Amilcar Del Chiaro
O que faço agora é um preito de saudade. Amazonas Hércules desencarnou. Talvez muitos possam perguntar: Quem é Amazonas Hércules? Respondo com prazer: um gigante. Sim! Um gigante que marcou o chão por onde passou com a poeira de estrelas que caíram de seus pés. Amazonas Hércules foi e é tão grande quanto Jésus Gonçalves. Hanseniano, poeta e espírita como Jésus. Com certeza é um dos últimos ou talvez o último gigante a tombar. Amazonas Hércules valia cada letra do seu nome. Foi a alma e o coração do Centro Espírita Filhos de Deus em Curupaiti, um hospital para hansenianos do Rio de Janeiro. Amazonas e seus companheiros realizaram e, certamente, seus amigos continuarão realizando um extraordinário trabalho assistencial à famílias pobres no em torno do Sanatório. Quando Amazonas Hercules completou 90 anos, escrevi um texto homenageando-o, e pedi a um amigo que mora em Nova Iguaçu, o Marcelo Lopes de Oliveira, para visitá-lo e ler para ele o nosso texto. Peço licença aos companheiros para transcrevê-lo como a homenagem dessa coluna da Fundação Espírita André Luiz ao gigante de Curupaiti. CANÇÃO PARA UMA SÓ VOZ Era madrugada. O luar invadiu o meu quarto bordando um rendilhado de prata ao atravessar a ramagem de uma arvore em meu quintal. Ouvi um relincho de cavalo, era Pégassus que vinha buscar-me para um passeio no céu. Montei o cavalo alado, e como Zorro montado seu Ginete branco, partimos em disparada vencendo as nuvens que ocultavam algumas estrelas. Segredei algo nas orelhas do cavalo e ele partiu em velocidade supersônica, vencendo o tempo e adentrando o passado. Assisti ao nascimento de uma criança, que recebeu o nome de Amazonas Hércules. Vi mais do que isto. Vi uma estrela de primeira grandeza diminuir o seu tamanho até ficar como um grão de mostarda e internar-se no útero de uma mulher, para nascer como criança neste mundo de provas e expiações. Vi essa criança crescer e sofrer. Acompanhei-o adulto, carregando uma enorme cruz onde, todos os dias, os cravos longos das dores superlativas o crucificavam como um Cristo dos Sertões, sem que os seus olhos chorassem ou sua boca blasfemasse. Pude vê-lo subindo o seu Gólgota arrastando a sua enorme cruz, Mas vi, também, as cordas mais íntimas de seu coração, transformarem-se em uma “cítara” e executar canções de amor, enquanto seus lábios declamavam lindos versos que brotavam do seu peito incendiado de fraternidade.
Não demorou muito e a lepra solapou as suas forças físicas. Vieram as mutilações. Os olhos ficaram embaçados. Parte de uma perna foi entregue à natureza que a exigiu antecipadamente. Seria o fim? Não! O corpo macerado transformou-se numa ostra, cujas lágrimas foram produzindo camadas de nácar e transformando-se numa pérola, que só uma moeda pode adquirir, o amor! Querido Amazonas, hercúleo amigo, os meus versos imperfeitos Gritam dentro do meu peito Meu coração, também dorido, está contigo Salve amigo e companheiro Discípulo do Mestre Jesus Raboni feito de luz Que nos deixou um belo roteiro.No caminho do teu calvário O chão ficou todo marcado do pó de estrelas, caídos Dos teus pés iluminados.
No instante em que nasce o arrebol Mirando a tua grandeza Vi com toda a certeza Fostes feito da luz do sol Com carinho do teu discípulo
Amílcar Del Chiaro Filho