Richard Simonetti – [email protected]
No passado muitos buscavam solidão, instalando-se em lugares desertos para fugir às tentações, aos problemas de convivência ou, simplesmente, por misantropia – o horror ao contato humano.
Semelhante comportamento é indesejável. Estamos programados para o relacionamento social. O insulamento nos desajusta. O eremita tende a resvalar, não raro, para a excentricidade.
A urbanização, a concentração populacional em cidades, gera salutar interdependência. No convívio urbano não satisfazemos nenhuma necessidade, não desenvolvemos atividade alguma sem mobilizar recursos gerados por outras pessoas. Usamos roupas que não confeccionamos, consumimos alimentos que não produzimos, dispomos de móveis e objetos que não fabricamos, frutos do esforço de muita gente.
A interdependência neutraliza a tendência ao insulamento, desenvolvendo nossas potencialidades como seres sociais.
Não se pode afirmar, entretanto, que a misantropia esteja plenamente superada. São numerosos os eremitas urbanos, indivíduos que não se envolvem com os problemas comunitários, pretendendo edificar um oásis particular, em pleno deserto das misérias humanas, ignorando multidões que sofrem privações amargas e dolorosas provações.
Os eremitas do passado refugiavam-se em cavernas exíguas e isoladas, inspirados em sonhos de tranquilidade que sempre terminavam em pesadelos de desequilíbrio.
Os eremitas do presente isolam-se em amplas e confortáveis cavernas, desobrigados até de sonhar, porquanto a televisão o faz por eles, embalando-os num mundo de fantasias diante do qual se quedam estáticos. O preço é alto: a alienação dos valores mais nobres da existência e, sobretudo, o comprometimento da condição humana, que não pode ser sustentada sem convívio social e o envolvimento com a comunidade. Resultados: depressão, insatisfação, angústia, enfermidade, crônica infelicidade.
Vanguardeiros da medicina psicossomática concebem que a participação na vida comunitária, a integração em organizações de assistência e promoção humana são fundamentais em favor de nossa saúde física e psíquica. Prescrevem aos pacientes um medicamento infalível: a ocupação de seu tempo disponível em favor do semelhante.
Nesse particular é forçoso reformular o conceito de atividade profissional. Para a maioria das pessoas o serviço remunerado é apenas um recurso que atende à subsistência. No entanto, muito mais que isso, ele é fatos de integração social, de nossa realização como seres humanos, convocados a contribuir em favor do bem-estar da comunidade.
Há uma enorme diferença de competência e dedicação entre o médico que exercita seus conhecimentos para ganhar dinheiro e aquele que faz de sua profissão um sacerdócio em favor da saúde humana.
Da mesma forma, não há nenhuma dúvida na escolha entre o patrão que vê no seu negócio apenas uma máquina de fazer dinheiro em favor de seu conforto, e aquele que se sente responsável pelo bem-estar de seus funcionános. Ninguém gostaria de trabalhar para o primeiro.
Assim, em qualquer setor de atividade humana, somente nos integraremos realmente na sociedade em que vivemos quando passarmos da misantropia egoística para a filantropia altruística – o cultivo do amor pela Humanidade.
Seguem esse caminho abençoado aqueles que se empenham por ser úteis, buscando ajudar o semelhante em suas necessidades, onde estiverem, conscientes de que serão felizes na medida em que trabalharem pela felicidade alheia.
Ps.: Os conceitos aqui emitidos não expressam necessariamente a filosofia FEAL, sendo de exclusiva responsabilidade de seus autores.