Recordo-me que na época em que dava aulas de Matemática, escutava de meus alunos:
– Não gosto de Matemática.
Eu respondia:
– Meu filho, gostar ou não de uma coisa importa pouco, ou nem deveria importar, pois na vida a gente não faz tudo aquilo que gosta ou que quer. Aprenda isso para evitar frustrações adiante.
Mas os alunos, implacáveis, prosseguiam:
– Faça aula interessante então, professor…
E, não obstante saber da importância de a aula ser interessante, colocava-me a pensar:
– Meu Deus, não deveria a aula, por ela mesma, interessante?
Pois bem, vamos à aula interessante.
Mas em muitas ocasiões nem a tecnologia, piadas ou tampouco cambalhotas dadas em sala de aula faziam a mágica de vê-los prestar atenção.
Nas sempre interessantes reuniões de pais, em que embora o nome continha mais professores do que pais, vinham em profusão os pedidos:
– Faça aula interessante, professor!! Aula deve ser interessante para nossos filhos prestarem atenção!
E o professor, no caso eu, “pagava o pato” sozinho.
Mas este “pagar o pato” sozinho não fica apenas nas costas do professor. Isso ocorre em diversas situações, e posso dar aqui vários exemplos.
Vejamos o caso dos pais. Afirma-se, com razão, que uma educação recheada de valores morais e exemplos influenciam e muito na criação dos filhos. Ninguém em sã consciência dirá o contrário. Todavia, informam os Espíritos que em muitos casos bons pais, conscientes de seu papel, podem receber no seio da família Espíritos maus, com inclinações perversas. E, não obstante o imenso esforço dos pais, esses filhos podem enveredar por caminhos complicados.
Diz a sociedade sobre esses filhos:
– Se tivessem tido boa educação familiar não se desvirtuariam. Isso é falta de educação.
O Espiritismo não dá resposta tão simplista e, como sempre, vai além ao afirmar que os Espíritos, embora recebam influência dos pais, têm o livre arbítrio, portanto, escolhem os seus próprios caminhos que, em muitos casos, não combinam com os conselhos e exemplos ensinados pelos pais.
Vários casos comprovam isso. Filhos de uma mesma família seguem caminhos opostos, um pende para o bem, o outro detona a si mesmo indo para o abismo do mal.
Mesmos pais, mesmas diretrizes, contudo, escolhas com diferença de 180 graus.
A sociedade deposita a “conta desse pato” nos pais.
O Espiritismo mostra que não é bem assim, entretanto, repito que os Espíritos ensinam ser muito grande a influência que os pais exercem sobre os filhos, principalmente nos primeiros anos de vida.
Tenho aqui um outro exemplo.
Centros Espíritas vazios nos dias de estudo, carentes de voluntários, às moscas quando o assunto é arregaçar as mangas.
As razões que justificam os pontos acima podem ir de A até Z, entretanto, costuma-se afirmar:
– Falta de liderança. Coordenação equivocada, erros primários na condução dos trabalhos.
Novamente alguém, no caso o dirigente ou coordenador, “pagando o pato” sozinho.
O que quero dizer com essa prosa toda?
Quero dizer que a responsabilidade pelo sucesso ou fracasso não é apenas daqueles que estão na testa ou na condução de alguma atividade.
Está na hora de dividirmos as responsabilidades, os fracassos, as alegrias e tristezas das experiências no mundo, sem responsabilizar apenas A, B ou C.
Penso que já se findou o momento de passar a mão pela cabeça de alunos, filhos, frequentadores de Centro Espírita e etc.
O momento é de diálogo para o despertar de que todos são parte de um processo, e torna-se fundamental o envolvimento de todas as partes para que o “pato” fique mais leve de pagar.
Enfim, é tempo de assumir responsabilidades e iniciar o processo de condução da própria existência.
Sem essa de culpar pai pelo desvio no caminho ou professor por não ter estudado devidamente Matemática.
É necessário assumir-se:
– Não prestei atenção na aula.
– Embora os conselhos de meus pais fui pelo caminho errado.
– Os coordenadores do centro disponibilizaram muitas atividades, mas preferi ficar no sofá assistindo TV.
Tudo tornar-se-á mais leve quando entendermos que somos, neste planeta, uma equipe, que divide responsabilidades, sucessos e, também, fracassos.
Pensemos nisto.