Euripedes Rodrigues dos Reis
A História indica que provavelmente ele foi o maior intérprete de Bach do século XX. Há indícios de que foi também seu maior biógrafo. Foi igualmente aclamado como um dos maiores concertistas da Europa nos primeiros anos do século passado. Antes dos trinta anos era famoso e reconhecido mundialmente. Um dia tomou conhecimento da extrema necessidade de socorristas no Congo Francês, o Gabão, na África. Foi informado que o perfil ideal para um socorrista era que tivesse conhecimentos em Medicina. Definiu que seria socorrista na África. Sua vida mudou radicalmente. Iniciou o curso de Medicina e após formado médico fez mais dois anos de especialização em doenças tropicais. Quando dizia de sua aspiração em deixar a Europa e ir para um vilarejo primitivo nos rincões africanos havia uma estranheza generalizada. Muitos achavam mais racional que ele patrocinasse alguém que fosse se embrenhar na selva do Gabão enquanto poderia continuar sua trajetória de artista consagrado. Alguns o consideravam um excêntrico, como acontece com muitos artistas renomados. Não viam como uma atitude racional alguém deixar de lado o percurso do sucesso e os anos dedicados à música. Contudo, ele perseverou e perseguiu seus objetivos com tenacidade.
Quando se formou, colocou à venda todos os seus pertences, inclusive as medalhas, os troféus e instrumentos musicais. Foi o capital inicial de sua primeira meta: fundar um hospital em Lambarène no Gabão. Um hospital muito rústico, de pau a pique, que se transformou no maior salva-vidas da região. Multidões de africanos para lá acorriam, esquecendo algumas vezes suas superstições e tradições tribais milenares e aceitando os anestésicos e a penicilina que pudesse prolongar-lhes a vida e amenizar-lhes as dores. Enquanto isso, a Europa iniciava a difícil fase de uma grande guerra. Eram os anos finais da década de 30. Isolado do mundo, naquele lugar esquecido por todos, o jovem médico fazia de tudo um pouco: era carpinteiro, pedreiro, professor, cozinheiro e médico. Enfrentando doenças, crendices e uma enorme carência de recursos materiais e humanos. Quando terminou a guerra, fazia temporadas artísticas na Alemanha e na Inglaterra, onde, com seus concertos, conquistava os meios para uma nova ala ou enfermaria do hospital.
Em 1953, foi laureado com o Prêmio Nobel da Paz. E com desprendimento provou ser possível ter sonhos e lutar por eles, tendo por principal objetivo, o de servir ao próximo. Muitos o consideram como o “São Francisco de Assis do século 20”. E o seu exemplo foi maior que o seu tempo, imensamente maior. Trata-se do músico, filósofo, teólogo, médico e missionário, um dos precursores da Bioética, o professor doutor Albert Schweitzer (1875-1965), precursor do movimento em “reverência por tudo o que é vivo” que nos dias de hoje, viceja por todo o mundo.
Quando ouvimos a palavra “abnegação”, começamos por imaginar as figuras abnegadas da humanidade. Entre elas, lembramo-nos sempre de Albert Schweitzer. Abnegação vem do latim abnegatione s. f., que significa desapego dos interesses próprios, generosidade com sacrifício; altruísmo, isenção. Por sua vez, Gandhi tinha um objetivo: libertar seu povo do jugo inglês. Tinha também uma estratégia: a não-violência. Sua autoconfiança foi tanta que atingiu a sua meta sem derramamento de sangue. Ele não só acreditou que era possível, mas também agiu com segurança. Madre Teresa também tinha um propósito: socorrer os pobres abandonados de Calcutá. Acreditou, agiu, e superou a meta inicial, acabando por socorrer os pobres do mundo inteiro. Albert Schweitzer traçou sua meta e chegou lá. Deixou o conforto da cidade grande e se embrenhou nas selvas da África francesa, para atender os nativos, no mais completo anonimato.
Como estes, teríamos outros tantos exemplos de homens e mulheres que não só acreditaram, mas que tornaram realidade seus planos de felicidade e redenção particular. Chico Xavier, Divaldo Franco e tantos outros, muitos até anônimos, que executam um profícuo trabalho em relação ao próximo. Isso sem citar o nosso maior modelo: Jesus de Nazaré.. nosso Mestre e o maior abnegado dentre todos os que estiveram entre nós. Abnegação é muito mais que simplesmente solidariedade, mais elevada que o altruísmo. Está certo que a grande maioria de nós ainda não está preparada para seguir os exemplos de Gandhi, Madre Tereza, Albert Schweitzer, Chico, Divaldo. E você? Está remando com firmeza para atingir a meta a que se propôs? Pense nisso !!!