simples reconhecimento
formal dado pelos centros espíritas, através de livros, cursos e preleções; estes
são apenas meios e não fins.

Tanto na interpretação simplificada de Cairbar Schutel quanto na interpretação
sofisticada de Huberto Rohden identificamos os três terrenos humanos que
impedem que a semente frutifique. É, portanto, a parábola que trata exclusivamente
da nossa responsabilidade individual, no que diz respeito a nossa “salvação” ou
“perdição”. Nos esclarece Rohden:

“A parábola do Semeador trata não da agronomia física, mas da agronomia metafísica,
trata do terreno imprevisível do livre-arbítrio humano, onde nenhum semeador,
nem mesmo o próprio Cristo, pode saber do resultado da sua semeadura. Se
assim fosse, por que teria Jesus escolhido Judas Isacriotes para seu apóstolo, sabendo
da sua esterilidade espiritual?”

Para Cairbar Schutel a parábola do Semeador sintetiza os caracteres predominantes
em todas as almas, ao mesmo tempo que nos ensina a distinguí-las pela boa
vontade com que recebem as novas espirituais:

O Semeador : É Jesus e seus seguidores; os que falam em seu nome, e pregam
a Palavra de Deus com a autoridade da moral que o Cristo ensinou. Na Escola de Aprendizes
é todo o grupo: o Dirigente e o Expositor e também os alunos, pois todos nós, de
certa forma, conhecendo a semente, passamos também a semear, com bons ou maus exemplos.

“Nem todos os pregoeiros da Palavra a apregoam tal como ela é, em sua simplicidade
e despida de formas enganosas. Uns revestem-nas de tantos mistérios, de tantos dogmas,
de tanta retórica; ornamentam-nas com tantas flores que, embora a “palavra permaneça”,
fica obscurecida, enclausurada na forma, sem que se lhe possa ver o fundo, a essência!
Muitos pregam por interesse, como “o mercenário que semeia”; outros por vanglória,
e, grande parte, por egoísmo. Nestes casos não dissipam as trevas, mas aumentam-nas;
não abrandam os corações, mas endurece-os; não anunciam a Palavra, mas dela fazem
um instrumento para receber ouro e glórias.”

A Semente: é a palavra de Deus, os ensinamentos sobre as Leis Universais.

“A semente é uma só, é sempre a mesma que tem sido apregoada em toda parte, desde
que o homem se achou em condições de recebê-la. E se ela não atua com a mesma eficácia
em todos, deriva esse fato da variedade e das desigualdades de Espíritos que existem
na Terra; uns mais adiantados, outros mais atrasados; uns propensos ao bem, à caridade,
à liberalidade, à fraternidade; outros propensos ao mal, ao egoísmo, ao orgulho,
apegados aos bens terrenos, às diversões passageiras.”

Na vivência social cristã e no centro espírita é a proposta de Reforma Íntima,
através das oportunidades de trabalho. Para pregar (difundir) e
ouvir
(vivenciar) a Palavra, é preciso que não a rebaixemos, mas a coloquemos
acima de nós mesmos; porque aquele que despreza a Palavra, anunciando-a ou ouvindo-a,
despreza o seu Instituidor, e, como disse Ele: “Quem me despreza e não recebe as
minhas palavras, tem quem o julgue; a Palavra que falei, esta o julgará no último
dia.”

Caiu à beira do Caminho: “É quando por nós passam todas as idéias grandiosas
como gentes nas estradas, sem gravarem nenhumas delas.”

Na Escola é a condição de Aprendizes, uma grande maioria que recebe os
ensinamentos, que estão sendo chamados, porém ainda não podem ser escolhidos porque
estão “sonolentos”, como crianças, muito influenciados pelo mundo exterior.

Caiu sobre a Pedra: é quando estamos com o coração endurecido, “como pedras
impenetráveis às novas idéias, aos conhecimentos liberais”, isto é, abertos para
conhecer às novas experiências, que podem quebrar a nossa rotina e o sentido medíocre
das nossas vidas; recebemos a proposta de mudança, mas não permitimos que se opere
a modificação em nosso íntimo; racionalizamos tudo, ligamos nossas defesas e nos
tornamos refratários.

Na Escola de Aprendizes e no campo de trabalho que abraçamos é a condição em
que se encontra os Servidores. Aceitamos os ensinamentos e as tarefas com
parcialidade e condicionamentos, isto é, escolhemos somente aquilo que nos
convém. Disso resultam os melindres, as decepções, as divergências pessoais com
os companheiros e finalmente o desejo de desistência.

Caiu no meio dos Espinhos: É quando permanecemos invigilantes e permitimos
que os espinhos (as nossas imperfeições e a dos outros) sufoquem o crescimento de
todas as verdades que estamos aprendendo, “como essas plantas espinhosas que estiolam
e matam os vegetais que tentam crescer nas suas proximidades.”

Na vivência social é o tempo no qual sofremos todos os tipos de testes para avaliarmos
se, realmente, estamos dispostos a ser o “sal da terra” e a “luz do mundo”. Pequenas
provas ainda são para nós mostras dos grandes espinhos e obstáculos que teremos
que remover durante a vida atual e as vidas futuras.

Caiu na Boa Terra: é quando conservamos a boa vontade, no mantemos abertos;
isso nos dá coragem e disposição para remover todos os obstáculos que aparecem;
a boa vontade elimina o medo e afasta o sentimentos defensivos e a reações instintivas.
Isso nos torna mais humildes porque não temos pena de nós mesmos, porque não nos
fazemos de vítimas; a boa vontade mantém acordada a nossa consciência e , por isso,
vigilantes, podemos distinguir em nós o que é tentação e o que é má inclinação .
A oração e o auxílio, por nós e pelos outros é uma demonstração de boa vontade.
A Boa Terra é o mundo, é discipulado de Jesus.

ANEXO

“Afluindo uma grande multidão e vindo ter com ele gente de todas as cidades,
disse Jesus em párábola:“Saiu um Semeador para semear a sua semente.
E quando semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho; foi pisada,
e as aves do Céu a comeram. Outra caiu sobre a pedra; e tendo crescido, secou,
porque não havia umidade. Outra caiu no meio dos espinhos; e com ela cresceram
os espinhos, e sufocaram-na. E outra caiu na boa terra, e, tendo crescido,
deu fruto a cento por um.” Dizendo isto clamou: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.

Os seus discípulos perguntaram-lhe o que significava esta parábola. Respondeu-lhes
Jesus: A vós é dado conhecer os mistérios do Reino de Deus, mas aos outros se lhes
fala em parábolas, para que vendo não vejam; e ouvindo não entendam.

A semente é a palavra de Deus. Os que estão à beira do caminho são os que têm
ouvido; então vem o Diabo e tira a Palavra, para que não suceda que , crendo, sejam
salvos. Os que estão sobre a pedra são os que, depois de ouvirem, recebem a palavra
com gôzo; estes não têm raíz e crêem por algum tempo, mas na hora da provação voltam
atrás. A parte que caiu entre os espinhos, estes são os que ouviram, e, indo seu
caminho, são sufocados pelos cuidados, riquezas e deleites da vida e o seu fruto
não amadurece. E a que caiu na boa terra, estes são os que, tendo ouvido a palavra
com coração reto e bom, a retêm e dão frutos com perseverança.”

(Mateus, XIII, 1-9 – Marcos, IV,1-9 – Lucas, VIII, 4-15) Bibliografia: “Parábolas
e Ensinos de Jesus” – Cairbar Schutel e “Sabedoria das Parábolas” – Humberto Rohden.