Hebreus 9: 27 é frequentemente repetido por nossos irmãos evangélicos como se ele fosse contrário à reencarnação. Mas seu autor, ao escrevê-lo, nem pensava em reencarnação. Ele apenas fala de sacrifícios e que, assim como o homem do pó morre uma vez só, Jesus, em seu sacrifício na cruz, morreu também uma vez só. É o que demonstra a leitura, na íntegra, desse texto.
Vamos demonstrar, pois, o significado verdadeiro de Hebreus 9: 27, lembrando que Paulo nos adverte para que não façamos interpretações literais da Bíblia. De fato, ela deve ser lida com uma visão crítica e racional. “O qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança não da letra, mas do espírito, porque a letra mata, mas o espírito vivifica.” (2 Coríntios 3: 6). Aliás, Kardec nos dá também instrução semelhante a essa paulina, recomendando-nos que a nossa fé seja raciocinada.
Uma parte do judaísmo, a dos saduceus, não acreditava na imortalidade do espírito, após a morte do corpo. E não criam também em ressurreição, em anjos e espíritos. (Atos 23: 8).
E os judeus que admitiam a vida espiritual não sabiam o que era espírito ou alma, confundindo o corpo com o espírito e ignorando qual dos dois ressuscitava. Daí que Paulo dedica um texto grande para explicar o que é a ressurreição, e ensina que ela é do espírito ou corpo espiritual e não do corpo físico. (1 Coríntios 15: 44). E se orientou pelo ensino de Jesus, que demonstra também que ela do espírito. “O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita”. (João 6: 63). “Porque na ressurreição nem casam nem se dão em casamento; são, porém, como os anjos nos céus.” (Mateus 22: 30). Realmente, os anjos (mensageiros) não têm corpo.
Como se vê, o que ressurge, surge de novo ou ressuscita é sempre o espírito e não o corpo que veio do pó e volta para o pó. “E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus que o deu.” (Eclesiastes 12: 7; e Gêneses 3: 19). E ao desencarnar, o espírito é julgado no tribunal de Cristo, recebendo a sentença do seu carma do bem e do mal praticados durante a vida. (2 Coríntios 5: 10). Mas não é o fim, pois o espírito continua o seu ciclo de reencarnações, daí que existe também o Juízo Final.
Na visão antropológica semítica da época de Jesus e dos apóstolos, o homem era visto de modo meio materialista, principalmente pelos saduceus, como já dissemos, os quais acreditavam só no chamado “homem exterior” de são Paulo. Mas como Paulo era espiritualista, ele admitia também, é claro, o “homem interior” ou que dá vida ao “homem exterior”, material e mortal. (2 Coríntios 4: 16).
Assim, quando Hebreus 9: 27 fala que o homem morre uma vez só, é óbvio que ele se refere exclusivamente ao “homem exterior” carnal e jamais ao “homem interior” ou espírito do homem, espírito esse que apenas sai do homem que morre e volta para o mundo espiritual donde ele veio para reencarnar, vivificando outro “homem exterior”, que, quando morre, morre mesmo bem morrido e, pois, uma vez só, já que volta definitivamente à natureza de seu pó que ele é em sua essência.
E é sempre o “homem interior” que ressuscita, ressurge, surge de novo ou reencarna noutro “homem exterior” mortal que nasce, quando se repete, então, a ressurreição do espírito “na carne” e não “da carne”!
Palestra da Ordem Rosacruz (Amorc) do frater Reinaldo José, sobre “Misticismo na Música”, às 15h, em 4-7-2015, Av. Portugal, 681, Jardim Atlântico, BH, entrada franca.